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A Educação Integral e a participação dos estudantes

No documento josefabiovieiradeoliveira (páginas 99-104)

3 REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS EXECUTADAS NA ESCOLA ESTADUAL

3.1.3 A Educação Integral e a participação dos estudantes

As políticas de educação integral e em tempo integral se apresentam como políticas de enfrentamento às desigualdades sociais. Entende-se por educação integral, aquela desenvolvida para a formação múltipla do sujeito, enquanto que a educação em tempo integral, é entendida pela perspectiva de ampliação da jornada escolar. (DARCY RIBEIRO, 2017)

Esses projetos configuram-se como políticas de equidade, podendo oferecer mais oportunidades a quem tem menos. Para isso, utilizam critérios de vulnerabilidade, geralmente as crianças e jovens atendidas por esses projetos são oriundas de famílias atendidas por programas sociais, que vivem à margem da sociedade e em áreas de alta vulnerabilidade social, principalmente por fatores socioeconômicos.

É esse desenvolvimento integral do educando que as EEEPs deveriam buscar. Conforme cita Darcy Ribeiro (2017) no vídeo: A educação como legado, “a escola em tempo integral é uma alternativa para ampliar as possibilidades de trabalhar o aluno de forma integral, através do processo de ensino e aprendizagem, vendo o aluno na sua integralidade: emoções, sentimentos, ética, estética”. Consideramos que trabalhar essa integralidade demanda um esforço coletivo de todos que compõem a instituição escolar: docentes, discentes, família e comunidade.

Vale salientar que educação integral não pode ser confundida com escola de tempo integral. Gadotti (2009, p.37) destaca que “todas as escolas precisam ser de educação integral, mesmo que não sejam de tempo integral. Trata-se de oferecer mais oportunidades de aprendizagem para todos os alunos”. Para o autor, a ela potencializa o desenvolvimento cognitivo, como também o desenvolvimento afetivo e relacional dos estudantes, o que difere de apenas ampliar o tempo. Entretanto, a educação pode ser integral e em tempo integral, já que a educação integral demanda tempo e espaço, mas esses elementos precisam ser ressignificados no cotidiano escolar.

A ampliação e a diversificação da oferta do Ensino Médio em várias formas e modalidades visa estruturar a escola pública para que consiga contrariar a relação entre situação econômica do aluno e desempenho acadêmico. As escolas integrais com jornada ampliada se configuram como uma estratégia de proteção social, na promoção da equidade educacional, potencialização do sucesso acadêmico dos discentes e formação humana plena. Conforme afirma Nora Krawczyk (2014):

As escolas com jornada ampliada são cada vez mais requeridas por diferentes setores da sociedade, que enxergam no maior tempo escolar a salvação do ensino e da juventude. A necessidade de ampliação é justificada em alguns casos com argumentos assistencialistas, porque permite que os jovens estejam “fora das ruas e das drogas” e em outros com argumentos “pedagógicos” de diferentes índoles. Para alguns, o aspecto profissionalizante é o decisivo. Outros associam mais tempo na escola a melhor rendimento. E há os que visualizam a escola integral como a possibilidade de vivenciar experiências que possibilitem uma formação humana plena, articulando ciências, tecnologia, cultura e trabalho numa proposta político-pedagógica. (KRAWCZYK, 2014, p. 30)

Para a efetiva implementação da proposta de escola em tempo integral, é preciso romper com alguns paradigmas que ainda se fazem presentes na educação, principalmente os que se referem à questão do tempo, do espaço e do currículo, atribuindo novas ressignificações a esses elementos. Nesse sentido, projeta-se uma instituição onde o espaço de aprendizagem não se limite à sala de aula, o tempo não se reduza simplesmente à ampliação de um turno escolar, e o currículo ocupe outras disciplinas que são inerentes à formação integral e desenvolvimento pleno dos estudantes.

As juventudes são diversas e complexas. Ser jovem se define pelas suas práticas e formas de se relacionar em casa, com a família, com os amigos, na rua, no trabalho e na escola. A escola abriga essas múltiplas esferas como retrato do mundo. Assim, olhar para essa diversidade e construir aprendizagens dentro da escola é reconhecer o jovem em todas as suas dimensões. Estamos falando em uma educação com foco nas singularidades dos indivíduos e dos territórios.

Juarez Dayrell (2007) apresenta alguns desafios no trabalho com as juventudes: Como garantir mecanismos de escuta e compreensão das demandas e necessidades dos setores juvenis? Como capacitar melhor o jovem para que o desenvolvimento de ações coletivas autônomas que busquem a garantia de seus direitos? Como construir políticas e práticas que visem a igualdade social e ao mesmo tempo contemplem a diversidade do mundo juvenil? Como construir uma metodologia que vá ao encontro das necessidades e demandas do jovem? Frente a esses desafios, Dayrell (2007) argumenta:

A escola tem de se perguntar se ainda é válida uma proposta educativa de massas, homogeneizante, com tempos e espaços rígidos, numa lógica disciplinadora, em que a formação moral predomina sobre a formação ética, em um contexto dinâmico, marcado pela flexibilidade e fluidez, de individualização crescente e de identidades plurais. Parece-nos que os jovens alunos, nas formas em que vivem a experiência escolar, estão dizendo que não querem tanto ser tratados como iguais, mas, sim, reconhecidos nas suas especificidades, o que implica serem reconhecidos como jovens, na sua diversidade, um momento privilegiado de construção de identidades, de projetos de vida, de experimentação e aprendizagem da autonomia. Demandam dos seus professores uma postura de escuta – que se tornem seus interlocutores diante de suas crises, dúvidas e perplexidades geradas, ao trilharem os labirintos e encruzilhadas que constituem sua trajetória de vida. (DAYRELL, 2007, p. 1125)

O autor destaca a importância de compreender esse jovem como um sujeito social, um indivíduo que pensa sobre si mesmo e sobre o mundo, que tem uma visão de mundo própria e um conjunto de representações sobre si e sobre o mundo. Esse indivíduo é alguém com quem

vamos dialogar de igual para igual, aprendendo com ele e considerando o que ele tem a nos dizer. Compreendê-lo como um sujeito de desejos, devemos tocar nesse desejo, fazendo com que ele queira mais e amplie suas experiências. Assim, o jovem vai atuará como protagonista central do seu projeto de vida, refletindo com ele sobre os rumos desse projeto, ajudando-o a pensar seus próprios rumos.

Nessa perspectiva, a educação passa a ter uma visão mais ampla. Não se trata de instruir, mas de formar. Formar habilidades, visões de mundo, formação humana mais ampla, sendo central o estímulo à curiosidade, passando de uma curiosidade espontânea para uma curiosidade epistemológica. Para tal, é preciso tornar o jovem como um interlocutor válido, fazendo-se necessária uma escuta ativa desses jovens, para adequar conteúdos, ritmos e tempos à realidade juvenil. Com isso, pode-se potencializar as experiências de vida que eles trazem, ampliando os tempos e espaços humanizadores, percebendo-os como pessoas em formação, com direito de ser e viver a sua juventude.

A educação integral pode ampliar o tempo, mas, sobretudo, os espaços e as atividades de interesse desses indivíduos. Ela é estruturada a partir do desejo do jovem, da construção do seu conhecimento, de suas experiências e de suas formas de participação. Quando o desejo dele entra em cena, o trabalho do professor fica ainda mais importante e criativo. O conhecimento de cada disciplina é fundamental para organizar os saberes e estimular a curiosidade deles. Quando a experiência e o conhecimento andam juntos, a aprendizagem é muito significativa.

A escola é entendida como um espaço singular, configurando-se como um ponto de encontro e convivência fundamental na vida do jovem. Espera-se uma escola que articule os saberes locais, a escuta, o diálogo com a comunidade e com toda a diversidade do seu entorno. Uma das possibilidades para promover a educação integral é o diálogo entre escola e cidade. A cidade deve ser percebida como um direito, com uma gama de possibilidades que serão descobertas a partir da circulação e exploração dos jovens.

A apropriação desses espaços pelas juventudes, abre novos circuitos e potencialidades em caminhos antes desconhecidos. Essas novas articulações promovem a ampliação de repertório dos jovens. É a educação integral na perspectiva do desenvolvimento integral. A partir do desejo, da autonomia e da escuta do jovem, do direito à cidade, da abertura à diversidade, da percepção do mundo do trabalho, da construção do conhecimento, mediados pelo olhar atento do professor, podemos construir uma educação integral.

Esse modelo apresenta uma concepção de educação que coloca o aluno no centro do processo e busca o desenvolvimento do aluno em todas as suas dimensões: física, emocional,

intelectual, cultural e social, ou seja, a educação que tem relação com a vida, que prepara o indivíduo para o seu desempenho na sociedade, com bases éticas e solidárias.

Para que o desempenho de crianças e jovens seja integral, é preciso ampliar os repertórios, oferecendo aos estudantes oportunidades de diferentes linguagens de maneira articulada. Na prática, significa construir um currículo integrado, em que o professor atua como mediador e garante a intencionalidade educativa.

Segundo Nora Krawczyk (2011), quanto ao interesse intelectual, na maioria dos casos, a atração ou rejeição dos alunos por uma ou por outra disciplina está vinculada à experiência e aos resultados escolares. O interesse pela disciplina está diretamente associado à atitude do docente: seu modo de ensinar; a paciência com os alunos; e a capacidade de estimulá-los e dialogar com eles. Percebemos que a atuação do professor é decisiva no processo de ensino e aprendizagem dos discentes. Uma escola orientada para a educação integral, necessariamente, busca a participação de todos os envolvidos, promove o diálogo e ultrapassa os limites do espaço escolar e se apropria do bairro e da cidade. Para garantir o desenvolvimento pleno de todos os estudantes, é preciso o engajamento de múltiplos setores, a chamada intersetorialidade, através de políticas públicas adequadas.

O desenvolvimento pleno dos indivíduos é um direito previsto na Constituição. O papel da educação integral é garantir que todos tenham as ferramentas necessárias para seguir aprendendo, tornando-se cidadãos autônomos capazes de construir seus próprios projetos de vida.

Toda educação deveria ser integral, possibilitar o desenvolvimento integral do indivíduo. Para isso, porém, não basta apenas ampliar os tempos, precisamos qualificar esse tempo. Devemos ampliar tempo, espaços e conteúdos, diversificando os espaços de aprendizagem, ampliando o currículo e abrindo um leque de possibilidades. Ampliar o currículo não significa necessariamente aumentar a carga horária de determinadas disciplinas. O currículo é sempre uma escolha. Quando a escola define o que ofertar para seus alunos, revela suas pretensões de futuro.

As escolas ainda permanecem com forte ênfase nas práticas tradicionais e trabalhando projetos e atividades interdisciplinares de forma fragmentada e dissociada das atividades acadêmicas. Como exemplo, podemos citar, os projetos que são desenvolvidos no horário de almoço, ou seja, não são incorporados realmente como atividades acadêmicas. Essas práticas deveriam ser constantes e inseridas na rotina escolar, em todas as disciplinas, relacionando os conteúdos com as vivências e os contextos dos discentes.

Na próxima seção, apresentamos os elementos metodológicos utilizados para levantar os dados e desenvolver a investigação da pesquisa de campo na terceira fase da investigação.

3.2 A TERCEIRA FASE DA PESQUISA: ASPECTOS METODOLÓGICOS DAS

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