• Nenhum resultado encontrado

O Diagnóstico de Enfermagem Angústia Espiritual

O diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual proposto pela NANDA descreve as respostas do indivíduo às desordens que englobam a sua espiritualidade (ENGEBRETSON, 1996; MOHR, 2006). Todavia, na prática, o enfermeiro raramente usa esse diagnóstico, embora reconhecida a importância da relação corpo/mente/espírito para um cuidado holístico (TWIBELL et al., 1996).

O diagnóstico em questão foi aceito pela NANDA em 1980, sendo incorporado na primeira taxonomia dentro do padrão de resposta humana denominado VALORIZAR. Sua definição, em versão brasileira, era: “Estado no qual o indivíduo experimenta uma ruptura no princípio de vida, o qual permeia todo o seu ser, integra e transcende sua natureza biológica e psicossocial”. As características definidoras eram: Preocupação com o significado da vida ou da morte e/ou com sistema de crenças; Raiva de Deus; Questionamento do significado do sofrimento; Verbalização de conflito íntimo sobre crenças; Questionamento do significado da própria existência; Incapacidade para participar de práticas religiosas usuais; Busca de assistência espiritual; Questionamento das implicações morais ou éticas de condutas terapêuticas; Humor negro; Deslocamento da raiva para representantes religiosos; Descrição de pesadelos; Alteração de comportamento ou humor evidenciado por raiva, choro, isolamento, preocupação, ansiedade, hostilidade, apatia, entre outras. Os fatores relacionados eram: Separação de laços religiosos ou culturais; Desafio ao sistema de crenças e valores relacionado, por exemplo, às implicações morais ou éticas da terapia ou a intenso sofrimento (NÓBREGA; GARCIA, 1992).

A primeira validação do diagnóstico ocorreu em 1987 e foi realizada por Weatherall e Creason, que triangulou as características de Angústia espiritual, com indicadores clínicos encontrados na literatura e aqueles descritos por enfermeiras. Esse estudo

validou somente as características: Preocupação relacionada a Deus; Distúrbio no sistema de crença e Questões relacionadas ao significado da vida (McHOLM, 1991).

Posteriormente, McHolm (1991) conduziu um novo estudo de validação das manifestações associadas ao diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual e concluiu que 25% das características definidoras apresentadas na NANDA não eram bons indicadores do diagnóstico, sugerindo 13 novas características: Incapacidade de aceitar a si mesmo; Descrição de queixas somáticas; Dicas sobre relacionamentos com outros, sobre culpa e perdão; Dicas sobre a importância das necessidades espirituais; Coping inadequado; Desespero; Falta de esperança; Medo; Depressão; Desamparo; Anorexia; Silêncio e Amargura.

Hensley (1992) também explorou a validade das características definidoras deste diagnóstico e identificou como parte da categoria Maior (escore 0.80), entre as características definidoras listadas pela NANDA, apenas Expressa preocupação com o significado da vida/morte e/ou sistema de crenças.

Heliker (1992) reavaliou o diagnóstico Angústia espiritual, utilizando os critérios de Gordon’s (poder discriminatório, generalidade, flexibilidade, utilização e abrangência), e identificou que a perspectiva da enfermagem com relação ao diagnóstico é limitada e inadequada para um cuidado multicultural e multidimensional. O autor sugeriu a promoção de uma abordagem holística e humanística na educação e na pesquisa, integrando a dimensão espiritual dentro do currículo e reconhecendo o aspecto multidimensional e global desse fenômeno humano.

Em 1996, Twibell et al. realizaram a validação de conteúdo das características definidoras descritas pela NANDA ao diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual e observaram que Expressa não ter razão para viver e Mostra desajuste emocional consigo e com os outros são características mais importantes para o diagnóstico de Coping ineficaz que

para Angústia espiritual.

Ainda no ano de 1996, Smucker realizou um estudo fenomenológico sobre a experiência da Angústia espiritual, notando que o evento pode ocorrer também em momentos agradáveis da vida. O autor conclui que há necessidade de uma nova definição para o diagnóstico e propõe: “Experiência desconfortável de lutas espirituais e/ou existenciais, dentro do qual existe um potencial de crescimento”, sugerindo também as seguintes características: Verbalização de sentimentos de falha, dor e/ou instabilidade; Verbalização de sentimentos de algo mais além; Busca por uma resposta física, emocional, social ou/espiritualmente positiva na crise e Aceitação dos limites do conhecimento.

Em 1997, Pehler, com o objetivo de descrever as respostas espirituais encontradas em crianças e adolescentes, realizou a validação de conteúdo do diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual e observou que somente duas das características definidoras propostas pela NANDA foram consideradas como “maiores” e apenas para o grupo de sujeitos com idade entre 13 e 18 anos, são elas: Preocupação com o significado da morte e Alteração no comportamento/humor: ansiedade.

Posteriormente, em 2001, Burkhart e Solari-Twadell, revendo a literatura a respeito de espiritualidade e religiosidade, apontam para as inconsistências quanto à definição do diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual, sugerindo sua diferenciação com religiosidade.

A partir de 2002, com a modificação da Taxonomia I para a Taxonomia II da NANDA, o diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual também sofreu modificações na estrutura, sendo atualmente classificado da seguinte forma:

Figura 1 - Classificação do diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual na Taxonomia II da NANDA (2008, p.304)

Apesar de toda evolução no campo de conhecimento da enfermagem, a revisão da literatura sobre o diagnóstico Angústia espiritual proposto pela NANDA demonstrou que seu conceito ainda compreende inúmeras questões subjetivas, tornando um desafio para o enfermeiro lidar com pessoas que experenciam essa angústia (BURNARD, 1987).

Também tem sido evidenciado que a espiritualidade continua recebendo uma atenção mínima nos planos de cuidado, com diversas dificuldades atribuídas pela enfermagem para a assistência espiritual (HELIKER, 1992; PESUT, 2008; TWIBELL et al., 1996; VILLAGOMEZA, 2005).

A definição, tanto de angústia espiritual como de espiritualidade, é complexa, uma vez que ambas dependem da perspectiva de quem os avalia, limitando, assim, sua generalização. A espiritualidade deve ser percebida como um processo, uma jornada, na qual mudanças e flexibilidade são inerentes, o que dificulta o poder discriminatório do diagnóstico (HELIKER, 1992). Entretanto, para ajudar o paciente a tomar conhecimento de sua espiritualidade, é crucial que o enfermeiro seja capaz de reconhecer o diagnóstico de Angústia espiritual, estando atento à suas manifestações, pois essas podem resultar em um plano terapêutico malsucedido (DAVIS, 1994; VILLAGOMEZA, 2005). Daí a importância de contar com evidências fortes e precisas sobre o diagnóstico, o que torna necessário sua atualização ou aperfeiçoamento. Domínio 10 Classe 1 – Valores Classe 2 – Crenças Classe 3 – Congruência entre Valor/Crença/Ação Angústia espiritual

Em suma, considerando-se que os diagnósticos propostos pela NANDA devem ser validados e, quando necessário, reformulados, bem como, que a dimensão espiritual é um importante, porém complexo, atributo do cuidado holístico de enfermagem, torna-se relevante o desenvolvimento de estudos que possam contribuir para a compreensão e utilização do diagnóstico de enfermagem Angústia espiritual.

4