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O caminho percorrido pela Educação Infantil em Santa Maria/RS

DESENHO DA PESQUISA

1.3 O caminho percorrido pela Educação Infantil em Santa Maria/RS

Segundo os estudos realizados por Tussi (2011), uma das primeiras instituições de educação infantil do município foi fundada no final da na década de

setenta, esta surge a partir de programas de convivência e prestação de serviços a crianças em situação de vulnerabilidade social, com forte vínculo a órgãos públicos assistenciais do município e a departamentos da UFSM que desenvolviam projetos de extensão, posteriormente institucionalizada.

A pesquisa de Tomazzetti (1997) ao analisar as práticas pedagógicas na educação infantil de instituições municipais de Santa Maria/RS observou que este atendimento embora sob responsabilidade do município estava fragmentado entre duas Secretarias de Governo. As instituições que atendiam crianças da creche pertenciam a Secretaria Municipal do Bem Estar Social e as turmas de pré-escola eram atendidas nas EMEF pertencentes a Secretaria Municipal de Educação.

Nas décadas de oitenta e noventa houve em Santa Maria/RS a expansão da criação de instituições para o atendimento às crianças da etapa creche no município, foram criadas dezesseis (16) instituições, estas pertencendo a então denominada Secretaria Municipal do Bem Estar Social. Cabe ressaltar que esta expansão no município ocorre em um momento histórico no Brasil marcado pela luta das mulheres pelo direito à educação dos seus filhos pequenos, que concorreram para a implementação de políticas públicas vigentes até hoje e são o marco para a educação infantil nacional, a CF (1988) e a LDB (1996).

Estes marcos legais colocam as instituições atendimento as crianças, compreendendo a faixa etária de 0 a 6 anos no Brasil no âmbito da educação. No entanto, em Santa Maria/RS as instituições que atendiam a creche permaneceram sob a égide e os marcos regulatórios da Secretaria Municipal de Bem Estar Social por um período relativamente longo, o que nos mostra que as instituições de educação infantil no município surgem e se mantém, por pelo menos três décadas, com forte caráter assistencialista6.

Em 1999, passam a ser responsabilidade da SMED a partir da Resolução CMESM nº 2 de 30 de junho de 1999, que “fixa normas para a educação infantil no Sistema Municipal de Ensino”, seguida do Decreto Executivo nº 016, de 28 de janeiro de 2000, que “altera a designação dos estabelecimentos de ensino integrantes do Sistema Municipal de Ensino”.

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Conforme estudo desenvolvido por Cleonice Maria Tomazzetti (1997), na dissertação intitulada As práticas pedagógicas em educação infantil: do assistencialismo a emancipação como construção da cidadania.

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Percebe-se por estes dados que as instituições destinadas ao atendimento as crianças da etapa creche no município permaneceram no âmbito unicamente da assistência social, mesmo transcorridos anos da promulgação da CF (1988) e da LDB (1996). Outro fator importante que verificamos ao recorrer aos dados históricos das instituições é que algumas destas foram instaladas em antigos postos de saúde, o que explica a precariedade dos seus espaços físicos, além de reafirmar este caráter assistencialista pela via médico-higienista. Ou seja, estes espaços não foram construídos com o propósito de ser instituição para o atendimento das crianças.

A transição das instituições de educação infantil do âmbito da assistência para a educação ocorre a partir de marcos legais em nível nacional e municipal. Porém, é preciso refletir sobre a transição efetiva que implica também a transição de concepções assistencialistas para concepções educacionais na educação infantil no município, e como esta vem se concretizando no cotidiano das instituições.

A integração das instituições de educação infantil no SME, apesar das ressalvas feitas acima, se constitui como fundamental para o desenvolvimento das mesmas, já que estas instituições começam a ser contempladas por políticas públicas destinadas a educação, como pela Lei Municipal 4740, de 24 de dezembro de 2003, que “institui a Gestão Escolar Democrática”.

Salientamos na legislação citada, em especial, a definição de eleição para o exercício do cargo de diretor. Diferente do que acontecia até então no município, onde os diretores eram indicados ao cargo, a partir da Lei Municipal 4740/03 fica instituído no artigo 7º “a autonomia da gestão administrativa dos estabelecimentos de ensino que será assegurada”, no inciso I, “pela eleição do Diretor e Vice-diretor”. Este é um ponto fundamental em relação os objetivos propostos neste estudo.

No entanto, as primeiras eleições após a implementação da referida lei, ocorreram somente em 2006, vale ressaltar que no artigo 58 fica definido que “o período de administração do Diretor e Vice-diretor será de três anos, a contar do primeiro dia do mês de janeiro do ano subsequente da data da posse.” Ocorreram nas escolas municipais, até o momento, três processos eleitorais, sendo o último realizado em novembro de 2012.

O gráfico abaixo mostra o tempo de atuação dos atuais gestores escolares das EMEI.

Gráfico 1 – Tempo de atuação dos atuais gestores escolares das EMEI.

Fonte: SMED (2013).

Através deste gráfico, percebe-se que quinze (15) dos atuais gestores escolares das EMEI está atuando na função há mais de cinco anos, mesmo havendo na RME o processo eleitoral para provimento do cargo com mandato de três anos. Paro (2003) indica três possibilidades para o provimento do cargo de diretor escolar: nomeação, concurso público e eleição. Esta última é definida como a mais adequada, porém ressalta que esta não pode ser compreendida como única solução para a gestão escolar, mas como possibilidade democrática à medida que é um processo aberto à participação. O gráfico acima demonstra ainda que, por ser o processo eleitoral relativamente recente nas EMEI, instituído pela Lei Municipal 4740/03, discussões sobre o mesmo precisam ser fomentadas a fim de aprofundar o conhecimento acerca da relevância deste mecanismo de gestão escolar democrática e que na prática nas instituições o cargo é exercido por poucos, o que torna-se conflitante com os princípios democráticos.

Outro marco legal municipal importante foi a Resolução do CMESM nº 30, de 21 de novembro de 2011, que “define Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil no Sistema Municipal de Ensino de Santa Maria/RS” que aprofundaremos posteriormente.

Através destes apontamentos verificamos que o contexto de Santa Maria/RS não se difere do que ocorreu no Brasil no que se refere ao surgimento das instituições de educação infantil, pois surgem da perspectiva assistencialista e, através das políticas públicas mais recentes passam ao âmbito da educação.

0 2 4 6 8 10

1 a 5 anos 5 a 10 anos Mais de 10 anos

CAPÍTULO II

A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL E A INTERLOCUÇÃO