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2.3 Visão processual do capital social

2.3.2 A formação do capital social

Conforme Junqueira e Trez (2004), o capital social é constituído por componentes não visíveis no funcionamento cotidiano da sociedade, mas que começam a ser considerados na análise de programas de desenvolvimento em diversos países, a qual inclui elementos do campo cultural. O capital social e a cultura são considerados com base nas pessoas, famílias e grupos, onde estão presentes os conceitos de cooperação, confiança, identidade, comunidade e amizade. Segundo os autores, este tipo de capital tende a aumentar cada vez mais na medida em que é praticado e, por outro lado, tende a se esgotar se não for utilizado.

Capital social pode ser destacado, ainda, pelo acúmulo de experiências participativas e organizacionais ocorridas na base de uma comunidade ou sociedade e que reforçam os laços de solidariedade, cooperação e confiança das pessoas, grupos sociais e instituições (MELO NETO; FRÓES, 2002, apud BARROS; MOREIRA, 2005). Esses autores identificam seis fatores que constituem a base para a constituição do capital social. São eles: 1) participação social; 2) organização; 3) solidariedade social; 4) iniciativa; 5) cooperação; e 6) confiança. Em uma comunidade, a atuação conjunta de todos esses elementos é condição imprescindível para a existência do capital social e corresponde ao pilar de um novo modelo de desenvolvimento.

É na interação dos citados fatores que se consolida o capital social. Nesse intento, deve-se motivar a participação das pessoas nos grupos sociais que emergem das inter-relações, por meio do incremento de suas capacidades, competências e habilidades. Esses grupos atuarão como geradores de idéias e projetos, com foco nos objetivos comuns da comunidade e, possibilitarão, também, a formação de um elo entre as instituições, o governo e a comunidade para a criação de parcerias e constituição de uma coordenação local. Toda a de formação do capital social é semelhante a um ciclo que se alimenta continuamente e é feito com a participação e o envolvimento das pessoas nas ações comunitárias, as quais, por sua vez, desenvolvem cooperação, confiança e solidariedade social, elementos de um capital social fortalecido. (BARROS; MOREIRA, 2005, p. 5).

Um tema central do debate sobre capital social refere-se a sua gênese. Conforme Farias e Faria (2007), existem duas correntes distintas sobre a possibilidade de se estimular a formação do capital social. Alguns consideram que, por meio de iniciativas privadas ou públicas pode-se promover a participação, encorajar atividades comunitárias voluntárias e proporcionar condições socioeconômicas que promovam a inclusão social. Outra tendência considera o capital social fruto de padrões de longo prazo historicamente constituídos.

Para outros estudiosos como Durston (1999), é possível a criação de capital social com origem em de intervenções locais onde se promovam ações que permitam à comunidade criar laços de familiaridade e cooperação, resgate das normas e práticas sobre confiança e proteção das associações contra o clientelismo político ou econômico. Sob esse aspecto, são indutoras de capital social as políticas de desenvolvimento que estimulem a interação dos membros da

sociedade em suas organizações e a formação de redes e de padrões de convivência (FARIAS; FARIA, 2007).

Putnam defende o argumento de que o desenvolvimento de um Estado ou cidade está ligado a sua tradição (herança histórica). Este autor entende o capital social como conseqüência de um processo cultural de longo prazo, ou seja, acredita na evolução histórica do sistema político e na existência de pré-requisitos desenvolvimentistas que facilitam a instituição eficaz de políticas públicas (CREMONESE, 2006, p. 93).

Evans (1996, apud CREMONESE, 2006) procurou apresentar a alternativa neo- institucionalista à visão “culturalista” de Putnam, exemplificando que capital social pode ser desenvolvido sem, necessariamente, ter uma raiz histórica. Para ele, o capital social pode ser criado e defende o surgimento da autonomia institucional inserida no cotidiano da sociedade como sendo a fonte de utilização ótima de recursos disponíveis à coletividade. Segundo o autor, sem a intermediação direta do Estado os países em desenvolvimento não teriam qualquer possibilidade de industrialização.

Os teóricos Tocqueville (1977) e Coleman (1988), no entanto, já haviam afirmado que, quanto maior fosse a participação dos indivíduos em associações comunitárias, com a valorização das normas e regras democráticas, maior seria a contribuição positiva para o funcionamento e a consolidação da democracia. “É evidente, então, que a discussão entre Putnam e Evans certamente enriquece o debate, que continua inconcluso” (CREMONESE, 2006, p. 96).

Diferentemente de Putnam (1993), Bourdieu não atribui a formação do capital social a uma dependência de trajetória de uma dada comunidade ou região. Os valores culturais e as estruturas sociais herdadas não são determinantes para o capital social, uma vez que ele resulta de uma ação deliberada dos indivíduos, de um investimento social (BALESTRO, 2004, p.8).

Para Franco (2001), o ser humano é um ser social, que possui uma tendência ou propensão básica para cooperar, interpretada como uma predisposição para originar capital social. Por isso, quanto menos hierarquia e quanto menos autocracia incidirem numa coletividade humana, mais condições essa coletividade terá de se constituir como comunidade – produzindo, acumulando e reproduzindo capital social. Isto significa que somente uma atitude de autonomia

diante do poder, que seja materializada em formas não hierárquicas de relacionamento humano e somente uma atitude democrática diante da política, que seja correspondida por modos não autocráticos de regulação de conflitos, podem favorecer a manifestação do capital social (BRITO, 2006, p. 44).

Entende-se que o capital social deva ser melhor compreendido para poder ser, inclusive, ampliado. O incremento do capital social traz benefícios para as organizações em geral. Tais benefícios são amplamente relatados em inúmeros estudos e pesquisas, que tratam, direta ou indiretamente, do assunto. Entre os temas de pesquisa mais explorados, citam-se: i) cooperação e redução dos custos de transação e incremento da eficiência empresarial; ii) cooperação e melhoria da capacidade de produção e barganha, no segmento das micro e pequenas empresas; iii) cooperação e surgimento de cluster e territórios competitivos; iv) cooperação, superação da pobreza e desenvolvimento sustentável. Em todos eles existe uma preocupação com o tema da confiança mútua e do propósito compartilhado, capaz de deflagrar ação coletiva.