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A educação na segunda república (1930-1963)

Capítulo I Enquadramento da Gestão Escolar no Brasil

1.1. Contexto Histórico da Educação

1.1.5. A educação na segunda república (1930-1963)

A década de 1920 foi marcada pelo confronto de ideias entre correntes divergentes, que sofriam influência dos movimentos europeus, culminando na crise econômica mundial de 1929, o que repercutiria diretamente sobre as forças produtoras rurais que perderam do governo os subsídios que garantiam a produção.

Nessa ótica, a Revolução de 1930 foi o marco histórico para a entrada do Brasil no processo de industrialização da economia, já que a acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que o mesmo pudesse investir no mercado interno e na produção industrial, viabilizando-se a exigência de uma mão-de-obra especializada, sendo necessário para tanto, o investimento na educação escolar daqueles que seriam os trabalhadores.

Desse modo, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório organiza o Ensino Secundário e as Universidades por intermédio de vários decretos que ficaram conhecidos como Reforma Francisco Campos, que impôs uma estrutura orgânica ao Ensino Secundário, Comercial e Superior, estabelecendo-se, definitivamente, o currículo seriado, a frequência

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obrigatória e o ensino em dois ciclos: um fundamental, com duração de cinco anos, e outro complementar, com dois anos, além da exigência de habilitação neles para o ingresso no Ensino Superior.

Ademais, todos os colégios secundários oficiais foram equiparados, igualmente, ao Colégio Pedro II, mediante a inspeção federal, oportunizando às escolas particulares maior organização, segundo o decreto, quando submetidas a mesma inspeção. No que se refere ao ensino de línguas estrangeiras, a reforma introduziu mudanças não somente no conteúdo com maior ênfase às línguas modernas (francês, inglês e alemão), que prevaleceram sobre o Latim, mas especialmente quanto à metodologia com o uso do Método Direto.

Nessa ótica, a política educacional desse período privilegiou os níveis de ensino responsáveis pela formação das elites nacionais advindas de uma aristocracia rural assentada na força de trabalho escravo, o que, de fato, foi muito relevante para a formação dos quadros requeridos pelas novas atividades que estavam surgindo naquele momento e que garantiam a elite privilegiada um domínio cultural e econômico sobre o restante da população. Aliado a isso, o Estado, ao ditar as Leis e Diretrizes que seriam empregadas na educação, estabeleceu a divisão social existente na sociedade, pois diferencia, principalmente no Ensino Secundário, os educandos que seguiriam seus estudos direcionados às Universidades, que fariam curso propedêutico, dos que, seriam destinados à área operária, que ficariam com os cursos técnicos.

Além disso, tais leis e diretrizes foram utilizadas para imposições políticas e massificação ideológica, com o intuito de se respaldar os valores da classe que estava no poder, garantindo com isto o controle social pela via do não esclarecimento.

Portanto, entre 1930 e 1963, o Brasil passa por grandes transformações, frente às interrogações propostas pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, voltando-se ao ensino individualizado e exercícios de autonomia, propostas pelas discussões quanto à educação popular implementadas por Paulo Freire2 (ROMANELLI, 2006).

2 Paulo Reglus Neves Freire é educador brasileiro e se tornou uma inspiração para gerações de

professores, especialmente na América Latina e na África. Por consequência, sofreu perseguição do regime militar no Brasil (1964-1985), sendo preso e forçado ao exílio. A partir de suas primeiras

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Nesse período, é promulgada a Constituição de 1937, de cunho político- educacional capitalista sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades relacionadas ao mercado de trabalho. Assim, o novo Texto Constitucional destacou o ensino pré-vocacional e profissional, ao mesmo tempo em que propunha que a arte, a ciência e o ensino fossem livres à iniciativa individual, à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, desobrigando o Estado quanto ao dever da educação.

A Carta Magna manteve também a gratuidade, a obrigatoriedade do ensino primário e do ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias. Segundo Romanelli (2006), as reflexões quanto às questões da educação escolar no contexto histórico do Estado Novo, inspiradas no período da Segunda República (1930-1936) sofreram decadência frente às conquistas do movimento renovador, que influenciaram a Constituição de 1934.

Em 1942, o Ministro da Educação Gustavo Capanema Filho (1900-1985), reformou alguns ramos do ensino por meio dos seguintes Decretos-lei: (1) o Decreto-lei 4.048, que criou o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI); (2) o Decreto-lei 4.073, que regulamentou o ensino direcionado a indústria; (3) o Decreto- lei 4.244, que regulamentou o ensino secundário; (4) o Decreto-lei 4.481, que obrigou os estabelecimentos industriais empregarem um total de 8% correspondente ao número de operários e matriculá-los nas escolas do SENAI; (5) o Decreto-lei 4.436, que ampliou o âmbito do SENAI para atender as necessidades do setor de transportes, das comunicações e da pesca; (6) o Decreto-lei 4.984, que obrigou as empresas oficiais com mais de cem empregados a manter, por conta própria, uma escola de aprendizagem destinada à formação profissional de seus profissionais (ROMANELLI, 2006).

Nessa ótica, o processo de escolarização desse período marca distinções entre trabalho intelectual para a classe mais favorecida, os burgueses e o trabalho manual, com vistas ao ensino profissional para a classe social mais desfavorecida, ou seja, ao experiências no Rio Grande do Norte, em 1963, quando ensinou 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, Paulo Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização, adotado primeiramente em Pernambuco, cujo projeto educacional estava relacionado ao nacionalismo desenvolvimentista do governo João Goulart

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proletariado industrial. O ensino ficou então composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, na modalidade clássica ou científica. O ensino colegial perdeu seu caráter propedêutico, de ensino preparatório para o ensino superior, direcionando-se à formação geral das massas que compunham a força de trabalho no sentido de atender às necessidades do processo de industrialização e de urbanização do período em estudo. Os novos métodos de ensino, inicialmente, se limitaram a um público restrito, tendo em vista as iniciativas em escolas particulares e, por outro lado, a manutenção de escolas pela Igreja católica que era espaço de educação tradicional.

O fim do Estado Novo, em 1945, proporcionou a adoção da Constituição de 1946, pautada nos fundamentos do liberalismo democrático, que determinava a obrigatoriedade do Ensino Primário, dando competência à União para legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional, bem como fazia voltar o preceito constitucional de que "a educação é direito de todos", inspirado no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, elaborado nos primeiros anos da década de 30.

O então Ministro da Educação e Saúde Pública Clemente Mariani Bittencourt criou uma comissão, presidida pelo eminente educador escolanovista Manuel Bergström Lourenço Filho, com o objectivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional, e em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado a Câmara Federal, iniciando-se um conflito ideológico em torno das propostas educacionais apresentadas.

Assim, o contexto histórico desta época é bastante marcado por uma política de redemocratização baseada no populismo e nacionalismo, no desenvolvimento econômico associado ao capital externo e da crescente urbanização das capitais, revelando-se a educação escolar marcada, intrinsecamente, pela elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), encaminhada ao Congresso Nacional, tramitando treze anos com discussões entre os educadores progressistas defensores da escola pública e os conservadores que eram partidários da defesa de privilégios à escola privada.

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Por volta de 1963, tais discussões retomaram o debate iniciado na década de 1920 acerca dos problemas da educação, cujos aspectos ideológicos em disputa eram os mesmos de antes: a investida das lideranças conservadoras contra a ação do Estado na promoção da educação pública para a população (ROMANELLI, 2006).