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De uma maneira geral, pode-se dizer que, hoje em dia, é amplamente aceito que as fontes locais da competitividade são importantes, tanto para o crescimento das firmas quanto para o aumento da sua capacidade inovativa. A idéia de aglomerações torna-se explicitamente associada ao conceito de competitividade e é no âmbito desse debate que se desenvolve esta seção.

Apresenta-se a literatura sobre arranjos produtivos locais, baseada no estudo das experiências de clusters e distritos industriais disseminadas por diferentes países e regiões. Baseados em redes de interação nas quais se conectam as empresas e os demais agentes econômicos, sociais e institucionais de uma cadeia de produção, esses arranjos vêm sendo colocados no centro de algumas políticas de promoção do desenvolvimento local.

3.2.1 Evolução histórica dos aglomerados produtivos

As associações entre regiões, aglomerações geográficas de empresas e competitividade são um tema presente e recorrente na literatura econômica desde o século XIX. Para Beccatini

(1989, apud SANTOS et al., 2007), o marco referencial é, normalmente atribuído aos estudos de Marshall. Ao estudar concentrações industriais nas cidades de Manchester e Sheffield, na Inglaterra, o autor observou que o desenvolvimento das áreas, chamadas por ele de "distritos industriais” era induzido por uma série de externalidades positivas. Ele observou que a presença concentrada de firmas em uma mesma região propiciava aos produtores vantagens competitivas que não seriam verificadas se estivessem atuando de forma isolada.

Para Marshall, naqueles distritos, havia uma “atmosfera industrial” que permitia a criação de negócios e favorecia o desenvolvimento das empresas em funcionamento. Essa atmosfera ensejava um conjunto de fatores intangíveis capazes de promover incrementos importantes na competitividade dessas aglomerações industriais. Estas “economias de aglomeração”, das quais as firmas individuais se beneficiam, emergiriam da especialização crescente da mão-de-obra, do acesso facilitado aos fornecedores de matérias-primas, insumos e serviços especializados, bem como da transmissão mais eficiente de conhecimentos e tecnologias, entre outros fatores. O distrito, desta forma, passa a ser uma entidade socioterritorial, natural e historicamente determinada, formada por uma comunidade de pessoas e um conjunto de empresas que interagem ao longo de suas trajetórias (BECCATTINI, 1989, apud SANTOS et al., 2007).

Conforme o SEBRAE (2004), a consolidação dos arranjos produtivos locais ocorreu a partir do colapso dodesenvolvimentismo brasileiro nos anos 1970 e 1980, em meio à crise do modelo fordista e à crise fiscal brasileira e suas conseqüências sobre o emprego, deixando pessoas sem opções de sobrevivência em postos de trabalho formais. Por sua iniciativa, com recursos próprios, sem crédito e sem orientação, essas pessoas começarama organizar pequenas unidades produtivas – a maioria delasestritamente familiares – desde uma pequena concentração setorial,aproveitando alguma oportunidade no seu entorno. Nasceramenfrentando duas décadas de crise, taxas médias de crescimento anual inferiores aos 2% ao ano.Nesse ambiente adverso, geraram estruturas e canais de distribuição os mais diversos e ocuparam mercado, mantendo sempre elevado grau de flexibilidade.

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A relevância dos estudos das aglomerações produtivas, no Brasil, ganhou fôlego com os estudos de economias industrializadas ou em via de desenvolvimento que superaram barreiras ao criar movimentos internos de aglomerações espaciais de indústrias com ligações entre si.

Considerados os diferentes estádios de desenvolvimento, os APLs estão presentes em todo o Território Nacional, nas grandes, médias e até mesmo pequenas cidades. Dentro de suas comunidades, envolvem grande número de pessoas, com proporção significativa da população economicamente ativa. Polarizam outras cidades, ensejando uma rede integrada com forte potencial de crescimento. Atacar seus pontos fracos, fomentar seus pontos positivos, perscrutar e explorar as oportunidades mercadológicas que se descortinam para eles significará implantar uma política de desenvolvimento interna, autônoma, baseada na capacidade de iniciativa dos agentes locais (SEBRAE, 2004).

3.2.2 Abordagens análogas

De acordo com o SEBRAE (2004), existe uma sobreposição entre os diferentes conceitos de “clusterização”, particularmente no que diz respeito às noções de Arranjos Produtivos Locais e distritos industriais, dificultando, assim, a diferenciação inequívoca desses conceitos. Muitos autores, por exemplo, referem-se aos APL’s de maneira indistinta, como cluster ou até mesmo distrito industrial.

As múltiplas definições de sistemas locais de produção, disponíveis na literatura especializada, têm em comum duas características básicas: a interação das firmas e a proximidade geográfica e/ou setorial entre as empresas. Os clusters diferem, ainda, em relação às características do setor dominante, da extensão da interdependência existente entre as firmas, da disponibilidade de suporte institucional e/ou governamental e do grau de associativismo (SEBRAE, 2004).

Convém observar, contudo, que clusters e distritos industriais são formas da organização produtiva cujas manifestações apresentam caráter histórico, resultante de entrelaçamento de ambiente econômico, de elementos culturais e de relações sociais particulares, ou seja, apresentando características associadas à história do território sob o qual se desenvolvem. Por isso, ao se estudar situações concretas, observa-se uma variedade de configurações, decorrentes da presença mais ou menos desenvolvida daqueles atributos – de tipo ideal – que informam a organização industrial (PANNICIA, 1998, apud COSTA; COSTA, 2005).

Assim, as noções de Arranjos Produtivos Locais, distritos industriais e clusters, aplicados a experiências de desenvolvimento econômico local, envolvem, em maior ou menor grau, concentração de pequenas e médias empresas, em um território geograficamente delimitado. Ademais, esses sistemas produtivos envolvem também especialização em um setor de atividade e/ ou em torno de uma profissão/produto e apóiam-se sobre uma extensa teia de relacionamentos (SEBRAE, 2004).

Com o intuito de facilitar o esclarecimento das distintas abordagens de aglomerados produtivos, são explorados a seguir, os distritos industriais e os cluster’s.

3.2.2.1 Distrito industrial

Os distritos industriais são sistemas locais de produção caracterizados pela existência de um conjunto de pequenas e médias empresas em torno de uma indústria dominante, onde as firmas, freqüentemente, se especializam em diferentes etapas do processo produtivo. Pertencentes, em geral, à comunidade local, essas empresas a ela se integram por meio de uma extensa teia de relacionamentos. Os distritos industriais caracterizam-se, ainda, pela existência de um fluxo de comércio substancial entre as empresas e pelo fato de as firmas partilharem diferentes serviços especializados, o mesmo mercado de trabalho e o estoque de conhecimento (SFORZI, 1992, 2002; MARKUSSEN, 1994, apud SEBRAE, 2007).

A inovação tecnológica é um elemento-chave no surgimento do que se convencionou chamar novos distritos industriais. Exemplos desse tipo de cluster regional são os distritos industriais italianos, que apresentam várias especificidades, dentre as quais se destaca a forte colaboração entre empresários, que se relacionam por meio de uma teia de relações informais.

De acordo com Amaral Filho et al. (2002), distrito industrial refere-se a um sistema produtivo local, caracterizado por um grande número de firmas envolvidas em vários estádios, e em diversas vias, na produção de um produto homogêneo. Um forte traço desse sistema é que uma grande parcela das empresas envolvidas é de pequeno ou muito pequeno porte.

Uma característica importante do distrito industrial, segundo Amaral Filho et al. (2002), é a sua concepção como um conjunto econômico e social. Pode-se falar que há estreita relação

entre as diferentes esferas social, política e econômica, com o funcionamento de uma dessas esferas moldado pelo funcionamento e organização de outras esferas. O sucesso dos distritos repousa não exatamente no econômico real, mas largamente no social e no político-institucional.

Beccatini (1999, apud BARROS; MOREIRA, 2005, p. 3), complementa, dizendo que essas concentrações produtivas apresentam algumas características singulares, tais como: 1) coexistência de concorrência e de solidariedade; 2) redução dos custos de transações do mercado local; 3) efervescência inovadora; 4) grande mobilidade dos postos de trabalho; e 5) cooperação para alcançar os objetivos econômicos.

De acordo com Barros e Moreira (2005), referidas características voltam-se para a eficácia dessas regiões e permitem a todos os membros do território, independentemente do seu posto de trabalho, participar do conjunto social de produção com o estímulo à constituição e consolidação de uma rede estável de conexões com os mercados finais, enquanto possibilitam impor uma imagem representativa do distrito. Como evidenciado nos citados estudos, a principal característica do distrito industrial italiano é ser um sistema econômico de produção com fortes vínculos sociais, identificados nas consistentes relações entre as esferas social, política e econômica, dentro do território.

Conforme observado nos parágrafos anteriores, pode-se destacar que os distritos industriais caracterizam se pela proximidade geográfica de firmas articuladas entre si e ligadas a uma empresa-âncora, e ainda por estreita relação social os agentes envolvidos. Ao relacionar os distritos industriais aos arranjos produtivos locais, pode-se destacar o fato de que há uma similaridade entre as abordagens, embora nestes últimos, nem sempre exista a empresa-âncora que direciona as atividades produtivas. A seguir, a abordagem de cluster será explorada.

3.2.2.2 Cluster

Ao apresentar uma convergência de conceitos, os estudos sobre as aglomerações produtivas do tipo clusters, de origem predominantemente anglo-saxônica, mostram a anuência dos pesquisadores quanto à importância dessas organizações para o desenvolvimento de empresas perante um exigente mercado externo e evidenciam um claro consenso e identidade com as tipologias de distrito industrial e de arranjos e sistemas produtivos locais. Ao conceituar cluster,

Schmitz e Nadvi (1999) o definem como uma concentração setorial e espacial de empresas conectadas com ênfase em fatores locais de competição e participação em mercados globalizados (BARROS e MOREIRA, 2005, p. 3).

Diferentemente, Porter (1998, apud AMARAL FILHO et al., 2002) identifica a estratégia de organização do tipo cluster como concentração geográfica e interconectada de empresas e instituições em um setor específico. Nessa definição, contudo, os aspectos ligados diretamente à comunidade local não são evidenciados, o que denota a prevalência da dimensão econômica nesse tipo de organização produtiva. Dela fazem parte fornecedores de componentes, equipamentos, serviços especializados, tecnologias e, ainda, instituições governamentais, de pesquisa e comerciais. Nessa concepção, a estratégia do cluster está mais próxima e prioriza a grande produção flexível e não propriamente a pequena produção flexível, organizada horizontalmente.

O SEBRAE (2004) define clusters como concentrações geográficas de empresas similares, relacionadas ou complementares, que atuam na mesma cadeia produtiva, auferindo vantagens de desempenho por meio da alocação e, eventualmente, da especialização. Essas empresas partilham, além da infra-estrutura, o mercado de trabalho especializado e confrontam-se com oportunidades e ameaças comuns.