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A queda drástica do preço do café à época da Grande Depressão levou o governo brasileiro a implementar uma política de defesa do setor cafeeiro. Segundo Celso Furtado:

(0) Essa política pode ser vista, pelos resultados que produziu, como uma política anticíclica consoante os fundamentos macroeconômicos que, alguns anos depois, seriam preconizados por Keynes.

(1) Essa política foi totalmente nanciada por emissão de papel-moeda lastreada por empréstimos externos.

(2) Ao evitar-se a contração da renda do setor cafeeiro, essa política reduziu os efeitos do multiplicador de desemprego sobre os demais setores da economia.

(3) O preço do café foi condicionado fundamentalmente por fatores que prevaleciam do lado da oferta, sendo de importância secundária o que ocorria do lado da demanda.

(4) O mecanismo do câmbio não podia constituir, por si só, um instrumento de defesa efetivo da economia cafeeira, dadas as condições excepcionalmente graves criadas pela crise mundial de agrada em 1929.

Resolução:

(0) Verdadeiro.

A política de comprar e, posteriormente, destruir parte das safras colhidas de café envolveu dé cits scais conscientemente incorridos pelo Governo Federal. Com isso, evitou-se uma queda muito acentuada da renda do setor cafeeiro e, por extensão, do conjunto da economia brasileira, a partir de uma expansão do gasto público que compensava em parte a retração da demanda do setor privado.

(1) Falso.

Na ocasião, a política de defesa do café foi nanciada, entre outras formas, por emissões de moeda fiduciária, ou seja, sem qualquer lastro.

(2) Verdadeiro. Ver item 0, acima. (3) Verdadeiro.

A inelasticidade-preço e renda da demanda por café fazia com que mudanças na oferta tivessem papel relativamente maior sobre o comportamento dos preços do produto.

(4) Verdadeiro.

A mera desvalorização real da taxa de câmbio, observada nos anos iniciais da crise, não seria su ciente para evitar um colapso da renda do setor cafeeiro. Foi necessária, portanto, uma política que envolvesse a retirada em de nitivo do mercado (destruição física) de cafés excedentes. Na ausência de tal política, complementada por medidas visando a destruição de cafezais antigos e limitação da ampliação da área plantada, o problema estrutural de excesso de oferta de café – e, portanto, preços deprimidos – iria permanecer.

Segundo a interpretação de Celso Furtado a respeito da recuperação da economia brasileira depois da Grande Depressão, é CORRETO afirmar que:

(0) O programa de defesa do café atrasou a recuperação industrial, por ter aumentado a rentabilidade agrícola.

(1) A recuperação foi favorecida pela “internalização do centro dinâmico”, ou seja, pelo deslocamento de capitais investidos no café exclusivamente para a produção agrícola voltada para o mercado interno, como o algodão.

(2) A política de queima de excedentes de café foi mais favorável à recuperação industrial do que teria sido a política de estocagem de excedentes, ou simplesmente deixar o café apodrecer no pé.

(3) A depreciação cambial atrasou a recuperação industrial, pois encareceu a importação de máquinas e equipamentos.

(4) O efeito multiplicador de renda induzido pelo programa de defesa do café foi limitado por ter sido financiado predominantemente por um imposto sobre exportações de café.

Resolução:

(0) Falso.

Ao contrário, a defesa do café, na análise clássica de Furtado, apenas ajudou a atenuar a queda da rentabilidade do setor agrícola. No novo contexto de rentabilidade menor do setor cafeeiro, parte da demanda foi redirecionada para o mercado doméstico, permitindo, com isso, a recuperação e posterior expansão do setor industrial. [ver Furtado (1970)]

(1) Falso.

Conforme visto no item 0, acima, o setor industrial doméstico também se bene ciou do “deslocamento do centro dinâmico”, tendo atraído, juntamente com os setores de serviços urbanos e agricultura, capitais desviados da cafeicultura​.

(2) Verdadeiro.

Para Furtado, tanto a estocagem de excedentes da produção cafeeira quanto deixar o café apodrecer no pé apenas prolongariam o problema estrutural de excesso de oferta e tendência de queda dos preços do café. Já a queima de excedentes evitaria uma queda desmesurada dos preços do produto e, adicionalmente, ajudaria a sustentar um nível de demanda interna que terminou sendo canalizada para outros setores da economia (inclusive o industrial).

(3) Falso.

Em um primeiro momento, o principal efeito da depreciação foi tornar mais cara a importação de manufaturados, abrindo espaço para a produção doméstica crescer com base em capacidade instalada ociosa – o que passou a ocorrer já a partir de 1931. Em seguida, assiste-se a ampliação da capacidade produtiva (investimento) da indústria doméstica, através de uma combinação de compra de máquinas mais simples produzidas internamente e recuperação das importações de máquinas e equipamentos do exterior.

(4) Falso.

Conforme argumenta Albert Fishlow [ver Fishlow (1972a)] e outros, esta visão mais pessimista (associada a Carlos M. Peláez) sobre os impactos da política cafeeira do Governo Provisório sobre o nível de atividade desconsidera os efeitos multiplicadores de diversas outras medidas tomadas à época, a exemplo da compra de excedentes de café por parte do governo de São Paulo em 1930 ( nanciada por um empréstimo no exterior); e a injeção de base monetária, por parte do Governo Federal, no Fundo de Café, permitindo aos bancos ampliarem seus depósitos e a concessão de crédito.

Questão 3

O ambiente criado pela Segunda Guerra Mundial afetou profundamente a economia brasileira. Entre as principais mudanças então verificadas, assinalam-se:

(0) A aceleração da taxa de crescimento econômico relativamente ao período 1933-1939, em decorrência, principalmente, do melhor desempenho da produção industrial.

(1) A elevação do saldo da balança comercial a despeito da deterioração das relações de troca, em virtude da expansão das exportações de produtos industrializados.

(2) O aumento da arrecadação do imposto de importação, por conta da reforma tributária então implementada, que introduziu a cobrança ad valorem.

(3) O aumento da formação bruta de capital xo, inicialmente por conta dos gastos relacionados à defesa e, nos anos finais da guerra, por investimentos em infraestrutura.

(4) A estabilidade da taxa de câmbio em um regime de liberdade cambial.

Resolução:

(0) Falso.

a partir de um aumento dos preços de exportação a um ritmo superior ao dos preços das importações.

(2) Falso.

A cobrança de impostos de importação ad valorem somente teria início com a reforma aduaneira realizada pelo Governo Kubitschek, em 1957.

(3) Verdadeiro. (4) Verdadeiro.

O gabarito oficial da Anpec é questionável.

Durante a Segunda Guerra (e até 1946) vigoraram três mercados de câmbio no país, com taxas distintas, denominadas “o cial”, “livre” e “livre especial”. Embora as taxas de câmbio tenham se mantido relativamente estáveis nos três mercados durante o con ito, não havia liberdade cambial, já que, compulsoriamente, 30% das receitas de exportação deveriam ser vendidas ao Banco do Brasil, posteriormente negociadas à taxa “oficial”.

PROVA DE 2008

Questão 2

Um dos objetivos da política econômica nos anos 1930 foi responder à crise provocada pela queda abrupta do preço do café no mercado internacional. A respeito da crise externa e das políticas adotadas em resposta a ela, é Correto afirmar que:

(0) A capacidade de importar do país declinou drasticamente a despeito do aumento do volume físico das exportações.

(1) A superação da crise foi facilitada pela política de contração de crédito praticada até 1937, que reduziu preços e aumentou a competitividade internacional da indústria brasileira​.

(2) A recuperação foi prejudicada pelos superávits scais primários recorrentes do Governo Federal até 1937.

(3) Apesar da redução do custo do serviço da dívida externa, o Brasil viu-se obrigado, no nal da década, a suspender o pagamento de tais serviços, em virtude da redução do saldo da balança comercial.

(4) A despeito do quadro de crise, o Governo Vargas resistiu até o nal da década a impor controles sobre o mercado de câmbio.

Resolução:

(1) Verdadeiro.

O gabarito oficial deste item é questionável.

A “capacidade de importar” é de nida como o produto do quantum exportado por um país e seus termos de troca. No período em apreço, houve, simultaneamente, declínio drástico da capacidade de importar e aumento do quantum de exportações apenas entre 1929 e 1930 (o que, a rigor, não está compreendido nos “anos 1930”) e, em menor grau, entre 1934 e 1935. Ao longo da década de 1930 (isto é, de 1930 a 1939), predominou, isso sim, uma tendência de ligeiro crescimento da capacidade de importar, resultado de um aumento da quantidade exportada a taxa superior à queda dos termos de troca do país.

(1) Falso.

A natureza contracíclica da política de defesa do café implicou expansão do crédito doméstico, e não a sua contração.

(2) Falso.

A execução orçamentária do Governo Federal apresentou déficits desde 1930, sendo aqueles observados entre 1934 e 1937 planejados.

coincidindo com o golpe do Estado Novo. Naquele ano, o saldo comercial foi de US$ 67,6 milhões, contra US$ 124,2 milhões em 1936.

(4) Falso.

Os controles cambiais foram instituídos desde o início da crise, em 1930, e perduraram durante a maior parte da década.

PROVA DE 2009

Questão 2

Neste ano, comemora-se 50 anos da publicação de Formação econômica do Brasil, livro de Celso Furtado que marcou os estudos sobre a economia brasileira. Nesta obra, defendeu-se, entre outros argumentos, que:

(0) A recuperação da economia brasileira, a partir de 1933, não se deveu a um projeto de industrialização consciente, mas foi subproduto da defesa do nível de renda da economia cafeeira.

(1) O processo de industrialização do Brasil teve forte expansão nas primeiras décadas do século XX, principalmente nos períodos de valorização do mil-réis, que estimulava o aumento das inversões para ampliar a capacidade produtiva das indústrias locais.

(2) A demanda por café dependia fundamentalmente da demanda internacional e pouco se contraía nas depressões, assim como pouco se expandia nas fases de expansão do ciclo.

(3) A crise de 1929 afetou as exportações de café, mas não teve in uência no redirecionamento da economia brasileira.

(4) Na década de 1930, o governo brasileiro inspirou-se em teorias keynesianas para realizar um programa de manutenção da demanda agregada, o qual teve êxito, já que o nível de renda caiu menos do que cairia caso não houvesse a intervenção governamental.

Resolução:

(0) Verdadeiro. (1) Falso.

Para Furtado, as fases de maior crescimento da produção industrial coincidiram com períodos em que o mil-réis se desvalorizou (como durante a Primeira Guerra), já que um câmbio desvalorizado conferia mais proteção à produção manufatureira doméstica. [ver Furtado (1970)]

(2) Verdadeiro.

Trata-se de corolário da conhecida característica do mercado de café, de apresentar uma elasticidade-preço da demanda inferior à unidade.

(3) Falso.

Ao contrário, a crise de 1929 (que, no caso brasileiro, foi, antes de tudo, uma crise de superprodução de café) e as políticas governamentais para combatê-la tiveram enorme in uência sobre o redirecionamento da economia brasileira. Na análise clássica de Furtado, elas explicam o chamado “deslocamento do centro dinâmico da

(4) Falso.

Este enunciado pode ter induzido o candidato ao erro. Com efeito, é verdade que não houve inspiração teórica para as políticas de sustentação do nível de renda, ainda que seus efeitos práticos tenham sido, sim, “keynesianos”.

PROVA DE 2010