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O que Explica a Eficiência? Evidências Preliminares da Correlação entre Eficiência e Gestão dos Tribunais

CAPÍTULO 4 – ALÉM DAS EVIDÊNCIAS ANEDÓTICAS: MEDINDO QUANTITATIVAMENTE A EFICIÊNCIA DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

N. vezes em que é par (Total = 24)

4.4 O que Explica a Eficiência? Evidências Preliminares da Correlação entre Eficiência e Gestão dos Tribunais

No capítulo anterior, discutimos várias possíveis causas da ineficiência do Judiciário brasileiro. No entanto, é interessante relembrar que a análise DEA faz uma avaliação relativa da eficiência das unidades observadas. Ou seja, mesmo que todos os tribunais estaduais estejam sujeitos a algumas variáveis em comum, como por exemplo, a mesma legislação processual e a mesma herança histórica, alguns estão sendo capazes de obter desempenhos muito melhores do que outros. Portanto, o que explicam as diferenças no desempenho da eficiência devem ser fatores que variam de uma unidade da federação para outra. Talvez a demanda por serviços judiciais pelo Estado seja maior em um tribunal do que outro. Pode ser também que os magistrados de determinados tribunais sejam mais “cavalheiros” do que outros (ver discussão no capítulo anterior) e obstruam menos a passagem de recursos meramente protelatórios ou movidos por “má fé”. Entretanto, estes fatores, apesar de variáveis de um tribunal estadual para outro, teriam maior impacto na

quantidade de serviço judicial demandado pela sociedade, ou seja, teriam impactos na carga de trabalho e, não necessariamente, na eficiência (que, como visto acima, não representam a

mesma coisa).

Também discutimos no capítulo anterior outro possível fator de impacto na eficiência judicial: a presença de uma boa gestão e bons líderes nos tribunais. Tentamos acessar de alguma forma (mesmo que indireta) o fator “gestão nos tribunais”. Numa pesquisa preliminar, encontramos que os tribunais dos estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul apresentam, de fato, algumas características peculiares e comuns neste quesito. O primeiro,

71 Regressão Tobit, com a variável DEA truncado à esquerda no valor zero, e à direita no valor máximo observado, igual a 1,0.

por exemplo, disponibiliza a qualquer cidadão em sua página da internet os relatórios de produtividade (casos julgados) de cada um dos seus juízes. Possivelmente é uma medida que não encontra muitos paralelos, nem mesmo em nível internacional (no Brasil, entre os Tribunais Estaduais, este foi um caso único). O mesmo tribunal, considerado pelo Banco Mundial um caso de “best practice” e possível “benchmark”, conseguiu o ISO 9001:2000, a

certificação internacional para qualidade em serviços. O segundo “best practice” no monitoramento do desempenho gerencial identificado pelo Banco Mundial é o Tribunal Estadual do Rio Grande do Sul. Segundo o relatório, as estatísticas coletadas são usadas para o planejamento estratégico do tribunal e “o Presidente do TJ carrega com ele um resumo de dez páginas com os dados básicos de desempenho” (WORLD BANK, p. 36, tradução nossa). Em se tratando de órgãos públicos – tradicionalmente associados à burocracia, ineficiência e baixa preocupação com a qualidade de serviços – este são dois grandes marcos.

Por outro lado, pesquisas rápidas indicam que os tribunais com muito baixo desempenho são aqueles que têm fraco desempenho de gestão estratégica e acessibilidade ao usuário. Nestes casos, é muito difícil ao cidadão obter – via provedores de acesso público como a internet – informações sobre o emprego e a alocação de recursos, a produtividade dos juízes e dos tribunais. Também parecem inexistir objetivos de médio e longo prazo, ou metas de eficiência e produtividade. Se existem, não são divulgados ao público em geral.

No intuito de medir a gestão e a organização dos tribunais de uma forma mais objetiva, construímos um “índice de desempenho de organização das cortes”. O objetivo deste índice é oferecer uma indicação menos subjetiva da importância da gestão e organização sobre a eficiência, mesmo que ele possa conter algumas deficiências em sua robustez se empregado para validar testes rigorosamente científicos. Cinco indicadores foram usados para construir este índice e eles foram baseados nos “instrumentos propostos para avaliar as operações judiciais” de Hammergren (2007, pp. 252-5). Os cinco indicadores avaliados foram:

1) “Existe treinamento para juízes e funcionários em gestão ou em atendimento ao usuário para melhorar a produtividade no local de trabalho (excluindo treinamento em conhecimentos jurídicos)”.

2) “O tribunal tem um plano estratégico, plurianual com metas bem-definidas e áreas para melhoria”.

3) “O tribunal emprega métodos alternativos de resolução rápida de conflitos, tais como arbitragem e/ou conciliação. O tribunal informa seus usuários sobre estes serviços e oferece orientações sobre como acessá-los”.

4) “A produtividade e as medidas de eficiência dos juízes são divulgados publicamente”. 5) “O tribunal publica suas estatísticas recentes sobre o nível de produtividade e de eficiência

alcançados”.

Esta pesquisa preliminar baseou-se unicamente em informações obtidas nos

websites dos respectivos tribunais para construir o índice. Todos os cinco indicadores têm o

mesmo peso; por isso, uma corte com excelente gestão deve, segundo este índice, ter a nota máxima igual a 5. Os resultados por estado foram:

Tabela 4.9 – Índice de Desempenho Organizacional das Cortes UF Índice Acre 3 Alagoas 2 Amapá 1 Amazonas 1 Bahia 4 Ceará 1 Distrito Federal 4 Espírito Santo 0 Goiás 4 Maranhão 2 Mato Grosso 4

Mato Grosso do Sul 0

Minas Gerais 2 Pará 2 Paraíba 1 Paraná 4 Pernambuco 1 Piauí 0 Rio de Janeiro 5

Rio Grande do Norte 0

Rio Grande do Sul 4

Rondônia 0 Roraima 0 Santa Catarina 4 São Paulo 2 Sergipe 4 Tocantins 2

Fonte: Sites dos Tribunais Estaduais (2009) e dados trabalhados pela autora.

Usando-se estes resultados para correlacionar com os resultados de eficiência encontrados pela DEA chegamos a um valor de 0,56. Ou seja, aparentemente, existe alguma relação entre o desempenho organizacional e da gestão dos tribunais com seu nível de eficiência.

Pesquisas futuras poderiam estudar mais profundamente as características de cada tribunal para se avaliar as diferenças na gestão e organização dos mais eficientes com as dos ineficientes. Para isso seriam necessárias pesquisas de campo em cada uma das unidades

avaliadas, o que está além das possibilidades e do escopo desta tese. Vale enfatizar a extrema importância de um trabalho deste tipo para o bom entendimento do funcionamento do Judiciário brasileiro.