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Ameaça ao Território: rememorando os conflitos e a luta pela terra

Ainda no meu tempo de menino morador de Itamatatiua, lembro-me de algumas ocasiões, em que, eu, estava sentado na porta da minha casa e passava aquele “monte de homens” vindo dos trabalhos de limpeza do rumo139

das terras de Santa Teresa. Lembro que, meu avô, e meu pai deixavam seu trabalho na roça, para ajudar na limpeza do rumo

139 Rumo é como os moradores denominam os limites, eles limpam e com se fosse um caminho de

servidão publica que rodeia toda a parte de terra das propriedades é no rumo que são colocadas as pedra de rumo que dão a direção dos limites da terra, é um modo de cerca sem o usar arame e nem estaca. Em outras palavras o rumo é o marco que delimita o território físico, é ele que impõe os limites físicos das terras, o fato de não existir cerca, nem arame possibilita o livre fluxo de pessoas que utiliza as terras, o limite de certa forma é tacito e vigiado por moradores de ambos os lados.

100 da terra, isso me marcou muito, porque essa era a principal forma de proteger nossas terras ou as terras da Santa de eventuais antagonistas que pretendiam intruza-las.

Em relação aos antagonistas, naquele tempo narrado pelo meu pai, o rumo era literalmente o limite de tolerância, se caso eles ousassem ultrapassar, e não recuassem; o conflito estava deflagrado. Os homens estavam sempre dispostos a tudo, a “matar ou morre,” para defender o território, que se confunde com da Santa. Viviam esta defesa de território como o único meio de garantir a reprodução física, cultural, social e religiosa dos grupos, partindo para o enfrentamento direto caso se fizesse necessário.

Diante de qualquer movimentação ou ameaça, a primeira providencia tomada pelo encarregado, era reunir com os homens das comunidades mais próximas, e mobilizar os homens das mais distantes, e a primeira atitude a ser tomada, era verificar e limpar o rumo. A dinâmica utilizada consistia no seguinte: os homens se deslocavam para fazerem a limpeza do rumo nas localidades mais próximas aos seus povoados, até um determinado lugar, previamente combinado, assim em dois ou três dias, eles conseguiam fazer a limpeza das picadas definidoras do perímetro.

Naquele tempo, esses homens já eram chamados ou mesmo se autodesignavam, soldados140 de Santa Teresa, ou “homens de Santa Teresa.” A mobilização e a forma como partiam para verificar os rumos da terra, lembrava muito a movimentação de tropas militares. Guardadas certas proporções obviamente, eles usavam na limpeza seus instrumentos de trabalho na roça: foices, facões, machados e alguns homens carregavam também suas espingardas “bate bucha,”141 usadas para caçar. A maior arma sempre foi, entretanto, à fé na condição da Santa, enquanto proprietária e o próprio sentimento de herdeiros legítimos dela.

As ditas terras de Santa Teresa, sempre foram muito cobiçadas por políticos da região, tanto das elites dominantes de Alcântara, quanto de Bequimão. Pelas narrativas dos moradores era costumeiro, eles, enfrentarem enquanto antagonistas ora o prefeito de Alcântara, ora o de Bequimão quando não os dois;

140 As expressões, “saldado de Santa Teresa” e “Exercito de Santa Teresa” me chamaram muito atenção

desde 2008, quando Eu na companhia de Claiton de Jesus e o senhor Francisco Noé de Jesus, íamos até o Engenho Velho no município de Bequimão com o objetivo de chegar em um dos limites das terras de Santa Teresa, depois de marcar o ponto de GPS e encontra os limites das terras de Santa Teresa e Nossa senhora de Santana. Conversávamos os três na cabine do caminhão quando o Claiton olhou e viu um monte de homens a beira do ramal nos esperando para nos acompanhar até o próximo ponto a divisa com a antiga fazenda gerijó nas três irmãs, o caminhão ficou tomando ele repetiu expressão “tu ta vendo esse é o exercito de Santa Teresa tem mais de mil homens”

141 Arma de fogo a base de chumbo e pólvora muito comum na região, usada principalmente na caçada de

101 Leitão que queria vender essa terra! Essa aqui ta vendida só falta seu Eurico se assinar, mas o velho não assinou – Zuleide veio chorando dizendo titio Eurico nós perdimos a terra já estão vendidas só falta o senhor se assinar, ele disse porque – eu não sei mas só falta o senhor assinar e ai ele disse eu não me assino, eu não me assino, eu não me assino e não tem quem faça eu me assinar, ai eles vieram que era pra velho assinar ele disse eu não assino (Francisco Noel, 2011 )

O principal conflito em que os moradores das terras de Santa Teresa se envolveram, foi fomentado pelo próprio Estado, até então, as pressões sobre a qual o território fora submetido eram localizadas. Entretanto, com a Lei de terras 2.970, do Estado do Maranhão de 17 de julho 1969, também conhecida como “lei de terras Sarney,” as pressões institucionais aumentaram. Esta lei tinha o objetivo de reestruturar o mercado formal de terras, através da venda pelo estado das terras públicas para grandes projetos. Na pratica o governo estadual expropria as terras sem o devido registro formal, ficando com o controle de todas as terras não registradas e as disporia ao mercado formal.

A denominada “lei de terras Sarney”, desestruturou toda uma dinâmica social do campo maranhense, usurpando as terras tradicionalmente ocupadas e tendo como consequência o acirramento dos conflitos agrários no Estado. A lei suprimiu direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais, levando a expulsão de milhares de maranhense do campo para trabalharem em situação análoga a escrava, em garimpos e fazendas no estado do Pará, Mato Grosso e Goiás. Alem disso, provocou a migração em massa para a capital do Estado, causando uma explosão urbana e a proliferação dos adensados bairros periféricos em São Luis.

Pela lei de terras de 1969, as terras como as de Santa Teresa foram consideradas como terras devolutas. Ou seja, terras sem donos e sem registro que retornaram formalmente ao estado, podendo então, ao estado dispô-las ao mercado. Entretanto, os moradores não reconhecem a categoria “terras devolutas”, enquanto situação social que envolve a terra ou o acesso a terra. No modo de ver desses agentes sociais, as terras tem dono e ela tem nome, endereço, encarregado e herdeiros. Segundo Prado (2007. p. 62) no entender dos moradores, o espaço territorial se dividia em duas espécies de terras: “as de Santos” e “as de Donos”. Portanto, para os moradores das comunidades a terceira qualidade, as devolutas é inexistente.

102 Segundo Shiraishi Neto (1998), pelo Artigo 3 a Lei de terras do Estado do Maranhão de 1969 considera terras devolutas como sendo;

I –as que não estiverem aplicadas em qualquer uso publico federal, estadual ou municipal

II – as que não estiverem no domínio particular por títulos legítimos e regulares III – as que não estiverem fundadas em títulos de legitimação ou revalidação VI – as áreas dos extintos aldeamentos dos silvícolas

Com a lei de terras Sarney142, o território começou a sofrer pressões maiores principalmente na parte que esta localizada dentro do município de Bequimão. Depois de mais de cem anos de autonomia os moradores nunca haviam enfrentado conflitos como o que agora se apresentava como aponta Almeida;

Durante quase dois séculos esse sistema de uso comum e as respectivas territorialidades especificas não conheceram maiores pressões de novos grupos interessados nas terras. As ocorrências de antagonismos e tensões sociais foram sempre localizadas e de curta duração. As iniciativas de colonização do governo estadual em 1975- 76, insistindo no desmembramento das territorialidades especificas consideradas como terras devolutas e disponíveis e as tentativas de grilagem em 1978-79, das terras de Santa Teresa foram episódios que se esgotam na própria circunstancia. (ALMEIDA, 2006. p. 53)

O conflito ocorrido foi motivado pela intervenção direta do governo estadual, resulta da disputa pelas terras de Santa Teresa, entre político grileiros legitimado de certa forma pela lei de terras e a Santa e seus herdeiros. Nesse sentido, podemos afirmar que, tal conflito foi instituído pelo próprio Estado. Ele resulta de uma ação deliberada do governo estadual, que provocou a reação dos agentes sociais. Enquanto os grileiros fraudadores de títulos levantavam cercas de arame farpado nos limites dos municípios de Bequimão e Alcântara, fato imediato que deflagrou o conflito entre comunitários e grileiros exigiu uma intensa mobilização das comunidades, sobre isto Almeida escreve, o seguinte:

142

Os dos primeiros artigos do capitulo III, que trata da utilização das terras publicas do estado ironicamente falam na não formação de latifúndios, distribuição de riquezas entre seus habitantes e tomar como dever do estado assegurar a utilização de suas terras aos que nelas morram e trabalham; Art. 11. A utilização das terras Fo domínio Estadual visa primordialmente à melhor distribuição de riquezas entre seus habitantes, vedada em qualquer hipótese a formação de latifúndios. Art. 12. É dever do Estado assegurar a utilização de suas terras aos que nelas moram e trabalham, sendo nulos os atos possessórios praticados a revelia do poder publico, em prejuízos dessa utilização

103 O cercamento de áreas localizadas nas terras de Santa nos confrontantes municipais de Alcântara e Bequimão, foi o estopim para intensas mobilizações, que provocaram a destruição pelos moradores dos povoados de vários quilômetros de cerca de arame farpado ilegalmente construídas (ALMEIDA, 2006. p. 53)

Os moradores dos povoados que só reconhecem a Santa do Itamatatiua como a legitima donas das terras, e a eles próprios enquanto herdeiros, participando festejos em homenagem a Santa conhecendo e zelando pelos seus limites, entraram, em conflito direto com os antagonistas em defesa seu território. Os moradores fizeram uma grande reunião em Itamatatiua com representantes de todos os povoados e se articularam para fazer a retomada do seu território. O primeiro passo foi acabar com as cercas, então munidos de facões, foices e espingardas, partiram para o enfrentamento;

Começou do ramal de formiga, fomos derrubando, derrubamos a de Dr Benedito, só não derribemos a de Cutrim porque ele veio e pediu, ele disse pessoal não derribem minha cerca porque eu não tenho terra aqui. To cercando pra fazer o meu trabalho mas, sei que essa terra não é minha! Ai Tolintino disse nós não vamos derrubar a cerca dele, ai a de Zoza nós fomos pra derrubar e tomemos a foice dos trabalhador que estavam metendo rumo ainda quisemos dale no balizeiro, o engenheiro que tava nessa mesma hora pegou o carro e foi embora, derrubamos a de Juca Martins , Juca foi atrás da policia a policia de Pinheiro, o delegado não liberou ai ele foi até São Bento, o delegado não liberou, ai ninguém veio, ai depois que nós derrubemos a cerca ele disse que depois que ele ganhasse pra prefeito ele ia fazer a gente emendar arame com cuspe. (FRANCISCO NOEL, 2011)

O episodio da derrubada das cercas, foi um ato deliberado e é extremamente simbólico por parte dos agentes sociais, uma vez que, desde a autonomia no século XIX, as comunidades optaram pelo livre acesso a terra e aos recursos naturais, adotando o sistema de uso comum. O cercamento é apenas um recurso utilizado temporariamente para proteger a roça da entrada dos animais domésticos em áreas próximas às casas e às vezes, para delimitar o que eles chamam de patrimônio143. Além disso, no caso dos moradores, o cercamento não implica em recursos fechados. O tipo de cercamento feito pelos antagonistas tinha como objetivo cercear o acesso à terra, o que imobilizaria parte do território e aos recursos naturais utilizados pelos agentes sociais, o que entrar em rota

143 Patrimônio é como os moradores chamam o local onde desenvolvem suas atividades domesticas.

104 de colisão com o modo de uso da terra e dos recursos naturais, tal como vivido e praticado pelos agentes sociais;.

Em Tamatatiua o uso das terras e dos recursos naturais é considerado um bem disponível àqueles que concordam em respeitar praticas sociais tidas como propiciadoras de direitos iguais a todos que se utilizam das terras. Dessa forma, critérios de pertencimento e exclusão estão baseados no compartilhamento de valores sociais tidos como consentâneos na utilização dos recursos naturais. É essa noção que evoca a ideia de que atualizam certos critérios ecológicos relacionados por sua vez com a preocupação com a conservação de recursos como reserva de mata e áreas de coleta de palha (CANATNHEDE FILHO, 1999. p.11)

Entretanto, a luta pelo controle das terras de Santa Teresa, acabou por colocar algumas lideranças de dentro do território na condição de criminalizados. Em outras palavras, os agentes sociais estavam defendendo os direitos de preservação sua forma de usar a terra, o direito à reprodução, física, social, cultural e religiosa e do território que historicamente eles compreenderam como sendo da Santa e por extensão seu. Estes foram ainda denunciados e tiveram que ir prestar contas à justiça, sobre o acontecido; como lembra Pedro Oliveira;

Eu fui intimado para Pinheiro eu fui em Pinheiro, eu, Tolintino , Laurintino e finado Senforne, Jose Coubertino só já existe eu. Fui chamado porque eles estavam demarcando as terras e eu convidei o povo ai. ai eles fizeram povo e foram ate Bequimão, a mais não veio ate onde policia veio de lá um bucado mais não veio ate onde nós, porque tinha uma 80 pessoas e tava armado de tudo é quanto é jeito, espingarda, revolver, tudo esperando porque podia a turma vim de lá né também foi guentada o, mas também depois disso as cerca foi derrubada e nunca mais foram levantadas. Eles me intimaram porque eu era um dos cabeças. (PEDRO OLIVEIRA, 2011)

Acima temos o depoimento do pequeno agricultor, comerciante e barqueiro Pedro Oliveira, uns dos citados pela justiça como responsáveis pelo movimento. Além dele foram responsabilizados, o comerciante e pescador Senfrone Maramaldo, o lavrador e filho do encarregado da terra na época Tolintino de Jesus, e os também lavradores, Laurintino de Jesus e José Coubertino dos Santos. A justiça tentou individualizar uma ação coletiva para poder criminalizar os agentes sociais, responsabilizado-os como lideres ou cabeça do movimento.

No depoimento abaixo de seu Francisco Noel, testemunha ocular do caso e um dos guardiões da memória social do conflito, revela que o que garantiu a saída das

105 lideranças sem punição foi suas relações para fora com um coronel bem influente que por diversas vezes interviu em favor dos moradores;

Ai nós estava despreocupado quando pensou que não chegou um oficio, pra Tolentino, Senfrone, José Cubertino e Pedro Oliveira, para ir pra pinheiro, ai nós vamos – ai Tolitino olhou a data e disse é ainda da tempo deu ir na cidade onde o coronel, Tolintino veio e no outro dia nós fomos, quando nós chegamos em Pinheiro o delegado era bravo que vinha da porta da frente a porta dos fundo da delegacia, bravo e bravo muito – ai Tolintino disse ai esse delegado ta bravo que esta escumando – ai ele teve, e ai perguntou vocês são de onde – Ai Tolintino disse – nós somos de Alcântara! O delegado falou – Há vocês que são o pessoal de Alcântara – Somos nós mesmos – eu já volto eu sou vou resolver um problema aqui que eu já venho resolver com vocês – Então vocês que são os derrubador de cerca de Alcântara, nós não quem derrubou foi o povo, não quero saber, não quero saber eu quero saber quem são os Tuchaus, quero saber se vocês que são os Tuchaus, sem demora o telefone tocou ai veio o sargento e disse – Delegado telefone ai pra você e parecer ser com urgência. – Quem ta ligando não sei e não é pessoinha - ai ele foi lá e atendeu – Alô ai e conversou ai ele disse ele disse tão aqui senhor ai não demorou muito ele veio, mansinho e ai perguntou, há ta bom eu vou já atender vocês, ai Tolintino perguntou como é que nós faz vai de um a um ou todo mundo, ele disse todo mundo não tem problema eu vou atender vocês todos de uma só vez – podem entrar chegou lá ele disse é a derrubada de uma cerca, ai Tolintino foi explicar pra ele. Vocês infelizmente estão adquirindo o que é de vocês, essas terras não é de ninguém é de vocês ai vocês tem que brigar pelo que é de vocês e se é de vocês! Vocês tem que brigar como os outros da rua querem tomar e não deixam ninguém tomar, tem que bater contar e vocês ainda tiveram paciência porque tem lugar que da ate morte ai não deu, derrubaram a cerca e não, eu não tenho nada a tratar com vocês pode ir embora e acabar de derrubar o resto! Foi que nós viemos embora então o governo criou uma discriminatória onde ninguém podia mais vender e cercar (FRANCISCO NOEL, 2011)

A luta contra a privatização de suas terras e dos recursos naturais levou os agentes sociais a promoverem a derrubadas de mais de 15 quilômetros de cercas, impondo aos antagonistas além de uma derrota política e moral a supremacia de seu sistema de uso da terra. Recuperaram todo território usurpado e garantiram ainda o direito de todos os moradores a permaneceram fazendo o uso da terra e dos recursos naturais de forma especifica;

106 A única situação em que se registra um processo de recuperação dos domínios usurpados refere-se às terras de Santa Teresa, em Alcântara, quando nos fins dos anos de 1970- 80 os trabalhadores rurais, ocupantes de posse centenária. Destruíram quase 15 km de cercas erguidas ilegitimamente por interesses pecuarista. As mobilizações que configuram uma existência coletiva, tendo por referencia estas denominadas terra de santo, constituem um dos fatores essenciais à identidade destes pequenos produtores agrícola (ALMEIDA. 2003. p. 229)

Além de barrar o cercamento que estava sendo feito pela elite política de Bequimão, os moradores ainda tiveram que enfrentar vários outros tipos de pressões, e ações promovidas por partes dos seus antagonistas que visavam privatizar o território. Entre as estratégias usadas pelos antagonistas houve a expedição de Cartas de Anuência, venda de ilhas e de parte das terras com a conveniência de políticos e donos de cartórios;

Depois apareceu um vendimento de terra, ai esse pessoal mesmo ai de Alcântara ai seu João Leitão um tal de Lobão, mais não é esse que é ..., ai vieram ai um dia fizeram uma reunião a noite em Itamatatiua, ai eu disse, é eu não podia comprar, mas se eles iam vender, se eles achassem podiam vender até a quilo, eu é que não podia vender. O certo é que nunca foi vendida essa terra. Santa Teresa sempre foi combatida, mais vencida não. Sempre foi combatida, mais vencida não! (PEDRO OLIVEIRA, 2011)

Para além, de uma reação contra a investida dos invasores o episódio acabou por possibilitar uma ampliação ainda maior dos laços de solidariedades existentes entres os agentes sociais de diferentes comunidades dentro do território. O controle do território assegurou também, a possibilidade de garantir reprodução física, social e cultural dos grupos e a afirmação dos agentes sociais enquanto moradores de terra de santo.

Na medida em que esses agentes sociais se investem de identidades étnicas para categorizarem-se a si mesmo e as terras que

107 historicamente ocupam, mobilizam-se a si coletivamente para fins de interação e manutenção dos recursos necessários para sua reprodução física e social, eles compõem grupos étnicos no sentido organizacional, que transitam entre diferentes modalidades de domínio e de planos organizativos, construindo coletiva e socialmente o seu território (ALMEIDA. 2006. p. 53)

Os conflitos resultaram em uma ação discriminatória proposta pelos órgãos fundiários do Estado, como forma de resolução dos conflitos. Tal discriminatória existe, mas nunca foi executada. Segundo os moradores de Itamatatiua o Instituto de Terras do Maranhão – ITERMA, chegou a abrir um processo para a titulação, realizando inclusive trabalhos de campo no sentido de fazer a demarcação.

Durante a realização do primeiro Seminário sobre territorialidades ameaçadas e conflitos no Maranhão em 2011, que eu enquanto coordenador geral da Associação dos Pesquisadores da Amazônia (ASPA), e membro do Grupo de Pesquisas Socioeconômico da Amazônia (GESEA) e do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia (PNCSA), estive coordenando junto com os integrantes do Centro de Cultura Negra do Maranhão (CCN). O advogado da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), Dr. Luiz Antônio Pedrosa, mencionou os conflitos de Itamatatiua, chamando atenção para o envolvimento dos agentes sociais na luta. Segundo Pedrosa as pessoas pediam para suas cicatrizes resultantes dos conflitos entre grileiros e os moradores da terra de Santa Teresa, que culminou na derrubada das cercas dos grileiros fossem colocadas no processo judicial. Para os envolvidos nos conflitos suas cicatrizes