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A Educação na Carta de 1967 e na Emenda nº 1, de 1969

1 EDUCAÇÃO BÁSICA NO CONSTITUCIONALISMO

1.2 Direito à Educação nas Constituições Brasileiras

1.2.6 A Educação na Carta de 1967 e na Emenda nº 1, de 1969

Entre 1963 e 1964, o Brasil o ambiente político tornou-se ainda mais instável e em 1964 deu-se o golpe militar, importante momento histórico nacional, que trouxe para o cenário os Atos Institucionais, instrumentos que centralizavam a força dos ditadores. O 1º Ato, afirmava que a Constituição de 1946 seria mantida, com as modificações que trazia. Em 1967 entrou em vigor a Carta de 1967, que mantinha o perfil ditatorial, tentando dar aparência de legalidade aos atos do Poder Executivo. A Carta de 37 assegurou o direito à educação, afirmando a liberdade e a solidariedade humana como seus corolários. Porém, priorizou a privatização do ensino e não previa índices de recursos para serem destinados ao serviço educacional público, apesar de ter estabelecido a gratuidade do ensino primário, ampliado para oito anos72, e auxílio financeiro às instituições particulares.73Quem foi

71 FERNANDES, Florestan. Educação e Sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus, 1966. p. 4.

72 Para João Batista Herkenhoff: ―A Constituição ampliou a obrigação do ensino para a faixa de 7 a 14

anos, mas esse preceito contrasta com outro que permitiu o trabalho de crianças com 12 anos, num retrocesso lastimável uma vez que a Constituição de 1946 havia fixado a idade de 14 anos como a mínima para o trabalho de menores.‖ (Constituinte e Educação. Petrópoles, RJ: Vozes, 1987. p. 44).

73 ―Essa liberalização do ensino financiada pelo Estado não fica imune a críticas, uma vez que as

escassas verbas públicas para educação, em vez de financiarem o ensino público, universal e gratuito, foram destinadas às escolas particulares como clara demonstração da ausência de um

responsável pelo custeio da gratuidade e pela ampliação da rede física escolar exigida pela urbanização crescente? Carlos Roberto Jamil Cury responde:

O corpo docente pagou a conta com duplo ônus: financiou a expansão com o rebaixamento de seus salários e a duplicação ou triplicação da jornada de trabalho. Tendo que haver mais professores para fazer frente à demanda, os sistemas reduziram os concursos e impuseram como norma os contratos precários. Os profissionais ‗veteranos‘ não puderam requalificar-se e muitos ‗novatos‘ não estavam preparados para enfrentar o novo perfil de aluno provindo das classes populares.74

A Emenda Constitucional número 1, de 1969, trouxe alterações, entre as quais a previsão de que os municípios deveriam destinar 20% de sua receita tributária à educação, sob pena de intervenção. Em 1983, modificou-se essa disposição, com a determinação de que a União vinculasse 13%, posteriormente, pela Emenda Calmon, resultado da batalha empreendida pelo Senador João Calmon, 18%, de seus recursos orçamentários, enquanto os Estados e Municípios 25% à educação.75

Todavia, o documento em análise não apresentou em seu texto, como previa a Constituição de 1967, a expressão ―igualdade de oportunidades‖ como elemento caracterizador do direito à educação.

projeto justo de redistribuição da riqueza, bem como da impossibilidade de ascensão social das classes pobres‖ (MALISKA, Marcos Augusto. O Direito à Educação e a Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2001. p. 33). Dispunha o artigo 168, § 2º: ―Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bôlsas de estudo.‖

74 A educação como desafio na ordem jurídica. In LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FILHO,

Luciano Mendes; VEIGA, Cynthia (orgs.). 500 anos de Educação no Brasil. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 574.

75 Sobre o Senador João Calmon, vide ―GOMES, Alberto Candido (org.). João Calmon: Batalhador da Educação. Campinas, SP: Autores Associados, 1996.‖ Nesta obra encontra -se, dentre outros, a batalha empreendida pelo Senador para a aprovação da mencionada emenda. Ressalta-se o seguinte trecho retirado de discurso pronunciado por ele em 2 de dezembro de 1983: ―Nada menos do que 55 senadores e 360 deputados estiveram presentes, após todo um dia de sessões extenuantes para aprovar a Emenda que injetará novos recursos à nossa sofrida educação nacional, garantindo escola a milhões de crianças, de jovens, que hoje estão fora dela ou a freqüentam por períodos extremamente curtos. Deixo que o exame dos efeitos da Emenda seja feito pela mais qualificada, dentre todos os brasileiros, para opi nar a respeito deles: a Ministra da Educação e Cultura Professora Esther de Figueiredo Ferraz, que afirmou, em entrevista dada a 1º de dezembro ao Sistema Brasileiro de Televisão, ser a data da aprovação da Emenda ‗uma espécie de 13 de maio que deve figurar no nosso calendário nacional.‘ Considero extremamente feliz essa comparação com a data em que se aboliu a escravatura, pois na verdade o Congresso Nacional deu nesse dia um grande passo para libertar um grande número de brasileiros da escravidão, da igno rância, dos grilhões do analfabetismo.‖ (Idem, p. 63-64).

Em 1971, foi incluído no ensino primário o ginasial e a Lei 5692, de 11 de agosto de 1971, incorporou ao segundo grau a formação profissional. A partir dessa inclusão as escolas tiveram que ser reformuladas para se adaptar ao novo modelo e oferecer tal formação a todos que as frequentassem.

Mas as críticas não tardaram, uma vez que se vislumbrava um grande número de pessoas com habilitação e sem emprego, além de tal formação ocasionar um despreparo para o acesso ao ensino superior. Isso sem contar que a satisfação imediata com um diploma profissionalizante tinha o condão de desmotivar a busca do ensino superior. Na verdade, gerava uma falsa conquista de dignidade e insuficiente teor de educação.76

De 1870 até 1990, observa-se que ―... houve sempre e em todo o período uma disjunção entre discurso, de fé na importância da escola para o desenvolvimento econômico e social do país e para a construção de uma sociedade democrática, e a prática.‖77

Com a Constituição da República de 1988, foram incorporadas substanciais mudanças, que tenderiam a concretização de uma educação de qualidade. Assim, e por tratar-se do texto constitucional vigente, os dispositivos deste texto serão abordados em capítulo específico.