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5 ANÁLISE DE DADOS

5.2 Configuração atual do APL

5.2.1 A estrutura produtiva local

A pesquisa de campo realizada no APL de móveis de Marco identificou a existência de 20 (vinte) indústrias formalmente constituídas. Foram pesquisadas 14 (quatorze) indústrias, destas 13 (treze) são associadas à Associação dos Moveleiros de Marco – AMMA, das quais, 09 (nove) são micro (69%) e 04 são pequenas (31%). Foram pesquisados ainda, 05 produtores informais (pequenas marcenarias).

O setor produtivo de móveis do APL de Marco é composto por indústrias especializadas em móveis residenciais, onde os empresários procuraram diversificar entre si a fabricação do tipo de produto elaborado. A diversificação da produção possibilita que a concorrência entre as empresas seja bastante reduzida.

São produzidos no arranjo: estofados, salas de jantar, dormitórios e móveis para jardins, elaborados com madeira, fibras naturais, vidro, ferro e alumínio. Também são produzidos acessórios para móveis, tais como pés e bandejas para sofás, entre outros.

Um diferencial dos móveis produzidos em Marco é que as empresas trabalham com madeira maciça, agregando maior qualidade ao produto e tornando-o mais competitivo no mercado nacional. Conforme os empresários, o trabalho com madeira maciça não requer sofisticada tecnologia, porém é primordial a existência de pessoas qualificadas para executar o trabalho, que pode ser classificado como semi-artesanal, não se tratando, porém, de móveis rústicos, mas de produtos de boa qualidade, produzidos em série e que atendem os mercados mais exigentes.

Os empresários buscam “inspiração” para suas novas coleções em feiras e eventos do ramo, no Brasil e no exterior, bem como em revistas especializadas. No tocante à criação dos novos produtos, a via mais comum entre os integrantes do arranjo é a utilização do “projeto híbrido”, que está baseado na implementação de pequenas adaptações e ajustes nos modelos a serem elaborados, de acordo com o maquinário existente nas fábricas, utilizando a engenharia reversa, que consiste na desmontagem de produtos com o intuito de aprender como o mesmo é confeccionado.

Esta prática que hoje dá resultados, favorece a produção de produtos já consagrados no mercado, imputando-se como a principal alternativa de sobrevivência relacionada a design. Apesar de estar dando certo, este ponto é motivo de preocupação dos empresários, que almejam criar um centro de desenvolvimento de produtos, com acompanhamento de design e arquitetos renomados, focados na realidade do APL e com a finalidade de desenvolver móveis adequados a cada empresa do Pólo Moveleiro de Marco.

De acordo com Scipião (2004), a cópia de produtos configurou-se como uma fonte de aprendizado, pois introduzir numa linha de produção um produto inspirado a partir de modelos encontrados em revistas especializadas, feiras ou mostras do setor, demonstra que a empresa já adquiriu uma boa capacidade de inovação e a existência de um know-how no setor moveleiro. Entretanto, essa capacidade deve ser potencializada para que o arranjo passe a criar seus próprios modelos através de um design próprio, não se restringindo a somente elaborar cópias.

Uma via utilizada para inovação de produtos nos últimos anos em Marco, consiste no uso de novos materiais para compor o produto final. O MDF (Placa de fibra de madeira de média densidade) é o insumo mais difundido no setor, por permitir melhor maleabilidade no uso,

implicando em redução de desperdício de material. Apesar de ter um custo mais elevado que o aglomerado tradicional, com o uso do MDF as empresas passaram a ter uma redução nos custos de fabricação, já que muitas etapas do processo produtivo puderam ser dispensadas. Ademais, o MDF permite inovações no design.

O uso de novos materiais, como o MDF, está amplamente difundido no APL. Porém, sua utilização se restringe à fabricação de móveis retilíneos (como cômodas e guarda-roupas), por se tratar de um produto não resistente a elevado peso sobre ele, tornado-se inviável na fabricação de bases para cadeiras e mesas, por se tratar de produtos que devem ter uma maior resistência física. Mesmo assim, ele é utilizado em detalhes dos encostos de cadeiras proporcionando maior facilidade no manuseio evitando, assim, desperdício de material, se comparado à madeira sólida (SCIPIÃO, 2004).

Algumas empresas de Marco, produtoras de bens voltados para as classes média e popular, utilizam madeiras reflorestadas (pínus) na fabricação de móveis. Muitos são os benefícios dessa prática como, por exemplo, um menor custo da madeira, maior facilidade para secagem e corte, reduzindo algumas etapas de produção (SCIPIÃO, 2004).

No Arranjo também é comum a prática de subcontratação. As empresas de maior porte realizam contratos informais de produção com as firmas menores e com pequenos produtores informais. Estes, por sua vez, elaboram o produto semi-acabado para que a empresa contratante execute o trabalho final. Para tanto, o nível de exigência é alto, primando pela qualidade do produto. Geralmente são feitos contratos informais por lote de fabricação dos produtos. O contrato é fixado mediante a apresentação de um modelo, que deve ser seguido à risca pelo sub- contratado; caso contrário, as peças são rejeitadas, tendo o pequeno produtor que refazer a encomenda.

Em relação aos pequenos produtores informais, a pesquisa identificou a existência de, aproximadamente, 10 negócios informais (marcenarias), que empregam, em média, 03 (três) funcionários cada uma. Estes produtores, em geral, são ex-funcionários de outros pequenos negócios de móveis e das indústrias mais antigas existentes em Marco. Estão localizados, em sua maioria, na Sede do Município. Estas marcenarias fabricam móveis sob encomenda, reformas de

sofás, portas, entre outros e a maior parte da produção direciona-se ao atendimento de encomendas de consumidores finais do próprio Município.

Os principais concorrentes destes pequenos produtores são as próprias lojas de móveis do município, que facilitam o pagamento em até 10 (dez) parcelas, o que não pode ser praticado entre os pequenos. Esta é uma dificuldade de comercialização relatada pela maior parte dos produtores pesquisados, haja vista que os consumidores finais preferem comprar nas lojas a mandar fazer sob medida, pois as condições de pagamento, geralmente, não passam de 03 (três) parcelas.

Dois dos produtores informais pesquisados são terceirizados de indústrias do Arranjo, fornecendo base de mesas e acessórios, para sofás e mesas. Os produtores terceirizados negociam parte da matéria-prima com a própria empresa subcontratante e, geralmente, pagam em peças produzidas. Uma importante vantagem ressaltada pelos produtores terceirizados é a continuidade da produção, não havendo capacidade produtiva ociosa.

Outra vantagem identificada é a possibilidade que o pequeno produtor tem de comprar a matéria-prima por meio da empresa subcontratante, o que diminui o preço da mesma, tendo em vista a maior quantidade adquirida e o não pagamento de impostos sobre a mercadoria pelos pequenos. Estas vantagens demonstram relações de cooperação vertical entre as subcontratadas e as subcontratantes.

Apesar destas vantagens, percebeu-se uma resistência à terceirização entre aqueles pequenos negócios não terceirizados. Mesmo admitindo que sua produção para o consumidor final é intermitente, eles acreditam não ser interessante a via da terceirização, haja vista a margem de lucro ser menor. Ressalta-se que não foram observadas relações horizontais de cooperação entre estes pequenos produtores.