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2. ISRAEL NO QUADRO POLÍTICO INTERNACIONAL

4.4. Direito Internacional

A humanidade há muito que se vem deparando com grandes dificuldades na partilha de águas comuns. Este problema que afecta todos, sem qualquer excepção, poderá surgir a partir de partilhas de escassos recursos, ou então de uma abundância tal, que um Estado ao libertar-se do excedente afectará profundamente outros Estados. Também e por forma a evitar qualquer contaminação ou qualquer uso indevido exista

342 Eodem loci. 343 Eodem loci.

344 GLOBO, Veja o segundo programa especial sobre água, [Consultado em 02NOV09], Disponível em:

http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/article.php?id=196, 2008.

uma retenção das águas é um dos motivos que poderão degenerar em contenda. As conflitualidades relacionadas com este recurso deveriam ficar sujeitas a um tratamento jurídico que visasse uma solução para as mesmas. No entanto, existirão, mediante a complexidade particular de cada caso, dificuldades no próprio solucionamento.

Sublinha-se que actualmente não existe nenhuma convenção internacional que regule as condições e as modalidades de partilha de recursos internacionais. Apenas, existe uma série de normas de jurisprudência e algumas regras vinculadas à protecção dos direitos adquiridos e à liberdade de navegação em rios internacionais. Para além da perspectiva tradicional de navegação de Barcelona, de 20 de Abril de 1921, que define o regime dos cursos de água navegáveis de interesse internacional, o direito internacional não terá estabelecido quais as regras de utilização para as águas dos rios internacionais346. É óbvio que essas regras são bastante insuficientes encontrando-se inteiramente esgotadas, devido ao crescimento demográfico, às novas tecnologias, tanto no âmbito da exploração como nos sectores e hábitos de consumo e, por último, o desenvolvimento económico da concentração urbana. Com o objectivo de preencher esse vazio jurídico, que terá contribuído para o agravamento de diversos conflitos, a Assembleia Geral das Nações Unidas delegou, em 1970, na Comissão de Direito Internacional (CDI) o estudo do direito relativo às utilizações de vias internacionais com outros fins para além da navegação, com o objectivo do desenvolvimento progressivo e a compilação do dito direito. Os trabalhos encontram-se ainda em fase de continuidade o que demonstra uma grande dificuldade em elaborar um novo direito internacional geral que determine as obrigações específicas dos Estados, traduzindo-se inevitavelmente numa limitação da sua soberania.347

O projecto de convenção para a utilização de cursos de água para outros fins que não a navegação, em fase de elaboração pela CDI, foi examinado durante a 43ª sessão da ONU (De 4 de Abril a 19 Julho de 1991) tendo-se reconhecido o direito, aos Estados costeiros do curso de água, a possibilidade de negociar qualquer acordo que se aplique ao curso de água, na sua totalidade, e a converter-se em partes do acordo. Recuperando no essencial as regras de Helsínquia reconhece-se o direito dos países costeiros da mesma bacia à utilização, no seu território, de uma parte “justa e equitativa das águas,

346 Habib Ayeb, Agua y poder en Oriente Próximo, In EL LIBRO DEL AGUA, Debate, Barcelona, 2008,

pag 177.

347

em condições óptimas, tendo em conta a consideração de todos os factores relevantes e circunstâncias pertinentes, no caso dos factores naturais, as necessidades sócio- económicas dos Estados, os efeitos de utilização excessiva dos recursos hídricos sobre outros Estados, a conservação, protecção, valorização e economia na utilização dos recursos hídricos do curso de água e os custos das medidas tomadas para esses efeitos”348.

No seguimento destas propostas subentende-se os princípios de unidade do curso de água e o respeito mútuo, visto ser necessário “encontrar um equilíbrio entre a

independência dos Estados costeiros e a sua soberania sobre os recursos naturais, também um equilíbrio entre os Estados do curso superior e inferior dos rios, e também entre as diversas utilizações da água”349.

Contudo no exercício de soberania, enquanto o direito sobre as águas que fluem no seu território, o Estado não deverá privar os restantes Estados costeiros do mesmo direito, já que a água é um recurso natural compartilhado na medida em que a sua utilização num Estado têm efeitos sobre a sua utilização de outro. De 26 a 31 de Janeiro de 1992, em Dublin, Irlanda, decorreu a IIª Conferência Internacional sobre a Água e o Meio Ambiente, sob o lema “O desenvolvimento e a Perspectiva do Século XXI”, de onde resultou a pretensão de que os Estados, que partilham recursos hídricos, se aproximassem com vista a entendimentos onde defendam os interesses de ambos.350

4.5. Síntese Conclusiva

A água doce que é, por si só, o elemento mais precioso da vida na Terra, assume-se como factor fundamental por ser um bem esgotável e constitui-se, cada vez mais, como um recurso estratégico, tendencialmente, a tornar-se alvo das preocupações dos governantes e dos cidadãos de todos os Estados.

A importação exógena de elementos estranhos ao território de Israel alterou grandemente a demografia da região conduzindo a severos problemas hídricos. Os mesmos seriam agravados aquando do controlo dos recursos por forças israelitas, o qual

348

Eodem loci. Citação original: “Razonable y equitativa de las agua, en condiciones óptimas, teniendo

en cuenta la consideración de todos los factores y circunstancias pertinentes, en este caso los factores naturales, las necesidades socioeconómicas de los estados, los efectos de las utilizaciones de los cursos de agua sobre otros estados, la conservación, la protección, la valoración y la economía en la utilización de los recursos en agua del curso de agua y los costes de las medidas adoptadas a tales efectos”.

349 Eodem loci. Citação original: “encontrar un equilibrio entre la independencia de los estados ribereños

y su soberanía sobre os recursos naturales; también un equilibrio entre los estados de los cursos alto y bajo de los ríos, y también entre las diferentes utilizaciones del agua.”

350

resultou numa efectiva discriminação positiva para os israelitas, remetendo os palestinianos para uma grave escassez de água ao ponto de sofrerem de escassez hídrica. Uma região que eleva a sua demografia, sem capacidades para tal, culminará em consequências bastante negativas. Neste jogo de forças, que Israel sai nitidamente como vencedor, são claramente os palestinianos a sofrer as consequências. Ora se numa região a água existente é insuficiente para satisfação das necessidades básicas, como se poderá então equacionar a prosperidade na Faixa de Gaza ou Cisjordânia?

Face às dificuldades decorrentes da escassez de água e das condições climáticas adversas, Israel, de modo a encontrar a prosperidade e bem-estar do seu povo, encontrou na tecnologia a solução para muitos dos seus problemas. O Estado de Israel é líder mundial na pesquisa e desenvolvimento agrícola, que conduziram a um aumento na quantidade e qualidade dos resultados agrícolas do país. É facto que motivado pelos seus interesses, Israel desenvolveu a tecnologia associada aos recursos hídricos de modo a rentabilizá-los no seu expoente máximo, chegando ao ponto de conseguir vencer barreiras outrora impensáveis, tais como o progresso do processo de dessalinização. Actualmente, Israel detém condições que lhe permitem figurar como um importante pólo de produção agrícola, efectuando uma correcta utilização das técnicas e procedimentos por ele desenvolvidos. Um exemplo claro da necessidade que estimula o engenho!

Relativamente à Guerra dos Seis Dias, conclui-se que a água não terá sido o catalisador do conflito. Israel ao ser-lhe interdito o acesso ao mar Vermelho e ao aperceber-se da ameaça dos Estados limítrofes após a retirada da UNEF, imposta por Nasser, lançou uma guerra preemptiva351. Contudo, e face à relevante necessidade de acesso à água, parece estar implícito que as conquistas das bacias e fontes de águas referidas, se elegeram como um objectivo de oportunidade e por isso considerados secundários. Salienta-se que a Guerra dos Seis Dias permitiu ao Estado de Israel afirmar-se na região chegando ao ponto de se constituir decisor e dele provir o que deve ou não pertencer a quem. Este raciocínio é reforçado pelo facto de Israel não ter cumprido na íntegra as resoluções do CSNU, o que acaba por avultar a gravidade do conflito.

351 Acção associada a um quadro de legítima defesa, para designar um acto militar antecipatório perante

Paralelamente, e como observado, a crise da água no Médio Oriente não é apenas um problema de absoluta falta de água mas igualmente um problema de uma inadequada distribuição dos recursos hídricos comuns. A luta pelo controlo das principais reservas hídricas da região foi, desde sempre, mais um motivo de disputa no conflito Israelo-Árabe. A resolução dos problemas da gestão da água na bacia do Jordão depende da cooperação entre Estados costeiros. Apesar das divulgações de valores se constituírem estratégicos e se encontrarem sob segredo estatal, possivelmente a resolução do problema da repartição da água passa pela criação de um organismo comum para a gestão da água desta bacia. Tal medida diminuiria a discrepância existente em torno do escasso recurso, podendo desta forma, tanto israelitas como palestinianos, ter melhores e maiores condições de acesso de água. Associada com a medida anterior, a ampla dessalinização das águas, poderá constituir-se num excelente redutor do conflito. Ao existir em proporções suficientes e necessárias para o desenvolvimento da região, a água reduzirá as razões pela qual se torna um factor catalisador de conflitos.

No âmbito do Direito Internacional, desde logo ressalta a dificuldade de resolução por se estar perante um rio internacional partilhado por cinco Estados, pela Cisjordânia e Montes Golan, onde estes últimos ao não constituírem-se como Estados dificultam todo o processo jurídico, ao que se acresce todos os interesses particulares que complexificam toda a resolução. Assim, e conforme constatado o campo de direito é demasiadamente vago para estas matérias.

5. A INTERFERÊNCIA RELIGIOSA