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Nas ultimas três situações sociais envolvendo a relação entre Santa Teresa e Agentes sociais que se envolvem em situações de violação das regras estabelecidas

55 entre a Santa e os moradores de suas terras que escolhemos para analisar, encontramos duas situações envolvendo comerciantes de dentro do território e uma envolvendo um padre ligado a igreja católica. Essas situações envolvem agentes sociais que ocupam posições mais elevadas no povoado e passam adotar um comportamento tido de certa forma como arrogante

Quanto mais elevada for à posição maior a possibilidade de punição, visto que é a santa que gere as relações e cabe a ela restabelecer as relações sociais e ao estabelecer essas relações muitas das vezes acaba por entrar em rota de colisão com esses agentes sociais. A punição aos comerciantes e ao padre são resultantes de afrontas diretas a Santa.

No caso do primeiro comerciante ele é punido porque desdenhava de um dos momentos mais simbólicos e importantes que a comunidade faz, para homenagear sua padroeira, a procissão. Ao profanar a procissão, não se portando com o devido respeito diante dos rituais, ao debochar ele fere uma regra e a punição é imediata, na frente de todos. A punição é publica, não deixa duvidas além, de servir como exemplo. O segundo porque sempre que via alguém de Itamatatiua, os tratava de forma ofensiva, nesse sentido, ofender os chamados pretos de Santa Teresa é uma afronta a Santa, que também é ofendida e a punição é fazer ele sentir como as pessoas se sentiam quando eles as ofendiam. Já o padre, ao expulsar os devotos da Santa da casa dela, ele quebra uma regra, que é do tratar bem os devotos, acolhe-los, assim com ela é acolhida por eles quando chega em suas casas, ofender seu devotos é ofender a própria santa, que se põe ao lado dos oprimidos reagindo contra a arrogância dos opressores

3.4.1 O comerciante que desdenhava da procissão

“Tinha uma porção de coisa para ser distribuir na frente da igreja; tinha farinha, refrigerante, carne tudo. Era muita coisa, promessa que os devotos tinham pra pagar na hora da procissão. – rapaz eu tava lá que eu queria ganhar menos um refrigerante, ai ele gritou no meio da rua para um dos seus filhos – traz um foguete ai, que essa procissão não tem nem foguetes. Foi só isso que ele disse! E ai tanto foguete nessa procissão, ele disse isso só para se mostrar no meio de gente. Rapaz, foi só esse foguete, ele agarrou esse foguete atirou, eu não sei como esse foguete fez que veio uma bomba de lá e caiu encima da casa e da quitanda dele, era de cinco e meia pra seis horas, sió mas esse

56 homem gritava, mais gritava desesperado, chorava, mais também foi um santo remédio nunca mais ele disse – eu disse ta vendo isso é pra te aprender! Queimou tudinho ele ficou com a roupa do corpo – isso aconteceu dia da festa na hora da procissão que é gente como que, é muita gente. Ai as pessoas começaram a dizer – tu ta vendo, tu ta vendo a gente não fala demais. Também foi um santo remédio.” (NEIDE DE JESUS. 2009)

3.4.2 O comerciante e o filho tocó

“Na década de setenta dois moradores de Itamatatiua se deslocaram até um retiro de um povoado distante para buscar uma vara de porcos que santa Tereza havia ganho de um devoto como joia para sua festa. Quando voltavam encostaram com os porcos na casa de um grande comerciante em Tubarão, povoado composto pela maioria de cabocos91 vizinho de Itamatatiua para tomar uma cachaça. Vendo os homens chegarem com os porcos o comerciante saiu para observar a vara, percebendo que os porcos todos tinham o rabo cortado, retornou ao seu balcão. Dias depois uma turma do Itamatatiua passou pelo povoado o comerciante começou a desdenha lá vai os tocó do sitio,ele a partir de então passou a denominar as pessoas de Itamatatiua de tocó do sitio em uma analogia do rabo dos porcos com o cabelos das pessoas. Quando alguém passava ele logo gritava lá vai um tocó do sitio. O ditado ofensivo virou moda na localidade como maneira de ofender as pessoas do Itamatatiua, que ficavam enfurecidas com o apelido. Mas seixa que a mulher do comerciante estava grávida e ao fim dos 9 messes de uma gravidez normal ela da a luz a uma menino branco sem pés nem mãos, somente com parte dos membros tal qual como os rabos da vara de porcos. A noticia logo se espalhou e o comerciante envergonhando dizem que pediu perdão a santa Tereza por ofender sua gente, seus pretos. O certo foi que ele acometido pela vergonha devido o castigo dado pela santa, segundo moradores, vendeu suas posses e foi embora para Alcântara onde mora hoje seu filho tocó.” (LUIZA DE JESUS. 2009)

91 Como são chamados os moradores das terras de santa Teresa que moram em outros povoados são

vários os povoados dentro do território de santa Tereza que são compostos majoritariamente por cabocos. Esses povoados ficam principalmente no município de Bequimão. O termo cabaco serve também como antônimo de preto, o que pode explicar as expressões “pretos de santa Tereza” ou “os filhos da branca” usadas pelos moradores de Itamatatiua pretos de santa em uma clara afirmação da diferença e também uma alusão a quem são os verdadeiros herdeiros da santa

57 3.4.3 O padre que expulsou os devotos

“Papai tava na igreja e o padre vinha, nesse tempo ele vinha, véspera da festa, pra sair na procissão e onde Adriana morra era de Santa Teresa, papai comprou essa casa de finada Anja mais de Carmosino, de finada Anja, não porque ela morreu e Carmosino vendeu essa casa pra papai, papai disse é eu vou ficar com essa casa, ele agarrou, chegou um pessoal e o padre ainda não tinha chegado e a casa tinha 3 quartos, quatro com a sala, papai disse – o padre fica nesse quarto e eu vou botar essas pessoas pra cá, quando o padre chegou botou as pessoas na rua, que ele não queria ficar ninguém lá, queria ficar era ele só. Lá o pessoal foram pra igreja chegaram lá no altar e disseram – É Santa Teresa agora que eu quero ver se voz é milagrosa, risos, foi, isso foi verdade Junior, isso foi verdade Junior, - agora que eu quero vê se voz é milagrosa (junior), não passou de meia hora surgiu um fogo nessa casa que ninguém sabe de onde saiu esse fogo e tinha um bucado de gente e ninguém apagou esse fogo queimou tudo! O padre saiu correndo segurando a batina que passou doido. Isso foi verdade! Eu te juro Junior!” (NEIDE DE JESUS; 2011)

O que eu expus a acima são algumas situações envolvendo a santa que define a coesão e a ordem social dentro do território, ainda que as escolha tenha sido um ato arbitrário da minha parte enquanto pesquisador. Eu não sou um colecionador de histórias. Essas situações abordadas, servem para me ajudar a compreender melhor as relações sociais, entre moradores e sua padroeira. A postura da santa, em favor das pessoas de Itamatatiua e sua constante intervenção no sentido de manter o domínio de seu território podem explicar os vários tipos de relações sociais do grupo. O apego a santa, a confiança ou mesmo de fé que as pessoas depositam nela, dentro dos limites físicos do seu território como as que estão fora. Apontando para outro processo de territorialização, e para um território que extrapola e muito os limites físicos das ditas de Santa Teresa.