• Nenhum resultado encontrado

A Educação Infantil no Brasil: reflexões acerca da legislação

A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E A INTERLOCUÇÃO COM AS POLÍTICAS PÚBLICAS

2.2 A Educação Infantil no Brasil: reflexões acerca da legislação

Somente com a promulgação da Lei Federal nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, a qual faz referência à educação de crianças pequenas, é que se tem um direcionamento à Educação Infantil, como sendo conveniente à educação em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes. No capítulo VI,

53

artigo 61, é sugerido que as empresas particulares, as quais têm mulheres com filhos menores de sete anos, ofertem atendimento (educacional) a estas crianças, podendo ser auxiliadas pelo Poder Público. Esta lei recebeu inúmeras críticas, devido sua superficialidade e dificuldade na realização, pois não havia um programa mais específico para estimular as empresas à criação das instituições.

No que tange à legislação brasileira, muitas foram às conquistas da Educação Infantil, principalmente, nas últimas décadas, considerando a criança como sujeito de direitos. A CF (1988) reconheceu a educação de crianças de zero a seis anos, anteriormente tida como assistencial, como direito do cidadão e dever do Estado e incluiu a creche no capítulo da Educação, ressaltando seu caráter educativo, e não mais estritamente assistencial.

Esses direitos foram regulamentados pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), Lei Federal 8.969 de 13 de julho de 1990, explicitando melhor cada um dos direitos da criança e do adolescente bem como os princípios que devem nortear as políticas de atendimento.

A LDB (1996) regulamenta a educação infantil, definindo-a no artigo 21, inciso I como primeira etapa da Educação Básica, e no artigo 29 que esta, tem por finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Mas os avanços na legislação não foram acompanhados de uma política de financiamento para a educação infantil que permitisse uma expansão do atendimento por instituições públicas com qualidade.

Neste sentido, salientamos a importância da aprovação da Emenda Constitucional nº 53/2006 posteriormente regulamentada pela Lei Federal 11.494/2007 que institui o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB). Deste modo altera a Emenda Constitucional nº 14/1996 e a Lei Federal 9.424/96 que instituiu o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEF). A regulamentação do FUNDEF ao priorizar o ensino fundamental deixava a educação infantil à margem destes investimentos.

A Emenda Constitucional nº 53/2006 altera o texto do artigo 212, parágrafo 5º substituindo o termo ensino fundamental por educação básica para o recebimento do salário-educação. Sendo assim, a educação infantil definida pela LDB (1996)

artigo 21, inciso I como primeira etapa da educação básica passa a ser contemplada por estes recursos que geram investimentos necessários para o desenvolvimento desta etapa educativa.

Outra Emenda Constitucional que tem relação direta com a educação infantil é a nº 59/2009 que altera o texto do artigo 208, inciso I tornando “a educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.” Esta foi regulamentada pela Lei Federal 12.796/13 altera o texto do artigo 4º da LDB (1996).

Campos (2010), faz um alerta sobre alguns perigos que a obrigatoriedade da educação básica a partir dos 4 anos poderá acarretar, dentre eles a cisão entre creche (0 a 3 anos) e a pré-escola (4 a 5 anos), e estas últimas ainda correm o sério risco de ter turmas com número excessivo de crianças e, ainda, da pré-escola seguir o modelo de escolarização do ensino fundamental.

Estas colocações da autora apresentam grande relevância para a área, pois a educação infantil tem sua trajetória marcada por lutas em prol de sua valorização em todos os níveis através de práticas que demonstrem as especificidades desta etapa educativa.

Destacamos, a seguir, o marco legal no âmbito municipal para a educação infantil. A Resolução do CMESM nº 2 de 30 de junho de 1999, que “fixa normas para educação infantil no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria.” Em seu artigo 2º, esclarece que “a autorização de funcionamento e a supervisão das instituições públicas e privadas de educação infantil, que atuam na educação de crianças de zero a seis anos, serão reguladas pelas normas desta Resolução.” A partir disso, fica claro que as instituições tem o compromisso de se adequar às normas descritas nos artigos seguintes que tratam da documentação, espaço físico, formação dos profissionais entre outros.

Cabe destacar também, o artigo 4º da referida Resolução que está em consonância com a LDB (1996) e enfatiza que “a educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade”.

Ainda segundo a Resolução, ressaltamos o artigo 13 que determina: “a direção da instituição de educação infantil deve ser exercida por profissional formado em curso de Pedagogia – Educação Infantil ou em nível de pós-graduação em

55

Administração Escolar.” E o artigo 14 que esclarece: “para atuar na Educação Infantil, o docente deve ter formação em Pedagogia - Educação Infantil (licenciatura plena), admitida, como formação mínima a oferecida em nível médio (modalidade normal).” Salienta no parágrafo único que “as mantenedoras de instituições de educação infantil que apresentem, em seus quadros, profissionais sem formação mínima exigida em lei, devem, independentemente do nível de escolaridade em que essas se encontrem viabilizar a complementação dessa escolaridade, inclusive através da formação em serviço, conforme previsto em lei vigente.”

Há também que ressaltar o artigo 25 da referida Resolução que diz: “as instituições de educação infantil da rede pública, em funcionamento na data de aprovação desta resolução, deverão integrar-se ao Sistema Municipal de Ensino, até 23 de dezembro de 1999” de acordo com o artigo 89 da LDB (1996). Este define oficialmente a transição das instituições de educação infantil do âmbito da assistência social para a educação.

A nosso ver a Resolução do CMESM nº 2/1999 se constitui como fundamental para a educação infantil municipal, à medida que marca a mudança de paradigma no atendimento as crianças pequenas, determinando normas para a atuação das instituições tanto públicas como privadas.

Através dos dados empíricos da pesquisa verificamos, no entanto, que a efetivação das normas estabelecidas neste documento percorreu longo processo, especialmente no que tange ao cumprimento do artigo 14; porém, reiteramos a importância da mesma para construção de um novo paradigma da educação infantil municipal.

A Resolução acima citada foi revogada totalmente pela Resolução do CMESM nº 30/11, que define “Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria/RS”.

Salientamos a importância da Resolução CMESM nº 30/11 na organização do cotidiano das instituições de educação infantil, ao pontuar orientações didático- metodológicas que abordam a proposta de trabalho com a criança pequena. Destacamos o artigo 7º que define “a educação infantil deve priorizar o desenvolvimento integral da criança, por meio do binômio cuidar e educar, considerando a integração dos aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos, linguísticos e sociais da criança, estabelecendo as bases da personalidade humana da inteligência, da afetividade e da socialização”.

Há também que ressaltar na Resolução CMESM nº 30/11 o artigo 21, parágrafo 1º o qual determina que “na gestão da instituição de educação infantil a coordenação pedagógica deverá ser exercida por profissionais formados em curso de graduação em Pedagogia e/ou em nível de pós-graduação na área de Gestão Educacional” complementando assim o disposto na Lei Municipal 4740/03.