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O movimento sindical docente no brasil e o papel da confederação de professores do

2 A CONJUNTURA HISTÓRICA, POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL

2.5 O movimento sindical docente no brasil e o papel da confederação de professores do

Na busca de consumar nossos objetivos de resgatar criticamente a história dos primórdios do movimento associativista e sindical dos trabalhadores em Educação da rede pública estadual maranhense, que tem na APEMA um dos seus momentos mais destacados, julgamos oportuno associá-lo ao percurso que foi realizado pelos seus congêneres em escala nacional, mesmo que de forma abreviada.

Em linhas gerais podemos dizer que essas entidades se organizam na esteira da grande efervescência que tomou conta dos movimentos da classe trabalhadora, principalmente com os ventos da redemocratização e a perspectiva de por fim ao período golpista de 1964. Dentro desse mesmo contexto também é preciso ter em conta que o esforço organizativo realizado pelos trabalhadores da educação está associado a luta pelo estabelecimento de melhores condições de trabalho, ampliação da massa salarial e reivindicações de cunho político educacional, como foi o caso de propostas vinculadas aos planos de carreira, planos de formação continuada, democratização das relações de poder na escola, com a instalação de conselhos e a eleição direta para diretores, etc.

Do ponto de vista histórico, a organização dos trabalhadores em educação no Brasil, não é recente e, pelo menos, desde os meados da década de 1930, tem apresentado sinais de sua existência histórica e social, passando por muitas modificações, superando e afirmando pautas reivindicativas, organizando greves e outros movimentos reivindicatórios até terem plenamente o reconhecimento público de sua organização política e sindical. Essa trajetória se deu em meio enfrentamento e embates travados, muitas vezes duros e com consequências desastrosas, como é o caso de prisões, demissões, etc. para os que estiveram presentes na urdidura e desenvolvimento das lutas em defesa dos interesses daqueles que fazem parte do mundo do trabalho educacional.

Ao longo das décadas de 1960 e 1970, conforme apresentado anteriormente, procurou-se firmar no Brasil um modelo econômico que pretensamente haveria de exigir a construção de uma mão de obra qualificada que pudesse atuar com desenvoltura em setores cruciais como é o caso da indústria. Essa premissa de caráter ideológico em muito justificou, inclusive, com ampla aceitação política e social, a expansão dos sistemas públicos de ensino. Essa realidade trouxe como consequência uma ampliação muito grande no quadro de professores que iriam atuar nas escolas espalhadas por todo país. Evidentemente, a expansão dos sistemas públicos de ensino, não era e nunca foi qualificar a mão de obra e, assim,

ampliar a massa salarial dos trabalhadores, produzindo com isso uma distribuição mais equânime da riqueza material disponível no país.

O ingresso no magistério, nesse período histórico, trouxe mudanças significativas para o seio da categoria que estava prestes a se formar, massivamente, com imensuráveis contingentes de trabalhadores da educação recrutados em todos os rincões do país. Nesse quadro expansivo, da mão de obra professoral, não podemos deixar de levar em conta as condições objetivas do arrocho salarial, condições vida e trabalho dos professores, muitas vezes contratados por meio de dispositivos legais que não davam garantias, frequentes atrasos no recebimento de seus vencimentos, dentre outros fatores.

Conforme Ferreira Júnior, em Sindicalismo e Proletarização: a saga dos professores brasileiros, (1998), analisou a Confederação dos Professores Primários do Brasil – CPPB, no período de 1964 a 1985, abordando o engajamento dos professores na atuação do movimento sindical, contribuindo para o fortalecimento das demais organizações estaduais e a importância desses atores nas disputas travadas dentro do movimento com a organicidade da participação docente no enfrentamento da ditadura militar.

Uma das experiências mais marcantes da atuação dessa organicidade foi a de professores da Educação Básica e, na década de 1960, um dos congressos mais significativo da história docente, com a participação de várias entidades de diversos Estados brasileiros deu vazão à fundação, em 1960, da Confederação dos Professores Primários do Brasil – CPPB, em Recife.

Para o autor supracitado, a organização sindical nesse período possuía mais um caráter pedagógico do que reivindicativo e que as questões próprias dos reclamos políticos e sindicais só tomou espaço nos congressos a partir de 1970.

A confederação dos Professores Primários do Brasil, em outras palavras, filiou-se a uma entidade internacional de educadores que não tinha, necessariamente, como preceito basilar a luta sindical do tipo reivindicatória por melhores condições de vida e de trabalho, mas, sobretudo, fundada no entendimento da valorização profissional do magistério em torno de uma estérea valorização social. (FERREIRA JR, 1998, p. 23).

Em seus primórdios, a CPPB, de posicionamentos pouco ou nada aguerridos, evidenciava comportamentos que se alinhavam ao regime militar, chegando inclusive a participar de eventos educacionais promovidos pelo governo após o golpe perpetrado em 1964. Neste período, a entidade reconhecida pelo atrelamento a ideologia imposta à sociedade foi caracterizada como “uma organização sindical de carimbo” (FERREIRA JR, 1998, p. 51).

Concomitantemente, os resultados das políticas econômicas implantadas no país foram decisivos para uma série de mudanças nos demais setores, como o educacional que, como já

ponderado, vai crescer assustadoramente com vista a atender as supostas demandas do mercado.

As mudanças de paradigmas, portanto, a partir da década de 1970, provoca uma reorientação das entidades existentes e o surgimento de associações de professores por todo país com vistas à lutar por melhoria das condições de trabalho, vantagens previdenciárias, etc. Como a legislação só permitia a sindicalização aos professores da rede privada, enquanto que aos trabalhadores do serviço público esse direito lhes era negado, os professores das redes públicas federais, estaduais e municipais passaram a se organizar em torno de associações que não mantinham atrelamento burocrático junto ao estado.

As entidades de professores de 1° e 2° graus das redes públicas de ensino se filiavam à Confederação de Professores do Brasil – CPB, que teve origem na CPPB, com 11 entidades estaduais filiadas. A partir de 1973, segundo Cunha (2009, p. 74), quando a LDB n.º 5.692/71 foi aprovada, a CPPB alargou seus quadros ao retirar o traço distintivo “Primários”, passando a abarcar filiações das entidades de “professores licenciados, que reuniam docentes mais combativos, portadores de experiências na política estudantil em cursos de nível superior”.

Esta mudança foi motivada pela reforma do ensino de 1° e 2° graus de 1971 (lei 5692), que uniu o curso primário ao primeiro ciclo do ginásio. Ainda mais, esta lei propiciou condições legais para a emergência de uma nova fase da organização dos professores, ao determinar que cada sistema de ensino (inclusive a nível municipal) estruturasse a carreira docente, num estatuto do magistério. Dentre os elementos novos que essa carreira deveria contar estava a remuneração conforme qualificação obtida em cursos e estágios, sem distinção dos graus escolares nos quais os professores estariam atuando. Em decorrência, aumentou a demanda de estudos adicionais para os professores já em atividade. Deste modo, o próprio governo fornecia a esta categoria, castigada por longo e intenso processo de redução de salários, uma base legal para contestar os padrões vigentes de remuneração, seleção e promoção. (CUNHA, 2009, p. 74)

A grande questão era se, por um lado, o governo fornecia ao professorado uma legislação que oferecia a possibilidade de reivindicar, por outro,

A ausência do Estado de direito democrático, imputado pelo golpe militar de 64, facilitava a malversação dos recursos públicos por parte do Poder Executivo, pois, não havia o controle exercido pelos outros poderes republicanos e, muito menos, do conjunto das agências pertencentes à sociedade civil. Ora, a fiscalização da aplicação das quotas do Fundo de Participação dos Estados, Distrito Federal e Territórios, estabelecidas pelo Decreto n° 66.254/70, ficava a cargo do Tribunal de Contas da União, este era um órgão juridicamente manietado pelo Poder Executivo Federal. Este controle das verbas públicas, mesmo depois da promulgação da Constituição de 1988, destinadas à educação continuava apresentado profundas distorções [...] (FERREIRA JR, 1998, p. 44)

Os recursos destinados à Educação já eram escassos devido a concentração de renda, como se não bastasse eram desviados para toda sorte de rubricas que se apresentava aos governadores, restando aos professores os baixíssimos salários, quando não atrasados, o que desencadeou grandes mobilizações grevistas dos professores do ensino de 1° e 2° graus

públicos das redes estaduais e municipais.

Segundo Cunha (2009), em 1978, a CPB passou a combater as políticas impostas pelo governo ditatorial, bem como o regime autoritário. Suas práticas reivindicativas foram substituídas de moções e notas à imprensa, por pressão política promovida através dos congressos nacionais que eram realizados no início de todos os anos, convocação para a greve e união dos movimentos de reivindicação. Ou seja, para esse autor, a CPB, a partir de então, passou a apresentar uma politização crescente.

Nesse momento a CPB se articulava para tentar conquistar o direito à aposentadoria do professorado aos 25 anos de serviço. Algo que, nas palavras de Ferreira Jr. (2013, p. 154), a entidade de representação nacional já havia investido por duas vezes, levando a proposta em governos anteriores, mas as tentativas foram frustradas. Contudo, essa luta reverberou nos espaços de discussões políticas, a imprensa nacional começou a divulgar amplamente esse importante item da pauta de reivindicações do magistério público brasileiro. Como também diversas mobilizações foram empreendidas e sistematicamente organizadas, pressionando a Câmara dos Deputados para que negociasse junto à CPB. Ferreira Jr., conta que mesmo depois de aprovada na Câmara, houve resistência por parte do governo militar que

Pressionado pela sociedade civil e por um dos poderes da sociedade política, não sobrou alternativa ao regime militar a não ser promulgar a emenda constitucional que concedia aposentadoria especial para o professorado. Até porque, o episódio era uma oportunidade para demonstrar concretamente que a proposta de reforma institucional encetada no Palácio do Planalto comportava a independência política do Legislativo. Assim, a CPB conseguiu transformar em realidade uma de suas principais reivindicações econômicas, que estavam em pauta desde o final da década de 1960. (Ibid. p. 163)

A conquista da proposta de aposentadoria veio em 1981, com a ressalva de que, para os professores, ela só se daria aos 30 anos de serviço público, enquanto que, para as professoras, estaria garantida aos 25 anos. Ao analisar esse fato, Ferreira Jr. caracteriza-o como um “ponto de inflexão na trajetória político-sindical da CPB, deslocando-a da órbita de influência ideológica da ditadura militar para a esfera de atuação da sociedade civil brasileira que reivindica o Estado de direto democrático”. (id.)

A modulação na conduta da CPB para uma prática sindical combativa fez com que as lutas perpetradas em vários Estados adquirissem força para manter suas mobilizações contra os governos autoritários e intransigentes. Isso porque a confederação passou a apoiar e defender os movimentos que eclodiam a todo instante pelo país.

A década de 1980 foi, até então, o período em que mais ocorreram greves no setor educacional em todas as esferas de ensino e setores privados e públicos. Em São Luís, há registros que demarcam uma série de mobilizações dos professores da rede privada, desde

paralisações, convenções coletivas, piquetes, atos públicos, até uma grande greve ocorrida em meados de setembro de 1986, com a impressionante adesão de cem por cento da categoria.

Episódios significativos como esse demonstram a existência de uma série possibilidades de estudos que são próprios do movimento sindical docente brasileiro que precisam ser identificados e analisados, inclusive do ponto de vista histórico e político educacionais. Se por um lado, os professores do ensino privado tinham dificuldades de manifestar os seus problemas salariais, por outro, não se furtavam de encontrar possibilidades de se organizar e lutar, coletivamente, por melhores condições de vida e trabalho.

As vicissitudes causadas pelas mudanças políticas e ideológicas, no âmago da sociedade brasileira, se constituíram fator decisivo para a emergência de entidades de representação docente de todos os níveis e esferas de ensino.

Resultantes do processo de redemocratização do Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, o advento da abertura sindical para servidores públicos fez com que grande parte dessas associações, se não, todas, buscassem a carta sindical junto ao Estado. Foi o que ocorreu com a CPB, em 1989, momento em que, por decisão congressual, iniciou os procedimentos para se tornar a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE, tal como aponta Cunha,

Em janeiro de 1989, o congresso da CPB aprovou a mudança do nome da entidade para Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação-CNTE, processo que culminou, um ano depois, com a incorporação de três entidades: a Confederação Nacional de Funcionários de Escolas Públicas-CONAFEP, a Federação Nacional de Supervisores Educacionais-FENASE e a Federação Nacional de Orientadores Educacionais-FENOE. (2009, p. 73)

Como resultado, a CNTE estima hoje representar mais de dois milhões e meio de professores, especialistas e funcionários das redes públicas de educação básica, contando com 50 sindicatos filiados de todas as partes do Brasil.

3 A ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DO ESTADO DO MARANHÃO: ASPECTOS