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Percepção dos profissionais relacionados à concepção de educação em saúde

3.2 REPRESENTAÇÃO DOS DADOS RELACIONADAS ÀS ENTREVISTAS

3.2.2 Percepção dos profissionais relacionados à concepção de educação em saúde

Considerando a importância de uma prática que possibilite uma construção de saberes em conformidade com as estratégias prioritárias da atenção básica em saúde, tem-se no ESF uma arena de convivência entre usuário, profissionais de saúde, políticas públicas, comunidade e realidade social.

Nesse contexto vê-se como foram desenhadas as concepções do papel da estratégia Saúde da Família na educação em saúde por parte dos profissionais. A maioria dos participantes concebe a educação em saúde como prevenção de doenças, mudanças de hábitos e atendimentos individuais, conforme as seguintes falas:

eu acho que para você falar pra a pessoa o que ela tem, como prevenir, para evitar que aconteça de novo. (B)

para mim educação em saúde é explicar o que eles têm, o que fazer, nos atendimentos, em todo momento. (C)

As ideias apresentadas representam um modelo tradicional de educação em saúde, transmitindo conhecimentos técnicos, relacionando à mudança de comportamentos, evidenciando o fator saúde/doença, esta compreensão desconsidera os demais determinantes ou condicionantes. Algumas vezes a causa ou as causas são identificadas, mas, em outras situações, existem fatores que perturbam a saúde, sobre os quais o indivíduo não se dá conta, ou não tem consciência da enfermidade que o atinge. Esse fator acaba limitando a compreensão de saúde à presença ou não de processos fisiopatológicos (MAMAN, 2006).

Segundo a Política de Educação para o SUS (BRASIL, 2004), é necessário que todos os envolvidos assumam um papel ativo na reorientação das estratégias e modos de cuidar,

tratar e acompanhar a saúde individual e coletiva. Tal ação é capaz de provocar importantes mudanças nas estratégias de atenção e nos modos de ensinar e aprender.

De acordo com Andrade et al (2004, p.93),

os profissionais que operam na ESF devem entender essa dinâmica, cabendo-lhes uma atitude de respeito e valorização das características peculiares de cada família, buscando, no cotidiano das relações, contribuir para a superação de conflitos [...] de forma dialógica e participativa.

Qualificar a assistência prestada pelos profissionais da ESF exige um olhar reflexivo sobre o modelo de assistência em saúde. Além disso, requer alternativas exequíveis na construção de um novo papel desenvolvido pelo profissional da saúde, para que percorra as diferentes formas de ver a prática, assim como assegurar avanços na compreensão das relações entre a educação, saúde e realidade social.

Outra característica apresentada nas entrevistas, demonstra a ideia de educação em saúde ao processo dialógico, à troca de experiências e ao entendimento do contexto social. Esta concepção foi observada nas seguintes falas:

para mim educação em saúde é conversar, passando o que sabe, explicando o porque que aconteceu aquilo. (E)

eu faço educação quando mostro para a pessoa porque ela tá assim, de onde vem, para ela entender... (H)

Nesse sentido, a autonomia será sempre co-construída. Os profissionais de saúde podem exercer controle social, mas também poder apoiar os usuários para que consigam ampliar sua capacidade reflexiva sobre as várias linhas de co-produção, bem como apoiá-los para que ampliem sua capacidade de estabelecer contratos com outros (CAMPOS, 2006).

A educação em saúde está diretamente ligada ao processo de construção de conhecimentos e trocas de experiências, nesta constante evolução de saberes através da ação- reflexão-ação. Nesse sentido, os profissionais de saúde são instigados à discutir as relações do

processo saúde/doença, considerando aspectos peculiares, necessidades e realidades sanitárias.

Este movimento influencia múltiplos fatores que operam

indicando a existência de uma co-produção de acontecimentos e uma co-constituição de sujeitos e de suas organizações. As pessoas sofrem a influência, mas também reagem aos fatores/sujeitos com que/quem interagem. Havendo, portanto, uma co- responsabilidade pela constituição de contextos singulares (CAMPOS, 2006, p. 01).

Para a prática do profissional quanto maior o desvelamento da realidade cotidiana vivenciada pela comunidade, maiores as possibilidades de qualificar o cuidado. Neste sentido a educação libertadora, a partir do conhecimento, potencializa as pessoas para deliberar e optar, sendo assim instrumento de empoderamento e autonomia. Trabalhar com a educação popular em saúde qualifica a relação entre os cidadãos, definidos constitucionalmente como sujeitos do direito à saúde, pois pauta-se na subjetividade inerente aos seres humanos (BRASIL, 2007).

Ao considerar o usuário em sua dimensão social, cultural e econômica, a equipe de ESF encontra um campo fértil de vivências, peculiaridades e potencialidades sujeitas à transformação e à construção de cidadania. Enfrentar essas questões torna-se oportuniza uma avaliação das práticas profissionais, ao refletir as relações entre o sujeito e os espaços sociais. Minayo (2010) traz a discussão da saúde como um fator de responsabilidade coletiva e individual em que os problemas precisam ser discutidos e compreendidos contemplando as diversidades e as diferenças.

[...] a experiência educativa pretende que os atores possam se mobilizar em ações concretas [...] com significado para cada pessoa e seu contorno, [...] dessa forma reconstruindo sentidos e permitindo o empoderamento dos atores sociais e dando- lhes forma na ação pedagógica à aprendizagem problematizadora (MEJÍA, 2012, p. 101).

Levando em consideração a heterogeneidade das pessoas e a dimensão das práticas educativas dentro dos processos de trabalho, percebe-se que é um desafio permanente agregar

a política de saúde e evidenciar as ações que potencializam e permitem maior autonomia do usuário.

A participação de todos os atores envolvidos neste decurso precisa considerar a educação como um instrumento que permite visualizar a realidade que extrapola as patologias, bem como compreender o significado de educação em saúde e o seu processo no cotidiano profissional a fim de provocar uma reflexão para o reconhecimento no papel de “educador em saúde”.

Conforme Streck et.al.,

enquanto pedagogia, a educação popular fundamenta-se concretamente na transformação da realidade social através de uma visão libertadora. Essa prática pedagógica revoluciona o sentido do ato de educar ao partir do saber das classes populares e ao direcionar tal saber para a transformação da realidade social opressora (2000, p.25-26).

Diante desta situação, os processos de trabalho que estimulam as práticas educativas relacionam o exercício profissional com a vivência humana, dando sentido às informações e ações inovadoras inseridas por meio do diálogo e da troca de experiência.