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A EMPRESA BRASIL DE COMUNICAÇÃO E A TV BRASIL

A EBC nasceu a partir do interesse do Governo Federal de criar uma empresa pública de comunicação que seria responsável por reunir as emissoras exploradas pelo executivo federal em um novo perfil efetivamente público (VALENTE, 2009). Em 2008, a medida provisória que a instituiu a EBC foi aprovada e transformada na Lei nº 11.652/2008.

Conforme documento de fundação, a Empresa Brasil de Comunicação foi criada com o propósito de consolidar e ampliar a comunicação pública no país. Por meio da TV Brasil, seu braço televisivo, propõe-se a oferecer uma programação informativa, cultural, artística, cientifica e cidadã, de abrangência nacional. Esta se encontra nas cidades de Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, São Luiz e em mais vinte e um Estados por meio das emissoras parceiras da Rede Pública de Televisão. Com suporte da Agência Brasil, tem a missão de produzir notícias de abordagem pluralista e um jornalismo que conquiste a credibilidade de seu público alvo.

Através dos sinais das suas rádios, com oito emissoras públicas de características e programação distintas e a Rádio Agência Nacional, busca se firmar na construção de um jornalismo de tradição e qualidade. O conteúdo produzido pela TV Brasil nacional é replicado pela TV Brasil Internacional, onde, segundo dados fornecidos pela emissora, atingem a mais de três milhões de brasileiros que vivem no exterior e demais falantes de língua portuguesa, principalmente em território africano. O canal iniciou suas transmissões em 24 de maio de 2010, com transmissões simultâneas para quarenta e nove países do continente africano através da operadora Multichoice (cabo e DHT). Em dezembro de 2010, tiveram início as transmissões experimentais para Portugal, através da operadora Meo TV. Nos Estados Unidos da América (EUA), a TV Brasil Internacional compõe o pacote de língua portuguesa da operadora de TV por assinatura (DTH) Dish Network. Na América Latina, pode ser acessada de antenas parabólicas e de dezenas de operadoras a cabo em diferentes países.

A programação e conteúdo produzidos pelos canais vinculados a EBC (TV, rádios e agência), estão integrados e disponíveis para o público em geral no Portal EBC que tem o desafio de promover a comunicação pública na grande rede virtual.

Importante observar que o governo brasileiro, ao criar a EBC, mantenedora da TV Brasil, parece querer desenvolver uma rede nacional de comunicação pública que seja uma alternativa de informação e comunicação às redes nacionais privadas que nasceram a partir dos anos 1970, durante o período ditatorial.

Por fim, associando um projeto político de governo a demandas históricas da sociedade civil por uma alternativa ao monopólio das redes privadas de comunicação, surge a EBC, carregando consigo uma construção utópica de comunicação democrática e promoção das diversas culturas e povos, fundamental para a constituição da sociedade brasileira.

Deste modo, faz-se importante uma breve análise do desenvolvimento da emissora TV Brasil.

A TV Brasil é uma emissora parte da EBC, criada pela Lei nº 11.652 de 07 de abril de 2008, e que passou a ser a gestora do Sistema Público de Comunicação, previsto pela Constituição Federal (CF) de 1988. É uma empresa pública ligada a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (SECOM-PR). A nova empresa incorporou a antiga Radiobrás, criada em 1975, para gerir de maneira centralizada todas as emissoras de rádio e televisão do governo brasileiro. De acordo com o portal da emissora, seu compromisso está centrado na diversidade cultural e na pluralidade de opiniões.

A EBC tem como compromisso manter o equilíbrio entre canais privados, estatais e públicos, e, também, oferecer ao cidadão informação de qualidade e uma programação que reflita as expressões de diferentes camadas sociais de cada região do país. (Intranet da EBC).

A nova empresa pública abrange os seguintes veículos de comunicação: TV Brasil cujo programa Nova África é o objeto da presente pesquisa; TV Brasil Internacional; a Agência Brasil, que é o portal de notícias; o sistema público de Rádio, composto por oito emissoras; e, as redes sociais, como o EBC na Rede. Além disso, atua na comunicação governamental ou estatal por meio da EBC Serviços. Além dos produtos de comunicação da SECOM, a área de Serviços atende a clientes de instituições públicas e privadas no campo da Comunicação Social em todo o país. No entanto, os produtos oferecidos pela EBC Serviços ainda estão, em sua maioria, voltados para a referida Secretaria. Ela é responsável pela transmissão da TV do Governo Federal, chamada NBR; da produção e veiculação do programa “A Voz Brasil” (bloco do Poder Executivo); a produção e distribuição do programa “Café com a Presidenta”; a cobertura e a transmissão dos atos da PR; a intermediação de toda a publicidade legal do Governo Federal; a edição da mídia impressa, além de diversos serviços de clipping. No Decreto nº 6.689, de 11 de dezembro de 2008, onde o Presidente da República aprovou o Estatuto Social da EBC, consta no art. 5º que o capital social da referida Empresa é de R$ 200.000.000,00 (duzentos milhões de reais), dividido em duzentas mil ações ordinárias nominativas e sem valor nominal.

Por comunicação pública, entende-se “o processo que se instaura na esfera pública entre o Estado, o Governo e a Sociedade e que se propõe a ser um espaço privilegiado de negociação entre os interesses das diversas instâncias de poder constitutivas da vida pública do país” (BRANDÃO, 2003, p. 31). Já a comunicação governamental é aquela praticada por determinado governo com o objetivo de prestar contas, estimular o engajamento da população nas políticas e reconhecer as ações promovidas nos campos político, econômico e social, (BRANDÃO, 2003). Institucionalmente, a EBC está organizada da seguinte maneira: existe um grupo de diretores para gerir a empresa, um Conselho de Administração e um Conselho Curador. Os gestores são: Diretor-Presidente, Diretor-Geral, Diretor de Jornalismo, Diretor de Captação e Serviços, Diretor Jurídico, Diretor de Produção, Diretor de Suporte, Secretária Executiva, Diretor de Administração e Finanças, Superintendente de Comunicação Multimídia (SUCOM) e Gerência de Comunicação Social.

O Conselho de Administração é formado por representantes da SECOM-PR, do Ministério das Comunicações (MC), Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e pelo Diretor-Presidente da EBC.

O Conselho Curador é formado por representantes de diferentes origens sociais e regiões brasileiras e é o responsável por garantir que as expectativas dos leitores, ouvintes e telespectadores sejam atendidas de acordo com padrões de qualidade e pluralidade de pontos de vista. Além disso, o Conselho Curador tem como missão promover a participação da sociedade na gestão de uma empresa pública de comunicação.

Por se tratar de uma empresa de comunicação, a EBC possui um Manual de Jornalismo, chamado de Norma de Jornalismo (NOR) 801, aprovado pelo seu Conselho Curador e disponível na intranet da empresa para todos os funcionários e gestores. Segundo a Norma de Jornalismo (2012, p. 7), ele se “aplica a todas as atividades de jornalismo dos veículos públicos da empresa, exceto àquelas relacionadas à prestação de serviços a órgãos governamentais, pela natureza do serviço prestado”.

Com relação ao foco no cidadão, o Manual afirma que o jornalista da empresa deve se colocar no lugar do cidadão em cada produto realizado. Algumas perguntas que devem orientar o trabalho são: “como o nosso ouvinte, telespectador e internauta está recebendo nossa informação? Está sendo útil ou significativo para a sua vida? Estamos fazendo as pontes corretas entre a notícia e a vida das pessoas?” (NOR, 2012, p. 7) Já o foco do cidadão diz respeito aos canais de interatividade que a empresa proporcionou a o seu público. O que o cidadão quer assistir, ler, ouvir? Para saber isso, a empresa utiliza meios como o Conselho Curador, órgão que representa a sociedade civil dentro da instituição; a Ouvidoria, que recebe e-mails e telefonemas dos cidadãos; e, os comentários postados nas redes sociais. De acordo com a NOR (2012), esses instrumentos de interação estimulam a produção do cidadão por meio de um jornalismo participativo e de pautas colaborativas. O uso progressivo das tecnologias digitais, segundo a referida Norma (2012), permite essa participação dos cidadãos e das comunidades na empresa que é pública, ou seja, dos próprios cidadãos. De acordo com o Plano Estratégico (2013), a missão da empresa é “criar e difundir conteúdos que contribuam para a formação crítica das pessoas”.

A TV Brasil, que conforme vimos é um dos canais de comunicação componentes da EBC, é um canal de alcance nacional e internacional transmitido em língua portuguesa que pretende oferecer ao telespectador uma programação diferenciada e complementar, privilegiando conteúdos nacionais em suas diferentes faixas: infantil, jornalismo, documentários, debates, programas culturais e relacionados ao exercício da cidadania. A programação é composta de programas da própria TV Brasil, de emissoras regionais associadas e de produtores independentes brasileiros.

O texto organizacional apresentado pela empresa, considerando Lotman (1978), é um texto governamental cujo extratexto consolida as impressões iniciais de que é um grupo de comunicação criado para a manutenção do poder estabelecido e, a partir desta conquista do espaço público, criar formas e linguagens que se comuniquem com a grande massa eleitora e que demanda cuidados especiais no trato. O discurso da EBC e de sua principal empresa, a TV Brasil, se apresenta como um discurso para a manutenção do poder.