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5.3 ETAPA 3: VALIDAÇÃO CLÍNICA DO DIAGNÓSTICO

5.3.1 Procedimentos Metodológicos

5.3.1.5 Tratamento dos dados

A identificação do diagnóstico de enfermagem Espiritualidade prejudicada foi assegurada de diferentes maneiras:

• Escore baixo e moderado na sub-escala de Bem-estar Existencial, ou seja, soma dos escores com valor igual ou abaixo de 49 nos itens pares da Escala de Bem-estar Espiritual; • Baixo escore de espiritualidade na sub-escala Crença/Otimismo, ou seja, soma dos escores

com valor igual ou abaixo de 7,5 nos itens 3, 4 e 5 da Escala de Espiritualidade de Pinto e Pais-Ribeiro;

• Concordância entre os peritos sobre a presença do diagnóstico; • Opinião do paciente sobre a presença do diagnóstico;

O uso de diferentes critérios para a confirmação do diagnóstico ocorreu para aumentar a credibilidade dos dados obtidos, conforme sugere Polit, Beck e Hungler (2004). Os autores propõem o uso de uma técnica de triangulação, em que são empregados vários referenciais para chegar à conclusão do que constitui a verdade, por exemplo: utilizar mais de uma pessoa para a coleta de um conjunto de dados, utilizar múltiplos métodos para abordar um problema, utilizar múltiplas perspectivas para a interpretação de um conjunto de dados e utilizar várias fontes de dados em um estudo, entrevistando diversos informantes.

Na literatura não há referência de “padrão-ouro” para avaliação da espiritualidade, tendo em vista que também não há consenso sobre o conceito atribuído ao fenômeno (MAcLAREN, 2004; LEDGER, 2005; POWER, 2006). Porém, este fenômeno tem sido descrito como uma experiência pessoal (MINER-WILLIAMS, 2006) e, como tal, a opinião do paciente sobre a presença de um dano nessa dimensão tornou-se o critério de “referência” para a identificação do diagnóstico de enfermagem Espiritualidade prejudicada. Além disso, o diagnóstico em estudo apresenta indicadores clínicos que descrevem manifestações

subjetivas, cuja natureza se sobrepõe e, por isso, são de difícil análise e, nesse sentido, a melhor referência é a própria confirmação do paciente (VILLAGOMEZA, 2005).

O raciocínio diagnóstico, realizado pelo enfermeiro, não foi considerado o critério de “referência” devido à ausência de recursos definitivos para aferir esta habilidade e também, como já foi observado, por se tratar de um diagnóstico que envolve uma resposta cognitiva, dificultando sua avaliação; uma vez que, segundo Garb (1998), a complexidade cognitiva pode levar os clínicos a fazerem julgamentos diferentes um do outro.

Os dados coletados foram agrupados em um banco de dados, utilizando-se o aplicativo Microsoft Office Excel (2006), e analisados utilizando o programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15. A estatística descritiva permitiu descrever e resumir os dados obtidos. Variáveis nominais foram descritas pela análise de freqüência e tabela de contingência e as variáveis quantitativas, pelas medidas de tendência central.

Os tempos de tratamento (HD) e de descoberta da IRC entre pacientes com e sem Espiritualidade prejudicada, bem como dos dados obtidos nas escalas de espiritualidade, foram comparados por meio do Teste de Mann-Whitney. As proporções dos níveis de importância da religião, estado civil, prática da religião e escolaridade, também quanto à presença do diagnóstico Espiritualidade prejudicada, foram comparadas pelo Teste Qui- quadrado (X2). O nível de significância estatístico adotado foi valores de p menor ou igual a 5% (p 0,05).

A Análise de Concordância – Kappa foi empregada para a determinação da confiabilidade da variável de critério estabelecida no estudo (a opinião do paciente sobre a presença do diagnóstico), que foi conferida pela avaliação da concordância com os demais critérios utilizados para a identificação do diagnóstico (escores obtidos na sub-escala de Bem- estar Existencial, escores obtidos na sub-escala de Esperança/Otimismo e opinião do

enfermeiro sobre a presença do diagnóstico).

Por conseguinte, o Kappa mede o grau de concordância além do que seria esperado tão somente pelo acaso (NEWMAN; BROWNER; CUMMINGS, 2003). A interpretação dos valores de concordância medida pelo kappa seguiu a orientação da literatura especializada: kappa abaixo de 0: pobre; de 0 a 0,20: leve; de 0,21 a 0,40: razoável; de 0,41 a 0,60: moderada; 0,61 a 0,80: substancial e de 0,81 a 1,00: concordância perfeita (LANDIS; KOCH, 1977; ROSNER, 2006).

Assim como na segunda etapa deste estudo, foi realizada a análise do grau com que cada característica é indicativa do diagnóstico, observando-se a freqüência das características definidoras nos participantes do estudo e classificando-as em: características “principais”, para aquelas com freqüência igual e superior a 80%; “secundárias”, para aquelas com freqüência entre 79% e 51%; e características “pouco relevantes”, para aquelas com freqüência igual ou abaixo de 50%. Também, fazendo um paralelo ao modelo utilizado por Fehring (1987) para validação de conteúdo diagnóstico, foi realizado o cálculo total do diagnóstico, que corresponde à somatória das médias de todas as características definidoras, com exceção daquelas com escore igual ou menor que 0,50, e divisão pelo número total de características.

Foram calculados ainda a especificidade, a sensibilidade e o valor preditivo das características definidoras do diagnóstico de enfermagem Espiritualidade prejudicada, que foram obtidas por meio de tabelas de contingência, conforme sugere Fletcher, Fletcher e Wagner (1996) (exemplificado na tabela 13). Essas análises permitirão inferir sobre a capacidade da característica definidora de ser própria do diagnóstico de enfermagem Espiritualidade prejudicada.

Tabela 13 – Tabela binária para a determinação da sensibilidade, especificidade e valores preditivos das características definidoras de Espiritualidade prejudicada

CARACTERÍSTICA DEFINIDORA Presente Espiritualidade prejudicadaAusente

Presente a b

Ausente c d

Em que:

Sensibilidade = Especificidade = Valor preditivo

+

= Valor preditivo

-

=

a: verdadeiro positivo b: falso positivo c: falso negativo d: verdadeiro positivo

Fonte: FLETCHER, R. H.; FLETCHER, S. W.; WAGNER, E. H. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1996. p. 58-59

A sensibilidade é definida como a proporção de indivíduos com determinada doença que são identificados corretamente por determinado teste; indica o quão bom é um teste em identificar a doença em questão. A especificidade é descrita como a proporção de indivíduos sem a doença que são identificados corretamente pelo teste, indica o quão bom é um teste em identificar indivíduo sem a doença em questão (NEWMAN; BROWNER; CUMMINGS, 2003).

Para este estudo, apoiando-se nas considerações de Chang, Uman e Hirsch (1998), adotou-se como sensibilidade de uma característica definidora a porcentagem de pacientes com a referida característica, entre aqueles que, conforme próprio julgamento, apresentavam Espiritualidade prejudicada. A especificidade de uma característica definidora foi considerada a porcentagem de pacientes sem a referida característica, entre aqueles que, conforme próprio julgamento, não apresentavam Espiritualidade prejudicada.

O Valor Preditivo é a probabilidade de uma doença, dados os resultados de um a+c d d b+d a a+b a c+d

teste. Valor Preditivo Positivo (VPP) de um teste é a probabilidade da doença em um paciente com resultado positivo e Valor preditivo negativo (VPN) é a probabilidade de não ter a doença quando o resultado é negativo (FLETCHER; FLETCHER; WAGNER, 2003). Assim, o VPP de cada característica foi usado para ajudar a predizer qual a probabilidade de o paciente ter o diagnóstico de enfermagem Espiritualidade prejudicada se uma determinada característica definidora estiver presente e o VPN foi usado para ajudar a prever qual a possibilidade de não se ter o diagnóstico se uma determinada característica definidora não estiver presente. No entanto, é importante destacar que a prevalência do diagnóstico em estudo irá exercer influência no cálculo do valor preditivo do teste (LÓPEZ, 2001).