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CAPÍTULO II A FIGURA DO DIRECTOR DE TURMA

2.3 A ESCOLA ENQUANTO ORGANIZAÇÃO

2.3.2 A Escola como organização

Todos os nossos empreendimentos tendem a orientar-se para uma partilha de ideais ou para as relações sociais, estejam ou não relacionadas com a realização de trabalho. Daqui se pode concluir que as organizações marcam a sua presença onde está o trabalho.

Na opinião de Friedberg (1993. p.30), para definir organização é preciso, de certa forma, seguir a evolução da «teoria das organizações». Esta definição passa pela designação de um objecto social particular até a uma visão mais ampla, que se preocupa mais com o processo de construção de uma ordem local, relacionada com a acção colectiva dos homens.

Já Bernard (1971, p.94), diz que a organização formal será um “sistema de actividades ou forças, de duas ou mais pessoas, conscientemente coordenadas” desde que haja pessoas capazes de saberem comunicar e dispostas a cooperar e servir, com vista à realização de um projecto comum.

Bengt Abrahamsson (1993), não fica muito longe desta posição de organização orientada para determinados fins, segundo a qual as organizações são estruturas sociais criadas por indivíduos, grupos ou classes, com o propósito de atingir objectivos. Para este autor as organizações podem ser formais ou informais.

Segundo Friedberg (1993), o modelo clássico de organização que rejeitou, assenta em três princípios: o carácter instrumental da organização em relação aos fins exógenos, predeterminados e fixos; a unidade e a coesão da organização e a restrição clara e homogénea da organização por limites formais. Para uma Sociologia da Acção, esta ideia de organização formalizada é condicionada, se for substituída pela de “sistemas de acção concretos” (Crozier e Friedberg, 1977).

As organizações são diferentes umas das outras, na maneira como são dirigidas, em função dos serviços que prestam, como salienta Perrow (1981, p.70). Diz ainda que a melhor maneira acaba por ser de maneiras diferentes pois, “o que funciona em um tipo, não funciona em outro” em função das especificidades de cada uma delas.

Blau e Scott (1979, p. 66) afirmam que, no que se refere à organização escolar, podemos tomá-la como uma relevante “organização formal” de serviços, na qual muitos de nós entrámos e ainda não saímos e os principais beneficiários são, quase sempre, os alunos, isto é, «com quem e para quem os seus membros trabalham».

Na opinião de Etzioni (1974, p. 72) a escola, também pode ser vista como uma «organização tendencialmente normativa» na medida em que «o poder normativo é a principal fonte de controlo sobre a maioria dos

participantes» apesar de aqui, a coerção não ser tão pronunciada como noutras organizações normativas.

Segundo investigações levadas a cabo por Friedberg (1993, p. 111) nas últimas décadas, tendo a escola como objecto de estudo, deram a possibilidade de passar de uma perspectiva de escola instrumental e com uma racionalidade única para uma dimensão «muito mais complexa, abstracta e fluida, de construção de jogo, de laço contratual, ou mais simplesmente de arena ou de contexto de acção».

Gostaríamos de salientar esta ideia de organização, reconhecendo o quão complexa é esta realidade onde ressalta a necessidade de construção de um racional teórico de natureza plural.

Esta pluralidade representa uma visão holística da organização escolar, que possibilita ao investigador preferir uma visão geral sobre toda a escola embora possa dar preferência a uma realidade com o objectivo de desenvolver o que considerar como mais importante e assim descrever e entender o funcionamento da organização e as actuações dos diferentes intervenientes.

Esta realidade de organização de escola poderá igualar-se a um arco-

íris de metáforas ou espectro de metáforas, em que as suas cores irão

corresponder a todas as perspectivas disponíveis e em que o utilizador usa uma ou outra cor, de acordo com as suas preferências.

No entanto o que se continua a ver é o branco e, portanto, única cor, à semelhança da realidade organizacional.

No arco-íris de metáforas, aqueles raios correspondem às imagens e metáforas que ainda se não vêem pelos investigadores actuais, mas provavelmente fornecidas futuramente pelas mudanças que se venham a verificar.

Lima (1998, p. 63) com o modo de funcionamento díptico e Estêvão (1998a) com o funcionamento políptico e concepção fractalizada e institucionalizada das organizações educativas privadas e Costa (1996) com o estudo das imagens organizacionais procuram ajudar na construção de um quadro teórico-conceptual para o estudo organizacional da escola.

Esta organização burocrática, segundo Weber (1993) e Campos (1978) entendida como ideal-tipo, representa uma autoridade racional-legal em que, as normas são pouco visíveis, impessoais, documentadas e estabelecidas por

acordo ou imposição, procurando fins utilitários e/ou valores racionais. A organização dos cargos obedece ao princípio de uma estrutura hierárquica; não se prescindindo da especialização.

Alguns autores experimentaram determinadas realidades, de modo particular na escola, comparando os aspectos abstractos do tipo ideal de burocracia com os dados estudados. Formosinho (1984), verifica a superioridade de um centralismo burocrático em relação ao currículo (em que as regras pedagógicas se aplicam universalmente e nas aulas com duração ideal) e à admissão de pessoal auxiliar das escolas.

Na opinião de Lima (1998, p. 287) e ainda no quadro presente de uma “participação decretada” e de uma gestão flexível do currículo, a adopção de uma lente burocrática, por certo, deixará ver rotinas e estabilidade nas tarefas diárias e confirmar de forma empírica a existência na organização escolar de alguns aspectos característicos da burocracia, em maior ou menor grau, como acontece, nas questões que se prendem com poder e estrutura formal. Negligenciará, contudo, os poderes mais informais e as dinâmicas dos actores. Terá sempre uma ideia muito precária da realidade escolar, apesar de pensarmos que o termo burocracia é neutro e uma investigação que use o modelo burocrático-racional não quer significar, obrigatoriamente, a crença na ineficácia ao nível organizacional, segundo Max Weber (1993).

Anderson, (1991, p. 120), não rejeita a vertente burocrático-formal das organizações, apesar das escolas estarem mais próximas dos sistemas que debilmente se articulam. Formas burocráticas e impostas de controlo são, por vezes, efectivas e a luta entre o controlo e a autonomia é feita de forma subtil entre gestores, professores, pais e alunos.