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Outras ações de mobilização empreendidas pela APEMA

3 A ASSOCIAÇÃO DE PROFESSORES DO ESTADO DO MARANHÃO:

3.5 Década de 1980: as contradições das lutas e o crescimento da entidade

3.5.2 Outras ações de mobilização empreendidas pela APEMA

Passado alguns meses da posse de Antonio Anacleto Ferreira, em decorrência da situação educacional no Estado, a APEMA organizou o Primeiro Seminário Estadual de

Professores, realizado exatamente no dia 15 de outubro. O evento iniciou com debate e protestos, pois o pagamento do salário estava há quase 30 dias em atraso. Outro ponto discutido foram os rumos que as políticas educacionais estavam tomando no país. Ao avaliar a Lei nº 5.692/71, o presidente da APEMA, professor Antonio Anacleto Ferreira, se posicionou sobre a lei, e afirmou que a mesma objetivava

[...] apenas preparar uma mão-de-obra barata a serviço do sistema de opressão e enfraquecimento das classes de elite do sistema capitalista. Em consequência disso - acentuou - veio o barateamento dos salários e empobrecimento cultural e econômico das classes trabalhadoras brasileiras. (O IMPARCIAL, 15/10/1981, p. 7).

Nesse mesmo sentido, questionou de forma enfática o que chamou de

[...] a robotização do aluno, a criação de gerações frustradas, e o enfraquecimento da sociedade num todo […] são os principais fatores que estão levando o ensino brasileiro à falência, além da verba de 12 por cento que a Educação tem direito, e, no entanto, são empregados apenas 4 por cento, que além de pouco, são ainda desviados para outros projetos. (Ibid.).

Naqueles dias tumultuados, do início da década de 1980, em que a transição política brasileira procurava se firmar, alguns intérpretes do campo educacional observavam que esta enfrentava um quadro de insolvência. Por outro lado, muito embora a profissão docente seja uma das mais antigas do país, o magistério ainda era visto como um sacerdócio e não como um trabalho sujeito aos rigores da lei e a disciplina laboral imposta pelos empregadores públicos ou privados. Na verdade o que os professores tinham era um salário achatado, péssimas condições de trabalho, ausência de liberdade de cátedra, além de influência e manipulação ideológica do regime militar.

No entanto, é importante dizer que, nos chamou atenção, nos excertos do discurso do professor Antonio Anacleto Ferreira, acima reproduzidos, uma manifestação clara e consciente da realidade educacional que se impunha pela força do estado naquele momento histórico que o país atravessava.

O professor José de Ribamar Ferreira Gomes, do município de Coelho Neto, na edição d’O Imparcial de 15 de outubro de 1981, declarou que “os salários baixíssimos, não compensam, e para se viver melhor, temos que ter uma média de quatro empregos, caso contrário, o professor morre de fome”. (p. 5)

Como já ressaltado, os docentes ainda tinham que lidar com a questão dos constantes atrasos nos pagamentos. E nesse período, tanto o Estado como boa parte dos municípios estavam com os pagamentos dos professores atrasados, segundo informou a orientadora Marilda Lopes, trabalhadora das duas redes:

[...] os vencimentos de setembro deveremos receber com o de outubro, se este também não atrasar demais. Além do pagamento do professor-contratado, pelo Estado, que está atrasado há dias (O IMPARCIAL, 15/10/1981, p. 5).

Os debates em torno da educação maranhense continuaram, e a APEMA junto ao Sindicato dos Professores de São Luís, Associação de Professores de São Luís e o Centro Cultural Bandeira Tribuzi, promoveram a I Semana dos Professores de São Luís; ocorrida de 04 a 11 de novembro de 1981, no auditório da Biblioteca Pública Benedito Leite, que teve como tema “Qualidade de Ensino e a Valorização do Professor”. A abertura do evento foi realizada pela delegada regional do MEC, que mais tarde, em 1983, viria a se tornar Secretária Estadual de Educação, Leda Tajra. Além de ter na programação discussões sobre a realidade do ensino em São Luís, implantação do Estatuto do Magistério, ensino profissionalizante e a luta dos professores por melhores salários e a marginalização do professor; o evento contou, ainda, com a participação do professor Gumercindo Milhomem, presidente da, então, Associação dos Professores de São Paulo, que mais tarde veio a se tornar o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo – APEOESP. (O IMPARCIAL, 06/11/1981, p. 2)

A APEMA demonstrava um crescimento organizativo e o fortalecimento na sua atuação sindical, por meio das ações que vinha realizando e pela postura que tomava diante da situação educacional do Estado. Como é caso da preocupação em realizar atividades nas cidades do interior do estado, tal qual ocorreu, em 21 de novembro de 1981, na cidade de Caxias, com o objetivo de conscientizar, mobilizar e unir a categoria com vistas a enfrentar a situação da educação, além de convocar o professorado para o 15º Congresso Nacional dos Professores, promovido pela Confederação dos Professores do Brasil.

O professor Antonio Anacleto Ferreira expôs sua avaliação sobre a sociedade:

[...] a sociedade brasileira era alienada, e que os professores com seus salários achatados numa situação de indignidade sem nenhum respeito ao magistério, por parte dos governos que fazem dos professores uma mera peça, usada pelo sistema para seus próprios benefícios […] Os objetivos da APEMA estão aceitos pelos professores de Caxias e da região, em demonstração de interesse de se unirem para lutar contra o seu inimigo comum que é a estrutura política, econômica e social do momento.(O IMPARCIAL, 28/11/1981, p. 13)

Pelo teor dessas declarações é possível dizer que alguns setores da direção da APEMA tinha clareza do que significava o regime autoritário e os prejuízos causados à sociedade naquele momento tão conturbado no país. Entendia, também, que a escola poderia ser considerada um aparato de reprodução dos interesses do Estado cooptando os seus professores, mas não todos que jamais iriam se curvar como fidedignos representantes do modelo ideológico disseminado pela ditadura militar e que a sua união poderia trazer força e ânimo para que o modelo vigente pudesse ser superado.