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2.3 ANÁLISE DAS TENDÊNCIAS IDEOLÓGICAS MANIFESTAS

2.3.3 A Escala do Conservadorismo Político-Econômico

O material de pesquisa, critérios de aplicação e análise da escala do Conservadorismo Político-Econômico (CPE) constam no capítulo “Ideologia Político-Econômica e Agrupamentos em relação ao Etnocentrismo”, de autoria de Daniel J. Levinson. Para a construção desta escala, aplicou-se o mesmo procedimento metodológico já exposto nas escalas AS e E – perguntas, escalas de opinião, entrevistas clínicas e testes de apercepção temática –, bem como as mesmas regras de pontuação e formulação das escalas de opinião: itens com seis opções de respostas, desde o total acordo até o total desacordo com relação à premissa. No entanto, por se tratar de um tema mais complexo (a saber, as estruturas mentais que levam os indivíduos aderirem ou não a determinadas ideologias políticas e econômicas), a escala CPE, diferentemente das anteriores, incluiu não apenas itens negativos em seu questionário, mas também positivos, como também não foi dividida em subescalas.

De modo geral, Adorno et al tinham como objetivo mensurar os motivos ou predisposições que levam os indivíduos aderirem uma tendência ideológica conservadora ou liberal. Desta maneira, ao invés de organizar a pesquisa por meio de subescalas, os autores preferiram considerar pelo menos quatro critérios que permitiriam uma distinção mais elaborada entre as duas ideologias (conservadora e liberal), dos quais resultou a formação da própria escala:

a) Apoio ao status quo: para os autores, um dos componentes mais definitivos do conservadorismo é o apego às coisas “como elas são”, isto é, a um determinado modo de organização social estabelecido. Esse aspecto, sem dúvida, possui uma íntima ligação com um autoritarismo, ao menos latente, uma vez que, ao considerar um atual modelo de organização como ideal, acaba cerceando a possibilidade de outros modelos diferentes – talvez até melhores. Esse critério ficou claro, por exemplo, no item “A América pode não ser perfeita, mas o nosso modo de vida americano nos trouxe o mais próximo daquilo que é humanamente possível de se obter para uma sociedade perfeita” (ADORNO; et al, 1969, p. 163, tradução nossa), que mostra

exatamente a centralidade do status quo para ação do indivíduo, seja de apoio ou oposição. Desta maneira, enquanto o conservador geralmente ignora os problemas sociais, racionalizando-os como ‘naturais’ ou simplesmente atribuindo-os a influências estranhas – porém, nunca aos defeitos da própria estrutura social existente –, o liberal, pelo contrário, está aberto para criticar o status quo e a autoridade imperante, bem como disposto a encarar as diversas formas de mudança social, desde as mais simples até as mais complexas e estruturais (ADORNO; et al, 1969, p. 153-154).

b) Resistência à mudança social: como parte complementar do critério anterior, obviamente, o apoio ao status quo está imediatamente relacionado com uma oposição sistemática a qualquer tipo de mudança. Nesse caso, o tradicionalismo enquadra-se como a forma por excelência para a contenção de qualquer afã progressista em um determinado modelo político-econômico existente. Os indivíduos adeptos ao conservadorismo – resistentes às mudanças internas –, expressam essa postura quando se declaram justamente contrários a posicionamentos extremos. Itens como “A melhor maneira de resolver os problemas sociais é manter-se sempre no meio-termo, avançar lentamente e evitar extremos” ou “Em geral, a completa segurança econômica é prejudicial; a maioria dos homens não trabalharia se eles não precisassem do dinheiro para comer e viver” (ADORNO; et al, 1969, p. 158, tradução nossa), foram fundamentais na pesquisa para indicar o nível do conservadorismo ou liberalismo com relação a esse critério.

Outro obstáculo para a mudança social, segundo os autores, é o chamado mito da natureza humana: o instinto da autoconservação material é essencial para o homem, que vê na estrutura capitalista sua forma mais acabada. Assim, aquele que anseia por mudanças é utópico e pouco prático, uma vez que não consegue compreender o próprio critério da natureza humana. Esse aspecto tem uma relação muito interessante com o item “Os jovens, às vezes, têm ideias rebeldes, mas, à medida que crescem, passam a superá-las e colocam a cabeça no lugar” (ADORNO; et al, 1969, p. 158, tradução nossa); a partir dele pode-se observar como o aspecto do ‘amadurecimento pessoal’ torna-se uma argumentação conservadora, uma vez que ela incita justamente a adaptação dos mais jovens aos cânones estabelecidos, vencendo assim suas tendências mais rebeldes (ADORNO; et al, 1969).

c) Apoio aos valores conservadores: sem dúvida alguma, conhecer os valores que organizam e dão sentido ao padrão de uma determinada ideologia político-econômica é fundamental para qualquer estudo sobre a personalidade. Nesse sentido, um dos principais sistemas de valores que está na base da ideologia conservadora diz respeito ao espírito prático, à ambição econômica e à mobilidade ascendente da meritocracia. O sucesso e a realização são

medidos em termos econômicos e o comércio é compreendido como argamassa fundamental para a socialização – lógica do custo-benefício. Para os autores, esses valores acabam se tornando presentes inclusive na educação e no ensino das crianças, como também constam como elementos centrais nos projetos de vida dos adultos, como assim descrevem os seguintes itens utilizados no questionário: “Uma criança deve aprender, desde cedo na vida, o valor de um dólar e a importância da ambição, da eficiência e da determinação” ou “Goste ou não, é preciso admirar homens como Henry Ford ou J. P. Morgan, que superaram toda a concorrência no caminho para o sucesso” (ADORNO; et al, 1969, p. 158, tradução nossa).

Apesar da valorização do espírito prático e da contínua concorrência contrastarem com outros valores psicológicos, como a caridade e a ajuda aos membros da comunidade, o conservadorismo adota como critério aquilo que Max Weber já havia alertado em sua Ética Protestante e o Espírito da Capitalismo: quando indivíduo descobriu que a vocação ao trabalho não é contrária ao lucro, não só criou um campo fértil e ideológico para o desenvolvimento do capitalismo, como também fundiu no esforço individual a possibilidade da ascendência econômica. Logo, segundo essa lógica, o indivíduo ‘necessitado’ não é digno de compaixão, justamente porque não se esforçou; no máximo, ser beneficiado por esporádicas campanhas de igrejas, asilos, orfanatos e outras instituições, formando assim aquilo que os autores denominaram como a “combinação da dureza diária e a caridade dominical” (ADORNO; et al, 1969, p. 155, tradução nossa), próprio da conduta dos grandes empresários e capitalistas. Essa adaptação de valores altruístas no contexto dos interesses econômicos ficou demonstrada no seguinte item do questionário: “Todo adulto deve encontrar tempo ou dinheiro para alguma organização digna de serviço (caridade, assistência médica etc.) como a melhor maneira de ajudar o seu próximo” (ADORNO; et al, 1969, p. 194, tradução nossa).

Por outro lado, para o liberal, a caridade nada mais é do uma forma de aquietar a consciência e, ao mesmo tempo, manter uma sociedade injusta. A pobreza não é o resultado da falta de esforço do pobre, mas das condições político-econômicas do status quo; não se resolve os problemas sociais com a caridade inútil, mas com a análise das arestas da atual situação. Nesse sentido, enquanto os liberais tendem a ver os problemas sociais como sintomas da estrutura social fundamental, os conservadores pensam que eles são o resultado de incompetência pessoal ou imoral. Esse aspecto recai, principalmente, no campo político, no que diz respeito às competências de um bom candidato:

Os políticos conservadores tendem a basear suas campanhas eleitorais principalmente em qualidades de caráter pessoal e no prestígio moral. Julga-

se mais importante ser um bom homem de família e uma figura proeminente na comunidade do que conhecer as ciências sociais ou compreender os problemas político-econômicos reais da comunidade. Um advogado de distrito ou um empresário tem uma grande vantagem inicial sobre um professor da faculdade ou um líder trabalhista. Em suma, os problemas políticos tendem a ser vistos em termos morais e não sociológicos (ADORNO; et al, 1969, p. 155, grifo nosso, tradução nossa)91.

d) Ideias sobre o equilíbrio de poder entre negócio, trabalho e Governo: segundo os autores, esse é o critério mais técnico e confuso do pensamento político-econômico, muito por conta da relativa falta de educação e formação política, desorientação dos partidos de esquerda e direita, tradição antipolítica da sociedade etc. Do ponto de vista do conservadorismo, os autores chamam a atenção para o tradicional individualismo econômico – livre competição, não regulamentada, entre os empreendedores individuais – como valor essencial. Nesse contexto, o negócio, tão prestigiado pelos valores conservadores, passa a monopolizar grande parte do poder social com relação ao trabalho e ao Governo. Aquelas instituições que criticam esse ‘equilíbrio’ – ou melhor, desequilíbrio –, como sindicatos e outras associações de trabalhadores, passam a ser rechaçadas e vistas de maneira negativa, sob a desculpa de que são ‘perigosas’, que procuram assumir o poder, que obstruem as funções tradicionais dos empresários, ou que promovem mudanças desnecessárias etc. Os sindicatos só passam a ser aceitos quando seu poder real é menor que o poder dos negócios (ADORNO; et al, 1969).

Essa tendência conservadora não só elimina a possibilidade de qualquer mudança político-econômica, como também desestabiliza outras práticas de equilíbrio político dentro das empresas, como o direito a greve, reinvindicações, participação democrática etc. Do ponto de vista liberal, por outro lado, é fundamental a existência de grupos ou instituições que, de fato, sejam ativas e pensem na possibilidade de mudar, para qualquer grau significativo, o equilíbrio existente do poder político-econômico. Essa opinião liberal pode ser identificada em itens como “Os sindicatos tornam-se mais fortes na medida em que são politicamente ativos e publicam jornais trabalhistas para serem lidos pelo público em geral” (ADORNO; et al, 1969, p. 158, tradução nossa).

A ideologia conservadora tem, tradicionalmente, se caracterizado pelo esforço de minimização de qualquer tipo de intervencionismo, inclusive o do governo. O medo da intervenção econômica do governo é o mesmo que o do poder sindical, isto é, sob a falsa

91 Observação: é curioso notar como esse discurso conservador de “bom homem de família” ainda está presente

na política brasileira, conforme observado em boa parte das falas na votação do Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, na Câmara dos deputados, em 17 de abril de 2016.

justificativa de se salvaguardar a liberdade comercial dos indivíduos. Percebe-se, nesse caso, uma contradição: ao mesmo tempo em que essa ideia pressupõe que o indivíduo só tem a liberdade econômica na medida em que deixa de existir toda e qualquer restrição governamental, esquece-se, porém, do fato de que tal liberdade econômica, para a maioria, está cada vez mais limitada por forças econômicas monopolizadoras (ADORNO; et al, 1969). Tal ideia pode ser encontrada no item “É uma tradição americana fundamental que o indivíduo deve permanecer livre da interferência do Governo, livre para ganhar dinheiro e gastá-lo como quiser” (ADORNO; et al, 1969, p.194, tradução nossa).

Enfim, Adorno et al afirmam que os padrões da ideologia conservadora (direita) ou liberal (esquerda) se distinguem na medida almejam ou não qualquer mudança no equilíbrio do poder.

O que caracteriza a esquerda e a distingue da direita é o desejo de uma mudança, leve ou grande, no equilíbrio de poder. O apoio moderado à mudança é exemplificado pelo liberalismo do New Deal, que aumentaria as funções do governo, de modo a reduzir o poder dos negócios, aumentar o poder do trabalho e diminuir um pouco as diferenças de classes extremas que agora existem. As ideologias mais extremas de esquerda (“radical”) apoiam mudanças mais básicas na estrutura político-econômica; sua tese é que o capitalismo, não importa como seja modificado pelas reformas, deve necessariamente gerar problemas sociais como a depressão, a guerra e a pobreza em massa. O que eles querem não é apenas controles nos negócios, mas nacionalização da indústria, produção planejada e produção para uso e não para o lucro (ADORNO, et al, 1969, pp. 156-157, tradução nossa). A escala CPE propôs-se, portanto, em analisar se tais critérios mencionados foram aderidos ou não pelos entrevistados. Ou seja, uma alta pontuação, nesse caso, indicaria que o indivíduo possui tendências conservadoras de direita: apoio ao status quo, resistência às mudanças sociais, aceitação dos valores conservadores e, por fim, o desejo de manter um equilíbrio no poder (no qual haja a predominância do negócio, ao mesmo tempo em que o trabalho ocupe uma posição subordinada e o governo tenha sua intervenção suprimida). Ao contrário disto, uma pontuação baixa nessa escala refletiria que o indivíduo possui tendências liberais de esquerda: oposição ao status quo, apelo às mudanças sociais, inclinação em buscar explicações de índole sociológica – do que de natureza pessoal e moral – e, enfim, oposição ao domínio do negócio, aliado ao desejo de ampliação das funções econômicas e políticas do governo (ADORNO; et al, 1969).

Sobre as pesquisas realizadas na escala do Conservadorismo Político-Econômico (CPE) – que tentou mensurar a adesão dos sujeitos às ideologias conservadoras ou liberais –,

foram observadas pelos autores não somente resultados diversos, como também contraditórios em determinados aspectos. Isso tornou a correlação da escala CPE com as anteriores (Antissemitismo e Etnocentrismo) um trabalho mais complexo, levando a pesquisa para direções até então não previstas. Se por um lado a escala CPE apresentou uma baixa correlação com a escala AS, por outro, a correlação com a escala E foi significativa, tanto do ponto de vista qualitativo, como do ponto de vista quantitativo.

A partir dos resultados na escala CPE e as correlações com a escala E, Adorno et al concluíram que existia uma ligação significativa entre conservadorismo político-econômico e etnocentrismo – ainda que tal correlação vigorasse apenas como probabilidade: “Em termos comuns, podemos dizer que os conservadores são, em média, significativamente mais etnocêntricos do que os liberais. Quanto mais conservador for um indivíduo, maior é a probabilidade de ele ser etnocêntrico – mas esta é uma probabilidade e não uma certeza” (ADORNO; et al, 1969, p. 180). Nesse sentido, se o alto escore de conservadorismo político- econômico estaria relacionado a um maior etnocentrismo, então, seria lógico concluir que o alto escore de liberalismo político-econômico estaria ligado a um menor etnocentrismo: “Existem também razões teóricas para supor uma relação entre liberalismo e antietnocentrismo. Ambos tendem a envolver atitudes críticas em relação às autoridades e tradições predominantes” (ADORNO, et al, 1969, pp. 180-181, tradução nossa).

Levando em consideração que o sujeito conservador tende a ser mais etnocêntrico que o liberal, os autores preocuparam-se em analisar então quais semelhanças aproximariam o conservadorismo político-econômico do etnocentrismo. A primeira semelhança diz respeito ao apoio ao status quo: o apoio à ideologia político-econômica vigente pode ser compreendido como aspecto constituinte da ideologia etnocêntrica, na medida em que ela representa os interesses do endogrupo predominante: “Aparentemente, o apoio à ideologia político- econômica e autoridade reinantes formam parte da tendência etnocêntrica geral, que se submete à autoridade aceita em todas as áreas da vida social” (ADORNO, et al, 1969, pp. 181, tradução nossa). Desta maneira, pessoas que aprovam itens como “A América pode não ser perfeita, mas o modo de vida americano nos trouxe o mais próximo daquilo que é humanamente possível de se obter para uma sociedade perfeita” (ADORNO; et al, 1969, p. 163, tradução nossa), parece que, ao mesmo tempo em que apoiam um conservadorismo político-econômico, também idealizam tal apoio de maneira positiva e estereotipada – nos mesmos moldes em que também faz o etnocêntrico em relação ao endogrupo que participa.

A segunda semelhança está relacionada à oposição as mudanças sociais: a rejeição etnocêntrica dos exogrupos, na realidade, se manifesta na esfera político-econômica como uma

resistência às mudanças sociais, uma vez que tais tendências progressistas apresentam-se como uma ameaça para o endogrupo: “Da mesma forma, a rejeição etnocêntrica dos exogrupos se manifesta na esfera político-econômica como uma resistência às mudanças sociais e como uma tendência de subsumir ideologias políticas progressivas sob o título geral de exogrupos e ideias ‘estranhas’ (ameaças à autoridade do endogrupo)” (ADORNO, et al, 1969, pp. 180, tradução nossa). Essa questão é muito bem exposta pela aprovação de itens como “A principal ameaça às instituições básicas americanas durante este século veio da infiltração de ideias, doutrinas e agitadores estrangeiros” (ADORNO; et al, 1969, p. 108, tradução nossa).

Dentre os resultados e as possíveis correlações entre as escalas CPE e E, os autores chegaram a diversas conclusões, como:

 Indivíduos que obtiveram pontuação baixa na escala CPE e igualmente baixa na escala E, foram chamados de “liberais extremos” ou “militantes”, uma vez que se opõem a toda e qualquer forma de conservadorismo, propondo críticas duras aos status quo, bem como incentivando mudanças sociais e uma maior intervenção do governo na economia.

 Não foi registrado pelos autores nenhum caso de “liberal etnocêntrico”, isto é, de indivíduos com pontuação baixa na escala CPE, porém, com um alto escore na escala E. Isso demonstra que todos os indivíduos que apresentaram uma pontuação baixa em CPE, também obtiveram pontuação baixa em E. Porém, nem todos os que tiveram pontuação baixa na escala E aderiram ao “liberalismo extremo” – como se observará, mais adiante, nos casos do “liberalismo politicamente pacifista” ou “conservadorismo genuíno”.

 Indivíduos que obtiveram pontuação alta na escala CPE e igualmente alta na escala E, foram chamados de “pseudoconservadores tradicionais” ou “conservadores etnocêntricos”, uma vez que que apoiam incondicionalmente o status quo e resistem a qualquer mudança na distribuição do poder político-econômico, com um mínimo de intervenção estatal no livre comércio. Além do que, aderem aos valores e tradições conservadores, acreditando que os trabalhadores devem ser subordinados ao empregador. Nesse caso, o “pseudoconservador tradicional” está em situação diametralmente oposta a situação do “liberal extremo”.

 Não foi registrado pelos autores nenhum caso de “pseudoconservador tradicional não-etnocêntrico”, isto é, de indivíduos com pontuação alta na escala CPE, porém, com um escore baixo na escala E. Isso demonstra que a maioria dos indivíduos que apresentaram uma pontuação alta em CPE também obtiveram pontuação alta em E. Porém, nem todos que tiveram pontuação alta na escala E aderiram ao “pseudoconservadorismo tradicional” – como também será observado, mais adiante, nos casos do “pseudoconservadorismo adaptado”.

Se os percentuais daqueles indivíduos que obtiveram pontuações altas e baixas na escala CPE não apresentaram muitas variações92, o mesmo não pode ser afirmado com relação

aos indivíduos que apresentaram pontuações medianas nesta mesma escala, cuja diversidade de resultados foi bem maior. Nesse sentido, os autores apresentaram as seguintes conclusões:

 Os indivíduos que obtiveram pontuações medianas na escala CPE, porém com pontuações baixas na escala E, ganharam o nome de “liberais politicamente pacifistas” ou “conservadores genuínos”. Para os autores, o primeiro nome – liberais pacificamente políticos – diz respeito a indivíduos que até identificam a injustiça social decorrente do status quo, bem como anseiam por mudanças e apoiam o aumento da participação do governo, no entanto, dentro de certas limitações políticas que tendem transformar a mobilidade social em um processo moroso. Acima de tudo, receiam que a queda de um extremo abra espaço para a ascensão de outro; por isso, geralmente, assumem uma posição neutra, apoiando e criticando ambos os lados: tanto o liberalismo como o conservadorismo extremos. Já o segundo nome – conservadores não-etnocêntricos –, leva em consideração um conservadorismo que não apresenta como critério de apoio a lealdade ou o pertencimento de um determinado grupo, mas a escolha do que melhor está qualificado para a realização de algo com êxito, seja do endogrupo ou do exogrupo. Apesar da flexibilidade quanto ao pertencimento do grupo, sua tendência geral ainda é conservadora.

 Os indivíduos que obtiveram pontuações medianas na escala CPE, porém com pontuações altas na escala E, foram chamados de pseudoconservadores, porém com características diferentes daquelas encontradas no pseudoconservador tradicional. Trata-se de pseudoconservadores adaptados, uma vez que se adaptaram às mudanças da situação político- econômica vigente, substituindo assim a economia do livre negócio individual – próprio do conservadorismo tradicional – pela economia empresarial monopolista. São considerados etnocêntricos da mesma forma que o pseudoconservador tradicional, mas sem uma adesão rígida aos valores tradicionais, especialmente no que diz respeito à radical participação do governo nos negócios ou ao livre monopólio das empresas.

92 O indivíduo que obteve pontuação baixa em CPE, também apresentou pontuação baixa na escala E (liberal

extremo); no outro extremo, o indivíduo que obteve pontuação alta em CPE, também apresentou pontuação alta em E (pseudoconservador tradicional). Logo, para ambos os casos, é possível observar um padrão para a correlação dos resultados, sem a presença de variações.

Tabela 9 – Correlações entre a escala CPE e a escala E