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Serviço social na educação: análise das tendencias dos perfis pedagógicos do assistente social

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL - MESTRADO

MARIANA LIBÂNIO DE MELO

SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DOS PERFIS PEDAGÓGICOS DO ASSISTENTE SOCIAL.

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MARIANA LIBÂNIO DE MELO

SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS DOS PERFIS PEDAGÓGICOS DO ASSISTENTE SOCIAL.

Dissertação apresentada à Pós-graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito à obtenção do grau de Mestre em Serviço Social. Área de concentração: Sociabilidade, Serviço Social e Política Social.

Orientadora: Profª Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau.

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AGRADECIMENTOS

“Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, é porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha e não nos deixa só porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.” (Charles Chaplin).

Nesta vida, triste daquele que pensa ser sozinho ou realizar alguma atividade sem o auxílio de outra pessoa. Somos seres coletivos, fazemos parte de uma sociedade e, mais que isso, de uma grande família universal. Estamos nessa vida para evoluirmos e crescermos enquanto seres humanos, portanto, agradecer por aqueles que fizeram parte da nossa trajetória e história de vida não é apenas um ato de humildade, de reconhecimento ou de amor, mas de compreensão que não estamos nessa vida sozinhos e que é necessário à presença e o sentido das pessoas na nossa vida para obtermos a razão da nossa existência.

Assim, dedico e agradeço esse trabalho a todos que estiveram comigo com apoio, torcida e positividade para que eu conseguisse dar mais esse passo na minha trajetória profissional e de vida.

À minha mãe, Ana Lúcia, e meu pai, José Antônio, meus irmãos e meus familiares por toda paciência, carinho e compreensão que permitiram o desenvolvimento, reflexão e continuidade deste trabalho. Assim como, minha formação enquanto pessoa, com seus exemplos de vida, com os amores dedicados, que fizeram ser quem eu sou e estar onde estou. O meu obrigado não será capaz de agradecer por tudo que fizeram por mim.

Aos meus amigos por cada palavra de conselho, por cada motivação enquanto tudo parecia estar desmoronando. Pelas alegrias partilhadas e, acima de tudo, por serem essas pessoas tão especiais que me espelho e que aprendo ser uma pessoa melhor. A família que eu escolhi: Júlia Ciarlini, Evangelina Melo, Luiz Carlos Werneck, dentre tantos outros que são primordiais na minha vida.

Em especial, Sarah Tavares Cortês, com quem compartilhei cada angústia e reflexão, que me ajudou em todas as horas e esteve comigo sempre e em todos os momentos. Ela faz parte desta construção e sem ela não teria a mesma força para almejar meus objetivos.

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minha vida, que me fez voltar a acreditar em mim e no outro. Obrigada, amor, sem você nada disso teria sido possível.

À minha querida orientadora Dr.ª Maria Célia Correia Nicolau que ajudou em todo o meu processo de crescimento profissional e pessoal, com quem dividi momentos ímpares de construção do saber e de experiência de vida. Você é um exemplo de luta, de esperança e de que é com fé e amor que conseguimos ter sentido em nossas vidas. Não importa para onde vamos e nem o que façamos se não tivermos esses dois ingredientes nada disso terá efeito, nem razão. Com você aprendi muito e continuo aprendendo, você é uma grande professora e uma pessoa que merece todo o respeito e carinho. Obrigada.

Às Profas. Dras. Marina Maciel Abreu, Maria Regina de Ávila Moreira e Ilka de Lima Souza pela atenção e disponibilidade de terem aceitado contribuir nesse processo de construção do trabalho com todo o conhecimento e experiência adquiridos. Vocês foram pessoas extremamente importantes para a efetivação deste trabalho com quem eu aprendi imensamente. Lembrando carinhosamente, também, da minha querida Prof.ª Dr.ª Silvana Mara de Morais dos Santos que me ajudou muito e trouxe considerações importantes na construção desse trabalho.

Aos amigos e companheiros da turma de mestrado 2011 pela troca de conhecimentos e companheirismo que fizeram o diferencial neste processo. Como também, aos assistentes sociais entrevistados, que disponibilizaram seu tempo e atenção ao me receberem nos seus espaços de trabalho, compartilhando suas experiências, vivências e angústias profissionais. Fator extremamente importante para construção deste trabalho e do meu crescimento profissional.

A CAPES que viabilizou recursos financeiros, por meio da bolsa de demanda social, necessários à minha manutenção no mestrado.

Ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da UFRN, que acreditou na minha pesquisa e na relevância para o Serviço Social, proporcionando a oportunidade de cursar o mestrado com compromisso e dedicação.

A tudo aquilo e aqueles que não se pode ver - a espiritualidade amiga - que estiveram

comigo nesta caminhada, que me deu coragem e força para lutar.

E, por fim, a força que move tudo, que fez cada pessoa passar e ficar em minha vida, que

me ajudou a conquistar tudo o que tenho e ter forças para vencer, mais uma vez, o amanhã. Aos

meus queridos Deus, Jesus e Maria, o meu muito OBRIGADO, sem “vocês” nada disso faria

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RESUMO

A dissertação aborda o Serviço Social na educação em Natal/RN apreendendo e analisando as tendências dos perfis pedagógicos - com base no estudo referência de Marina Maciel Abreu - em seus diferentes espaços ocupacionais de ensino, incluindo instituições públicas, particulares e sem fins lucrativos. Para esta construção, analisa-se o exercício profissional dos assistentes sociais nesses espaços, em que se originam e se encontram num cenário de interesses divergentes que convivem em plena tensão e luta de classes, cuja intervenção profissional se insere no movimento de reprodução das relações sociais. As instituições de ensino são espaços sócio-institucionais inseridos neste contexto e facilitadores para a compreensão dos perfis pedagógicos no exercício profissional do assistente social, uma vez que o seu papel político e sua prática educativa definem com maior clareza as relações pedagógicas estabelecidas. No processo de intervenção, o assistente social nestas instituições, se volta ao atendimento das condições materiais dos usuários – estudantes e suas necessidades transformadas em demanda e requisições - via os serviços sociais, ao mesmo tempo, em que intervém na maneira de pensar e agir desses indivíduos envolvidos no seu cotidiano profissional na perspectiva de um direcionamento ideológico/político mediante ação educativa. Neste sentido, analisa-se o cotidiano profissional e seus determinantes a partir de um entendimento crítico, em função de compreender o exercício profissional no seu ambiente institucional, considerando o assistente social na condição de trabalhador assalariado e, a partir desta análise, compreender os perfis pedagógicos dos assistentes sociais construídos em seu entorno. A pesquisa não teve a intenção de apontar “modelos” de perfis pedagógicos, mas de apreender as tendências na profissão nesses espaços pedagógicos, a fim de fomentar o debate sobre a dimensão política/ideológica e educativa da profissão e do exercício profissional na educação em Natal/RN. Logo, foram apreendidas e analisadas via entrevista semiaberta, diversas tendências dos perfis pedagógicos caracterizados como de “ajuda”, “participação” e de “emancipação”, de acordo com as condições institucionais, conjunturais e do próprio direcionamento profissional do assistente social, como também, na materialização do projeto ético/político da profissão. Ratifica-os, então, como um elemento importante de compreensão do exercício profissional do assistente social na educação no fomento a produção acadêmica acerca do trabalho do assistente social neste âmbito.

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ABSTRACT

The dissertation addresses the Social education in Natal / RN seizing and analyzing trends in educational profiles - based on the study reference Marina Maciel Abreu - in their different occupational areas of education, including public institutions , private and nonprofit . For this construction, we analyze the professional practice of social workers in these spaces, which originate and are in a scenario of divergent interests who live in full tension and class struggle , whose professional intervention is in the movement of reproduction of social relations . Education institutions are socio- institutional spaces inserted in this context and facilitators to understand the pedagogical profiles in professional social worker, since its political role and their educational practice more clearly define the pedagogical relations established . The intervention process, the social worker these institutions it back to meet the material conditions of the users - students and their needs transformed into demand and requests - via social services at the same time, that intervenes in the way of thinking and acting of these individuals involved in your daily work with a view to targeting ideological / political action through education. In this sense , we analyze the daily work and their determinants from a critical understanding , according to understand professional practice in their institutional environment , considering the social worker on condition employed , and from this analysis , understand the profiles teaching of social workers built around it . The research did not intend to point “models” of pedagogical profiles, but to grasp the trends in the profession these pedagogical spaces in order to stimulate the debate on the political dimension / ideological and educational profession and professional practice in education in Natal / RN . Soon , they were seized and analyzed via semi-open interview , several trends pedagogical profiles characterized as "help" , " participation " and " empowerment ," according to the institutional, situational and targeting own professional social worker , as well , the materialization of the ethical / political profession. Ratifies them, then, as an important element of understanding of the professional practice of social workers in education in fostering the academic production about the work of the social worker in this field.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Principais dificuldades encontradas nas institucionais de ensino

pelos assistentes sociais--- 104 Tabela 2- Relação da lei 12.101 e do Decreto 7.234--- 124/125

Tabela 3- Concepção do exercício profissional: assistência social, educação

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- Trajetória acadêmica e profissional dos assistentes sociais nas instituições de ensino--- 92 Gráfico 2- Vínculos Empregatícios--- 100

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LISTA DE SIGLAS

ABC -Avaliação Brasileira de Ciclo de Alfabetização.

BM- Banco Mundial.

CBAS- Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais.

CEFET- Centros Federais de Educação Tecnológica.

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social.

EaD- Ensino a Distância.

ENADE- Exame Nacional de Desempenho de Estudantes.

ENEM- O Exame Nacional do Ensino Médio.

FHC- Fernando Henrique Cardoso.

FMI - Fundo Monetário Internacional.

IDEB- Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

IFET- Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.

LDB- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

MEC- Ministério de educação.

MST-Movimento dos sem-terra.

OCDE- Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos.

PCN- Parâmetros Curriculares Nacionais.

PISA- Programa Internacional de Avaliação de Estudantes.

PNAES- Plano Nacional de Assistência Estudantil.

PRONATEC- Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego.

PROUNI-Projeto Universidade para Todos.

REUNI- Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades

Federais.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO--- 12

2. A EDUCAÇÃO NA ATUAL SOCIABILIDADE CAPITALISTA: UMA ÁREA DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL E OS PERFIS PEDAGÓGICOS--- 32

2.1 O LUGAR DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO: O EXERCÍCIO PROFISSIONAL--- 32

2.2. A EDUCAÇÃO NA ATUAL SOCIABILIDADE CAPITALISTA--- 49

2.3 A EDUCAÇÃO E O SEU PAPEL COMO FORMADOR E REPRODUTOR DE VALORES: INSERÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL E OS PERFIS PEDAGÓGICOS--- 66

3. OS PERFIS PEDAGÓGICOS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA ATUAL SOCIABILIDADE CAPITALISTA: O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES PRIVADAS E PÚBLICAS EM NATAL/RN--- 81

A) TRAJETÓRIA ACADÊMICA E PROFISSIONAL--- 89

B) COMPREENDENDO AS CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO--- 99

C) O EXERCÍCIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL E SUAS ATIVIDADES NO ÂMBITO ESCOLAR: CONSTRUINDO AS TENDÊNCIAS DOS PERFIS PEDAGÓGICOS--- 123

D) AS TENDÊNCIAS DOS PERFIS PEDAGÓGICOS NO EXERCICIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL ENCONTRADOS NA EDUCAÇÃO--- 151

4. O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO E OS PERFIS PEDAGÓGICOS NO EXERCICIO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA EDUCAÇÃO--- 170

4.1 A MATERIALIZAÇÃO DO PROJETO ÉTICO/POLÍTICO DA PROFISSÃO NA EDUCAÇÃO: OS CÓDIGOS DE ÉTICA NA ANÁLISE DOS PERFIS PEDAGÓGICOS E SUA EFETIVAÇÃO--- 174

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS--- 199

REFERÊNCIAS--- 208

APÊNDICES--- 217

APÊNDICE A- Roteiro da Entrevista--- 218

APÊNCICE B - Termo de consentimento livre e esclarecido--- 220

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1- INTRODUÇÃO

"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino”. (Paulo Freire) 1

O interesse de apreender e analisar as tendências dos perfis pedagógicos do assistente social na educação a partir do seu exercício profissional partiu, como o próprio Paulo Freire afirma, da curiosidade do apreender, da necessidade própria de aprofundar e dos diversos questionamentos realizados, que inquietaram e que induziram a busca do conhecimento sobre a temática.

Este processo teve início pela experiência do estágio curricular obrigatório realizado no IFRN/Zona Norte em 2009, momento em que foi desenvolvido um projeto de intervenção com base no estudo do espaço sócio-ocupacional do trabalho do assistente social. Este projeto de intervenção possibilitou a construção de um projeto de extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que teve como objetivo expandir o trabalho realizado no IFRN/ZN para escolas públicas, objetivando discutir com os alunos sobre a temática da “Violência e seus múltiplos reflexos”.

Como resultado dessa trajetória de experiências do Serviço Social na educação foi produzido um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), abordando “Os limites e possibilidades do exercício profissional do assistente social nos IFRN´S”, frente ao processo de expansão da rede federal de ensino científico e tecnológico.

O estudo e aprofundamento desta temática durante a trajetória acadêmica permitiu a apreensão do exercício profissional na educação, tornando perceptível nas análises a importância que o assistente social tem nesta área, assim como, da dimensão educativa que existe no seu exercício profissional. Inferiu-se que, dependendo do direcionamento dado ao seu exercício profissional - como também dos diversos determinantes conjunturais e institucionais - vão se estabelecendo limites e possibilidades a um comprometimento com uma educação além do que está instituída institucionalmente e da efetivação do projeto ético/político da profissão, que apontam para uma relação pedagógica em seu exercício profissional.

1

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessário a prática educativa. 36 ed. São Paulo: Paz Terra, 2007.

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Diante dessas experiências e reflexões no âmbito da educação e do exercício profissional, o interesse, a busca por ampliar e aprofundar a pesquisa nesta temática se efetivou com a aprovação no programa pós-graduação de Serviço Social da UFRN.

Buscou-se, portanto, neste momento de amadurecimento intelectual, mediante uma capacitação continuada em nível de pós-graduação, apreender e analisar as tendências dos perfis pedagógicos do assistente social no âmbito da educação, a partir da análise das relações pedagógicas constituídas nos espaços sócio-ocupacionais, os quais possibilitaram compreender com maior ênfase a dimensão educativa e o direcionamento político/pedagógico do profissional em seu exercício na educação, tendo presente o contexto da sociabilidade capitalista na contemporaneidade.

Pensar a educação no contexto desta sociabilidade do capital constitui uma exigência desta análise em função da compreensão das unidades institucionais – as escolas e institutos -, espaços em que se encontram inseridos os profissionais de Serviço Social. Apreende-se que esses espaços de trabalho na educação vêm sendo ampliado, portanto, absorvendo um grande número de profissionais de Serviço Social2, que apesar de não ser um campo recente, vem ganhando atualmente destaque e visibilidade, principalmente com a luta pela aprovação do Projeto de Lei 060/2007 dos profissionais do Serviço Social em conjunto com psicólogos, o qual visa à inserção desses profissionais nas redes públicas de educação.

A análise da educação como área de intervenção dos assistentes sociais pela mediação de suas unidades institucionais de ensino tem presente sua compreensão no contexto da sociedade, com centralidade no trabalho, e, consequentemente, na divisão de classes, que se apresenta como espaços pedagógicos estratégicos na formação e reprodução de valores dominantes capitalistas, como também uma importante fonte de lucro, em seu sentido propriamente mercadológico que vem assumindo a educação numa sociabilidade dominada pelo capital financeiro.

São espaços, portanto, em expansão que têm requisitado assistente social, principalmente, em razão do acirramento da questão social em suas diversas expressões como casos de drogadição, violência, preconceito, dentre outros, resultantes da atual sociabilidade capitalista, que tem sua transversalidade pelo âmbito da escola, rebatendo por sua vez na qualidade do ensino/aprendizagem do aluno, cuja maior expressão da questão social se apresenta pela evasão escolar.

2Exemplo disso é a expansão que vem ocorrendo recentemente dos IFET´S em todos os Estados e no Distrito

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Observe-se que, dentre os profissionais requisitados para o enfrentamento da problemática da evasão escolar, se encontra o assistente social, o qual trabalha com a assistência ao estudante como resposta às necessidades dos estudantes que se transformam em diferentes demandas, as quais chegam via o espaço de ensino até ao exercício profissional do assistente social, sendo que essas demandas se apresentam ao profissional em suas especificidades para cada instituição escolar, sejam elas públicas, particulares ou sem fins lucrativos, que se constituem espaços privilegiados no estudo da função pedagógica3 do assistente social.

Aprende-se dessa função pedagógica, o caráter político da educação que permite entender melhor o direcionamento do assistente social na sua relação pedagógica dentro das instituições de ensino, uma vez que se considera o Serviço Social inserido na reprodução das relações sociais, atuando na forma de agir, ver e pensar dos indivíduos, direcionado a um determinado projeto societário4 na construção de uma hegemonia5 de classe. Nesse sentido, tem-se que:

As relações pedagógicas que se estabelecem nessas mediações, concretizam-se sob a forma de ação material e ideológica, nos espaços cotidianos de vida e de trabalho de segmentos das classes subalternas diretamente envolvidos nos processos da prática profissional, interferindo na reprodução física e subjetiva desses segmentos e na própria constituição do Serviço Social como profissão. Por meio do exercício desta função, a prática do assistente social insere-se no campo das atividades que incidem sobre a organização da cultura, constituindo-se elemento integrante da dimensão política ideológica das relações de hegemonia. (ABREU, 2011, p.17)

Observa-se através da afirmação referida, que no exercício profissional, o assistente social contribui materialmente através dos serviços sociais oferecidos via políticas públicas e ideologicamente na vida dos indivíduos desenvolvendo uma relação pedagógica, ou seja, a

3A função pedagógica, segundo ABREU (2011, p. 17) é determinada pelos vínculos que a profissão estabelece

com as classes sociais e se materializa, fundamentalmente por meio dos efeitos da ação profissional na maneira de pensar e agir dos sujeitos envolvidos nos processos da prática, mediatizada pelas relações entre Estado e a sociedade civil no enfrentamento da questão social, integrada a estratégias de racionalização da produção e reprodução das relações sociais e do exercício do controle social.

4

Trata-se daqueles projetos que apresentam uma imagem de sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Os projetos societários são projetos coletivos; mas seu traço peculiar reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade. Somente eles apresentam esta característica.Em sociedades como a nossa, os projetos societários são, necessária e simultaneamente, projetos de classe, ainda que refratem mais ou menos fortemente determinações de outra natureza (culturais, de gênero, étnicas etc.). (NETTO, 1999, p.2)

5O conceito de hegemonia é apresentado por Gramsci em toda sua amplitude, isto é, como algo que opera não

apenas sobre a estrutura econômica e sobre a organização política da sociedade, mas também sobre o modo de pensar, sobre as orientações ideológicas e inclusive o modo de conhecer. (GRUPPI, 1978, p.3)

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profissão incide também através do seu cotidiano com uma dimensão político/ideológica, a qual influi na forma de pensar e agir dos indivíduos que trabalha, direcionando o trabalho para um determinado projeto de classe.

Sendo assim, na medida em que é interpretado e orientado o exercício profissional pode-se observar claramente a natureza educativa da profissão e seu posicionamento político/ideológico enquanto profissional. Logo, levando também em consideração o raciocínio em Gramsci (1995, p.37) em que “toda de hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica” 6 apresentam-se, então, uma relação pedagógica no exercício profissional do assistente social, que não se reduz as relações escolares, mas estão inscritas no direcionamento pela hegemonia na sociedade de classe, o qual orienta o exercício profissional.

Tem-se, então, que ao longo da trajetória do Serviço Social no cotidiano do seu exercício profissional - através da natureza educativa desta- influenciou a maneira de pensar e agir dos indivíduos resultando em um exercício com dimensão política/ideológica que satisfaz aos interesses de uma determinada classe, logo, se apresentou tendências da função pedagógica da profissão caracterizada por Marina Maciel Abreu, em sua obra7 de extrema importância, que é utilizada como primordial referencia nas análises desta dissertação - como os perfis de “ajuda”, “participação” e “emancipação” -, construídos e reconstruídos ao longo da profissão, resultante das transformações societárias em contextos histórico-sociais determinados.

São perfis identificados no exercício profissional do assistente social e não como “modelos” prontos, apresentam-se como tendências mais presentes na profissão em seu direcionamento profissional que coexistem na contemporaneidade nos diferentes espaços sócio-ocupacionais em que a profissão se insere e transita.

O perfil pedagógico compreendido no surgimento da profissão em 1930, a institucionalização da profissão em 1940 foi caracterizado como de “ajuda” psicossocial individualizada, no sentido de análise de uma dimensão individual na perspectiva de “reforma” moral e “reintegração” social. Este perfil se iniciou primeiramente pela influência Europeia (franco-belga), na própria ação católica brasileira nos marcos do pensamento

6As relações pedagógicas não podem ser limitadas as relações especificamente “escolásticas”, através das quais

as novas gerações entram em contato com as antigas e absorvem as suas experiências e os seus valores historicamente necessários, “amadurecendo” e desenvolvendo uma personalidade própria, histórica e culturalmente superior. Esta relação existe em toda a sociedade no seu conjunto e em todo o individuo com relação aos outros indivíduos, bem como entre camadas intelectuais e não intelectuais, entre governantes e governados (...) Toda relação de “hegemonia” é necessàriamente uma relação pedagógica. (GRAMSCI, 1995 p.37)

7Serviço Social e a organização da cultura: perfis pedagógicos da prática profissional.

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conservador e religioso e se consolidou com a influência norte-americana, juntamente com a linha teórico-filosófica do positivismo/funcionalismo8.

O Serviço Social surge no Brasil nos anos 1930, no governo provisório de Getúlio Vargas9 a partir das obras e instituições assistenciais que emergem após a Primeira Guerra Mundial pela ação da igreja católica, tendo como marco inicial o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), em 1932, por setores da Ação Social e Ação Católica. Esse período se apresenta por um novo processo histórico a nível nacional, através da mobilização do movimento católico ao processo de industrialização e urbanização brasileira e as mobilizações operárias, como também a nível internacional10 principalmente pela crise do capital em 1929.

Neste contexto, a fim de atender a demanda crescente da classe operária e suas reivindicações, o Estado, juntamente com as ações assistencialistas da igreja católica, surge:

Como parte de um movimento social mais amplo, de bases confessionais, articulado à necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma presença mais ativa da Igreja Católica no “mundo temporal”, nos inícios da década de 30. A partir das grandes mobilizações da classe operária nas duas primeiras décadas do século, o debate sobre a “questão social”

8

Em seu processo sócio-histórico, a matriz teórica positivista, como uma das expressões da razão moderna, passa a fazer parte do suporte teórico-metodológico buscando pela profissão enquanto necessidade de qualificação técnico-científica para responder às exigências de modernização da sociedade e do Estado decorrentes da consolidação do capitalismo monopolista no Brasil. O conhecimento dos fenômenos sociais é realizado através de um modelo “formal-abstrato,” a partir dos dados imediatos, empíricos e objetivos, passiveis de classificação e de manipulação, cuja síntese ou totalização é efetuada pelo sujeito do conhecimento. A ação profissional nos diferentes espaços sócio-ocupacionais caracteriza-se, assim, pelo seu caráter empirista e pragmático, pela busca de controle, dominação, integração e ajustamento dos indivíduos sociais à ordem estabelecida. O que importa nessa perspectiva é a atividade prático-imediata e não a apreensão da dinâmica contraditória de seu movimento e das determinações e possibilidades nele presentes (SIMIONATO, 2009, p.6). O funcionalismo – teoria antropológica e etnológica sustentada por Malinowiski e Radcliff-Brown que diz: todo sistema social tem uma unidade funcional, na qual todas as partes se acham interligadas em um grau suficiente de harmonia. Dentro da mesma visão está o estruturalismo que consiste em perceber as coisas como estruturas estáticas. São correntes fundadas no positivismo. A sociedade é vista como um organismo social composto de estruturas e sistemas. Com base nesta teoria o profissional encara o problema social de forma única e pessoal, enfatiza a individualização, a neutralidade ideológica, tem o objetivo de ajustar, integrar e acomodar o homem à sociedade vigente. (LEMOS, n/d, p.98)

9O Governo Provisório, por sua vez, desde o início tomará a atitude de procurar atrair a solidariedade e o apoio

da “valiosa força disciplinadora da Igreja” e de resguardar seus campos privilegiados de intervenção, delimitando áreas de influência. As primeiras medidas que envolvem seu relacionamento com a Igreja dirão respeito, respectivamente, a tornar facultativo o ensino religioso nas escolas públicas (...). A Igreja e Estado, unidos pela preocupação comum de resguardar e consolidar a ordem e a disciplina social, se mobilizarão para, a partir dos distintos projetos corporativos, estabelecer mecanismos de influencia e controle a partir das posições da Sociedade Civil que o regime anterior mão fora capaz de preencher (IAMAMOTO, 2012, p.70)

10Caracteriza este momento, no plano externo, o surgimento da primeira nação socialista e a efervescência do

movimento popular operário em toda a Europa. O tratado de Versailles procura estatuir internacionalmente uma nova política social mais compreensiva relativamente à classe operária. É também o momento em que surgem e se multiplicam na Europa as escolas de Serviço Social. (IAMAMOTO; CARVALHO, 2012, p.176)

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atravessa toda a sociedade e obriga o Estado, as frações dominantes e a Igreja a se posicionarem diante dela. (IAMAMOTO, 1992, p.18)

Observa-se neste cenário inicial, que o Serviço Social configura-se como iniciativa da Ação Social, veiculada a doutrinação da Igreja Católica, através de ações educativas de intenção moralizadora numa perspectiva ideológica de ajustamento e adaptação do trabalhador. Analisa a sociedade capitalista como um processo “natural”, critica algumas explorações e excessos desta, porém não a sua essência, transferindo a responsabilidade dos “problemas sociais” à reforma dos indivíduos e na educação de suas famílias a fim de atender a questão social que se torna vigente.

Deve-se salientar que a Igreja Católica sob as bases da doutrina social era pautada no neotomismo11 objetivando fortalecer e reconquistar sua influência ideológica, uma vez que o movimento de laicização ganhava forças na sociedade e no Estado e, por isso, era preciso buscar ações de reforma moral, com bases cristãs, para reconquistar sua hegemonia. Esta influencia resultou no “tratamento” da questão social, como observada, desvinculada dos componentes econômicos e políticos, mas vinculada a “predestinação” da vontade divina, por isso, encarada como um problema individual, pois dependia da vontade de “deus” e, não, como um processo coletivo.

Apenas com o processo de aceleração da industrialização, já iniciado em 1930, e aprofundado em 1940, juntamente com o desenvolvimento das grandes entidades assistenciais do Estado Novo deu-se em 1940 a institucionalização da profissão, através do Estado e de empresas privadas sob a progressiva influência da sociologia conservadora norte-americana. Esta influência ideológica passou a demarcar o conteúdo da formação e as características do processo interventivo da profissão que se efetivou quando o imperialismo norte-americano ultrapassou a hegemonia inglesa sobre a América Latina e, mediante redes de relações entre governos e países do continente, ampliou seu poder econômico, político, ideológico e cultural, com o apoio de programas de ajuda e cooperação.

Neste contexto, os profissionais incorporaram a herança das ciências humanas e sociais, sobretudo na sua vertente empirista norte-americana com o viés do pensamento conservador moderno, bebendo da fonte da psicanálise e do positivismo/funcionalista, que

11

O neotomismo repõe, sob novas determinações históricas, a filosofia tomista. Para esse pensamento filosófico de base teológica, o princípio da existência de Deus confere uma hierarquia aos valores morais, tendo em vista sua subordinação às “leis naturais” decorrentes das “leis divinas”. A natureza humana é considerada a partir de uma “ordem universal imutável”, donde as funções inerentes a cada ser apresentarem-se como necessárias à “harmonia” do conjunto social, cuja realização leva ao “bem comum” ou à “felicidade geral”. (BARROCO, 2007, p. 91)

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continuou influenciando o Serviço Social e fortalecendo o sistema capitalista, de forma hegemônica até o final da década de 1970 quando se deu o processo de intenção de ruptura com o conservadorismo na profissão.

Os assistentes sociais conectavam o exercício profissional com estratégias políticas, culturais e institucionais necessárias para “enquadrar” os usuários aos padrões de sociabilidade e controle adotados pelo capitalismo sobre a classe trabalhadora. Neste sentido:

A manutenção e reprodução da dominação de classe exige, simultaneamente, a interiorização e aceitação dessa dominação, a constante recriação e inculcação de formas mistificadas que obscurecem e encobrem a dominação e a exploração. É nesse plano que se desvenda outro aspecto essencial das práticas sociais que se desenvolvem no âmbito das instituições assistenciais: sua intervenção normativa sobre a vida dos diferentes grupos sociais que atingem. O enquadramento dos hábitos de saúde, alimentação, habilitação, comportamento etc., são assim elementos essenciais no instituir-se, como natural (e universal), uma ordem que é fundamentalmente particular. O estimulo à cooperação de classes, o ajustamento psicossocial do trabalhador, são, entre outros, elementos básicos na ação de impor a aceitação e interiorização das relações sociais vigentes, a aceitação da hegemonia social do capital. (IAMAMOTO, 2012, p.326)

Sobre estas influências o Serviço Social é chamado a intervir em políticas sociais de adaptação da classe trabalhadora, numa perspectiva pedagógica “moralizante” das condições sociais do trabalhador, colocando a responsabilidade e culpa nos usuários sobre sua situação, como uma “anomia” social e que, por isso, deveria ser “reintegrado”.

Sendo assim, o perfil pedagógico defendido no exercício profissional de “ajuda” psicossocial ocultava a exploração e desigualdade garantindo através dos serviços sociais o mínimo material necessário à classe trabalhadora como forma de manter a força de trabalho e, desta maneira, também fortalecer a ideologia dominante, no intuito de “moralizar” os “problemas” sociais advindos da própria lógica societária capitalista. Neste sentido, a ação profissional teve por objetivo:

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Tem-se, então, que a intervenção do Serviço Social com o processo de influência norte-americano aprimorou os procedimentos de intervenção, porém a intencionalidade e a base teórica deste pensamento permaneceram fundadas no reformismo conservador das bases filosóficas neotomistas. Logo, essas influências foram as principais orientadoras das relações pedagógicas do exercício profissional do assistente social de 1930 a 1940 pelo perfil pedagógico caracterizado de “ajuda”, que vai contemplar a reprodução social capitalista vigente, uma vez que mascara a real estrutura societária e coloca os “problemas sociais” na base da caridade e de cunho individual, reforçando as ações do Serviço Social com abordagem de caso e grupo12.

Todavia, nos anos 1950 e 1960, principalmente nos países da América Latina e, em especial o Brasil, viveu-se um processo conhecido como desenvolvimentismo – compreendendo o período 1954/1964 que se situam os governos de Juscelino Kubitschek (JK) com o desenvolvimentismo associado dependente; Jânio Quadros (JQ) e João Goulart (JG) com o desenvolvimentismo nacionalista – o qual pressionou a submissão dos governos e lideranças aos apelos de apoios econômicos americano no desenvolvimento dos países.

Foi durante esse período que a categoria profissional sofrerá uma “modernização conservadora” uma tendência pedagógica baseada na ideologia desenvolvimentista13 que proporcionou uma alteração nas relações pedagógicas estabelecidas no exercício profissional do assistente social, denominado de perfil pedagógico “participativo”, este se consolidou nas propostas de Desenvolvimento de Comunidade (DC), o qual se caracteriza pela explicação que o subdesenvolvimento é um estágio de transição dos países atrasados para um estágio de pleno desenvolvimento, de modernização, que através da participação de todos poderá superar a “situação” de subalternidade. Neste sentido, Abreu (2011, p. 85) destaca que:

Essas alterações redimensionam a participação para além de uma atitude inerente ao processo de “ajuda”, ressituando-a como esfera programática da

12A abordagem de caso remete-se a abordagem individual, onde cada caso deveria ser analisado a fim de ajudar o

individuo a sair daquela situação degradante e a solucionar seus problemas e possibilitar o conhecimento do individuo no seu meio social e na família. A abordagem de grupo, objetiva resolver os problemas individuais com uma abordagem de grupo, compreendendo que o grupo pode resolver os problemas e promover a participação dos indivíduos.

13A ideologia desenvolvimentista se define, assim, por meio da busca da expansão econômica, no sentido de

prosperidade, riqueza, grandeza material, soberania, em ambiente de paz política e social, e de segurança- quando todo o esforço de elaboração de política (política econômica) e trabalho são requeridos para eliminar o pauperismo, a miséria, elevando-se o nível de vida do povo como consequência do crescimento econômico atingido. O problema central a atacar seria, neste sentido, o atraso, do qual decorre a posição secundária ou marginal ocupada pelo Brasil dentro do sistema capitalista; e a superação do atraso- a expansão econômica – se entrega à expansão do próprio sistema capitalista global. Nesse sentido, ‘o desenvolvimentismo visa a uma integração mais dinâmica no sistema capitalista’ (IAMAMOTO, 2012, p.360).

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prática profissional, conformando um perfil pedagógico diferenciado, que reduz no interior da prática do assistente social o que entendo por uma pedagogia da “participação”.

A pedagogia da “participação” enfatizava a ação educativa com a intenção de manipulação das necessidades e recursos institucionais, aumentando o controle e responsabilizando os indivíduos para alcançar seu “bem-estar”, porém agora também baseado no método de abordagem de “comunidade”, onde o profissional é chamado a estimular a mudança social através da participação da comunidade nos seus “problemas sociais”.

Desta maneira, esse perfil não rompe com a base conservadora de análise da realidade e do fazer profissional, muito menos com o direcionamento da pedagogia da “ajuda”, pelo contrário, reafirma-o através do cunho tecnicista das práticas profissionais e da vida social, na garantia do desenvolvimento “harmônico” da sociedade.

Sob a lógica do desenvolvimento modernizador numa perspectiva conservadora os programas de governo juntamente com os organismos internacionais focaram na “integração” e “promoção social” com o intuito de “resolver” a questão social - apresentada como uma questão necessária para o desenvolvimento econômico do país, que seria “solucionada” e encarada pelo falso discurso de algo “natural” - em que todos deveriam se esforçar para construir condições melhores no desenvolvimento do país, o qual iria “beneficiar” toda a população. E, seguindo essa perspectiva, via programas sociais, se encontrava inseridas as atividades do Serviço Social.

Por outro lado e contraditoriamente, na primeira metade da década 196014 começaram as primeiras tendências de questionamentos ao Serviço Social importado e tradicional. Período marcado pela efervescência dos grandes movimentos sociais contestatórios como dos trabalhadores urbanos e rurais, das universidades, dos profissionais liberais, das ciências sociais e de outros movimentos como das mulheres, jovens, negros, emigrantes. São movimentos que questionam o Estado burguês, suas instituições e influenciaram o meio profissional contra ao tradicionalismo e ao conservadorismo na profissão.

14Caracterizado como geração 65 de assistentes sociais da América Latina começa, portanto, a lutar por um

Serviço Social com características próprias, quer dizer, com métodos e técnicas mais identificados com a realidade dos seus países. Brasil, Argentina, Chile, Uruguai são países em cujo solo histórico, no início do Movimento, existiam características comuns, com certo grau de industrialização (constituído a partir de 30, em níveis mais avançados), conjunturas marcadas por uma herança populista, bem como pelos avanços do movimento operário. Ler, a propósito, uma vasta bibliografia dentre a qual destacam: Palma (1977),Ander-Egg (1971), Kruse (1972), Lima (1983), Carvalho (1983), Faleiros (1987), Netto (1975- 1991).

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Este processo conceituou-se como “Movimento de Reconceituação”, marco decisivo na influência da aproximação marxista do Serviço Social, tipicamente latino-americano caracterizado pela heterogeneidade de direcionamentos profissionais. Por um lado, a categoria se inseriu no processo de modernização conservadora, defendendo o apoio e desenvolvimento tecnicista e positivista-funcionalista; e por outro, buscou a vinculação com a classe trabalhadora sob críticas a sociedade autoritária e capitalista, influenciados e fomentados pelos movimentos revolucionários das décadas de 1950 e 1960, já aprendidos, e principalmente pela revolução cubana de 1959.

Entretanto, esses questionamentos na particularidade da sociedade brasileira, entre as décadas de 1960 e 1970 – em virtude principalmente das condições sociopolíticas de repressão e autoritarismo do golpe de estado militar – só foi permitido ao Serviço Social modernizar as técnicas e estratégias de intervenção sob a orientação conservadora. Os seus questionamentos ficaram apenas em nível superficial, sem pensar nas estruturas da sociedade, mantendo o caráter conservador da profissão. Neste contexto, Netto (1975, p.124) afirma:

Impossibilitado de questionar-se socialmente, o Serviço Social brasileiro se questionou metodologicamente. As preocupações sobre a função social do Serviço Social, a análise de seus valores ideológicos, o tratamento de suas implicações sócio-políticas, tudo isso foi substituído pelo excessivo cuidado sobre o instrumental que deveria ser utilizado no exercício profissional (...). O fetiche da teoria metodológica invade os círculos institucionalizados, transfere-se aos seminários profissionais e estende-se nas atividades docentes (...). As construções teóricas se desenvolvem em instâncias de abstração tomadas diretamente do pensamento estrutural-funcional ou do discurso lógico do neopositivismo.

O perfil pedagógico de “participação” se aprofundou através da ditadura burguesa com os governos militares – entre o período de 1964/198515 - em que a participação popular em programas do governo servia de estratégia para afirmar e aceitar o regime de governo imposto, uma vez que eram restringidos os canais de participação política e se fazia necessário estabelecer padrões quanto às normas e valores morais a partir da ideologia dominante, no intuito de mascarar a estrutura nefária de concentração de renda, controlando a classe trabalhadora com os serviços básicos e de participação.

Os serviços prestados a população fornecidos pelo Estado e cofinanciados pelos Estados Unidos eram bastante importante para que o indivíduo se sentisse participante da

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superação das suas condições de pobreza, no sentido de desmobilizar a classe trabalhadora na luta e reivindicação de seus direitos, justamente pelas “ameaças” de influências revolucionárias que estavam repercutindo na América Latina.

Em outras palavras, com a perspectiva de integração social que traria o “bem-estar” do país e pela ideia formulada pelo modelo ditatorial com influencia norte-americana de que o comunismo era um “inimigo” do desenvolvimento e o responsável por grandes malefícios, o Estado ditatorial deveria de qualquer forma, seja pela repressão e violência, seja pelas políticas sociais viabilizar o “desenvolvimento” do país de forma a garantir o “bem-estar” da população.

O Serviço Social inserido na mediação dessas políticas sociais direcionava seu exercício profissional as exigências da intenção de “desenvolvimento” com segurança, a fim de garantir a participação dos indivíduos e sua adaptação ao sistema opressor e desigual da ditadura militar. Desta maneira, houve também uma ampliação do campo ocupacional do assistente social no mercado de trabalho, na pretensão de atender a demanda do sistema ditatorial. 16

Observa-se, então, que os perfis pedagógicos de “ajuda” e da “participação” foram estratégicas educativas subalternizantes, ou seja, fomentou o caráter conservador de adaptação e “moralização”, na intenção de obter o controle e adaptação dos trabalhadores a sociedade capitalista emergente, demonstrando o caráter conservador da profissão que desde sua origem até a primeira metade da década de 1970 foi caracterizada, predominantemente, por uma ação focalista, voltada ao individuo (psicologização), pautada por uma análise dita “acrítica” e “ahistórica” da sociedade, através de uma posição politicamente “neutra” e tecnicista, na perspectiva de educar as famílias proletárias ao padrão de normatização.

Por outro lado, pela própria dinamicidade e dialética da sociedade, pelas mesmas condições, este caráter conservador foi sendo rebatido por uma parte de profissionais progressistas da profissão desencadeados pelo “Movimento de Reconceituação” que não foi possível ganhar maiores proporções devido também às condições de repressão e econômicas/políticas do modelo ditatorial.

16

Segundo NETTO (2010, p.121) O tradicional grande empregador dos assistentes sociais (Estado) reformula substancialmente, a partir de 1966-1967, as estruturas onde se inserem aqueles profissionais – na abertura de uma série de reformas que, atingindo primeiramente o sistema previdenciário, haveria de alterar de cima a baixo o conjunto de instituições e aparatos governamentais através dos quais se interfere na ‘questão social’. (...) Promovida aquela reformulação em escala nacional e sob a ótica centralizadora do ‘ Estado de Segurança Nacional’, ela atravessou de ponta a ponta o mercado ‘estatal’ de trabalho dos assistentes sociais: a sua nova inserção nos chamados serviços públicos viu-se universalizada no espaço nacional- aqui, a reformulação organizacional e funcional supôs também uma extensão quantitativa da demanda dos quadros técnicos de Serviço Social.

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Nota-se que foram nas experiências das lutas sociais e do próprio movimento contraditório da sociedade, principalmente através da crise do modelo ditatorial17 - fruto da crise de legitimidade econômica e do regime político – que possibilitaram o confronto entre projetos societários divergentes. Foi só no final da década de 1970 e inicio dos anos 1980 que se tornou possível o Serviço Social trabalhar e repensar a proposta de “ruptura” ao tradicionalismo, a integração social, ao confessionalismo. Apontando caminhos para a superação do caráter paliativo, burocratizado e fragmentado do exercício profissional, o qual questionou a perspectiva do indivíduo e da sociedade abstraídos das relações sociais capitalistas.

Foi, sobretudo, neste contexto com muita luta da categoria e da sociedade, que o Serviço Social irá apontar uma nova perspectiva profissional na interlocução com o marxismo, primeiro a partir dos anos 1970 com forte influência do amplo movimento da teologia da libertação, que buscou relacionar o cristianismo com o marxismo, criticando as relações de dominação e da exploração, como também pela influência da educação popular defendida por Paulo Freire e as Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) que foram elementos importantes para as práticas de politização das relações sociais.

Deste modo, parcelas dos profissionais de Serviço Social avançam na construção de um perfil educativo, em seu exercício profissional, no sentido “emancipatório”, entretanto essa primeira aproximação ocorreu com uma leitura enviesada18 e eclética do marxismo, o qual justamente por essa leitura desenvolveu uma prática aliada ao “chamamento à militância que diluía as bases propriamente profissionais, típicas da inscrição do Serviço Social na divisão sociotécnica do trabalho” (IAMAMOTO, 2010, p.212). Resultando num exercício profissional com caráter de militância, o qual rejeitou a intervenção nas instituições do Estado, pois estas – na concepção enviesada do marxismo - seriam direcionadas ao “aparelho

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Este crise ocorreu principalmente na luta pela redemocratização do país, fruto da rearticulação dos movimentos sociais com o crescimento do Movimento operário a partir de 1977, com retomadas das greves (ABC paulista, Betim e Contagem em Minas Gerais); o crescimento das lutas no campo (generalização dos conflitos de terra) – segunda metade da década de 70 e anos 80; a reorganização do movimento operário urbano e rural; o surgimento e fortalecimento de novos sujeitos políticos (movimentos sindicais); o envolvimento crescente da sociedade civil na luta pela redemocratização dos país – Movimento pela Anistia. (NETTO,1991). Essas mobilizações lutavam pelo fim da ditadura, principalmente pela defesa dos direitos políticos e de expressão, o que levou a profissão de Serviço Social a condições reflexivas e favoráveis à reformulação de suas ações teórico-prático-ético/político vinculadas a um novo projeto de ruptura com a ordem social estabelecida e com o conservadorismo.

18Ela não foi orientada para as fontes clássicas e contemporâneas, abordadas com uma explicita preocupação

teórico-critica. Deu-se predominantemente por manuais de divulgação do ‘marxismo oficial’. Aliou-se a isso a contribuição de autores ‘descobertos’ pela militância política, como Lênin, Trotsky, Mao, Guevera- cujas produções foram seletivamente apropriadas, numa óptica utilitária, em função de exigências prático- imediatas, prescindindo-se de qualquer avaliação critica. A esse universo, teórico eclético, soma-se, ainda, ela via predominantemente acadêmica, rudimentos do estruturalismo marxista de Althusser, em especial suas analises dos ‘ aparelhos ideológicos do Estado’ e seu debate a ‘pratica teórica’(IAMAMOTO, 2010, p.211)

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ideológico do Estado” de interesses predominantemente dominantes capitalistas. Logo, os assistentes sociais não poderiam trabalhar reproduzindo esses interesses, buscando assim espaços estratégicos de trabalho diretamente com a classe trabalhadora com os movimentos sociais, no sentido de militância social para sua atuação.

Apresentou-se, então, a primeira aproximação com o marxismo, apesar dos equívocos, foi um aspecto bastante importante, pois permitiu efetivamente a ruptura com as perspectivas conservadoras da profissão, porém não foi plenamente efetivo porque superestimou o caráter político da profissão e da classe trabalhadora, sem, no entanto, problematizar de maneira mais ampla e real a leitura de Marx e da profissão inserida nessa perspectiva teórico/política.

Posteriormente, no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, com o marco do III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais19 caracterizado pela “virada” do Serviço Social, juntamente com o contexto de lutas pela conquista de direitos sociais, materializados teoricamente na Constituição Federal e, por outro lado, contraditoriamente, com a influência do neoliberalismo, a profissão assumiu novamente o resgate da inspiração marxista, porém de maneira mais amadurecida e real da análise20.

Impulsionou a perspectiva histórico-crítica num aprofundamento da profissão com base nas vertentes marxistas, os quais reconduziram o olhar do Serviço Social no seu exercício profissional e na interpretação da sociedade numa perspectiva de totalidade social21.

Desta maneira, o Serviço Social “rompeu” com as bases tradicionalistas da origem da profissão e com a militância social e, deu origem a uma profissão de perspectiva crítica22 consolidada através do estabelecimento de um projeto mais que profissional, com um

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Este congresso ocorreu em 1979 em São Paulo também conhecido como o “Congresso da virada” que possibilitou um novo direcionamento à profissão. Segundo Guerra (2009) foi a partir desse Congresso que se disparam os seguintes processos de mudança no Serviço Social: (1) ampliação e laicização da profissão; (2) vinculação sócio-política com a classe trabalhadora; (3) inserção acadêmica e científica da profissão; (4) militância política na profissão contra a ditadura; (5) criação de uma proposta metodológica de trabalho; (6) desenvolvimento das entidades organizativas da profissão – conselhos regionais e o conselho federal (7) mudança no perfil profissional (GUERRA, 2009.)

20Baseado nos estudos de A. Gramsci; G. Lukács; N.Polulantzas; P. Baran; E. Sweezy; E. Mandel; A. Heler,

entre outros além dos clássicos. O livro de Marilda Iamamoto e Raul de Carvalho - Relações Sociais e Serviço Social no Brasil, que segundo José Paulo Netto, representa também o nível de maturidade intelectual da interlocução do Serviço Social com Marxismo pela via do Estudo Marxista em Marx.

21Ver, a propósito, Iamamoto e Carvalho (1982,1ª ed.; 1992 1ª ed.; 1998 1ª ed. e Netto, 1991, 1ª ed.) 22

Essa situação foi possível também, segundo Iamamoto (2010, p. 216) pela consolidação de um mercado efetivamente nacional de trabalho para os assistentes sociais ampliou-se o contingente numérico dos profissionais e das unidades de ensino públicas e privadas. Realiza-se a real inserção do Serviço Social nos quadros universitários, submetendo-se as exigências de ensino, pesquisa e da extensão. Instala-se a pós-graduação ‘stricto sensu’ nesta área profissional, criando as bases para nutrir produção cientifica e criar um mercado editorial até então praticamente inexistente. Renovam-se e qualificam-se os quadros docentes: novos e jovens professores ingressam no circuito universitário, trazendo em suas histórias de vida e a experiência da participação política e da critica social. Expande-se a interlocução do Serviço Social com as ciências afins, galgando progressivamente apesar de inúmeras dificuldades, a condição de parceiro valido no dialogo acadêmico, mais tarde reconhecido pelas entidades oficiais de fomento cientifico.

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compromisso societário no direcionamento à classe trabalhadora, isto é, um projeto societário revolucionário.

Este projeto, atualmente hegemônico, denominado de projeto ético-político, concretizou-se por um processo de muita luta e debate da categoria profissional, como também foi fruto das condições sociopolíticas. Foi neste quadro de lutas democráticas, que direcionou as respostas do Serviço Social, com a regulação legal do projeto na materialização da Lei de Regulamentação da Profissão (1993), no Código de Ética (1993) e nas Diretrizes Curriculares para Formação Profissional em Serviço Social (1999), comprometidos com a profissão e com a sociedade a fim de se obter “uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de classe, etnia e gênero” (CÓDIGO DE ÉTICA, 1993).

Nesta conjuntura, segundo a autora Abreu (2011, p.135), apresentou-se a profissão o perfil pedagógico de “emancipação”, que está direcionado à lógica de “colaboração e solidariedade intraclasses subalternas, bem como a mobilização, a capacitação e a organização das mesmas classes”. Este perfil luta pela garantia e ampliação dos direitos sociais além dos parâmetros neoliberais - os quais fragmentam e reduzem esses direitos conquistados à lógica mercadológica e privatista - buscando a sensibilização e mobilização da classe trabalhadora na luta por uma nova sociedade.

Dentro da perspectiva pedagógica de “emancipação” de direcionamento à classe trabalhadora a autora destaca a possibilidade de duas tendências na profissão no âmbito das lutas sociais, que traduzem os diferentes compromissos profissionais e projetos societários23. Uma em que o compromisso de classe é configurado na luta por direitos sociais, democracia e justiça, isto é, uma tendência “reformista”, o qual defende o melhoramento do sistema atual na busca de uma sociedade capitalista mais “humanizada”; e a outra se coloca comprometida com a luta de classes na intenção de superação a ordem capitalista e em busca de uma nova ordem societária, o qual ultrapassa a luta por direitos limitados da ordem capitalista.

23

Segundo Montano (2006, p.143) atualmente, é possível identificar a disputa de, pelo menos, três grandes projetos de sociedade: a) o projeto neoliberal (de inspiração monetarista, sob o comando do capital financeiro, que procura, no atual contexto de crise, desmontar os direitos trabalhistas, políticos e sociais historicamente conquistados pelos trabalhadores, acentuando a exploração de quem vive do trabalho e sugando os pequenos e os médios capitais); b) o projeto reformista (tanto em sua vertente liberal-keynesiana como social-democrata, representando o expansionismo do capitalismo produtivo/ comercial conjuntamente com algum grau de desenvolvimento dos direitos civis, políticos, sociais e trabalhistas) e c) o projeto revolucionário (fundamentalmente de inspiração marxista que busca, gradual ou abruptamente, a substituição da ordem capitalista por uma sociedade sem classes, sem exploração).

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Contudo, as transformações societárias, frutos da crise do capital24, datadas mais precisamente no inicio de 1970 até os dias atuais- alterando apenas nas especificidades de cada país- vive-se na particularidade do Brasil25 uma sociabilidade orientada pelos parâmetros neoliberais, o qual se caracteriza pelo capital financeiro, que reestrutura e mundializa a produção e acumulação do capital, modificando não só a reprodução material, como também as relações de produção, e, consequentemente, as relações sociais, do Estado e da sociedade civil, sob uma lógica extremamente mercantil e financeira, que vem sofrendo uma grande crise de 2007/2008 e que acentua ainda mais a situação de exploração e precarização da classe trabalhadora.

Neste contexto, apresentam-se modificações na profissão do assistente social – este visto como trabalhador assalariado- em que suas condições e meios de trabalho são alterados por essa lógica, com também as condições dos usuários pela via da prestação dos serviços sociais, principalmente com a ofensiva neoliberal e sua crise que reduzem ainda mais os direitos sociais, transferindo-os a programas compensatórios e as atividades filantrópicas. Ademais, contata-se um direcionamento dos valores ideológicos ditados por esse modelo econômico que esvazia o sentido do coletivo, da ênfase no individualismo, no competitivismo e na despolitização dos direitos sociais, dentre outros26.

Pode-se observar uma ameaça ao direcionamento do perfil pedagógico de emancipação, voltado à garantia e ampliação dos direitos sociais à classe trabalhadora e seu fortalecimento enquanto reconhecimento de classe, sendo este perfil confrontado no exercício profissional com os perfis da “ajuda” e da “participação” e de uma “nova” tendência que se caracteriza, segundo ABREU (2011) como da “solidariedade”, o qual tende reatualizar a função tradicional da “ajuda” e “participação”, promovendo a cooperação de todos para “resolver” os problemas sociais.

24

“Perto do final dos anos 1960, o liberalismo embutido (keynesianismo) começou a ruir internacionalmente e no nível das economias domésticas. Os sinais de uma grave crise de acumulaçãoeram em toda parte aparentes. O desemprego e a inflação se ampliavam em toda parte, desencadeando uma fase global de ‘estagflação’ que duraria por boa parte dos anos 1970.” (HARVEY, 2008). Ver e aprofundar a propósito sobre a crise e as transformações societárias em Mota; Tonet; Behring e Simonatto em Serviço Social: Direitos Sociais e Competências profissionais- Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.

25

Segundo Mota (2009, p.12) a integração do Brasil à ordem econômica mundial deu-se nos anos iniciais da década de 90, sob os imperativos do capital financeiro e do neoliberalismo, responsáveis pela redefinição das estratégias de acumulação e pela reforma do Estado. Na prática, isso se traduz em medidas de ajuste econômico e retração das políticas públicas de proteção social, numa conjuntura de crescimento da pobreza, do desemprego e do enfraquecimento do movimento sindical, neutralizando, em grande medida, os avanços e conquistas sociais alcançadas pelas classes trabalhadoras nos anos 80.

26

Amparada pela naturalização da mercantilização da vida, a reforma social e moral neoliberal busca, entre outros objetivos, transformar o cidadão sujeito de direitos num cidadão‐ consumidor; o trabalhador num empreendedor; o desempregado num cliente da assistência social; e a classe trabalhadora em sócia dos grandes negócios (MOTA, 2000, p.15)

(27)

Essa situação se apresenta como um obstáculo na materialização do projeto ético-político da profissão27, comprometido com uma nova ordem societária, na busca pela emancipação28 da classe trabalhadora, uma vez que essas transformações societárias afetam diretamente o exercício profissional do assistente social nas suas diversas dimensões profissionais e na sua relação pedagógica.

Destarte, é necessário o estudo e análise desses perfis pedagógicos, o qual possibilita o debate e compreensão do exercício profissional na contemporaneidade, levando em consideração que se observa, em sua grande maioria, profissionais como meros “técnicos” de programas compensatórios e pontuais voltados à classe trabalhadora, deixando vazio seu caráter extremamente importante e fundamental para a concretização do projeto ético-político: o do profissional educador com um direcionamento político/ideológico, o perfil pedagógico do Serviço Social voltado à emancipação.

Deve-se salientar que este estudo atenta para dimensão política do exercício profissional, sem supervalorizá-la, e não descaracteriza as condições de trabalhador assalariado que limita, e muitas vezes, impossibilita o direcionamento ético-político da profissão. Ao contrário, o propósito foi apreender os perfis pedagógicos na educação em suas tendências, a partir da identificação e análise do exercício profissional do Serviço Social, compreendendo a profissão em suas duas dimensões indissociáveis (formação e exercício profissional); o assistente social como trabalhador assalariado que tem presente em seu exercício profissional uma série de condicionalidades que limitam e possibilitam determinados direcionamentos e perfis pedagógicos.

Tem-se presente a relevância deste estudo e análise por oferecer contribuições a não só a esta área temática dos perfis pedagógicos na educação, mas ao mesmo tempo por se voltar para análise do exercício profissional do Serviço Social, uma vez que:

27O projeto ético político do Serviço Social é historicamente datado, fruto e expressão de um amplo movimento

de lutas pela democratização da sociedade e do Estado no país, com forte presença das lutas operárias que impulsionaram a crise da ditadura do grande capital. Foi no contexto de ascensão dos movimentos das classes sociais, das lutas em torno da elaboração e aprovação da Carta Constitucional de 1988 e pela defesa do Estado de Direito, que a categoria dos assistentes sociais foi sendo socialmente questionada pela prática política de diferentes segmentos. Foi nesse solo histórico que tornou possível e impôs necessário amplo movimento de renovação critica do Serviço Social, que derivou em significativas alterações nos campos do ensino, da pesquisa e da organização político- corporativa dos assistentes sociais. (IAMAMOTO,2011,p. 223)

28A emancipação considerada é a emancipação humana. Trata-se de uma forma de sociabilidade na qual os

homens sejam efetivamente livres, supõe a erradicação do capital e de todas as suas categorias. Sem essa erradicação, é impossível a construção de uma autentica comunidade humana. E essa erradicação não significa, de modo algum o aperfeiçoamento da cidadania, mas sua completa superação. (TONET. n/d, p.4)

(28)

São parcas as produções recentes que têm o Serviço Social como objeto central de suas pesquisas, podendo sugerir uma armadilha: a incorporação, pelos próprios pesquisadores, de uma imagem social subalternizada da profissão, redundando numa relação envergonhada com o serviço social, não assumida enquanto tal, e encoberta na busca de temas considerados de maior relevo acadêmico e social como objeto das investigações. Essa tendência se radicaliza na analise do trabalho ou da “pratica profissional” que vem ocupando um lugar secundário na agenda recente da produção acadêmica especializada. (IAMAMOTO, 2011, p. 244)

Com base nesta reflexão acima - de lugar secundário na produção acadêmica que se tem sobre análise do trabalho na especificidade da profissão - se demarca a importância desse trabalho que analisa o cotidiano do trabalho profissional do assistente social, tendo presente em suas investigações os rebatimentos das transformações societárias contemporâneas, no sentido de compreender a profissão, suas demandas, seus limites, desafios e possibilidades, ao mesmo tempo apreender de forma mais aprofundada o exercício profissional nas instituições, sua inserção na política social de assistência ao estudante no âmbito escolar que trabalha suas condicionalidades, e, principalmente a análise do assistente social como trabalhador assalariado, que assume tendências dos perfis pedagógicos em seu trabalho profissional.

Partindo destas perspectivas, buscou-se atingir o objetivo do estudo que se define em apreender e analisar as tendências dos perfis pedagógicos do assistente social a partir do exercício profissional no âmbito da educação no município de Natal/RN. Na construção deste objetivo definiu-se como objetos específicos: compreender e analisar o Serviço Social na educação; Identificar e analisar os perfis pedagógicos na educação; e analisar o processo redimensionamento dos perfis pedagógicos identificados no âmbito escolar em relação às orientações do projeto ético/político.

A fim de atingir os objetivos propostos foi estabelecido um percurso metodológico de muita relevância e primordial no processo de construção da pesquisa, pois como afirma Minayo (1994, p.16) é “o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade”, ou seja, inclui tanto as concepções teóricas de abordagem do método, quanto às técnicas e instrumentos que possibilitam o conhecimento da realidade concreta.

(29)

Partindo desse entendimento para o processo de sistematização dos dados da empiria foi utilizado uma abordagem quanti-qualitativa29da pesquisa. Quantitativa, porque no decorrer da pesquisa foram utilizados alguns dados quantitativos que subsidiaram e exemplificaram a análise sobre o objeto de pesquisa. Por sua vez, o método qualitativo utilizado através da análise de conteúdo - principalmente no que se refere ao terceiro capítulo - foi primordial para compreender os perfis pedagógicos encontrados nos exercícios profissionais, no âmbito educacional em Natal/RN, pois a análise do conteúdo segundo Bardin (1997) permite ultrapassar os significados, a leitura simples do real, permite compreender a tudo que é dito em entrevistas ou depoimentos, dentre outros documentos de comunicação. Desta forma, possibilitou a melhor apreensão das relações pedagógicas estabelecidas na apreensão das afirmativas dos pesquisados, uma vez que se buscou ir além do aparente: a análise crítica e reflexiva das afirmativas, isto é, do conteúdo que está carregado o discurso mesmo que implicitamente.

Sendo assim, as informações e os dados empíricos foram coletados com os assistentes sociais nas instituições de ensino, no âmbito privado/filantrópico e público, no ensino superior, fundamental, médio e técnico, como: Centro Marista de Juventude (privado/filantrópico, um assistente social pesquisado); o Instituto Maria Auxiliadora (privado/filantrópico, um assistente social pesquisado); Nossa Senhora das Neves (privado/filantrópico, um assistente social pesquisado); Colégio Imaculada Conceição (CIC) (privado/filantrópico um assistente social pesquisada); Colégio Maristella (privado/filantrópico, um assistente social pesquisado); Colégio Marie Jost (privado/filantrópico, um assistente social pesquisado); os Institutos Federais Centrais/ Zona Norte (público federal, dois pesquisados com o total de seis assistentes sociais); Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (público federal, dois pesquisados com o total de quatro assistentes sociais); e a Universidade Potiguar (UNP) (privado, com um assistente social pesquisado).

Deve-se salientar que durante a pesquisa foi constatado que um assistente social trabalha em três escolas30, assim, foram o universo de 10 (dez) instituições pesquisadas, porém ocorreram 09 (nove) entrevistas, levando em consideração que foram entrevistados 2 (dois) profissionais na UFRN e que a entrevista na UNP foi realizada, porém não foi utilizada durante a dissertação, porque o trabalho que o assistente social desenvolve não é voltado à

29O qualitativo e o quantitativo foram utilizados não de forma separada, mas na sua completude, uma vez que

uma possibilitou o entendimento da outra abordagem de forma integrada.

30Marie Jost, Nossa Senhora das Neves e Maria Auxiliadora.

Imagem

Gráfico 1-  Trajetória acadêmica e profissional  dos assistentes sociais nas instituições de  ensino
Gráfico 2- Vínculos Empregatícios
Tabela 3-Principais dificuldades encontradas nas institucionais de ensino pelos assistentes  sociais
Gráfico 3- Faixa Salarial
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Referências

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