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A escolha pela Rede Municipal de Ensino da cidade de Betim

A Rede Municipal de Ensino da cidade de Betim a partir de 1990, em consonância com as políticas educacionais brasileiras40 inicia debates sobre a criação de um Projeto Pedagógico específico para as escolas municipais. Esses debates eram impulsionados principalmente pelos/as profissionais da educação que viam a necessidade de implementação de uma escola que considerasse as especificidades das escolas betinenses. (Cf. BETIM, 1998) Esse processo, antes centrado em discussões internas das escolas, toma outro formato e amplia-se com a mudança de perfil político-partidário da administração municipal em 1993.41 Além disso, as pessoas que passam a gerir a prefeitura de Betim eram profissionais da educação da cidade que participaram como profissionais da educação dos debates sobre a necessidade de implementar um Projeto Político-Pedagógico para a Rede Municipal de Ensino de Betim.

Essa discussão ganha um espaço institucional em 1996, com o I Congresso

Municipal de Educação de Betim. Esse evento é apontado no documento “Escola Democrática” como o marco inicial para a implantação de uma “nova política educacional”

para o município. (BETIM, 1998, p. 6) Os três primeiros congressos tiveram como objetivo central discutir as diretrizes para a criação de um Projeto Político-Pedagógico para a Rede Municipal de Betim. Participaram desse processo representantes de vários segmentos educacionais e entidades vinculadas à educação, tais como: profissionais das escolas

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As políticas educacionais brasileiras de 1990 estão discutidas no capítulo 1 desta dissertação.

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A cidade de Betim até as eleições municipais de 1990 era governada por um mesmo grupo político que se centrava nos partidos PMDB e PTB. Após as eleições de 1990, o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu a prefeitura e rompeu com várias políticas instituídas na cidade. (Cf. ASSIS, 2000)

municipais, alunos/as maiores de 14 anos de idade, familiares de alunos/as, Sind-UTE,42 Secretaria Municipal de Educação, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar de Betim, etc.

Após três anos de discussões, foi escrito, por profissionais da Secretaria Municipal de Educação, um documento contendo as diretrizes e orientações para a

implementação do “Projeto Pedagógico Escola Democrática: onde todos aprendem”. Na verdade, o documento não significou o início da implementação do “Projeto Escola Democrática”, apenas consolidou institucionalmente o que já vinha ocorrendo em grande

parte das escolas municipais de Betim. A Secretaria Municipal de Educação se reestruturou para atender às determinações do projeto. Mobilizou-se para formar educadores/as, especialmente das escolas que ainda não haviam implementado as ações demandadas por esse projeto.

Apesar de não orientar oficialmente as escolas municipais de Betim desde 2001, muitas ações ali previstas ainda fazem parte das práticas pedagógicas de muitas escolas municipais e também da própria Secretaria Municipal de Educação. Cito como exemplos a organização do ensino em Ciclos de Formação Humana,43 o Congresso Municipal de Educação que ocorre todos os anos; a organização da Secretaria em Regionais Pedagógicas (o que possibilitou a descentralização da Secretaria de Educação); a permanência e a reestruturação do Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva; os encontros do

“Fórum Intersetorial” (que ocorrem nas regionais); a eleição direta para dirigente escolar. O “Projeto Escola Democrática” foi pensado tendo como princípio norteador a democracia que se torna “o princípio estruturante e organizativo do tempo, do espaço, do

trabalho e do currículo no interior da escola, ou seja, constitui o pilar da construção coletiva do projeto que dá sentido à ação (e a interação) educativa da comunidade escolar como um

todo”. (BETIM, 1998, p. 26) As escolas municipais de Betim passaram a construir seus

projetos político-pedagógicos com base no princípio democrático, promovendo nas escolas atividades em que os segmentos escolares (profissionais da escola, alunos/as e seus familiares) pudessem apresentar propostas e tomar decisões.

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Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação – Sede Betim.

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Ciclo de Formação Humana é uma organização escolar em que os/as alunos/as são enturmados por idade, ocorrendo uma progressão continua no interior de cada ciclo. A retenção é prevista apenas ao final de cada ciclo. As escolas da Rede Municipal de Betim são organizadas em quatro ciclos: 1º ciclo, constituído por crianças de 6 a 8 anos; 2º ciclo, por crianças de 8 a 10 anos; o 3º ciclo, por adolescentes de 11 a 13 anos; e o 4º ciclo, de 13 a15 anos.

O fortalecimento do Colegiado Escolar foi uma das ações demandadas pelo

“Projeto Escola Democrática”. Para os gestores desse projeto, o Colegiado Escolar representaria a consolidação de uma gestão escolar mais “participativa e democrática”. (BETIM, 1998) Colegiado é considerado “órgão gestor da escola” (BETIM, 1999, p. 4),

sendo presidido pelo/a diretor/a e formado por representantes de funcionários/as, de alunos maiores de 12 anos e de familiares. Os representantes reúnem-se mensalmente para conferir

“planilha de gastos” do mês vigente e para planejar os gastos para o mês seguinte. Além

disso, discutem e deliberam ações para casos de indisciplina de alunos/as e também outras questões como: calendário escolar, organização de eventos festivos e culturais para a comunidade, avaliação de funcionários/as e questões vinculadas à condição de (in)segurança da escola. Mesmo em 2000, quando houve uma mudança na gestão administrativa municipal da cidade, o Colegiado ainda permaneceu como foco, ocorrendo de 2000 a 2003 diversos cursos de qualificação para representantes do Colegiado.

Outra prática criada para envolver familiares dos/as alunos/as nas escolas foi o

Projeto “Escola de Pais”, criado para garantir aos pais e às mães uma formação “para a cidadania”. (BETIM, 1998, p. 53) O Conselho Pedagógico também foi implementado e

divulgado como nova alternativa “às reuniões de pais e mestres” (BETIM, 1998, p. 32), pois, um de seus objetivos é realizar avaliação trimestral de todos os segmentos escolares (administrativo, pedagógico, técnico, manutenção e alimentação). Essas avaliações são realizadas por todos/as os/as profissionais da escola e por todos/as os/as alunos/as e seus/suas

responsáveis durante uma reunião denominada “pré-conselho”. Essa avaliação permite aos/às

usuários/as da escola expor suas opiniões e apresentar sugestões. Permanecem também no calendário escolar as festas e eventos artístico-culturais como festa da família, feira da cultura e semana da criança.

A percepção de que cada vez mais as escolas municipais da cidade de Betim têm discutido, institucionalizado e efetivado a participação das famílias na escola, instigou-me a problematizá-lo como um discurso que tem incidido sobre as práticas pedagógicas desses estabelecimentos de ensino. Estudar esse discurso é entender esse movimento que tem contribuído para a efervescência desse tema nas escolas municipais de Betim.

Em síntese, a escolha por realizar a pesquisa em duas escolas da Rede Municipal de Betim se deu por três razões: 1) trabalho há quinze anos na Rede Municipal de Betim e conheci de perto as modificações ocorridas nas escolas, em especial as que visam proporcionar a participação das famílias na escola. Esse contato possibilitou ter acesso às

escolas, aos materiais sobre o assunto que circulam nas escolas, bem como contactar as pessoas necessárias à efetivação da pesquisa; 2) em quinze anos de trabalho como profissional da educação da Rede Municipal de Betim, percebi a presença constante desse tema nas reuniões pedagógicas, nas salas de professores/as, nos encontros de formação de professores/as etc; e 3) o conhecimento da existência nas escolas municipais tanto de projetos pedagógicos, que possibilitam aos familiares momentos para discussão de questões

pedagógicas e administrativas (como o que ocorre nas “Assembléias de Pais” e no “Conselho Pedagógico”), como de projetos que visam à formação dos familiares adultos dos/as alunos/as (como a “Escola de Pais” e a “Escola Aberta”).