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CAPÍTULO 3 O PROBLEMA E A METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

3.2.6. Os Instrumentos utilizados para recolha de dados

3.2.6.2. A Entrevista

A entrevista é outro instrumento disponível para recolha de dados. Tendo em conta a finalidade da investigação, “a entrevista é uma conversa com um objetivo” (Bingnen e Moore, citados por Ghiglione, 1993, p.70). Utiliza-se na recolha de informações, “na linguagem dos próprios sujeitos”, dando assim ao investigador a possibilidade de inferir sobre aquilo que os sujeitos disseram. (Bodgan, 1994, p.134).

Esta ferramenta é indicada para procurar informações, opiniões, expetativas, perceções sobre coisas ou factos, ou ainda para completar informações sobre fac- tos ocorridos que não puderam ser observados pelo investigador; deve realizar-se quando se pretende clarificar ou explicitar sobre determinadas práticas,183 bem

como para “a análise do sentido que os atores dão às suas práticas e aos aconte- cimentos com que são confrontados” (Quivy e Campenhoudt, 1998, p.193) as suas escalas de normas e valores a sua interpretação dos fenómenos de mudança, etc. (ibidem).

A flexibilidade que é permitida ao entrevistado em definir os termos da sua res- posta e ao entrevistador ajustar as perguntas, definem uma das principais caracte- rísticas desta abordagem.

A entrevista semiestruturada permite obter dados “ comparáveis entre os vários sujeitos” (Ghiglione,1993, p.135), delimitando o volume de informação a analisar, de modo a alcançar os objetivos propostos. A partir de um guião previamente ela- borado, é possível criar uma estrutura para comparação de respostas.

No entanto, este instrumento de investigação não está isento de problemas de aplicação, aliás como qualquer outro. Rodrigues (2002) salienta, a este propósito, a

183 “Nesse caso, se forem bem realizadas, elas permitirão ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundi- dade, coletando indícios dos modos como cada um daqueles sujeitos percebe e significa a sua realidade, e levantando informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior daquele grupo, o que, em geral, é mais difícil de obter com outros instrumentos de coleta de dados”.(Duarte, R.,

dificuldade de uniformização das condições das entrevistas (o local, a empatia entre o entrevistador e entrevistado, a diferente expressão que o entrevistador dá às questões propostas ao entrevistado, as diferentes expressões verbais dos entrevistados184). No entanto uma das formas de diminuir esses efeitos é o da

“estandardização”, conseguida na entrevista semiestruturada através de um guião de entrevista, assegurando assim “uma “homogeneidade formal” da conduta do entrevistador, tendo como ideal, como refere Blanchet (1991b), a transformação dos entrevistadores em verdadeiros “robots”” (pp.143-144).

Para uma entrevista bem sucedida Mucchielli (1994), aconselha o entrevistador a uma atitude de acolhimento do entrevistado que propicie uma maior abertura des- te, bem como a uma postura de análise das questões a partir do ponto de vista do entrevistado, apoiados numa comunicação clara, objetiva e compreensível que demonstre um total respeito e consideração pelo entrevistado. Bordieu, citado por Boni & Quaresma (2005), refere a necessidade de procurar alguma empatia entre o entrevistador e o entrevistado durante a entrevista e aconselha o entrevistador a estar atento e a dar sinais ao entrevistado de que está a compreender o que ele diz, mantendo uma postura austera e dialogante de modo a permitir a expressão livre do entrevistado.

Pelas razões expostas, elegemos este instrumento de investigação para apro- fundar e compreender as razões de algumas práticas e ausência de outras.185 Utili-

zando o modelo de entrevista semiestruturada, a partir de um guião, que apresen- tamos em seguida.

3.2.6.2.1 O Guião da Entrevista

A elaboração do guião, na entrevista semiestruturada é uma etapa muito impor- tante na preparação deste instrumento de investigação. Assim, torna-se crucial que o investigador persiga, de forma fundamentada, o objetivo da utilização deste método e possua um conhecimento profundo do assunto que vai tratar. Na prepa-

184 A este propósito o autor recomenda, que se apreenda mais o significado verbal do que a expressão utilizada pelos entrevistados (pp.142-143).

185 “Aprofundamento de um campo cujos temas essenciais conhecemos mas que não consideramos suficientemente explicado num ou noutro aspeto” (Ghiglione, R., & MATALON B.,O inquérito – Teoria e Prática, p.72).

ração do guião da entrevista, definimos quatro eixos estruturantes/dimensões a abordar: a) – A adequação curricular; b) – A articulação curricular; c) – O trabalho colaborativo; d) – As alterações de práticas;

Pretendemos desenvolver um guião que possibilitasse a análise das diversas entrevistas, mas que, em simultâneo, fosse suficientemente aberto de modo a que o entrevistado não sentisse qualquer espécie de constrangimento no desenvolvi- mento do seu discurso186, permitindo assim analisar as afirmações e os silêncios de cada um dos nossos interlocutores, sobre determinadas práticas.

O quadro 4 apresenta o guião que elaboramos:

Dimensões Questão

Adequação Curricular nal, seja adequado às características das turmas e dos alunos. As orientações curriculares prescrevem que o currículo nacio- Como faz esta adequação curricular?

Articulação Curricular

De igual modo compete à equipa pedagógica realizar articula- ção curricular. Refira-se às diferentes modalidades e ações que desenvolve conducentes a essa articulação. Como concretiza essa articulação curricular?

Trabalho Colaborativo

E quanto à cooperação entre os docentes? Como a avalia, quer ao nível dos grupos disciplinares, quer ao nível de equipas multidisciplinares?

Alterações às Práticas anos? Que alterações introduziu nas suas práticas nos últimos seis

Quadro 4 - Guião da Entrevista

Como se poderá verificar187, as entrevistas realizaram-se entre junho de 2011 e setembro do mesmo ano. As marcações foram realizadas quer por correio electró-

186 O sentido que queremos dar com a utilização deste termo pode ser definido como uma “série de enunciados significa- tivos que expressam formalmente a maneira de pensar e de agir e as circunstâncias identificadas com um certo assunto, meio ou grupo” (Dicionário Houaiss, p.1166)

nico, quer em contacto telefónico direto, sempre com autorização e conhecimento do Diretor da Escola do participante. Foram sempre marcadas a partir de data e hora indicadas pelos entrevistados, resultando a sequência das mesmas daquela disponibilidade.

No início de cada entrevista foi referido ao entrevistado que a suas respostas não seriam identificáveis188 por terceiros, quer em relação à pessoa quer em rela- ção à escola, procurando-se assim aliar os fundamentos éticos da investigação ao aumento da autoconfiança e segurança do entrevistado (Bogdan & Biklen, 1994). As entrevistas decorreram sempre num ambiente descontraído em que o entrevis- tador procurou criar a maior empatia (Boni & Quaresma, 2005) possível com os entrevistados e favorecer uma total liberdade de expressão sobre as questões for- muladas. Estas foram gravadas com a autorização dos entrevistados e posterior- mente transcritas. Nesta transcrição, que constitui o anexo 6, ocultou-se a verda- deira identificação dos entrevistados, de acordo com o que lhes tinha garantido no início da entrevista.

Sentimos um bom acolhimento em geral, e verificamos uma grande disponibili- dade em abordar as questões por parte dos entrevistados, na generalidade eram conhecedores do roteiro da nova reorganização curricular. Em média as entrevistas tiveram a duração de 35 minutos de gravação189.

3.2.6.2.2 A Amostra

Como forma de obter uma visão mais ampla das práticas dos professores em cada uma das escolas selecionada, entrevista-mos preferencialmente os Coorde- nadores de Diretores de Turma do 3º ciclo e na sua impossibilidade um Diretor de Turma do 3º Ciclo.

Apresento as minhas entrevistadas: Entrevistada 1 – E1

188 Lee R.M. (Métodos não Interferentes em Pesquisa Social), refere a partir de Webb que “os inquiridos devem estar acessíveis e disponíveis para responder às perguntas do investigador para que os métodos da entrevista e do questionário sejam eficazes”(p.19).

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º Ciclo; 54 anos de idade; 30 anos de serviço; professora de Letras; Licenciada190; Entrevista realizada em

7.06.2011, pelas 15horas, num gabinete da escola; Escola Secundária Problemáti- ca.

Entrevistada 2 – E2

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 46 anos de idade; 20 anos de serviço; professora de Ciências; Licenciada; Entrevista realizada em 8.06.2011, pelas 18 horas, numa sala de Ciências Naturais; Escola Secundária Problemática.

Entrevistada 3 – E3

Professora diretora de turma do 8º ano; 55 anos de idade; 30 anos de serviço; professora de Letras; Licenciada; Entrevista realizada em 13.06.2011, pelas 17h45 m, no gabinete de atendimento; Escola Secundária não Problemática.

Entrevistada 4 – E4

Professora diretora de turma do 8º ano; 46 anos de idade; 21 anos de serviço; professora de Ciências; Licenciada; Entrevista realizada em 16.06.2011, pelas 10horas, no auditório da escola; Escola Básica não Problemática.

Entrevistada 5 – E5

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 44 anos de idade; 20 anos de serviço; professora de Ciências; Licenciada; Entrevista realizada em 17.06.2011, pelas 15 horas, no gabinete de professores; Escola Básica não Pro- blemática

Entrevistada 6 – E6

Professora coordenadora de diretores de turma do 2º e 3º ciclos; 58 anos de idade; 36 anos de serviço; professora de Letras; Licenciada; Entrevista realizada em 20.06.2011, pelas 9 horas, no gabinete de professores; Escola Problemática.

Entrevistada 7 – E7

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 45 anos de idade; 21 anos de serviço; professora de Ciências; Licenciada; Entrevista realizada em 29.06.2011, pelas 9h30m, no gabinete dos diretores de turma; Escola Não Proble- mática.

Entrevistada 8 – E8

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 52 anos de idade; 30 anos de serviço; professora de Letras; Licenciada; Entrevista realizada em 26.07.2011, pelas 17h45m, numa sala de aula; Escola Não Problemática.

Entrevistada 9 – E9

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 49 anos de idade; 25 anos de serviço; professora de Letras; Licenciada; Entrevista realizada em 01.09.2011, pelas 08h30m, no gabinete dos diretores de turma; Escola Problemáti- ca.

Entrevistada 10 – E10

Professora coordenadora de diretores de turma do 3º ciclo; 51 anos de idade; 25 anos de serviço; professora de Ciências; Licenciada; Entrevista realizada em 28.09.2011, pelas 13h30m, no gabinete dos diretores de turma; Escola Problemáti- ca.