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Aportes teóricos e metodológicos

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 46-50)

Atualmente, vivenciamos um período de significativos avanços na democratização do acesso ao ensino em nosso país, no entanto, no que se refere à qualidade do ensino ainda nos encontramos em situação bastante precária, pois a escola ainda

carrega fortes traços da escola tecnicista a qual teve o seu papel social reduzido ao mero instrumento para qualificação da mão de obra, acarretando graves sequelas ao processo de ensino e aprendizagem (RODRIGUES, 2010, p. 181). Essa situação se agrava, ainda mais, nas escolas do campo, devido ao seu histórico de marginalização do acesso às políticas públicas para melhorar as estruturas físicas e as condições de trabalho dos professores. Soma-se a isso a alta rotatividade desses trabalhadores, além do característico distanciamento entre os conteúdos estudados e o contexto onde a escola esta inserida.

Diante dessas condições, Caldart (2012, p. 260) descreve que o MST, juntamente com outras organizações, tem incluído, em sua pauta de luta, desde 1987, quando se intensifica o movimento por uma educação do campo, algumas reivindicações pelo direito de se ter uma escola no lugar onde se vive, mas também, por um ensino de mais qualidade, que vise a uma formação mais integral do ser humano, a partir de elementos e situações de sua realidade, sem deixar de lado o conhecimento científico historicamente sistematizado, ou seja, uma escola construída pelo povo e não para o povo.

O gérmen dessa proposta começa a nascer com a conquista da Escola Itinerante, modalidade de

[...] escolas localizadas em acampamentos do Movi- mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) [...] Denominam-se itinerantes porque acompanham a luta pela Reforma Agrária, assegurando a escolarização dos trabalhadores do campo.[...] vêm responder à necessi- dade concreta de assegurar a escolarização das pessoas que vivem em acampamentos, inicialmente às crianças (BAHNIUK; CAMINI, 2011, p. 333).

Conforme as autoras citadas acima, a Escola Itinerante foi reconhecida legalmente no ano de 1996, no estado Rio Grande do Sul, devido às constantes pressões e reivindicações do MST.

Desse modo, o Movimento viu-se diante da tarefa histórica de exercitar uma prática pedagógica inovadora, mesmo tendo como ponto de partida uma escola precarizada, improvisada em barracos de lona, além de contar com a contribuição de educadores voluntários, os quais, que na maioria das vezes, não dispunham de formação suficiente para uma docência de qualidade. Assim, as reflexões expostas neste trabalho atentam para essa realidade, que é uma conquista histórica da classe trabalhadora, mas que, por outro lado, necessita-se consolidar e dar intencionalidade a uma prática docente coerente com a proposta de educação prevista no PPP da escola, que, também, são princípios do Movimento. São eles:

Educação para a transformação social; Educação para as várias dimensões do ser humano; Educação com para os valores humanistas e socialistas; Educação como um processo permanente de formação e transformação hu- mana; Relação teoria e prática; A realidade e a pesquisa como base da produção do conhecimento e dos tempos educativos; Organização dos tempos educativos através dos ciclos de formação humana; Conteúdos formativos socialmente úteis; Educação para o trabalho e pelo tra- balho; Educação para o trabalho e a cooperação; Vín- culo orgânico entre processos educativos e processos políticos, econômicos e culturais; Gestão democrática; Auto-organização dos educandos; Formação permanen- te dos educadores (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGI- CO, 2009, p. 23).

Recorrendo a esses princípios e, de acordo com nossas observações, esta escola precisa avançar muito para materializar os objetivos a que se propõe, principalmente na qualidade do ensino. Tendo em mente essas reflexões, a atividade da Feira de Ciências na Escola Itinerante Caminhos do Saber, mesmo não representando um evento muito impactante, buscou enfatizar os principais objetivos proposto pelo PPP da escola, por meio das práticas desenvolvidas. Na tentativa de problematizar a questão

do ensino, incentivar os educadores, além ser um momento de integração entre escola e comunidade.

Desse modo, para o planejamento inicial, foi realizada uma reunião na escola com a educadora responsável pela disciplina de Matemática nas turmas de Anos Finais e Ensino Médio e com a educadora de Ciências no Ensino Fundamental para definir a data, os objetivos, os temas e atividades. Todos os temas elencados vinham ao encontro de algumas das problemáticas atualmente vivenciadas no acampamento, sendo que alguns propunham discussões formativas acerca das situações elencadas e outros apontavam para possíveis soluções em cada caso.

Os temas foram escolhidos levando-se em consideração as características das turmas, direcionando os de maior grau de dificuldade de acordo com a faixa etária ou pelo ano de estudo, no intuito de proporcionar maior facilidade no desempenho das tarefas; por exemplo, no caso da construção do aquecedor solar, tema do 3º ano, e da sexualidade tema do 9º ano. Também levamos em consideração o fato de estas turmas estarem estudando esses conteúdos no momento em que a feira estava sendo pensada.

Após a elaboração, a proposta foi apresentada ao coletivo de educadores e à coordenação da escola que demonstraram aceitação e entusiasmo. Tendo essa aprovação, iniciou-se o trabalho com as turmas, sendo, inicialmente, organizado para garantir domínio teórico sobre o assunto, e garantir o máximo de veracidade nas informações repassadas para a comunidade. Nesse momento também se discutiu a necessidade de participação de toda a comunidade acampada e cada turma ficou responsável por fazer a apresentação em uma sala de aula ou em outro espaço, tendo que garantir a ornamentação e organização para abordagem do tema da forma mais clara possível.

No desenvolvimento dos trabalhos, inicialmente, houve a acolhida da comunidade, explicando a forma como a Feira de Ciências seria conduzida e o tema que havia sido proposto, discutindo os objetivos e a importância desse evento. A partir daí, o pessoal iniciou as visitas às salas onde foram expostas as

temáticas por meio de cartazes e demonstrações. Assim, para melhor compreensão das atividades realizadas, daqui em diante, o texto descreve uma a uma as práticas referidas.

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 46-50)