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A educação popular como instrumento de empoderamento

2.3 O PROCESSO EDUCATIVO NA ATENÇÃO BÁSICA

2.3.1 A educação popular como instrumento de empoderamento

Na dinâmica constante de consolidar o SUS dentro de suas diretrizes, “encontra-se a necessidade de se buscar uma concepção da relação educação e saúde que se configura como resultado da ação política de indivíduos e da coletividade, com base no entendimento da saúde e da educação em suas múltiplas dimensões: social, ética, política, cultural e científica” (MOROSINI, 2009).

Neste sentido a educação popular contribui na perspectiva de repensar a educação em saúde na possibilidade de reinventar práticas e proporcionar mecanismos e espaços de participação ativa. De acordo com Freire (2000) para um processo de educação popular, é necessário construir um conhecimento autêntico ao qual partisse da realidade brasileira, e que, ao mesmo tempo, produzisse respostas aos problemas vividos pelo povo, mas também um conhecimento orgânico em estreita relação com a realidade vivida, buscando transformá-la.

Partindo do princípio de que o educando possui um saber prévio, adquirido em sua história de vida, sua prática social e cultural; este é o ponto de partida para a aquisição de novos conhecimentos. Esta relação é necessariamente dialógica, baseada no reconhecimento da existência de diferentes saberes e na possibilidade de aprendizagem mútua (BORNSTEIN, 2007).

Durante as práticas de educação em saúde, confere-se um movimento dinâmico de embates, trocas e interações, sendo um dos grandes passos transformadores do processo saúde/doença. Neste sentido mobilizamos instrumentos no sentido de empoderamento dos sujeitos, forma horizontal e dialógica. Para Teixeira (2000) o empoderamento faz parte do campo de ação da promoção da saúde, com o reforço da ação/participação comunitária.

A educação popular, como um instrumento de empoderamento, precisa passar pela concepção de educação como movimento social. Segundo Streck et al. (2000), a educação popular busca trilhar um novo caminho cultural, construir uma nova cultura que não seja opressora, nem alienante das pessoas e das relações entre os cidadãos e grupos sociais.

De acordo com Brandão (1985) a educação popular representa uma passagem de teorias de educação [...] através do processo de sua própria reprodução, a teorias da educação como questões de poder e conflito no próprio processo de reprodução do saber e seus usos como qualificadores de legitimidade da ordem social.

Conforme Campos (2006) a autonomia será sempre co-construída, os profissionais de saúde podem exercer controle social, mas também poder apoiar os usuários para que consigam ampliar sua capacidade reflexiva sobre as várias linhas de co-produção, bem como apoiá-los para que ampliem sua capacidade de estabelecer contratos com outros.

Nesta perspectiva

o reconhecimento da saúde como bem-estar, satisfação, bem coletivo e direito, configura um paradigma civilizatório da humanidade, construído num processo de embates de concepções e de pressões dos movimentos sociais por estabelecerem uma ruptura com as desigualdades e as iniquidades das relações sociais, numa perspectiva emancipatória, levando-se em conta, evidentemente, as diferentes culturas e formas de cuidado do ser humano (BRASIL, 2006, p. 18).

Este processo confere ao papel da educação o conceito de práxis que segundo Rossato (2010) pode ser entendida como uma estreita relação entre o modo de interpretar a realidade e a vida e a consequente prática que decorre desta compreensão levando a uma ação transformadora, é uma síntese entre teoria-palavra e ação (ROSSATO apud STRECK et al., 2010). Nesse sentido, os sujeitos da ação-reflexão são considerados nas suas várias dimensões, como sujeitos históricos, políticos, sociais.

Para Bornstein (2007), a educação popular entende-se como um processo de busca e de invenção ou reinvenção que parte da ação e da reflexão do homem sobre o mundo para transformá-lo, constituindo-se como importante instrumento na mediação transformadora que agrega saberes populares e científicos.

A educação popular como instrumento inovador para os serviços em saúde, desenvolve através da mobilização dos atores o reconhecimento de novas práticas constituídas socialmente, possibilitando troca de saberes, coresponsabilidade e produção significativa nos espaços coletivos. Assim, a educação popular nos traz o entendimento da realidade como modificável e ao ser humano como capaz de modificá-la.

A atuação da educação popular está voltada para a ampliação dos canais de interação cultural e negociações entre os diversos grupos populares e os diversos tipos de profissionais e instituições, servindo como instrumento de construção para uma ação de saúde mais integral e mais adequada à vida da população (VASCONCELOS, 2007).

Neste contexto reconhecer a participação e a democratização das políticas públicas torna-se um desfio a partir das características de formação dos profissionais de saúde. Para Vasconcelos (2007, p.27) “é urgente a criação de uma política nacional de formação profissional em Educação Popular, de incentivo à produção descentralizada, construídos de forma participativa, de valorização e de difusão das iniciativas educativas na lógica da problematização”.

Nos serviços de saúde, a prática da educação popular torna-se fundamental para interagir na dinâmica das famílias, comunidade e serviços disponíveis, a partir de relações que acompanham e permitem entender as implicações nos processo de adoecimento e cura. Freire (2005) já nos indagava frente as nossas práticas pronunciando a necessidade de reaprender com as massas populares, descobrindo a validade do que sabemos com o que o povo está sabendo.

Deste modo a educação popular torna-se um diferencial nas formas de relação interpessoais, procurando (re)conhecer as práticas vivenciadas e os processos que favorecem o empoderamento e participação de cada usuário. Neste sentido busca-se articular as linhas de cuidado com as ações de educação em saúde através dos seguintes elementos e recursos descritos nos aspectos metodológicos da pesquisa.

3 OS ATORES ENVOLVIDOS E OS ASPECTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo será apresentado o percurso metodológico descrevendo o tipo de pesquisa, os sujeitos, a localização e a caracterização do município de Guarani das Missões/RS, visualizando a estrutura de saúde os instrumentos utilizados para a obtenção dos dados, além de referenciar as questões éticas.