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Tudo o que a gente puder fazer no sentido de convocar os que vivem em torno da escola, e dentro da escola, no sentido de participarem, de tomarem um pouco o destino da escola na mão, também. Tudo o que a gente puder fazer nesse sentido é pouco ainda, considerando o trabalho imenso que se põe diante de nós que é o de assumir esse país democraticamente.

Paulo Freire

A democracia no Brasil foi estabelecida pela CF (1988) após intenso movimento de lutas que romperam com o período de ditadura que o país sofreu por anos, por isso essa luta por democracia representou um marco na história do Brasil e da educação que passa a assumir um novo papel, o de fomentar no interior das instituições escolares o ideal democrático. Passados vinte e cinco anos (25) da promulgação da CF (1988) verificamos a importância de fortalecer princípios democráticos no país e que isso é uma tarefa árdua que precisa ser assumida por todos os profissionais de educação, especialmente na educação infantil que como vimos se constitui como campo em construção.

O papel da gestão escolar compreendida e concretizada através da perspectiva democrática se faz fundamental para a sociedade como um todo. Resgatar os princípios que levaram a carta magna do Brasil e definir a gestão escolar democrática como essencial na educação é urgente.

Através desta pesquisa, verificamos que o conhecimento acerca da temática da gestão escolar democrática nas instituições pesquisadas necessita ser aprofundado; na verdade apontamos que existe um discurso corrente sobre a temática, porém não conseguimos identificar como esta se consolida na prática cotidiana da escola através da pesquisa; o que indica a incipiência e a fragilidade da democracia nas entranhas da sociedade, ou seja, no dia-a-dia das pessoas que vão à escola, que fazem a escola e que dizem valorizar a escola.

O conhecimento das participantes acerca dos princípios orientadores de gestão escolar democrática mostraram-se frágeis, bem como os mecanismos que são responsáveis pela concretização dos princípios da gestão escolar democrática, ainda não estão consolidados nas instituições pesquisadas. Verifica-se que estes

são compreendidos e vivenciados mais como aspecto burocrático e não como aspectos importantes no cotidiano das instituições.

Um ponto em relação aos princípios que ainda precisa ser refletido consiste na participação de todos os atores na gestão escolar democrática. A pesquisa revelou que a participação, principalmente dos pais, se restringe a atividades pontuais onde estes são questionados sobre algumas decisões da instituição, porém trata-se, em geral, de decisões periféricas.

Também verificamos que as crianças não são consideradas pela grande maioria das diretoras e professoras na efetivação da gestão escolar democrática, o que é indicador da baixa participação destas, ou de uma participação como presença. Conforme Lück (2006) nesta forma de participação o indivíduo é considerado participante pelo fato de fazer parte do grupo ou organização independente de sua atuação ser cogitada.

Acreditamos que a pesquisa explicita isso: as crianças participam porque são integrantes do ambiente escolar, mas suas especificidades e seu protagonismo não são considerados como elementos centrais das decisões no cotidiano das instituições. E, em consequência, pode-se depreender que são poucas as situações em que elas são desafiadas a escolher, e a exercer a capacidade de discernimento mediante o diálogo e a argumentação.

Ou seja, as crianças existem para a escola como alunos, como sua clientela, mas não como a centralidade do projeto educativo, não como finalidade e objetivo precípuo das instituições, o que é bastante preocupante, pois como vimos ao longo deste estudo, as crianças são potentes, ativas e tem condições de participar das decisões que impactam sobre a gestão da instituição em que vivem significativa parcela de seu tempo da infância.

Isso revela que a concepção de criança nas instituições pesquisadas necessita, ainda, ser revisada, atualizada do ponto de vista da contemporaneidade social e educacional, e merece passar por uma mudança de paradigma, ao mesmo tempo em que as especificidades da educação infantil devem ser aprofundadas, estendendo estas especificidades para as propostas pedagógico-curriculares cuja base epistemológica seja constituída de crianças potencialmente inteligentes, dotadas de agência, e com capacidade de participar, e não à espera de participação.

Considerar sim, que são seres de pouca idade, mas capazes de aprender a autonomia exercitando a capacidade de escolha. Mas consideramos que isto está

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relacionado à história da educação infantil e à nossa própria história como crianças que fomos um dia, e professoras formadas em modelos curriculares de base eminentemente transmissiva.

Essa constatação referente às especificidades da educação infantil e à formação dos professores para atuar nesta etapa também está sinalizada pela pesquisa, a qual mostra que mesmo todas as participantes possuindo formação inicial e continuada na área há um descompasso histórico com as concepções de criança, infância e pedagogias da infância contemporâneas, e explicitadas neste estudo; parece-nos que a formação inicial não tem sido capaz de questionar e abalar as práticas educativas com as crianças pequenas, assim como os processos de formação continuada tem sido pouco eficazes na diminuição dessa distância entre as pesquisas e a realidade da maioria das instituições diante das especificidades da educação infantil.

Outro ponto importante que a pesquisa indica se refere à base legal da educação infantil na qual também expressa descompasso entre os avanços conceituais presentes nas políticas públicas para esta etapa educativa nos últimos anos e a sua materialização no cotidiano da escola.

Esse é um ponto fundamental, pois se relaciona com a qualidade da educação infantil na qual a pesquisa nos mostra que as instituições possuem um conhecimento restrito acerca dos IQEI (2009). Tal documento se configura a nosso ver em instrumento fundamental, pois as dimensões e indicadores explicitadas no mesmo abordam questões essenciais para educação Infantil e apontam reflexões sobre a qualidade desta etapa educativa na sua totalidade. Além disso, os IQEI (2009) se concretizam como mecanismo democrático que fomentam a discussão coletiva e a participação de todos.

Salientamos também a importância de os profissionais da educação participarem como autores na (re)construção, avaliação e acompanhamento das políticas públicas através de espaços de debates e discussões. Compreendemos que as políticas públicas se entrelaçam no cotidiano das instituições e são fundamentais para a prática pedagógica, mas temos consciência de que as políticas e as Leis, sozinhas, tem potencial limitado de produzir mudanças na realidade.

A gestão escolar democrática no que tange as instituições pesquisadas ainda se encontra em processo inicial de consolidação, pois através da pesquisa foi possível identificar que os mecanismos de gestão estão atrelados a questões

burocráticas no cotidiano das instituições, e não são concebidos como condição de educação emancipatória e de qualidade.

Por fim, acreditamos ser necessário empreender esforços na busca pela consolidação dos princípios e mecanismos da gestão escolar democrática nas instituições públicas municipais de educação infantil em prol da melhoria da qualidade do atendimento as crianças pequenas. Neste sentido, concebemos que a gestão escolar democrática perpassa todo o cotidiano da instituição de educação infantil e deste modo possui interlocuções com a qualidade do atendimento as crianças que se vinculam as intencionalidades educativas e repercutem nas práticas pedagógicas.