O diagnóstico é a segunda etapa do processo de enfermagem, representando uma das mais importantes fontes de conhecimento científico da prática profissional, que se tornou
fundamental para o planejamento da assistência ao paciente (JESUS, 1995).
O diagnóstico de enfermagem envolve coleta, análise, interpretação e síntese dos dados clínicos encontrados. Suas etapas se inter-relacionam e envolvem um contínuo processo de raciocínio e julgamento clínico, o qual direciona as ações de enfermagem (ALFARO- LEFEVRE, 2002; ALFARO-LEFEVRE, 2005). Logo, o raciocínio clínico, realizado a partir da coleta de dados, permite a denominação dos diagnósticos que vão fornecer a base para a tomada de decisão e a avaliação dos resultados da assistência (MICHEL, 2003).
Diagnosticar é um ato inerente à vida diária dos indivíduos nas mais diversas situações, visto que se refere à avaliação de dados, a fim de chegar a uma conclusão (MICHEL, 2003). Contudo, o diagnóstico de enfermagem é um processo complexo que envolve a interpretação do comportamento humano ligado à saúde e está relacionado a uma interação de questões interpessoais, técnicas e intelectuais, que se referem à comunicação real com os pacientes e outros profissionais de saúde. Além de requerer o uso de ferramentas e habilidades específicas, demanda também o desenvolvimento da inteligência e o emprego do pensamento crítico para a coleta e análise de dados e adoção de decisões (LUNNEY, 2004).
A composição de um diagnóstico de enfermagem pode incluir: um título ou um termo, ou ainda uma frase concisa que pode envolver qualificadores; uma definição, que é a descrição clara do diagnóstico, a lhe estabelecer o significado e ajudar na diferenciação do mesmo; as características definidoras, que são as manifestações ou sinais e sintomas; os fatores relacionados, que são as condições que favorecem a ocorrência daquela determinada resposta (relações de causa) e os fatores de risco, os quais podem ser ambientais, fisiológicos, psicológicos, genéticos ou químicos, que aumentam a vulnerabilidade de um indivíduo a um evento insalubre (NANDA, 2002).
A necessidade de identificar, organizar e classificar os diagnósticos de enfermagem, com base em regras consistentes, por meio de uma taxonomia, fez surgir, nos
Estados Unidos, a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) (JESUS; CARVALHO, 1997). A construção de taxonomias, proposta pela NANDA, para os diagnósticos, intervenções e resultados buscou a padronização da linguagem em enfermagem e a possibilidade de codificações que facilitem o processo de informatização da assistência, necessários com o avanço tecnológico (MICHEL, 2003).
O primeiro sistema de classificação dos diagnósticos de enfermagem, a Taxonomia I, aprovado em Assembléia Geral da Taxonomia da NANDA, foi denominado “Padrões de Respostas Humanas” e foi introduzido para constituir oficialmente a estrutura conceitual para a organização dos diagnósticos (COLER, 1992; FARIAS et al., 1990).
A Taxonomia I consistia na ordenação dos diagnósticos em relação à prática, porém, durante sua construção foram identificados diferentes níveis teóricos de abstração entre os diagnósticos. Dependendo de sua especificidade, alguns eram muito abstratos e gerais, enquanto outros eram concretos e específicos (FARIAS et al., 1990). Percebendo as inconsistências dessa taxonomia, devido à dificuldade em categorizar alguns diagnósticos e o crescente número de submissões no 4ª nível ou maior, uma nova estrutura para classificação foi proposta (NANDA, 2008).
Em 2002, após a conferência NANDA, NIC (Nursing Interventions Classification) e NOC (Nursing Outcomes Classification), foi sugerida a Taxonomia II, composta dos diagnósticos desenvolvidos e aprovados por essa organização. Em 2003, houve novas mudanças na terminologia dessa taxonomia e após a conferência NANDA, NIC e NOC de 2004, novos diagnósticos foram aprovados e categorizados adequadamente; os eixos foram revisados, a fim de incrementar o foco internacional, comparando-os com o Modelo de Terminologia Referencial da Organização de Padrões Internacionais (International Standards Organization – ISO) para um diagnóstico de enfermagem (NANDA, 2008).
Um domínio representa uma esfera de atividade, estudo ou interesse e a classe é uma subdivisão do grupo maior; uma divisão de pessoas ou coisas por qualidade, grau ou categoria (ROGET’S, 19801 apud NANDA, 2008). Os domínios são divididos em classes e estas, por sua vez, contêm os diagnósticos, cujo conceito foi aprovado na 9ª Conferência:
Julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. Um diagnóstico de enfermagem proporciona a base para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir resultados pelos quais a enfermeira é responsável (NANDA, 2008, p. 294).
A nova taxonomia é uma estrutura multiaxial, o que constitui um sistema conceitual para direcionar a classificação dos diagnósticos de enfermagem, sendo que os eixos são representados nos diagnósticos nomeados/codificados por meio de seus valores. Um eixo é operacionalmente definido como uma dimensão da resposta humana considerada no processo diagnóstico (NANDA, 2008).
A NANDA (2008, p. 309) apresenta os setes eixos que constituem a Taxonomia II:
• Eixo 1 – Conceito diagnóstico
• Eixo 2 – Sujeito do diagnóstico (indivíduo, família, comunidade) • Eixo 3 – Julgamento (prejudicado, ineficaz)
• Eixo 4 – Localização (vesical, auditiva, cerebral) • Eixo 5 – Idade (bebê, criança, adulto)
• Eixo 6 – Tempo (crônico, grave, intermitente)
• Eixo 7 – Situação do diagnóstico (bem-estar, de risco, real, de promoção da saúde)
O Eixo 1 (conceito diagnóstico) e o Eixo 3 (julgamento) são elementos essenciais de um diagnóstico (NANDA, 2008). Os conceitos diagnósticos e seus descritores (julgamento) foram formados a partir do exame minucioso de cada diagnóstico aprovado. E nesse sistema de classificação é possível adicionar e subtrair diagnósticos sem ter de mudar
novamente o sistema de codificação (HOSKINS, 2002).
Trata-se de uma estrutura hierárquica de classificação, em que os eixos permitem inúmeras possibilidades de diagnósticos, aumentando a cobertura das situações clínicas pela Taxonomia e oferecendo uma linguagem mais flexível, que permite fazer inclusões e modificações de modo mais fácil (BRAGA; CRUZ, 2003; NANDA, 2008).
Os domínios propostos na Taxonomia II da NANDA (2008, p. 295-296) são: • Domínio 1 – Promoção da saúde
• Domínio 2 – Nutrição
• Domínio 3 – Eliminação e Troca • Domínio 4 – Atividade/Repouso • Domínio 5 – Percepção/Cognição • Domínio 6 – Autopercepção
• Domínio 7 – Relacionamento de Papel • Domínio 8 – Sexualidade
• Domínio 9 – Enfrentamento/Tolerância ao estresse • Domínio 10 – Princípios de vida
• Domínio 11 – Segurança/Proteção • Domínio 12 – Conforto
• Domínio 13 – Crescimento/Desenvolvimento
O fenômeno espiritualidade é abordado na Taxonomia II da NANDA por meio do Domínio 10, Princípios de vida, definido como: “Princípios nos quais são baseados a conduta, o pensamento e o comportamento quanto a atos, costumes ou instituições, considerados verdadeiros ou dotados de valor intrínseco” (NANDA, 2008, p. 303). Este domínio, conforme a NANDA (2008, p. 303-304), é composto por:
preferidos. Diagnóstico aprovado: Disposição para aumento da esperança.
• Classe 2: Crenças: opiniões, expectativas ou julgamento sobre atos, costumes ou instituições, considerados verdadeiros ou dotados de valor intrínseco. Diagnósticos aprovados: Disposição para bem-estar espiritual aumentado; Disposição para aumento da esperança.
• Classe 3: Congruência entre Valor/Crença/Ação: Correspondência ou equilíbrio encontrado entre valores, crenças e ações. Diagnósticos aprovados: Angústia espiritual; Risco de angústia espiritual; Conflito de decisão (especificar); Desobediência (especificar); Risco de religiosidade prejudicada; Religiosidade prejudicada; Disposição para religiosidade aumentada; Sofrimento moral; Disposição para aumento da tomada de decisão.
Nas duas últimas versões da NANDA, 2006 e 2008, foram incluídos novos diagnósticos relacionados à espiritualidade (Domínio 10), o que demonstra a preocupação e o interesse em classificar essa dimensão humana tão abstrata, porém muito importante na assistência de enfermagem.
A confirmação de cada diagnóstico dentro da dimensão espiritual humana requer a sustentação de um referencial teórico consistente, que só será obtido por meio do processo de validação dos mesmos.
A literatura sobre espiritualidade tem questionado a aplicabilidade dos diagnósticos de enfermagem na dimensão espiritual, pois o seu uso na prática clínica requer que sejam comuns o suficiente para ser abrangentes, específicos para serem nítidos e flexíveis para possibilitarem o julgamento e as intervenções de enfermagem (HELIKER, 1992). Assim, a linguagem que descreve as respostas do paciente ao domínio espiritual necessita ser desenvolvida, uma vez que a descrição de espiritualidade e de seus atributos é diversa, com pouco consenso universal (CAVENDISH et al., 2000).