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5. A INTERFERÊNCIA RELIGIOSA

6.3. A Emigração e os Objectivos Sionistas

A imigração sionista verificou-se de uma forma mais acentuada após o domínio britânico na Palestina. A Grã-Bretanha permitiu activamente a imigração dos judeus para a Palestina e revestiram-nos de autonomia para que os próprios administrassem os seus assuntos. A aquisição de terras para a colonização judaica constituía o principal objectivo do fundo Nacional Judeu. As terras eram obtidas, maioritariamente, por proprietários absentistas. Após a compra, as palavras de Yosef Weitz446 ilustram bem o

445 Pascal Boniface, Dicionário das Relações Internacionais, Plátano, Lisboa, 1997, pag 322. 446 Director do Departamento de Terras do Fundo Nacional Judeu.

objectivo pretendido “temos de ver-nos livres destes chantagistas e parasitas”447. O que sucedia era então a expulsão dos agricultores palestinianos pelos recém-chegados colonos judeus. A expulsão e expropriação territorial iriam transformar-se no que viriam a ser as principais preocupações árabes face ao sionismo. Tais procedimentos levariam a uma resistência palestiniana. Esta recusava-se, simultaneamente, ao fluxo de imigrantes judeus e ao Mandato Britânico. Juntos formavam um verdadeiro obstáculo à liberdade e independência palestiniana. Nesta fase a oposição verificava-se sem contornos violentos apenas evidenciando sinais esporádicos de violência gregária. Por sua vez, a política levada a cabo pelos sionistas, assente na “conquista da terra” e “conquista do trabalho”, incluía rejeitar aos árabes a possibilidade de trabalho em terrenos na posse de judeus. Localidades só para judeus, instituições socioeconómicas unicamente para judeus, um aparelho político apenas judeu no que se constituiria numa “sociedade judaica paralela”. Na altura em que chegam ao poder alemão os nazis, os imigrantes sionistas na Palestina encaravam-se a “si próprios como autênticos heróis bíblicos”448. Foi mediante esta circunstância que se verificou o maior fluxo de emigração de judeus para a Palestina. Para auxiliar esta deslocação, a Agência Judaica firmou, em 1933, um pacto com os nazis. Pese embora a intenção de criar o Estado judaico carecesse de população o movimento sionista insistia “em que os judeus alemães deviam ser previamente

examinados, para que apenas fosse autorizado a entrar na Palestina o melhor material humano, apto a construir o país. A selecção dos judeus em fuga perante a perseguição nazi mostra a hipocrisia do movimento sionista, que dava prioridade aos objectivos de colonização sobre o socorro aos seus correligionários em apuros”449. Facto que espelhava bem a intenção sionista.

O início da IIGM fez com que a Yishuv, a comunidade judaica da Palestina, alistasse 30 000 voluntários que seriam, posteriormente, treinados pelos britânicos. De forma inversa, os palestinianos possuíam uma estrutura muito fragilizada, com parcos recursos militares, não representando uma ameaça do ponto vista militar para os judeus. Mas os palestinianos tinham do seu lado o bem essencial que impossibilitava o objectivo judaico: eram detentores de, ainda, 95% das terras e representavam dois terços da população da Palestina. Para agravar a aspiração sionista somente uma parcela dos

447 Ziyaad Lunat, O sionismo e a Nakba Palestiniana, In Do Muro das Lamentações ao Muro do

Apartheid, Fim de Século, Lisboa, 2009, pag 29.

448 Idem, ibidem, pag 32. 449 Idem, ibidem, pag 33.

judeus europeus os apoiava e os judeus árabes não se aglutinavam a favor da mesma. A ténue situação que se criava impingia ao império britânico a necessidade de reconsiderar o seu apoio ao movimento sionista, o que conduziu a que fossem criadas quotas que confinavam a imigração judaica. Mais tarde, em 1939, o Governo britânico desenvolveu um plano de partilha assente na ideia na independência da Palestina, sendo governada quer por árabes, quer por judeus, na proporção que representavam. Esta modalidade não era do agrado dos dirigentes sionistas. O objectivo primário da formalização do Estado judeu na Palestina perdia força. Restava aplicar uma medida radical para relançar o desígnio judeu. Desta feita foi levado a cabo uma acção bastante minuciosa: o levantamento topográfico de todas as localidades com toda a informação adicional possível. O objectivo, depois de concluídos quais os pontos palestinianos mais vulneráveis, seria surpreende-los.

Não restando outra alternativa face à resistência palestiniana, o recurso último para conquistar terreno seria a força. As forças paramilitares sionistas eram já bastante poderosas, das quais se destacavam a Irgun, o bando Stern e a Haganah. Como os palestinianos se encontravam já bastante desgastados, derivado à revolta, os sionistas orientaram os seus esforços contra os britânicos. Por tais razões, mediante a resistência verificada e os meios utilizados, Israel é considerado um Estado “construído” com base no terrorismo.

O exército israelita foi criado mediante grupos terroristas pertencentes ao movimento sionista e que colocaram em prática o plano de limpeza étnico na terra da Palestina para a construção do Estado de Israel450. A explosão de engenhos explosivos em locais públicos provocando a morte de várias dezenas de pessoas seria o início destas práticas terroristas. A Irgun, em Novembro de 1937, seria a primeira organização militar sionista a usar tais métodos. Na mesma linha de raciocínio a Haganah dizimou vilas e expulsou os habitantes de muitas outras para edificarem o Estado de Israel. Mesmo assim os palestinianos são considerados terroristas para o Mundo Ocidental quando tentam impedir que lhe retirem as suas terras ou obtém as condições mínimas para sobreviver com o bloqueio451. Durante oito meses e a partir de Outubro de 1945, a Irgun, a Haganah e o movimento trabalhista unem-se efectuando ataques a objectivos

450 Shahd Wadi, O Holocausto da Paz, In Do Muro das Lamentações ao Muro do Apartheid, Fim de

Século, Lisboa, 2009, pag 79.

militares britânicos. Das acções desenvolvidas ressalta a mais brutal de todas: o atentado ao Hotel King David levado a cabo pela Irgun452.

Recentemente, na operação Chumbo Fundido, as acções desenvolvidas na Faixa de Gaza pelo exército israelita foram consideradas parte de um plano de “aniquilação

sistemática” do povo palestiniano. A destruição das infra-estruturas básicas, dos

hospitais e escolas, bem como das reduzidas indústrias e centros de culto indiciam ser provenientes de um meticuloso plano. Israel justifica que os ataques são baseados no direito de Defesa alegando regras internacionais que regem os conflitos armados. Contudo, a acção de defesa não é proporcional contra os ataques do Hamas453.

As organizações internacionais são totalmente ignoradas por Israel não conseguindo conter os ataques israelitas que visam responder aos ataques cegos454 das armas palestinianas. Os israelitas bombardeiam hospitais, escolas, indústrias, pontos logísticos alimentares ou mesquitas e ainda abatem crianças indefesas455. Relembra a história de David e Golias, onde a proporcionalidade é posta em causa pelos ataques do exército israelita face às armas ligeiras e os morteiros Qassam456, mas desta feita com as origens contrárias. Para Ilan Pappé, Israel adoptou na Faixa de Gaza uma política genocida. Em apenas seis457 anos as forças israelitas aniquilaram cerca de 4000 palestinianos, dos quais metade eram crianças458.

6.3.1. A Conquista que implica a Expropriação

A primeira tentativa da partilha da Palestina provém de 1937, do relatório da Comissão Peel, onde se propunha a “transferência palestiniana das áreas reservadas

para o Estado judeu”. Se o intuito era dividir a Palestina então implicava a transferência

coerciva dos árabes. Todavia, a formação de um Estado com maioria judaica seria impossível uma vez que os palestinianos dominavam em número. Consequentemente, a formação do Estado judeu na Palestina comprometia a presença palestiniana. A expulsão dos árabes foi a pretensão sionista para a concretização do seu objectivo.

452 Alain Gresh, Israel, Palestina Verdades sobre um conflito, Campo das Letras, Porto, 2002, pag 70. 453

Gonzalo Boye Tuset, Uma Visita às Ruínas de Gaza, In Do Muro das Lamentações ao Muro do Apartheid, Fim de Século, Lisboa, 2009, pag 83.

454 Dispositivos sem capacidade para serem orientados e que são municiados com uma carga explosiva de

um quilograma.

455

Idem, ibidem, pag 84.

456 De fabrico artesanal, desprovido de sistema de controlo, trata-se de um artefacto utilizado

essencialmente por organizações da resistência palestiniana, principalmente o Hamas, contra o território de Israel.

457 No período de 2000 a 2006.

458 Ilan Pappé, A Receita Israelita para 2008: Genocídio em Gaza, Limpeza Étnica na Margem Ocidental,

A Paz foi desde então uma palavra enterrada, verificando-se actualmente aquando da vitória eleitoral de ambos os partidos israelitas de direita: o Kadima e o Likud. Os partidos não utilizam a Paz como apelativo eleitoral, em vez disso é a guerra que figura como slogan principal nas propagandas eleitorais. A guerra é a palavra-chave para quem pretende vencer as eleições. Mesmo para os israelitas de esquerda a guerra foi o principal motivo pela qual os fizera votar na direita alegando “precisamos de ser

mais fortes e mais agressivos”459.

Para a comunidade israelita, no seu geral, pouco importam os meios, legais ou não460, para o desenvolvimento do ataque, onde uma ampla percentagem (91 %) se encontra a favor da invasão da Faixa de Gaza461.

A maioria dos media ocidentais acatou as falsidades israelitas que alegavam a invasão de Gaza como consequência da violação de tréguas pelo Hamas. Mas por tal razão foi necessário efectuar um sem número de mortes e onde a maioria eram civis? Porém, a 4 de Novembro de 2008, sabe-se que a trégua foi quebrada aquando da morte de seis membros do Hamas na Faixa de Gaza. Mediante estes homicídios selectivos, o Hamas tentou negociar, sem êxito, a extensão da trégua em troca do desbloqueio da Faixa de Gaza.

O Likud, em 2005, declarava que a retirada dos colonatos de Gaza significavam a paz. Mais tarde proliferaram os colonatos na Cisjordânia com colonos em número bastante superior aos retirados da Faixa de Gaza após a retirada462. A política de Ariel Sharon tem o total aval de todos os partidos em prol do aumento de Israel em detrimento da Palestina. Quando Israel iniciou os bombardeamentos os media ocidentais utilizaram o termo terrorista para designar os palestinianos. Mas será o Hamas um grupo terrorista? Face a esta questão a resposta reside no facto do Hamas resistir contra a ocupação tendo para tal esse direito.463

6.3.2. Guerra Civil?

Apesar de se constituir meramente como uma hipótese e de uma forma irónica, Israel admite outros meios para atingir os seus fins e a guerra civil não é excepção. “Os

459 Shahd Wadi, O Holocausto da Paz, In Do Muro das Lamentações ao Muro do Apartheid, Fim de

Século, Lisboa, 2009, pag 78.

460 Na operação Chumbo Derretido a utilização de fósforo branco provocou queimaduras sem

precedentes.

461 Shahd Wadi, O Holocausto da Paz, In Do Muro das Lamentações ao Muro do Apartheid, Fim de

Século, Lisboa, 2009, pag 78.

462 Idem, ibidem, pag 79. 463

seus generais esperam que a matança recíproca dentro da Faixa faça o trabalho por eles”464. A constante prisão, a fome como consequência do bloqueio e a ingerência de Israel na Faixa de Gaza inflama negativamente o processo de paz. Observando o seio da comunidade na Faixa de Gaza podem-se distinguir duas facções: os considerados fundamentalistas, totalmente contra a política de Israel, e os moderados, que aspiram única e simplesmente pela obtenção da Paz. Se estes últimos obtiverem um grau de certeza de obtenção da estabilidade, mesmo que induzidos pela ilusão, podem, saturados de toda a situação, unirem-se para contrariar a ideologia de resistência do Hamas. Logicamente, que o Hamas se encontra em superioridade, tanto em estrutura como em meios, todavia as implicações do bloqueio poderão ser suficientes para se lutar pela tão desejada paz e estabilidade. Neste ponto é fundamental recordar as razões israelitas para a aplicação do bloqueio: impedir a entrada de armamento para o Hamas.

Logo, se a razão aparente do bloqueio é essa, a maioria da população está gravemente a ser prejudicada pela presença do Hamas na região. Apesar das represálias, existem muitos palestinianos dispostos a colaborar com as forças israelitas com o objectivo de colocar um ponto definitivo a esta medida que mantém as condições ideais e características de uma autêntica pobreza. Situação que os israelitas irão explorar. Independente de falsas promessas, pensa-se que os israelitas imiscuir-se-ão no apoio aos mais moderados, recolhendo e explorando todas as notícias cedidas pelos palestinianos. Sabendo que o Hamas desenvolve as suas acções a partir do interior da comunidade palestiniana, e contando com o pressuposto das informações cedidas, poderá Israel mais facilmente localizar os membros do Hamas. Assim os extremistas terão de resistir contra duas frentes: os próprios patriotas revoltosos e os israelitas o que conduzirá a uma cedência.