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CAPÍTULO II A FIGURA DO DIRECTOR DE TURMA

2.1 PERFIL E COMPETÊNCIAS

2.1.2 Qualidades que deve evidenciar

O Director de Turma deverá estabelecer uma relação fácil com os alunos, colegas, familiares e pessoal não docente. Para além disso, deverá ser tolerante, compreensivo, firme, possuir bom senso e ponderação, dinamismo, método, disponibilidade, bem como a capacidade de prever situações e solucionar problemas.

Segundo Artigot (1973, p. 22-26), as qualidades do Director de Turma poder-se-ão aglutinar em três áreas fundamentais:

- Qualidades como pessoa;

- Qualidades como técnico de educação; - Qualidades como orientador familiar;

2.1.2.1 Qualidades pessoais

O conjunto de qualidades que dizem respeito à pessoa do Director de Turma é, sem dúvida, um dos aspectos de maior valia para o desempenho da sua função. Artigot (1973) alude a seis qualidades essenciais, que passamos a referir:

2.1.2.1.1 Humanidade

Em educação, é fundamental estabelecer-se uma autêntica relação humana e pessoal, relação essa que deverá ser ainda mais autêntica no que diz respeito ao Director de Turma, na medida em que a interacção que é estabelecida com os seus alunos deverá ser mais directa, pessoal e afectiva.

2.1.2.1.2 Amizade

Em estreita relação com a humanidade, a amizade é também uma condição importante ao desempenho das suas funções.

O Director de Turma deve ser capaz de considerar os seus alunos como seus amigos e vice-versa. Quando isto acontece, quando os alunos sentem o Director de Turma como um amigo a quem podem recorrer quando precisam

de ajuda, de orientação específica, pode dizer-se que a sua função é verdadeiramente efectiva e positiva.

2.1.2.1.3 Autenticidade

A autenticidade é outro aspecto que deverá ser tido em consideração aquando da escolha do Director de Turma. Não poderemos esquecer que este é o modelo onde o aluno se vê frequentemente, onde procura respostas para as suas dúvidas e incertezas, para as quais espera obter respostas sinceras e autênticas.

2.1.2.1.4 Exigência

A amizade e a autenticidade só poderão fazer sentido quando aliadas a uma exigência perante si próprio e perante os outros. O Director de Turma é, como já foi referido, o modelo que os alunos seguirão e tentarão imitar. Assim, a exigência face à sua própria conduta e actuação servirá de padrão para o desenvolvimento dos alunos a seu cargo, exigência essa que não poderá solicitar aos outros se não for dela o exemplo.

2.1.2.1.5 Justiça

Os alunos sentem de uma forma especial quando os professores os tratam com justiça, ainda que essa justiça se traduza muitas vezes em reprimendas.

O sentido de justiça é uma condição indispensável ao desempenho da função docente, e ainda mais ao desempenho da função de Director de Turma.

2.1.2.1.6 Espírito desportivo

Esta expressão encerra em si múltiplas facetas da vida e forma de ser: entrega, alegria, entusiasmo, a que se acrescenta a vontade de fazer as coisas.

2.1.2.2 Qualidades como técnico de educação

Este aspecto, segundo Artigot (1973), diz respeito a qualidades especificamente técnicas da profissão docente: Director de Turma como um profissional da acção educativa. Conhecimentos técnicos sérios e profundos, sistematizados e criticamente incorporados, sobre pedagogia, psicologia, didáctica especializada, organização e administração escolar, conhecimentos sobre a sua própria área cultural, fazem parte do campo que deverá dominar.

Segundo Valente (1985, p. 76-77), o Director de Turma deverá ser o animador natural dos educandos a seu cargo, desenvolvendo uma dinâmica de interligação, solidariedade e projectos. Projectos esses que visam a plena integração dos alunos na escola e na sociedade em geral.

Neste sentido, cabe ao Director de Turma orientar, ajudar e até mesmo conduzir os alunos no sentido de caminharem rumo a uma autonomia que é absolutamente indispensável à realização de qualquer ser humano. Autonomia essa, consignada na Lei de Bases do Sistema Educativo, que aponta para a tolerância, a preocupação pelos outros, o respeito pela diferença, a solidariedade e a cooperação (artigos 2º e 3º).

Os alunos parecem não esperar dos seus professores tanto a competência, mas antes a simpatia, amizade, a compreensão e o sentido de justiça.

Vejamos os resultados de experiências realizadas por educadores do colégio de «Montearagón» em Zaragoza. Concluiu-se acerca das qualidades que os alunos consideraram como fundamentais na pessoa do Director de Turma as seguintes:

- Carinhoso

- Justo (que se zangue quando tem razão) - Amigo de todos

- Exigente

- Que seja como um companheiro sem deixar de ser professor - Sempre atento ao que se passa com cada aluno

- Que conheça os alunos muito bem e lhes diga as coisas com sinceridade. (Artigot, 1973, p.35-36)

É comummente aceite o facto de que não é fácil a aproximação imediata com os alunos, a maioria dos quais em fase de questionamento da sua própria identidade. Situação que prova que uma das principais preocupações do Director de Turma deverá apontar no sentido de uma formação o mais geral possível nos diferentes campos da ciência humana.

Quanto menor for a preparação dos Directores de Turma, mais difícil será estimular o desenvolvimento pessoal e social dos alunos, e mais longe estaremos dos objectivos da Lei de Bases.

2.1.2.3 Qualidades como orientador familiar

Como esclarece Artigot (1973), neste domínio, devemos contemplar na acção do DT os seguintes aspectos:

- Recolher e veicular todas as informações necessárias respeitantes aos alunos e suas famílias;

- Informar (e informar-se junto dos) pais de todos os assuntos respeitantes aos seus educandos:

Orientações quanto ao carácter dos filhos; Orientações sobre os seus temperamentos; Aspectos relacionados com a autoridade paterna;

Postura dos pais (relações com companheiros, trabalho, rendimento, desobediências, etc.);

Orientações acerca de prémios e castigos; Alunos com problemas de aprendizagem; Interesses e expectativas;

Educação sexual;

- Receber os pais semanalmente;

- Solicitar a colaboração destes para a realização de actividades educativas com os alunos a seu cargo.

Experiências feitas pelo Instituto para a Educação Participada (IPEP, 1990) provaram que «o envolvimento directo do Director de Turma com os alunos, resultava em benefícios consideráveis, sendo que, na opinião dos Directores de Turma envolvidos na experiência, o encontro regular com os alunos fora do espaço da aula conduziu a uma mudança no entendimento do papel do Director de Turma enquanto elemento de ligação entre encarregados de educação - alunos - escola, conduzindo, por sua vez, a um melhor relacionamento entre alunos e professores». (p. 26).

2.2 A URGÊNCIA DA VALORIZAÇÃO DA FUNÇÃO DE DIRECTOR DE