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2. A EDUCAÇÃO NA ATUAL SOCIABILIDADE CAPITALISTA: UMA

2.2. A EDUCAÇÃO NA ATUAL SOCIABILIDADE CAPITALISTA

Transitar pela lógica da educação na atual sociabilidade capitalista torna-se fundamental para compreender esse espaço de inserção dos profissionais de Serviço Social, uma vez que a expansão da requisição pelo assistente social neste campo ocupacional ocorre principalmente pelo acirramento da questão social, fruto da atual sociabilidade capitalista, perpassada dentro da escola, que demanda um trabalho mais capacitado para o seu enfrentamento e para associação da assistência social ao estudante nas escolas públicas e privadas, as quais rebatem no ensino/aprendizagem do aluno e que o assistente social é chamado a intervir.

Desta maneira, compreender a educação é algo bastante complexo e, muitas vezes, contraditório para algumas análises, por isso, a intenção é apreendê-la sob uma perspectiva critica/reflexiva frente atual sociabilidade capitalista, uma vez que a educação não é algo separada e/ou desconectada da sociedade, mas é determinada por sua lógica. Ou seja, a educação está ligada desde a origem do homem em sociabilidade, por intermédio do trabalho,

como formador ontológico do ser humano36, isto é, se o que determina o homem é o trabalho, sua relação racional e teleológica37 com a natureza, logo, este não nasce sendo homem, ele forma-se homem, ele necessita aprender a ser, ele educa-se homem.

Assim sendo, a educação está conectada a origem da produção e das relações humanas através do trabalho, onde o aprendizado foi sendo apropriado coletivamente de geração a geração com intermédio da linguagem e se (re) configurando de acordo com a complexidade da sociedade e com as suas necessidades, “digam-me onde está o trabalho em um tipo de sociedade e eu te direi onde está a educação”. (Meszáros, 2005, p.17)

Entretanto, com a propriedade privada da terra o sentido do trabalho- fundador do ser social- se modificou, tornou-se possível uns viverem ou sobreviverem do trabalho e outros do trabalho alheio, se caracterizando, então, a divisão de classes, que consequentemente implicou também na divisão da educação. Exemplificando essa questão tem-se nas palavras de Saviani (2007, p.159):

A partir do escravismo antigo passaremos a ter duas modalidades distintas e separadas de educação: uma para a classe proprietária, identificada como a educação dos homens livres, e outra para a classe não proprietária, identificada como a educação dos escravos e serviçais. A primeira, centrada nas atividades intelectuais, na arte da palavra e nos exercícios físicos de caráter lúdico ou militar. E a segunda, assimilada ao próprio processo de trabalho. A primeira modalidade de educação deu origem à escola. A palavra escola deriva do grego e significa, etimologicamente, o lugar do ócio, tempo livre. Era, pois, o lugar para onde iam os que dispunham de tempo livre. Desenvolveu-se, a partir daí, uma forma específica de educação, em contraposição àquela inerente ao processo produtivo. Pela sua especificidade, essa nova forma de educação passou a ser identificada com a educação propriamente dita, perpetrando- se a separação entre educação e trabalho.

36O desenvolvimento social tem por seu fundamento último o fato de que, a cada processo de objetivação o

trabalho produz objetiva e subjetivamente algo “novo”, com o que a história humana se consubstancia como um longo e contraditório processo de acumulação que é o desenvolvimento das “capacidades humanas” para, de forma cada vez mais eficiente,transformar o meio nos produtos materiais necessários à reprodução social.Em outras palavras, ao transformar a natureza, o indivíduo e a sociedade também se transformam. A construção de uma lança possibilita que, no plano da reprodução do indivíduo, este acumule conhecimentos e habilidades que não possuía antes; ou seja, após a lança, o indivíduo já não é mais o mesmo de antes. Analogamente, uma sociedade que conhece a lança possui possibilidades e necessidades que não possuía antes; ela também já não é mais a mesma. Todo processo de objetivação cria, necessariamente, uma nova situação sócio-histórica, de tal modo que os indivíduos são forçados a novas respostas que devem dar conta da satisfação das novas necessidades a partir das novas possibilidades. (LUKACS apud LESSA, n/d, p.95).

37Por ser consciente, o homem age teleologicamente; transforma suas necessidades e formas de satisfação em

novas perguntas; autoconstrói-se com um ser de projetos; torna-se autoconsciente, como sujeito construtor de si mesmo e da história. O trabalho e seu produto, a cultura, fundam a história, autoconstrução dos próprios homens, em sua relação recíproca com a natureza. (BARROCO, 2007, p. 27/28)

A educação, neste processo, foi segmentada pelos homens “livres” que desenvolviam o trabalho intelectual e aqueles que, desprovidos de uma propriedade, ficavam à mercê do trabalho manual e de sua exploração. Dividindo os membros de classe que dispunha de tempo e ócio em contraposição à educação da maioria, que continua a coincidir com o processo de trabalho propriamente dito, dando origem assim a escola que tem sua etimologia na palavra grega “schole” que significa “tempo livre”, “ócio”, sendo privilégio para a elite.

Deve-se considerar que, desde então, a educação se divide em duas: a formal e informal. A primeira constitui-se naquela ensinada em sala de aula, institucionalizada como escola; e a informal refere-se ao cotidiano com seus costumes, valores, tradições, ou seja, a vida em suas relações sociais. Entretanto, a educação se constitui mais do que a soma das duas, ela refere-se ao complexo da totalidade social, inserida na produção e reprodução da sociedade, por isso, que para compreendê-la é necessário analisar a sociedade em que esta inserida a educação e os complexos que a determina, principalmente com o sistema capitalista.

Com o advento do capitalismo propriamente dito esse quadro se intensificou, através da separação ainda mais acirrada, não apenas de propriedade da terra, mas daqueles que possuíam os meios de trabalho e, aqueles que, para a sua sobrevivência, só restavam à venda de sua força de trabalho, dividindo-se em classe dos proprietários capitalistas e classe dos trabalhadores: “com a subordinação real do trabalho no capital efetua-se uma revolução total (que prossegue e se repete continuamente) no próprio modo de produção, na produtividade do trabalho e na relação entre capitalista e operário” (MARX, 2004, p.105)

Este modelo econômico tem por base a acumulação e exploração, em que há apropriação dos meios de produção e a compra da força de trabalho por uma classe - a burguesia- e, a venda da força de trabalho alienada como forma de mercadoria por outra classe - a trabalhadora. Assim, o trabalhador vende sua força de trabalho em forma de “mercadoria” para sobreviver, sob controle dos meios de produção e da apropriação, isto é, esta sociedade possui como fundamental para seu fortalecimento a desigualdade de classes.

Para sua acumulação o capitalista expropria o trabalho, ou seja, o produto do trabalho está acrescido de um valor excedente, extraído do trabalho não pago, denominado “mais- valia”, que só pode ser extraído pela exploração do próprio homem para a obtenção do lucro.

Desta forma, os trabalhadores são despossuídos dos meios de produção, não reconhecendo o produto final como seus pertencentes, sendo explorados durante o processo de trabalho, através da extração da mais-valia. Desenvolve-se, assim, um processo de desumanização do trabalho, tendo o produto e processo de trabalho como algo estranho ao

trabalhador, além das péssimas condições e exploração em que este é submetido. Nas palavras de Marx (1983, p.210) tem-se que:

Todos os métodos de produção da mais valia são, simultaneamente, métodos da acumulação e toda expansão da acumulação torna-se, reciprocamente, meio de desenvolver aqueles métodos. Portanto (...) à medida que se acumula capital, a situação do trabalhador, qualquer que seja o seu pagamento, alto ou baixo, tem de piorar. A acumulação ocasiona uma acumulação de miséria correspondente a acumulação capitalista. A acumulação da riqueza num pólo é, portanto, ao mesmo tempo, a acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravidão, ignorância, brutalização e degradação moral no pólo oposto.

O sistema capitalista se acelerou e intensificou com a ascensão da industrialização, reduzindo a qualificação da mão de obra para mínima e para o trabalho generalista, substituiu o trabalho manual pela maquinaria, aumentou também o desemprego e a exploração da classe trabalhadora, assim como, intensificou a divisão do trabalho intelectual e manual e, consequentemente, transformou ainda mais a educação.

Desta maneira, a educação, especificamente a formal, a escola, passou a ser grande aliada desse processo de revolução industrial, não no sentido de uma revolução educacional ou do antigo sentido direcionado apenas para a elite, mas no sentido de preparar mão de obra barata e técnica que correspondesse e atendesse ao processo de industrialização que estava crescendo e demandando uma preparação mínima.

A escola foi se estruturando ao modo de produção capitalista industrial, dispensando o desenvolvimento total do individuo ou suas potencialidades gerais, direcionada, mais uma vez, a reprodução da divisão de classes, agora de maneira mais intensa, uma vez que:

Se é certo que com o desenvolvimento do maquinismo, a ciência e a técnica se incorporam a máquina, é certo também que o desenvolvimento desta introduz uma serie de exigências de qualificação, da força de trabalho que traz consigo a aparição, consolidação e auge do sistema escolar institucionalizado. (MARX; ENGELS, 1976, p.4)

Inserida neste sistema se manteve atrelada a educar a elite, ou melhor, aos filhos da elite. Para os trabalhadores e seus filhos restava apenas uma educação básica, com o intuito de aprender o mínimo necessário, principalmente no que se refere ao contexto da América Latina, em que a educação para a classe trabalhadora vem no sentido de formar mão de obra,

a fim de atender o crescimento de outros países de forma excludente e desigual, não apenas dentro do país, como também, na competição exterior.

Na América Latina, a educação no contexto brasileiro, foi exemplo desta divisão de classes, desde o seu inicio com a Companhia de Jesus (jesuítas) que educavam na intenção de domesticar os índios a sua colonização e a difusão dos princípios católicos, até as primeiras escolas com o Marques de Pombal, na intenção de formar os filhos dos colonizadores a serem futuros líderes. Neste contexto, coube aos jesuítas:

Praticamente, o monopólio do ensino escolar no Brasil durante um tempo razoável. Algo em torno de duzentos anos. Os colégios jesuítas tiveram grandes influencia sobre a sociedade e sobre a elite brasileira. Não foram muitos diante das necessidades da população. Todavia, foram suficientes para gerar uma relação de respeito entre os que eram donos das terras e os que eram os donos das almas. (GHIRALDELLI, 2009, p. 25/26)

O Brasil não teve o comprometimento da educação voltada à formação humanitária na perspectiva de intervenção dos indivíduos na sociedade e no desenvolvimento desta para seu crescimento como país. Este se manteve “colonizado” por diferentes países, sua intenção quase nunca foi do próprio desenvolvimento, mas de responder as demandas do exterior, dos seus colonizadores e “aliados”.

Tem-se que desde as escolas do império até o final da ditadura - não diferente dos contextos posteriores - a educação no Brasil foi deixada em segundo plano, seu investimento foi atrelado, não muito diferente dos outros países, principalmente os da América Latina, a responder as demandas do capital, provocadora e reprodutora da exploração e da desigualdade de classes, uma vez que para a classe trabalhadora o investimento em educação foi direcionado a formação técnica e a conformação perante a sociedade e ao governo.

A educação brasileira esteve voltada a atender a política econômica e a elite, trazendo atrasos e consequências drásticas percebidas e intensificadas até os dias atuais em todos os níveis escolares: fundamental, médio e superior. Exemplo disso, principalmente no que diz respeito ao ensino superior, tem-se a seguinte afirmação:

“A educação é um campo privilegiado de formação dos sujeitos e pensando na conjuntura do nosso país a partir da formação social brasileira (...) ai vou me dirigir mais a educação do ensino superior de onde tenho mais conhecimento, sempre foi um campo privilegiado das elites brasileiras, a gente sabe que a universidade, ela nunca foi uma universidade acessível às classes populares, a educação em si sempre foi de uma conformação completamente coerente com o projeto que se tinha hegemonicamente no nosso país, que é um projeto político burguês, conservador e com laços de todas as formas mais terríveis da política: paternalismo, coronelismo e todas as outras vertentes que

querem manter o povo no seu canto e as classes detentoras de poder, no poder. Então a educação nunca foi um campo de acesso às classes populares, a classe trabalhadora foi o campo privilegiado da burguesia, até porque a universidade em si sempre foi um campo elitizado.” (AS.1)

Percebe-se na afirmativa a confirmação no cotidiano do trabalho na educação superior- porém não só nesse nível- os rebatimentos de anos de uma educação voltada à elite, aos ditames do sistema capitalista, a dificuldade do acesso de uma educação de qualidade superior para a classe trabalhadora, apresentando-se como uma importante aliada a reprodução do poder e da hegemonia capitalista durante muitos anos e ainda sentida na atualidade.

Tem-se que apenas no período de transição para um regime democrático, por volta do final dos anos 1970 e 1980 foi que houve uma alteração significativa na educação. Grandes movimentos da população reivindicaram por uma educação gratuita e de qualidade, os quais fizeram alterar um pouco o panorama existente da educação. Exemplos destes foram nos anos 1970 o “Movimento de lutas por Creches em São Paulo” (1979); o “Movimento dos sem- terra” (MST) com as escolas para os filhos dos ocupantes (1970); nos anos 1980 as grandes mobilizações dos professores, resultando em 1987 no Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública, o qual contribuiu na elaboração dos artigos referentes à educação na Constituição de 1988; e em 1988 com o lançamento nacional do Movimento em Defesa da Escola Pública.

A luta dos movimentos sociais com a participação de grande parcela da população - mesmo com a intensa repressão dos militares -permitiu a redemocratização do país e, com esta foi elaborada a Constituição caracterizada como “cidadã” em 1988, a qual garantiu que “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa (...)” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, Art°.205) e na democratização do seu acesso "Igualdade de condições de acesso e permanência na escola” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, Art°.206), isto é, a educação passou a se configurar, pelo menos teoricamente, como direito de todos e dever do Estado.

Entretanto, este panorama de “conquistas” de direitos foi ameaçado com a crise do capital pós-guerra nos anos 1970 - para os países centrais - e rebatido nos anos 1980 no Brasil. Esta crise foi determinada pela decadência do modelo de intervenção do Estado de “bem- estar social” com modelo produtivista “fordista-keynesiano”, o qual “caiu numa longa e profunda recessão, combinando, pela primeira vez, baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação” (PERRY, 1995, p.1).

Fundado num regime “rígido” através do capitalismo monopolista a adoção de um modelo “flexível” com uma estratégica político-ideológico neoliberal38, onde o Estado atua de forma mínima para o social, porém não apenas isto, transfere para a sociedade civil e para o mercado os compromissos com o social, fortalecendo, assim, seu comprometimento com grande capital: os grandes oligopólios transnacionais.

Deve-se destacar que no caso brasileiro não se deve falar de um Estado de bem-estar social, pois o que se presenciou foram medidas pontuais, focalistas de caráter extremamente paternalista e caritativo, onde alguns pouquíssimos “direitos” foram negociados para a manutenção e conformação da classe trabalhadora. Entretanto, a crise desse modelo de “bem- estar” de forma global atingiu da mesma maneira o país, trazendo o modelo produtivista “flexível” e o sistema neoliberal, principalmente com a “ajuda” dos presidentes com forte direcionamento nesta perspectiva dos governos neoliberais39 e a condição de subalternidade do país.

Desta maneira, os direitos garantidos e conquistados em lei, muito deles, permaneceram apenas na lei, dentre eles foi à educação, encarando-a sob a lógica de mercadoria na obtenção de grande parte do lucro dos países, com os governos extremamente neoliberais e conservadores de Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, posteriormente com o de Luiz Inácio Lula da Silva e, atualmente, com Dilma Rousseff, a qual continua a predominar a lógica desigual da educação, mais ainda, a educação se tornar não apenas uma aliadana conservação e reprodução da ideologia dominante capitalista, como também uma fonte essencial e extremamente importante de lucro.

Exemplo da ofensiva neoliberal na educação se encontra na reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) em 1996, com o então governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Esta lei foi resultado de um grande debate, que durou cerca de 06 (seis) anos, entre duas propostas distintas: uma conhecida como Projeto Jorge Hage que foi

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São configurações radicais nos meandros das relações entre o Estado e a sociedade, que não seriam possíveis sem a colaboração e o suporto de um Estado forte, sob um ideário neoliberal através das políticas de ajuste defendidas no Consenso de Waschington, cujos princípios se propõem a guiar o processo de “ajuste estrutural”, político-econômico ao novo capitalismo global. São dez medidas básicas defendidas no Consenso de Washington, sob um receituário neoliberal, que se tornaram hegemônicos para toda America latina, expressas: no ajuste fiscal e monetário, na redução dos gastos sociais, na privatização da coisa pública, no controle das contas publicas, na desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas), na abertura dos mercados internacionais. Todas orientadas pelo principio da eficiência econômica e pelo pressuposto que essas medidas dariam sustentabilidade financeira ao estado e possibilitariam o crescimento econômico e a equidade social (SILVA, 2002, p. 67).

39O primeiro governo que adotou o neoliberalismo foi o de Margaret Thatcher na Inglaterra, a partir de 1980, o

qual foi precedido apenas por Pinochet no Chile, no início da década de 1970. No Brasil tiveram o governo de Fernando Collor e posteriormente de Fernando Henrique Cardoso que se caracterizaram com grandes influências do modelo neoliberal, adotando os princípios e os conceitos pra todas as esferas da administração do país.

resultado de vários debates com a sociedade, o qual defendia que a escola pública deveria ser uma responsabilidade e prioridade do Estado; e a segunda proposta criada por Darcy Ribeiro, com auxilio do então presidente Fernando Collor, que tinha como objetivo a escola privatizada, em que o Estado só deveria intervir garantindo o acesso de bolsas para alunos de baixa renda.

Note-se que, em razão da grande influência do sistema neoliberal foi “aprovado” a atual LDB criada por Darcy Ribeiro com forte apelo ao Banco Mundial (BM) e apoiada pelo Ministério de educação (MEC). Esta situação, principalmente com a influência no Banco Mundial, vem trazendo grandes problemas sentidos na atualidade, principalmente pela transformação da educação em forma de dados numéricos para aos órgãos internacionais. Em outras palavras, se preza mais pela quantidade de alunos formados, para que se tenham mais investimentos desses órgãos, do que a qualidade do ensino.

Em face dessas transformações societárias caracteriza-se atualmente, de forma global (embora diferenciada pelas especificidades de cada país), a sociedade sob a égide do capital financeiro e mundializado, o qual segundo Chesnais (2001) “assume o comando do processo de acumulação, em cujo contexto integra os mercados: das mercadorias, do capital e das tecnologias financeiras, contudo nega e obscurece os do trabalho”.

Esta lógica capitalista tem como base e sustentabilidade os grupos industriais e transnacionais, resultantes de processos de fusões das empresas num contexto de desregulamentação do Estado e de liberalismo econômico. Assim, as empresas industriais juntam-se com as instituições financeiras e passam a comandar a acumulação, configurando- se em um modo especifico de dominação social e política do capitalismo, com a “ajuda” dos Estados nacionais.

Este processo se intensifica com a chamada “globalização” em que as novas tecnologias passam a predominar nas relações econômicas, de forma rápida e flexível, onde o conhecimento e a informação passam a se integrarem como grandes geradores de lucro, exemplificando, nas palavras de Castells (1999, p.2):

Uma nova economia surgiu em escala global nas duas últimas décadas. Chamo-a de informacional e de global para identificar suas características fundamentais e diferenciadas e enfatizar sua interligação. É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou agentes nessa economia (sejam empresas, regiões ou nações) dependem basicamente de sua capacidade de gerar processar e aplicar de forma eficiente a informação baseada em conhecimento. É global porque as principais atividades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes

(capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma rede de conexões entre agentes econômicos. É informacional e global porque, sob novas condições históricas, é gerada e a concorrência é feita em uma rede global de interação.

Desta maneira, sob o errôneo entendimento de uma economia global com oportunidade de desenvolvimento e inter-relação dos países, o sistema capitalista intensifica ainda mais a concentração da riqueza para uma pequena parte da sociedade, e, por outro lado, aumenta ainda mais a pobreza e a miséria, potenciando a lei geral da acumulação capitalista,