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A Etnomatemática envolvendo a produção do leite

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 40-46)

Diante de recursos como a etnomatemática e na posição de professores de uma educação diferenciada, que é a Educação do Campo, precisamos conhecer profundamente essa nova perspectiva e nos adequar às necessidades dos educandos, fazendo com que eles se tornem sujeitos participativos e críticos. Esse novo jeito de construir o conhecimento deve ser cada vez mais desenvolvido em busca de uma educação de qualidade, sempre proporcionando uma formação totalitária que torne o aluno capaz de intervir e melhorar a sua vida cotidiana.

Partindo do pressuposto de que a etnomatemática procura entender o saber fazer matemática do cotidiano, relacionando-a com os conteúdos matemáticos da escola, tomamos essa perspectiva para abordar, em sala de aula, os conteúdos matemáticos presentes na produção leiteira.

A Etnomatemática está presente nos afazeres dos pequenos agricultores, embora muitas vezes eles não consigam avaliar o nível de conhecimento que detêm. Por isso, com base no referencial teórico, buscamos relacionar e demonstrar essa relação para alunos da educação de jovens e adultos, propondo a eles trazerem para a sala de aula seus conhecimentos, de forma que percebam que matemática se aprende também além da escola, pois diariamente a utilizamos em questões práticas. Nesse sentido, compreendemos que a etnomatemática não está desconectada da realidade e que podem ser trabalhados todos os conteúdos matemáticos adaptando-os às necessidades de cada educando.

A turma da educação de jovens e adultos em que foi desenvolvida a atividade é composta por alunos que vivem em pequenas propriedades e produzem para o seu sustento e de sua família, tendo como principal atividade de renda a produção leiteira. Mesmo vivendo no campo, não recebem uma qualificação voltada para a realidade e para as especificidades existentes no seu cotidiano.

A comunidade do Rio da Prata, no município de Nova Laranjeiras, na qual vivem os educandos que participaram desta pesquisa é, predominantemente, formada por pequenos agricultores que têm o leite como base para a sua fonte de renda. Por isso, surge a necessidade de relacionar esta atividade com conceitos matemáticos, visto que estamos apresentando a alunos de EJA, que, por algum motivo, não puderam frequentar a sala de aula em idade regular e que, segundo eles, nem imaginavam que suas atividades cotidianas, como a produção leiteira, poderia relacionar-se com a matemática da sala de aula.

Para tanto, foi solicitado, aos alunos, que trouxessem informações sobre o trabalho de produção de leite. Com a nota

fiscal de produtor trazida por eles, foi possível trabalhar os seguintes conteúdos: juros, porcentagem, impostos, valor do frete cobrado, valor do litro de leite, valor bruto da nota, desconto, valor líquido recebido, lucro, gasto etc. Com esses dados, foi elaborada uma vasta quantidade de atividades, dentre as quais mencionaremos uma que consideramos de maior aceitação pela turma. a) Levando em consideração as informações obtidas com a produção de leite no sítio do Sr. Vieira, elabore um gráfico de barras de acordo com a produção do primeiro semestre do ano. b) Quantos litros de leite foram produzidos, em média, por mês? Qual o valor recebido mensalmente pela venda do leite? Sabendo que 45% desse total é destinado às despesas com a produção, qual o lucro obtido?

O gráfico de barras abaixo mostra a produção de leite no Sítio do Sr. Vieira, no primeiro semestre do ano:

Figura 5: Produção de leite do sítio do Sr. Vieira, no primeiro semestre do ano

Fonte: <http://cleanlourenco.blogspot.com.br/2010/02/tratamento-da- informacao-atividade.html>

O trabalho realizado com a turma da EJA nos proporcionou demonstrar que, por meio de questões reais, podem-se criar modelos matemáticos. Além dos conteúdos

mencionados, podemos, com o mesmo tema, trabalhar áreas, perímetro, sistemas de equações, funções, matrizes, entre outros, sistematizando de forma que os alunos percebam a importância e a aplicação da matemática na vida do campo.

Considerações finais

Percebemos que a matemática tem mais sentido se partir de significados e explicações da experiência e da compreensão da realidade e seu ambiente, analisando aspectos econômicos sociais, culturais e políticos.

Cabe mencionar que os dados utilizados nas atividades são reais e retirados de notas fiscais dos produtores. Constatamos que isso despertou grande interesse por parte dos educandos em reconhecer e compreender que a matemática está presente no dia a dia e quão significativa é em suas vidas. Os resultados obtidos com esta aplicação foram satisfatórios, pois todos se envolveram e passaram a imaginar e a criar situações-problema envolvendo a pecuária leiteira. Mesmo atuando há muito tempo, os pequenos agricultores desconheciam toda a matemática contida na atividade que realizam. Por isso, percebemos as grandes contribuições que a etnomatemática traz para a sala de aula, possibilitando ao educador utilizar esses recursos e os conhecimentos empíricos dos educandos nas atividades escolares.

Isso demonstra a importância de partir daquilo que é peculiar ao educando para, então, chegar ao conhecimento formal, ou seja, o conhecimento da realidade deve ser o ponto de partida para que os alunos realizem as abstrações mais complexas. Nesse sentido, a compreensão, por parte dos professores, de trabalhar algo concreto, é um elemento fundamental no processo de aquisição do conhecimento, que leva os educandos a compreenderem a passagem dos conhecimentos práticos para os conhecimentos científicos. Com isso, eles passam a pensar na matemática não mais como um “bicho de sete cabeças”,

pois, segundo eles próprios, o conhecimento adquirido de forma contextualizada vai ser aplicado na propriedade, no desenvolvimento de suas atividades produtivas.

Referências

BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática, Ministério da Educação: Secretaria da Educação Fundamental, 1997.

BRINCANDO COM A MATEMÁTICA. Disponível em: <http:// cleanlourenco.blogspot.com.br/2010/02/tratamento-da- informacao-atividade.html> Acesso em: 10 nov. 2012.

D’AMBROSIO, U. Etnomatemática – elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

______. Etnomatemática – elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica 2001.

______. Etnomatemática – elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

MONTEIRO, A.; POMPEU JUNIOR, G. A matemática e os temas

transversais. São Paulo: Moderna, 2001.

VERGNAUD, G. A gênese dos campos conceituais. In: GROSSI, E.P. (Org.). Por que ainda há quem não aprende? Petrópolis: Vozes, 2003.

CAPÍTULO 3

F

eirade ciências agroecológica

:

Prática integradora entre escola e comunidade

Adilson Vagner de Matos9

Erika Elias do Nascimento10

Etison de Mello Alves11

Lourival de Miranda Godoi12

Este artigo apresenta a Feira de Ciências Agroecológica desenvolvida por um grupo de educandos do curso de Licenciatura em Educação do Campo – UNICENTRO, na Escola Itinerante Caminhos do Saber, localizada no Acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no município de Ortigueira-Pr. O trabalho foi realizado como atividade do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), envolvendo a participação de outros educadores, equipe pedagógica da escola e um coordenador da Articulação Por Uma Educação do Campo do Território Caminhos do Tibagi (ARTECA), juntamente com dois técnicos em agroecologia que moram no acampamento. Em relação aos educandos, as tarefas foram direcionadas para as turmas do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio.

No âmbito da Escola Itinerante, é latente a necessidade de se dar maior intencionalidade pedagógica a atividades como as feiras de ciências, no sentido de incorporar práticas que possibilitem inovações no cotidiano escolar, bem como melhorar

9 Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista do Projeto PIBID/Diversidade. 10 Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade

Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista do Projeto PIBID/Diversidade. 11 Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade

Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista do Projeto PIBID/Diversidade. 12 Graduando do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade

sua relação com a comunidade, tendo como mediadoras as discussões sobre a Agroecologia. Nesse sentido, a denominação “Feira de Ciências Agroecológica” contempla os interesses da escola e dos bolsistas do PIBID-Diversidade, em desenvolver uma atividade criativa, que envolva a comunidade escolar, motivando sua participação por meio da partilha de sementes crioulas, organizada em parceria com a ARTECA.

Considerando esses aspectos, ao elaborar o planejamento, optou-se por temáticas diretamente relacionadas à vida na comunidade, principalmente às questões de saúde ambiental e da Agroecologia como: reciclagem, tratamento águas cinza13, reprodução de mudas, sexualidade, tratamento

da água, energias renováveis, sementes crioulas e produção orgânica de hortaliças. Os trabalhos foram subsidiados por materiais como: Cartilhas da Jornada de Agroecologia, Projeto Político Pedagógico da escola, livros didáticos e autores como Caldart, Freitas, Rodrigues Bahniuk, Camini entre outros e artigos relacionados à construção das experiências.

A Feira de Ciências Agroecológica foi organizada no período de duas semanas em que os educandos prepararam as atividades a serem realizadas na data combinada: divisão das tarefas, estudo dos temas, confecção de utensílios, preparação e divulgação.Desse modo, este texto foi organizado da seguinte maneira: primeiro, elencamos alguns aspectos norteadores que justificam a necessidade de práticas inovadoras nas escolas do campo, em seguida descrevemos as atividades desenvolvidas e seus desdobramentos e, por fim, trazemos algumas considerações e reflexões sobre o trabalho.

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 40-46)