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Considerações finais

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 31-37)

A partir da experiência realizada com a turma da classe intermediária do 9º ano, foi possível constatar algumas conquistas no que tange à etnomatemática, dentre elas, a potencialidade para o trabalho com o conhecimento e, particularmente, com os conteúdos matemáticos, possibilitando aos educandos estabelecerem relação dos conteúdos com a realidade. Dessa forma, de sujeitos com uma consciência crítica, torna-se possível pôr em prática ações que visem à transformação social, contribuir para o fortalecimento da Educação do Campo.

Os conteúdos foram trabalhos de modo articulado, por meio de práticas concretas que permitiram melhor compreensão da realidade, desde o foco dos conteúdos até a relação teoria e prática. Por isso, a vinculação com a realidade, com as proble- máticas locais, articuladas com os conhecimentos científicos his- toricamente produzidos pela humanidade é de fundamental im- portância. Também que se adote a área do conhecimento como princípio metodológico para materializar a interdisciplinaridade, de forma que o educando possa compreender o estudo das ciên- cias da natureza e a matemática numa perspectiva totalizadora.

A Etnomatemática entende que, sem ligação com a realidade, os números se tornam um enigma quase impossível de ser decifrado, e o que é pior, acaba por reforçar a matemática como algo distante, sem utilidade. Não é raro ouvirmos o questionamento: para que serve tudo isso, em que vou usar?

Este trabalho nos propiciou a possibilidade de romper com a maneira pouco eficaz de tratar a disciplina, pois mostrou a Matemática como um instrumento para se compreender o mundo. Um desafio para nós, futuros educadores, é trazer para a sala de aula a Etnomatemática, que tenha significado e proximidade com os educandos, trazendo-os para possíveis discussões, e inserindo a comunidade de um modo geral; fazer com que os educandos sintam-se responsáveis pelo trabalho, tornando, assim, a matemática atrativa e significativa.

Em síntese, a Etnomatemática como instrumento, como uma dinâmica integrada nos saberes do contexto social dos educandos, oferece a possibilidade de se desenvolverem práticas diferenciadas no ensino da matemática. Cabe ao educador planejar, organizar e colocar em prática estas experiências, para que os educandos desenvolvam uma visão crítica. Entretanto, é imprescindível compreender o contexto onde os educandos e a escola estão inseridos, proposições essas fortemente trazidas pela materialidade de origem da educação do campo. De fato, este instrumento poderá potencializar as ações do coletivo dos profissionais da Escola do Campo, especialmente aqueles

vinculados à área de conhecimento da matemática. Além disso, deve-se assumir o compromisso de valorizar os conhecimentos e a cultura dos povos camponeses e a luta pelo acesso ao conhecimento científico, vinculada à luta pela transformação social.

Referências

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Disponível em: <http://etnomatem.blogspot.com.br/2009/10/ artigo-sobre-etnomatematica.html> Acesso em: 26 nov. 2012.

CAPÍTULO 2

a e

tnomatemáticanaProduçãodeleite

:

umaexPriência na educação básica nomuníciPio de

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aranjeiras Andréia Demenech6

Sirlei Olkoski7

Juliana Giboski8

O ensino da matemática no Brasil vem sendo caracterizado por dificuldades apresentadas, não só em relação ao entendimento dos alunos, como também, por parte dos professores, em se trabalhar em sala de aula de uma forma que desperte o interesse dos alunos, facilitando o processo de ensino aprendizagem.

Com vistas a contribuir para o processo de ensino, este trabalho tem por objetivo analisar as inter-relações existentes entre o conhecimento escolar e o conhecimento popular, buscando compreender a relevância dos conteúdos matemáticos estudados em sala de aula, pelos alunos da Educação de Jovens e Adultos.

O trabalho foi realizado com uma turma de Educação de Jovens e Adultos, em uma escola rural do município de Nova Laranjeiras, Paraná. Os educandos residem nas proximidades da escola, sendo, na sua maioria, pequenos agricultores que têm como principal fonte de renda a produção leiteira e pequenas lavouras de milho e feijão. Vale ressaltar que os mesmos são

6 Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista do Projeto PIBID/Diversidade. 7 Graduanda do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade

Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). Bolsista do Projeto PIBID/Diversidade. 8 Professora Especialista do Departamento de Matemática da Universidade

adultos que, por sua condição social, foram excluídos do processo educativo quando crianças e que, ao retornar à escola, precisam estabelecer uma relação ainda mais forte entre o que aprendem em sala de aula e suas vivências, a fim de que percebam relevância em estudar.

Os alunos da Educação de Jovens e Adultos, em sua grande maioria, são trabalhadores do campo que, no turno da noite, frequentam a escola em busca de novos conhecimentos. São pessoas de diferentes idades, lutadoras, que vivem com responsabilidades sociais e familiares, cada um com seus valores formados a partir das experiências de vida e da realidade na qual estão inseridos.

Essas pessoas que, por algum motivo, não frequentaram a escola em idade adequada, estabelecem barreiras em relação à volta à sala de aula. Dessa forma, é imprescindível que o ensino valorize a história de cada um, por meio do reconhecimento e respeito às suas raízes culturais.

Dentre os limites de escolarização dos alunos da educação de jovens e adultos, está a falta de vínculo dos temas abordados em sala de aula com a realidade, pois os educandos constantemente afirmam que não veem necessidade de aprender determinados conteúdos, porque não os usariam “na roça”. Esse é um problema que vem sendo apontado, na realidade atual, como uma das causas de desistência, não apenas na Educação de Jovens e Adultos, mas em todo o sistema de ensino, principalmente na disciplina de matemática, que é ensinada nos bancos escolares de forma abstrata e sem significado para os educandos.

Diante desse contexto, a etnomatemática surge como uma alternativa para superar a matemática imposta com suas regras e sem considerar a cultura dos indivíduos, apresentando- se como uma possibilidade de aproximação entre os eixos instituídos pelos saberes matemáticos escolares e as práticas cotidianas vivenciadas pelos alunos.

No documento Práticas de Iniciação à Docência (páginas 31-37)