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A Eficácia do Mito: as relações sócias de assimetria

O conjunto de relatos que analisarei a seguir, não deve ser confundido com uma simples coleção de estória recolhida junto aos moradores de Itamatatiua. Em primeiro plano de analise, apontam para importância da eficácia do mito nas relações sociais dentro do território. Essas relações, nem sempre são simétrica, isso vai depender de como essas relações serão estabelecidas. No caso, do conjunto de relatos que eu tomei para analise, as relações, aparecem de forma assimétrica. entre a santa e seus antagonistas.

“Essa história não é muito velha, tu não sabe quem é João de libanha lá em Bequimão? Sabe? - Ele foi para o Jarí, e ele fez uma promessa para santa Tereza, ele não era bem de vida, ta vendo! Ele era pobre! Ele fez uma promessa, se ele achasse ouro, desse para melhorar a vida dele, ele vinha pintar a igreja dela todinha, ai ele foi, achou o ouro e veio pintar a igreja. E ele trouxe os pedreiros de lá de Bequimão, ele perguntou - Neide tu faz a comida? Eu disse, eu faço! Isso foi no mês de setembro, que ele veio pintar essa igreja, e tinha um rapaz que era carequinha assim. Ele ainda é vivo! tinha dia que eu fazia galinha caipira, quando eles terminavam de dividir que ele pegava o prato dele, então ele virava para Santa Teresa e dizia olha, isso não vai passa na tua goela – Santa Teresa. Ai João de Libanha dizia, olha essa brincadeira – eu mesmo não estou nessa brincadeira. Ai também toda vez que matava galinha para eles, ele fazia isso. Ai eles também terminaram e foram embora. Quando fez 8 dias que eles estavam em casa, ele pegou uma dor no joelho, que não teve medico que desse conta da doença dele, foi para a cadeira de rodas até hoje. Ta na cadeira de rodas, ai João disse. vai lá te apega com Santa Teresa. e pede perdão! Ele disse – Eu já pedi, e não adianta. Até hoje

52 ele ta na cadeira de rodas, ele mora bem pertinho da farmácia de Joana de Antonio Inácio - Foi verdade! Foi verdade!” (NEIDE DE JESUS. 2011)

Neste caso o sujeito social é de fora, não tem relação social nenhuma com a comunidade, com a terra e muito menos com santa, por isso debocha da santa dentro de sua casa (igreja) de um lugar sagrado, diante de imagens sagradas. A ofensa não tem perdão, entretanto, a punição ela não se da no espaço sagrado da santa, mas sim quando o sujeito volta para sua casa.

A punição pode ser interpretada como uma prova de poder da santa, evidenciando uma assimetria nas relações entre os humanos e o sobrenatural, (Foster, 1961) visto que, a punição ocorre na casa do infrator. A santa, paga na mesma moeda ao puni – ló, dentro de sua casa do seu espaço sagrado. Depois. ela se nega a estabelecer uma relação com o ofensor ao não ceder as suas suplicas e pedidos de perdão por parte infrator em troca de uma eventual retirada da punição.

“Esses governos vinham meter barracão lá onde morra Irene esse povo, ainda fizeram uns poços fundos, ele iam fazer uma fábrica, lá onde tinha dois canaviais um de cana baiana e outro de cana roxa, ai botaram muita coisa ai, um velho daqui que tomava de conta, Chico Ferreira; disse que apareceu uma branca – Olha, se tu não quiser passar vergonha, te sai daí, que ai tu vai passar vergonha - E ai disse que de manhã, pediu para fazer a conta dele. Era só doutor (Graziano, doutor Cosmo, Pereira e Torres ), eles queriam tomar aqui, butaram os caboclos do Raimundo Sú, tudo para fora, aqui eles não butaram, aqui também tinha homens valentes, tinha o pai de João Oleiro que ave Maria, se vocês botar minha olaria em baixo vocês mandam levantar, ai quando deu de manhã foi um fogo que ninguém sabia de onde saiu esse fogo, chega mamãe disse que espirava longe os butijões de óleo, dessas coisa cabou tudo em uma hora, e um deles morreu e o engraçado que ele disse que não queria ficar ai nesse cemitério pra preto do Itamatatiua não passar por cima dele e nem pisar ele.” (ZULEIDE DE JESUS, 2009)

No caso da passagem acima a Santa usa seu poder para reestabelecer o controle sobre o território ameaçado. Ela liberta o oprimido e reestabelecer também a ordem social, onde os pretos de Itamatatiua assumem condição social similar aos doutores. Para o sujeito de fora o fato de ser enterrado no povoado no mesmo cemitério onde os negros são enterrados, isso significa ter sua posição social subjugada.

A punição dada a ele vai ser justamente a que ele temia, mas uma vez estamos diante de uma condição de assimetria nas relações sociais, reflete bem o domínio que

53 ela tem sobre o território que decide é ela, não importa quem seja. Nesse sentido aquele que não respeita, não crê e debocha desse poder da Santa sempre é punido.

“Raimundo Muniz tava tirando um pau ali no fejuar, ai o povo quiseram proibir o tiramento do pau, ai ele foi pra cidade no dia 5, mais cedo que uma hora dessas nós falemos lá na rua da Parma, não aquela rua da Paz que desce direto para o Desterro, nós se tupemos, e ele me disse meu velho eu vou para Arcântara amanhã, que eu vou buscar a puliça para pisar aqueles pretos de Itamatatiua, eu vou mostra para eles que Santa Teresa não tem precisão de terra e nem de madeira, quem tem precisão de terra sou eu mais os outros. Ai eu fui disse pra ele - Raimundo Muniz, larga a Santa e esses povo de mão, Santa Teresa, não gosta de falar do povo dela! Ele me do disse - Não gosta é meu velho? Tu vai ver! Eu vou pisar eles é a pé. Foi no dia 5 de outubro, finado Gobido era juiz do mastro de Santa Teresa, no dia 6, e eu fui compra umas coisa pra ele, eu vim na viajem da noite com o finado Paulo Velho, entremos no Mané Inácio, vim amanhecer em casa, de manhã eu vou em Itamatatiua, banda de umas oito horas o rádio já anunciou, Raimundo Muniz caiu na baia na travessia de Arcântara e não garraram, foi bater e cair, foi até no barco de Dominguinhos do Bacurituba, interessante, quer dizer que ele não veio pisar a pé os pretos de Itamatatiua, como ele tava dizendo, ele que precisava da terra mais ele não veio pra terra, porque peixe deve ter cuidado dele, engoliu logo ele, ele era um homem gordo, forte. Então, ver que ela já foi muito combatida, agora vencida não.” (PEDRO OLIVEIRA, 2009)

Aqui aparecem elementos novos o conflito começa pela ameaça ao território e aos recursos naturais, isso se deve a preservação da natureza que aparece como elemento de identidade. Percebemos mais uma vez a existência de relações assimétricas entre a Santa e seu antagonista. A ideia do antagonista é o tempo todo provar a ineficiência da Santa.

A ordem social é, restabelecida com base na reafirmação de uma identidade coletiva. A punição aqui é extremada, tão quanto a atitude do antagonista, o ato de desafiar a Santa leva a morte.