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A evolução do desempenho desportivo dos nadadores na perspetiva do treinador

A necessidade de realizar um estudo com estas características foi importante para a compreensão do tipo de amostra utilizada no estudo geral, como também entender a evolução do nadador ao longo do seu percurso desportivo.

Este estudo pretende conhecer e compreender a influência da variável “anos de competição” no desempenho desportivo, e entender as fases críticas de desempenho desportivo nos nadadores nacionais, na perspetiva dos seus treinadores.

“O pensamento complexo integra o mais possível os modos simplificadores de pensar, mas recusa as consequências mutiladoras, redutoras, unidimensionais e, finalmente, ilusórias de uma simplificação que se toma pelo reflexo do que há na realidade”.

(Morin, 1991) O desempenho desportivo ao longo da carreira de um atleta não é uma linha contínua, sofre alterações ao longo da vida, em que se verificam avanços e retrocessos. A obtenção dos melhores resultados dos atletas verifica-se num determinado período competitivo (Zakharov, 1992; Platonov, 1994; Weineck, 1999; Matvéiev, 1991; Marques, 1991). Os estudos e as referências sobre a forma como evoluiu o atleta ao longo da carreira desportiva são escassos. No entanto, verificamos que os melhores resultados desportivos encontram-se em idades compreendidas entre os 20 e 23 anos, e mantém um percurso desportivo competitivo até aos 30 e 35 anos. Estas têm sido as médias de idades verificadas nas últimas décadas no desempenho desportivo (Junior, Popov & Bulgakova, 2007; Barbosa et al., 2012). Na Natação Pura Desportiva os melhores resultados poder-se-ão verificar em faixas etárias mais baixas das anteriormente referidas (Zakharov, 1992). Os resultados de alto nível vão dependendo cada vez mais do que se fez na formação e nos últimos anos desportivos.

A modalidade da Natação Pura Desportiva (NPD) é uma modalidade desportiva em que o indivíduo quase sempre atua sozinho, num espaço delimitado, de modo que o seu

todos os desportos a melhoria da capacidade do rendimento, só é possível através de um treino efetivo. No rendimento desportivo intervém uma grande variedade de variáveis (psicológicas, fisiológicas, acompanhamento técnico e social) que vão reforçando ou degradando esses resultados (Navarro & Arsenio, 1999; Barbosa et al., 2012).

O indivíduo expert é aquele que realiza uma tarefa de forma superior, realiza a essência da especialidade no seu domínio (Ericsson, 2014; Cocks, Moulton, Luu, & Cil, 2014). No oposto, encontramos o novato que inicia a especialidade com imensas lacunas. O ser humano é limitado na recepção de estímulos (Alves, 2004a), o sujeito só consegue tomar total atenção a um estímulo de cada vez, assim, são necessárias estratégias para minimizar estas lacunas, como a automatização, a execução e a antecipação de decisões de movimentos (Rowe, Horswil, Kronvall-Parkinson, Poulter, & McKenna, 2009; Bassement, Garnier, Goss-Sampson, Watelain, & Lepoutre, 2010) que relativizam esta limitação. Segundo Zoudji, Thon e Debu (2010) os atletas expert beneficiam da prática de habilidades mentais para tratar de informações específica na memória de trabalho, em momentos com restrições de tempo, tais como as representações mentais de procedimento aumentam com os atletas mais experientes (Gygax, Wagner-Egger, Parris, Seiler, & Hauert 2008). Os atletas expert têm melhor desempenho desportivo que os atletas com menos experiência, verificando-se diferenças significativas nas várias variáveis do jogo (Blomqvist, Luhtanen & Laakso, 2000; Bassement et al, 2010) e na diferenciação de movimentos (Authier, Lortie, & Gagnon, 1996). Quando surgem tarefas em simultâneo, os atletas experientes, na segunda tarefa têm menos interferências que os atletas inexperientes dado que perderam menos tempo na primeira tarefa, assim o seu desempenho será menos afetado (Jakson & Mogan, 2007; Zoudji et al, 2010), Os expert conhecem melhor as regras de prova, do que os mais jovens realizando menos transgressões (Blomqvist et al., 2000). Uma comparação detalhada entre os jogadores que são bem-sucedidos e aqueles que são menos bem-sucedidos num teste de habilidade de tomada de decisão podem revelar diferenças subtis no comportamento de percepção visual que permanecem obscuras (Vaeyens, Lenoir, Williams, & Philippaerts, 2007) ou grandes diferenças na utilização de estratégias tal como verificar o que é importante reter para um melhor desempenho (Jarodzak, Scheiter, Gerjets, & Van Gog, 2010). Um estudo realizado por Jackson, Warren e Abernethy (2006) revelou que os especialistas antecipavam as intenções dos adversários, apesar de existirem simulacros nos movimentos.

Ao longo da carreira desportiva, verifica-se que a evolução dos resultados é maior no início da prática desportiva do que ao longo da carreira desportiva (Zakharov, 1992). Num estudo que Dormehl, Robertson e Willianson (2016) realizaram ao longo de seis anos com nadadores verificaram que os melhores desempenhos ocorreram nas idades de 18 e 19 anos, tal como noutro estudo realizado com nadadores portugueses de crol, em que se verificaram grandes melhorias no desempenho desportivo entre os 12 e 18 anos de idade (Costa, Marinho, Bragada, Silva, & Barbosa, 2011). Ericsson (2014) refere que muitas vezes a diferença entre atletas de elite e não elite não estará na quantidade de horas de treino que cada um treina mas na forma como são utilizadas essas horas.

Neste contexto, percebemos que os melhores resultados poderão aparecer numa fase mais avançada da carreira desportiva, assim surge a hipótese que a evolução e o melhor desempenho poder-se-á realizar em indivíduos com mais experiência mas mais novos dado que a modalidade da natação tem resultados precoces.

O estudo tem como objetivo definir os momentos de evolução dos nadadores, identificar momentos críticos ao longo da carreira desportiva, bem como entender a forma como evolui o indivíduo ao longo da sua carreira desportiva. De acordo com os objetivos foi necessário desenvolver e validar um instrumento que analisasse os comportamentos dos nadadores na perspetiva dos treinadores, de acordo com os desportos onde se desenvolve uma metodologia observacional para uma compreensão mais profunda da realidade que se desenvolve no contexto desportivo (Santos et al., 2014). Desta forma, pretendemos estudar o comportamento dos nadadores ao longo da carreira desportiva.

Métodos Amostra

Participaram 33 treinadores (88,9% - Homens; 11,1% - Mulheres) dos Campeonatos Nacionais de Natação (juniores e seniores) de uma época desportiva. A média de idades é de 39,81 anos (DP=8,39). Com uma presença média na modalidade de 21,88 anos (DP=9,88) e exercendo a função de treinador há mais de 5 anos (90,9%). As habilitações académicas variam entre o 9º ano e o doutoramento, e possuem cédula de treinador do 2º ao 4º nível, passada pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude, IP.

Tabela 1 – Caracterização da amostra de treinadores

Nível académico Nível técnico Anos na modalidade

1- 6º ano - 1-1º nível 1 – 0 a 2 anos

2- 9º ano 5% 2-2º nível 60% 2 – 2 a 5 anos 9,5%

3- 12º ano 18% 3-3º nível 22% 3 – 5 a mais anos 90,5%

4- Bacharelato 9% 4-4º nível 18%

5- Licenciatura 45% 5-5º nível

6- Mestrado 18%

7- Doutoramento 5%

Instrumento

Procedemos à construção de um instrumento de medida para aferir os momentos críticos da evolução do desempenho de rendimento dos nadadores. A construção do instrumento fez-se da seguinte forma: a listagem de todas as variáveis possíveis numa versão piloto por um grupo de três peritos, o estabelecimento do número de perguntas para medir cada uma das variáveis, verificação da sua sintonia relativamente aos objetivos e hipóteses de pesquisa, a descrição das instruções associadas a cada pergunta, o planeamento das secções ou dimensões do questionário (Hill & Hill, 2005). A validação do instrumento fez-se com uma aplicação piloto, seguido de uma avaliação de peritos, verificando-se a concordância entre os peritos e a aplicação piloto, a objetividade do instrumento, a validade (aparente, conteúdo, prática, construção), a sua fiabilidade e a verificação da sua finalidade e da sua estrutura (dimensões de variáveis).

O questionário não pode existir sem o apoio e a interrogação acerca dos fundamentos teóricos e da validade dos métodos que permita estabelecer um perfil de resultados que sintetiza as tendências expressas daquele que responde (Bernaud, 1998). Todo o procedimento pretendeu comprovar o grau de cobertura do instrumento e dos construtos subjacentes, determinando por este meio se as dimensões descrevem eficazmente o pretendido (Santos et al., 2014). A validação final do instrumento foi realizada com a sua aplicação na amostra definida

Assim, elaboramos um questionário que pretende aferir, conhecer e registar a evolução do melhor desempenho dos nadadores e conhecer os momentos críticos da carreira desportiva (Anexo B-1).

O questionário é composto por 7 questões, das quais três são de resposta aberta e as restantes com escala de tipo Likert (de 1 a 5). As questões são:

- Como analisa a evolução dos nadadores ao longo das suas carreiras desportivas? - Qual a importância que atribui aos resultados nas competições dos mais jovens?

- A percentagem nos escalões ou escalão onde é maior a evolução desportiva do nadador?

- Ao fim de quantos anos de competição se regista a maior evolução do desempenho do nadador?

- Qual é a importância dos resultados desportivos na evolução do nadador? - Existem momentos críticos na carreira desportiva do nadador? Quais são?

- A obtenção de resultados excelentes no início da carreira desportiva do nadador poderá constituir um handicap para a sua progressão desportiva? Porquê?

Procedimentos

Os questionários foram distribuídos aos treinadores presentes no Campeonato Nacional Absoluto. Foi referido o âmbito e o objetivo do questionário, a importância do estudo e solicitado a sua participação.

Por parte do investigador, foi sempre demonstrado disponibilidade, para prestar qualquer esclarecimento. No final do preenchimento foram recolhidos os questionários.

Procedimentos estatísticos

Na análise estatística foram realizadas as médias e a análise descritiva das frequências. Das questões de resposta aberta foi realizada uma avaliação qualitativa dos dados obtidos, como foram analisados de forma indutiva e dedutiva.

Apresentação dos resultados

Ao observarmos a tabela 2, verificou-se que a maioria dos treinadores respondeu que a evolução dos nadadores acontece em diferentes níveis (63,6%) outros afirmaram que é contínua (36,4%). Contudo ao observamos a tabela 3, verificamos que se verifica uma

do total de respostas, onde se verifica uma evolução do desempenho desportivo, tal como verificamos que entre 5 a 8 anos de prática (Tabela 3 – 45,5%) se verificam maiores índices de desempenho desportivo, indo de encontro à resposta dos treinadores (63,5%) que a evolução será de diferentes níveis, dado que grande parte deles reflete que a transição para a faculdade é um marco importante na vida dos nadadores (e que grande parte dos nadadores cessa a sua atividade aquática).

Tabela 2 - Evolução e fatores de influência da carreira dos nadadores de NPD

Evolução dos nadadores ao longo da carreira % Importância dos resultados na carreira %

1-continua 36,4 1-muita 9,1

2-diferentes níveis 63,6 2-razoável 60,6

3-constante 0,0 3-pouca 30,3

4-nenhuma 0,0

De acordo com a maioria dos treinadores com nadadores nos campeonatos nacionais, o escalão onde se verifica o melhor desempenho será em Juvenil ou ao fim de 5 a 8 anos de competição, tal como os resultados de um estudo realizado por Costa e colegas (2011) que revelam que há grandes melhorias de desempenho em nadadores com idades compreendidas entre os 12 e 18 anos. Contudo, alguns treinadores referem que as melhorias desportivas vão-se verificando ao longo da carreira desportiva. Ao contrário de outros autores que referem que as melhores evoluções acontecem em determinados momentos da carreira desportiva (Junior et al., 2007), sendo também referido, pelo grupo de treinadores que um dos momentos críticos da carreira do nadador é a passagem para a faculdade, dado as respectivas solicitações acrescidas.

Assim se compreende a indicação do escalão de juvenil ou até os 5 a 8 anos de prática desportiva com a obtenção de melhores desempenhos desportivos.

Tabela 3 - Momentos críticos de evolução no desempenho desportivo dos nadadores Escalões onde se verifica maior

evolução no desempenho desportivo

Ao fim de quantos anos se verifica a maior evolução no desempenho desportivo

1- Cadete 30,3 1- Até 2 anos 0,0

2-Infantil 24,2 2- 2 a 5 anos 27,3

3-Juvenil 36,4 3- 5 a 8 anos 45,5

4-Júnior 3,0 4- Mais de 8 anos 27,3

5-Sénior 6,1

Ao analisarmos os dados das questões de resposta de cariz aberto:

- Qual é a importância dos resultados desportivos na evolução do nadador? Verificamos que os treinadores dão importância aos resultados na evolução do desempenho desportivo dos nadadores, mas referem principalmente como fator de influência os

fatores psicológicos como de grande relevo, para a obtenção de resultados desportivos e de evolução do nadador. A importância dos fatores psicológicos, tal como dos fatores emocionais torna-se relevante no desempenho desportivo (Dias, Côrte-Real, Cruz, & Fonseca, 2013; Neil, Hanton, Mellalieu, & Fletcher, 2011) aumentando os estados motivacionais (So, Kuang, & Cho, 2016) e aumentando o bem-estar emocional (Reina, & Oliva, 2015) dos atletas, potenciando o desempenho.

O facto de surgirem resultados prematuros inseridos num contexto inadequado, com pouco suporte social, familiar e desportivo poderá levar estes vários elementos, como fatores debilitativos e restritivos do nadador gerando conflitos emocionais.

- Existem momentos críticos na carreira desportiva do nadador? Quais são? Constatamos que a grande maioria dos treinadores da nossa amostra indicam a existência de momentos críticos na carreira desportiva dos nadadores. Em que os grandes factores de influência serão a passagem dos escalões (a passagem para o escalão sénior) e a maturação relacionada com os aspectos psicofisiológicos. A evolução de resultados sendo maiores nos escalões mais baixos ou com poucos anos de competição reforça a importância dos aspetos psicológicos, para manter os nadadores numa modalidade de tanta exigência, com uma motivação acrescida e constante. As variáveis pessoais e situacionais que poderão moderar as experiências emocionais, afectando assim a relação entre as emoções e o desempenho (Dias et al., 2013).

- A obtenção de resultados excelentes no início da carreira desportiva do nadador poderá constituir um handicap para a sua progressão desportiva? Porquê? Os treinadores, maioritariamente referiram que a obtenção de excelentes resultados no início de carreira desportiva poderá ser um problema, quando não existe um plano de carreira adequado, ou quando não existe uma evolução adequada e sustentada e se acelera indevidamente o processo de treino. O que poderá favorecer e provocar frustrações em idades mais avançadas dos nadadores.

Os dados observados confirmam que os resultados desportivos importantes vão-se verificando ao longo da carreira desportiva, havendo maior impacto em determinados momentos da vida de cada nadador, é relevante constatar-se que a importância dos resultados desportivos na evolução do nadador incide nos fatores psicológicos (segundo os treinadores).

Contudo teremos de ter em conta aspetos sociais e motivacionais que também irão sustentar a carreira desportiva do nadador.

Discussão

O objetivo do estudo foi analisar e avaliar as variáveis que ocorrem ao longo da carreira desportiva dos nadadores e dos seus desempenhos desportivos, na perspetiva do treinador. A satisfação da carreira desportiva e a consecução dos respetivos objetivos desportivos sobrepõem-se a muitos fatores da vida pessoal do atleta, contudo gere-se um equilíbrio entre as várias partes, mas por vezes, surgem conflitos que dificultam certas adaptações pessoais (Debois, Aurélie, Argiolas & Rosnet, 2012). A transição do ensino secundário para a universidade pode originar um aumento das expectativas académicas, que podem ser postas em causa pelo aumento das intensidades de treino, e outras possíveis solicitações que surgem com esta nova etapa dos jovens e que serão um momento crítico para a sua evolução como nadadores. Todos estes fatores fazem parte de um conjunto relevante, para que os atletas possam obter desempenhos de excelência (Celestino, Leitão, Sarmento, Routen & Pereira, 2015). Assim são vários os fatores apontados para a evolução do desempenho desportivo, tais como: os resultados desportivos significativos, o compromisso com a carreira, a complementaridade desportiva com os estudos, os pais, o treinador e os fatores psicológicos entre outros (Barbosa et al., 2012; Dubois, Ledon & Wylleman, 2014) Estes fatores tornam-se um suporte social importante, no seu desenvolvimento pessoal e desportivo, bem como noutras transições que ocorrem ao longo da vida (Stambulova, Engstrom, Franck, Linnér & Lindahl, 2014).

Há uma necessidade de ter uma perspectiva de desenvolvimento holístico da carreira desportiva do atleta, para uma visão detalhada sobre a transição dos momentos críticos da carreira desportiva do atleta. Enfatiza-se a importância dos treinadores criarem ambientes positivos, tanto nos treinos como nas provas, para que os atletas possam disfrutar de experiências positivas em contexto desportivo (Cantú-Berrueto, Castillo, López-Walle, Tristán & Ballaguer, 2016). Contudo é preciso entender e ter em conta as diferenças individuais com as próprias necessidades dos atletas de elite (Dubois et al., 2014), como as transições dentro e fora da modalidade desportiva (Henriksen & Mortensen, 2014), e numa modalidade como a Natação Pura Desportiva (Dormehl et al, 2016).

O treinador deverá ter um cuidado acrescido no planeamento com vista à progressão de rendimento ao longo da Carreira Desportiva do nadador (Raposo, 2002), devendo ter não só um conhecimento do treino mas também um conhecimento psicofisiológico e social de cada sujeito, tendo sempre em atenção a individualidade de cada um, de acordo com os períodos de treinabilidade e os períodos críticos da Carreira Desportiva do nadador.

Considerações

A compreensão dos momentos de evolução do atleta tornar-se-ão benéficos na aplicação ou não de determinada metodologia para a eficiência do treino e “per si” do desempenho desportivo.

Recomendamos que desde cedo, se trabalhe não só os aspetos técnicos da modalidade como os aspetos psicológicos, e se deve ensinar aos nadadores estratégias psicológicas, bem como estratégias de controlo emocional para que possam manter uma carreira desportiva consistente, contínua e deste modo fazer as transições adequadas ao longo da sua vida desportiva e pessoal, reforçando domínios simultâneos de desenvolvimento da vida.

Anexo B - 1