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CAPÍTULO 3 – O PODER JUDICIÁRIO NO BRASIL

3.2 A Estrutura do Judiciário Brasileiro

Para entendermos o funcionamento do Judiciário e eventualmente avaliar seu desempenho, é necessário, em primeiro lugar, entender a estrutura da sua organização.

Os Artigos 92 a 135 da Constituição Federal do Brasil (Capítulo III do Título IV) disciplinam os órgãos constituintes do Poder Judiciário, aqueles que exercem as “funções essenciais à Justiça”, suas organizações e seus funcionamentos. Segundo a Constituição, são órgãos do Poder Judiciário:

 Supremo Tribunal Federal  Superior Tribunal de Justiça

 Conselho Nacional de Justiça

 Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais  Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal

 Tribunais e Juízes do Trabalho

 Tribunais e Juízes Eleitorais  Tribunais e Juízes Militares

Como já visto no item anterior, no Brasil, a Justiça Federal funciona separadamente da Justiça Estadual desde a primeira Constituição republicana de 1891, com exceção do intervalo entre os anos de 1937 a 1965, quando deixou de existir. O Banco Mundial (2004) atesta que “todas as instituições [da Justiça brasileira], incluindo os tribunais, possuem uma organização extremamente descentralizada. Isso não é resultado apenas da estrutura federativa do país: a tradição corporativista brasileira serviu para expandir a independência de organizações que, em outros países da América Latina, raramente recebem esse status” (p. 185).

As cortes inferiores são o receptáculo original dos processos judiciais, com algumas exceções (a ser visto mais adiante). Geralmente as decisões são feitas pelo juiz monocrático – aquele que decide individualmente. Os recursos contra as decisões destas cortes são julgados pelos Tribunais, que funcionam como segunda instância. Neles, as decisões são normalmente tomadas por órgãos colegiados – grupos de juízes. Portanto, tanto a Justiça Federal quanto a Justiça Estadual (e do Distrito Federal) contam com cortes de primeiro grau e com seus Tribunais. Na Justiça Federal, além dos juízos federais de primeiro grau, há cinco Tribunais Regionais Federais35, que podem julgar recursos ou processos

35 Os Tribunais Regionais Federais englobam os seguintes estados: 1ª Região – AC, AP, AM, BA; DF, GO, MA, MT, MG, PA, PI, RO, RR e TO; 2ª Região – ES e RJ; 3ª Região – MS e SP; 4ª Região – PR, RS e SC; 5ª Região – AL, CE, PB, PE, RN e SE.

originários, e cortes de apelação. Estes, juntamente com o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal é o destino de processos envolvendo o governo federal.

Cada Estado regulamenta o funcionamento de sua Justiça Estadual; entretanto, em todas elas há as cortes de primeiro e de segundo graus, estes também exercidos pelos Tribunais. As cortes de primeiro grau são organizadas por comarcas, que podem incluir um ou mais municípios. Como explicam Cintra, Grinover e Dinamarco (2008), comarca é o território de competência do juiz de primeiro grau, podendo haver nela um ou mais juízos. Ainda fazendo parte dos órgãos de primeiro grau das Justiças Estaduais estão os Juizados Especiais (órgãos de grande importância quando se discute a questão da celeridade judicial), os juízos de paz e os Tribunais do Júri.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi criado pela Constituição de 1988, a partir do antigo Tribunal Federal de Recursos, um tribunal intermediário entre o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Estaduais. Sua criação teve também como uma das motivações, a tentativa de descongestionar o STF. Basicamente, sua função é decidir sobre as causas ordinárias (civil, comercial, tributário e administrativo). Não cabe a ele a decisão de matérias constitucionais e/ou relacionados com as matérias específicas (trabalhistas, penais militar e eleitorais), que possuem Justiça específica. Os juízes do STJ também têm status de Ministros, e são de número 33; as decisões podem ser tomadas em plenário, em seções ou em turmas.

O Supremo Tribunal Federal (STF) é a Suprema Corte brasileira, a ela cabe a última palavra nas decisões para a qual é submetida. O STF, por definição, decide matérias constitucionais, originárias ou apelações (por exemplo, Ação Direta de Inconstitucionalidade), e recursos extraordinários. Por ser a última instância da Justiça, cabe a ela também a edição de súmulas vinculantes. Suas decisões são tomadas em plenário (11 Ministros) ou em turmas (duas, com 5 Ministros cada). Como já mencionado antes, os Ministros são indicados pelo Presidente da República e, algumas vezes, não são juízes de carreira, mas juristas “de notável saber jurídico e reputação ilibada”36. Este fato é mais um dos agravantes à oposição dos juízes

das instâncias inferiores contra os da Suprema Corte, principalmente em momentos em que esta tem pretensões de expandir sua influência política e jurídica. Veremos adiante que, por exemplo, os juízes de primeiro e segundo graus foram fortemente contrários à criação do instituto da súmula vinculante, que garante um alto poder de “controle” do STF sobre as decisões destes tribunais inferiores.

O STF e o STJ estão acima da separação entre Justiça Federal e Justiça Estadual, e são os destinos finais dos processos que tenham passado por todos os graus inferiores. Vários recursos especiais são julgados apenas no STF e STJ, inclusive alguns de caráter excepcional. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi instituído pela Reforma do Judiciário de fins de 2004. É um órgão administrativo sem nenhum papel jurisdicional. Dentre suas tarefas administrativas inclui o papel de ouvidor interno, podendo este órgão inclusive adotar processos disciplinares contra membros do Judiciário. Entretanto, talvez um dos maiores méritos na criação do CNJ foi o início da elaboração e divulgação sistemáticas das estatísticas semestrais e anuais de todo o Poder Judiciário. Os dados publicados periodicamente pelo CNJ foram a base para os dados a serem usados no capítulo 4, de mensuração de eficiência dos tribunais estaduais.

Finalmente, ainda fazem parte do Judiciário brasileiro as Justiças dos direitos especializados: Trabalhistas, Eleitorais e Militares, cada uma delas constituídas por seus tribunais regionais e um Supremo Tribunal.