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As emoções como fator de modelação no desempenho desportivo

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Academic year: 2021

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As emoções como fator de modelação no desempenho

desportivo

Tese de Doutoramento em Ciências do Desporto

(Área da Psicologia do Desporto)

Sebastião Ferreira dos Santos

Orientador: Professor Doutor José Augusto Marinho Alves

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Agradecimentos

Este longo caminho contou com a colaboração e o apoio de um conjunto de pessoas, bem como de algumas instituições.

A começar pelo meu orientador, Professor José Alves que nunca se esqueceu e desistiu de mim, pelo seu acompanhamento, pelas críticas construtivas e o seu rigor cientifíco. Aos amigos Ricardo e Daniel pelas suas preciosas ajudas.

Ao Marques pela sua total disponibilidade, colaboração e ao Clube Naútico Académico de Coimbra por acreditarem neste projeto.

A todos os nadadores e técnicos que colaboraram e participaram nos estudos. Aos co-autores dos artigos produzidos e publicados.

A todos aqueles que me ajudaram e me apoiaram neste longo processo, e principalmente às preciosas “ilhas” que vamos encontrando neste grande oceano que é a nossa vida. Finalmente e não menos importante, aos que me acompanharam até ao fim, ao Cris, filho, amigo e companheiro de viagem, à Ana e à Sandra pela moldagem deste produto final.

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Resumo

A investigação científica do século XXI debruçar-se-á sobre o cérebro, como a grande viagem das descobertas. As emoções são a génese do ser humano e são encarnadas como fatores de influência no desempenho desportivo. Os relatos dos agentes desportivos revelam-nos, que muitas vezes, as emoções são o catalisador de rendimentos medíocres, de falhas que geram pesares, a desempenhos fabulosos que marcam a vida.

O contexto do desporto gere um conjunto de emoções que influencia o desempenho como um construto pessoal que se interliga num crescimento constante. O papel das emoções no desporto não se restringe a uma ou outra emoção mais estudada, mas sim, a um vasto leque de emoções que poderá ter influência na investigação da Psicologia do Desporto.

O trabalho apresentado nesta dissertação teve como objetivo identificar e avaliar as emoções que ocorrem durante o desempenho desportivo. E ainda definir, elaborar, aplicar e avaliar um programa de controlo emocional que potenciasse o desempenho desportivo, numa época desportiva em nadadores de Natação Pura Desportiva.

Cinquenta e dois nadadores juvenis, juniores e seniores foram avaliados inicialmente e divididos aleatoriamente num grupo de controlo (N=25) e experimental (Experimental 1 – N=19) para além deste grupo foi definido um segundo grupo experimental (Experimental 2 – N=8), mas com menos tempo de experiência de competição.

Os nadadores do grupo experimental participaram num programa de treino de vinte e três semanas com a aplicação de um Programa de Controlo Emocional (PCE). Todos os nadadores da amostra realizaram o mesmo tipo de treino. No início e no final do programa foram avaliados todos os nadadores (grupo de controlo e grupo experimental). Os resultados revelam que os nadadores da amostra, no segundo momento de avaliação após aplicação do Programa Controlo Emocional (PCE) obtiveram resultados estatisticamente significativos nas emoções na dimensão da Intensidade da Zanga, na dimensão da Influência da Ansiedade e na dimensão da Influência do Amor. Os resultados também indicaram um aumento dos valores da Autoconfiança e uma redução

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Verificou-se que o Grupo Experimental obteve melhores desempenhos no seu rendimento desportivo.

Concluímos que após aplicação do Programa de Controlo Emocional nesta amostra de indivíduos, o PCE pode ser determinante na organização, ordenação e equilíbrio das emoções nos jovens, provocando melhorias no seu desempenho desportivo.

Palavras-chave: Controlo Emocional; Desempenho Desportivo; Emoções; Natação

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Abstract

Scientific research of the XXI century will look into the brain, as the great journey of discovery. Emotions are the genesis of the human being and are embodied as influencing factors in sports performance. Reports of sports agents show us that often, emotions are the catalyst for poor returns, failures that generate regrets the fabulous performances that mark life.

The sports context manages a set of emotions that influence the performance as a personal construct that interconnects in a constant growth. The role of emotions in sport is not restricted to one or more other studied emotion, but rather a wide range of emotions that may have influence on research in Sport Psychology.

The work presented in this thesis aimed to identify and assess the emotions that occur during sports performance. And further define, develop, implement and evaluate an emotional control program potenciasse sports performance, a sports season in swimmers. Fifty-two youth swimmers, juniors and seniors were evaluated initially and randomly divided into a control group (N = 25) and experimental (Experimental 1 - N = 19) in addition to this group has defined a second experimental group (Experimental 2 - N = 8) but less time competition experiment.

The experimental group of swimmers participated in a training program twenty-three weeks with the application of a Emotional Control Program (PCE). All sample kindly performed the same type of training. At the beginning and end of the program were evaluated all swimmers (control group and experimental group).

We assess that the swimmers of the sample, the second assessment after application of Emotional Control Program (PCE) had statistically significant results in the emotions of the Intensity of Zanga, the Influence of Anxiety and the Influence of Love. The results also indicated an increase in the values ​ ​ of Self-confidence and a reduction in the Cognitive Anxiety values ​ ​ in the experimental group (experimental group 1 and 2). It was found that the experimental group achieved better performances in sport performance.

We conclude that after application of Emotional Control Programme in this sample of individuals, the PCE can be crucial in organizing, sorting and balance of emotions in young people, leading to improvements in their sports performance.

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Trabalho produzido relacionado com a Tese de doutoramento: Artigos para submissão

Santos, S., & Alves, J. (2017). A Dinâmica de um Programa de Controlo Emocional na Competição. Submetido à revista Medi@çoes.

Santos, S., & Alves, J. (2016). As diferenças de género e de idade na comparação das emoções no papel da auto-regulação do desempenho. Submetido à revista Revista Brasileira de Educação Física e Esporte.

Santos, S., & Alves, J. (2016). O enquadramento e as diferenças de género, nas emoções relevantes em competição de jovens nadadores. Submetido à revista Revista Brasileira Ciências do Esporte.

Santos, S., & Alves, J. (2016). A evolução do desempenho desportivo do nadador na perspetiva do treinador. Submetido à revista Gymnasium.

Santos, S., & Alves, J. (2016). A influência de um Programa de Controlo Emocional na Ansiedade competitiva e no desempenho desportivo de jovens. Submetido à revista Revista Iberoamericana de Psicología del Ejercicio y el Deporte.

Santos, S., Sarmento, H., Alves, J. & Campaniço, J. (2014). Construcción de un instrumento para la observación y el análises de las interacciones en el waterpolo. Revista de Psicología del Deporte, 23(1), 191-200.

Poster em Congresso Científico

Santos, S., & Alves, J. (2015). As relações de Influência e de Intensidade das emoções no desempenho desportivo. XVI Jornadas da Sociedade Portuguesa de Portuguesa do Desporto, Guarda, 6 e 7 de novembro de 2015. Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto.

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Publicação em Atas de Congresso Científico

Santos, S., & Alves, J. (2016). Evolução do desempenho desportivo na perspetiva do treinador. Atas do XXXIX Congresso Técnico Científico da Associação Portuguesa Técnicos de Natação, Setúbal, 23 e 24 de abril de 2016. Associação Portuguesa dos Técnicos de Natação.

Santos, S., & Alves, J. (2016). A Dinâmica de um Programa de Controlo Emocional na Competição. XVII Jornadas da Sociedade Portuguesa de Portuguesa do Desporto, Setúbal, 24 e 25 de novembro de 2016. Sociedade Portuguesa de Psicologia do Desporto. Santos, S., & Alves, J. (2017). Impacto de um programa de controlo emocional no desempenho desportivo de jovens nadadores. Atas do XXXX Congresso Técnico Científico da Associação Portuguesa Técnicos de Natação, Gondomar, 29 e 30 de abril de 2017. Associação Portuguesa dos Técnicos de Natação.

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Índice

Capítulo I – Enquadramento da Investigação

1 – Introdução 2

2 – Definição do problema 3

3 – Âmbito do estudo 5

3.1 – Modelação da Performance. 5

3.2 – Aplicação de Um Programa de Controlo Emocional 6

3.3 – Objetivos do Estudo 7

3.4 – Hipótese do Estudo 8

3.5 – Pressupostos e limitações do Estudo 8

3.6 – Pertinência do Estudo 9

Capítulo II – Enquadramento teórico

1 – Modalidade desportiva – Natação Pura Desportiva 12

2 – Emoção 14

2.1 – Modelos e teoria das emoções 14

2.2 – O que são as emoções? 15

2.3 – As emoções e os estados emocionais 17

2.3.1 – Abordagem e classificação das emoções 19

3 – Emoção e desempenho desportivo 21

3.1 – Ansiedade 23

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3.3 – Estratégias 27 3.3.1 – Estratégia para manusear as emoções na

construção de uma resistência mental 28

Capítulo III - Metodologia

1 – Introdução 32

1.1 – Amostra 33

1.2 – Instrumentos 34

1.3 – Procedimentos 35

1.4 – Procedimentos estatísticos 36

2 - Estudo preliminar (A relação da intensidade da emoção

na influência do desempenho desportivo) 38

Capítulo IV – Apresentação e discussão dos dados

1- Evolução da Intensidade das emoções em função do PCE 52 2- Evolução da Influência das emoções em função do PCE 56 3- Evolução da Ansiedade e da Autoconfiança em função do PCE 61 4- Evolução do rendimento desportivo em função do PCE 67

5- Emoções e rendimento desportivo 70

Capítulo V – Conclusão

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Bibliografia 80

Anexos

Anexo A - Programa de Controlo Emocional (PCE) 101 Anexo B – Estudo Evolução do desempenho dos nadadores na

perspectiva do treinador 118

Anexo B -1– Questionário – Treinadores (Evolução do desempenho

dos nadadores na perspectiva do treinador) 128

Anexo C – Dados intergrupos na Intensidade e na Influência das

emoções no desempenho desportivo no 1º momento e 2º momento 130 Anexo D – Dados da comparação na Intensidade e na Influência

das emoções na amostra do estudo geral no 1º momento 148 Anexo E – Dados das correlações na Intensidade e na Influência

das emoções no 2º momento 153

Anexo F – Dados do CSAI-2 da amostra no 1º e 2º momento 158 Anexo G – Dados do desempenho desportivo na amostra do

estudo geral no 1º e 2º momento 163

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Índice Tabelas

Tabela 1 – Limites temporais dos fenómenos afetivos

(Adaptado de Vallerand & Blanchard, 2000) 17

Tabela 2 – Médias das idades e do desempenho desportivo

(Valores FINA) dos nadadores da amostra 33

Tabela 3 – Adaptado de Bar-Eli & Blumenstein (2004 e 2005)

Programa de Controlo Emocional (PCE) 35

Tabela 4 – Correlação da Intensidade das emoções na Influência

das emoções no desempenho desportivo 44

Tabela 5 – Correlação de Pearson da Intensidade das emoções com

a Influência das emoções no desempenho desportivo 45 Tabela 6 – Intensidade das emoções em função do momento de avaliação

(pré-teste e pós-teste) nos três grupos 53

Tabela 7 – Teste de Scheffé na Intensidade das emoções com diferenças

significativas na amostra no pré-teste e pós-teste 55 Tabela 8 – Influência das emoções em função do momento de avaliação

(pré-teste e pós-teste) nos três grupos 57

Tabela 9 – Teste de Scheffé na Influência das emoções com diferenças

significativas na amostra no pré-teste e pós-teste 60 Tabela 10 – Estatística descritiva e Teste OneWay Anova na Ansiedade e

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Tabela 12 - Estatística descritiva e Teste OneWay Anova no rendimento

desportivo no pré-teste e pós-teste 67

Tabela 13 – Correlação de Pearson nas emoções e no rendimento desportivo

no pós-teste 71

Tabela 13 – Correlação de Pearson nas emoções e no rendimento desportivo

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Índice Gráficos

Gráfico 1 – Evolução dos resultados da Intensidade das emoções no pré-teste

e pós-teste nos grupos da amostra 54

Gráfico 2 – Evolução dos resultados da Influência das emoções no pré-teste

e pós-teste nos grupos da amostra 58

Gráfico 3 – Evolução dos resultados da Ansiedade e da Autoconfiança

nos grupos da amostra no pré-teste e no pós-teste 63 Gráfico 4 – Evolução dos resultados competitivos dos grupos da amostra

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Lista de abreviaturas

Natação Pura Desportiva - NPD

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Capítulo I – Enquadramento da Investigação

1 – Introdução

2 – Definição do problema 3 – Âmbito do estudo

3.1 – Modelação da Performance

3.2 – Aplicação de Um Programa de Controlo Emocional 3.3 – Objetivos do Estudo

3.4 – Hipótese do Estudo

3.5 – Pressupostos e limitações do Estudo 3.6 – Pertinência do Estudo

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I Parte – Enquadramento da Investigação

“Nothing great in the world has ever been accomplished without passion.” (Hegel, 1770–1831)

1- Introdução

O homem vive, reconhece e sente o desporto, ama e glorifica a sua vida desportiva em qualquer época do ano, de noite e de dia. O desporto, no seu todo é um fenómeno sócio-cultural complexo que se manifesta e vai criando raízes na dinâmica de cada um, sendo um dos meios mais eficazes para a convivência humana.

Brito (2001) refere que o desporto é uma atividade específica, irreal, inventada com regras, espaços, e todo um contexto muito próprio, com um mundo muito seu que manifesta o aspeto inventado, caprichoso e sagrado, sendo assim, o desporto é o maior vínculo de transição do século. A dimensão social que o desporto atingiu nas últimas décadas, vem dando maior responsabilidade aos desportistas e aos intervenientes mais diretos, influenciando o seu papel na sociedade, com uma carga emocional a que estão todos sujeitos e que transmitem a grande parte da população no seu dia-a-dia.

O desporto possibilita um intercâmbio entre povos e gerações, que passam a interagir entre si com regras universais. O desporto tornou-se numa dimensão ímpar, com o impacto dos seus eventos, muito para além da dimensão social, cultural, económica e política de cada povo. O desporto consegue romper barreiras culturais, sociais e políticas, podendo também servir de arma de arremesso às disputas políticas, religiosas e étnicas. Hoje, assim como nos tempos mais remotos, o resultado desportivo serve de bandeira e porta-estandarte às sociedades, não só como arma simbólica e diplomática mas como todo um conjunto de variáveis muito próprias. O desporto é sem dúvida um gerador de emoções, de paixões positivas e ou negativas, que reflete o melhor e o pior do ser humano.

Um dos fatores relevantes do desporto é a emoção. Ela faz parte das experiências do dia-a-dia do indivíduo, influenciando as suas acções e as suas relações sociais. As emoções são parte integrante do ser humano, existem na construção de ideais, de projetos, por vezes são o fio condutor que nos leva a fazer o que se pensaria impossível para o comum dos mortais.

A compreensão das emoções no desporto e as suas consequências são um desafio para qualquer investigador. As emoções constituem uma dimensão fundamental do ser

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humano, definem a qualidade das experiências de vida de cada um, sendo reconhecida a relevância das emoções quanto aos aspectos psicológicos, fisicos e comportamentais (Damásio, 1994; Dias, Cruz, & Fonseca, 2010; Hackfort & Scwenzmezger, 1993; So, Kuang, & Cho, 2016). A relação da emoção com o desempenho tem um papel importante no desporto e um impacto no próprio desempenho, especialmente com os altos níveis de stress competitivos (Hanin, 1997).

2 - Definição do Problema

Numa época onde tudo tem uma explicação, o desempenho desportivo tenta não fugir à regra. Os fatores de desempenho num jogo económico, social e político reforçam toda e qualquer procura de ganho nas melhorias do desempenho desportivo. Os fatores emocionais que reforçam e melhoram o desempenho tomam uma importância acrescida. As emoções podem desempenhar um papel importante na competição (Ponnelle, 2012). Cada ser humano é tão diferente como complexo, o que torna muitas vezes difícil a procura de igualdades entre os seus pares. Alves (2004a) refere que as habilidades e as capacidades de cada indivíduo são de natureza multifacetada, e que por si só devem ser estudadas. Com o desenvolvimento e o incremento da investigação, sugere-se que a mestria resulta mais dos aspetos cognitivos do que das características físicas e perceptivo-motoras (Vasconcelos Raposo, 1993; Hatzigeorgiardis & Biddle, 1999; Alves, 2004a).

As emoções são um processo complexo (Graham, Kowalski & Crocker, 2002), mas cada vez mais constatamos que estas são a chave que motiva o comportamento (Crocker, Kowalski, Hoar & McDonough, 2003), não esquecendo que o processo de emoção é distinto de cada indivíduo, surge da relação do sujeito com o seu meio (Lazarus, 1991), com as suas motivações, cada indivíduo avalia a situação que determina o tipo específico de emoção, definindo uma resposta emocional para o momento. Alguns estudos referem a importância das emoções, bem como a sua influência no desempenho desportivo (Hanin, 2000; Robazza, Pellizzari & Hanin, 2004; Maxwel, 2004; Lane & Jarrett, 2005; Robazza & Bortoli, 2007; Martinent & Ferrand, 2015).

Apesar do prazer da performance, muito sofrimento e muita dor advém do treino diário, sendo raro aqueles que durante a sua carreira, não passaram por momentos difíceis. O stress faz parte da competição, do treino e da vida de um desportista independentemente

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competitiva devido às possibilidades de não concretizarem determinados objetivos ou as suas competências serem avaliadas pelos seus pares ou pelo público em geral (Bump, 1989b; Cruz, 1996; Weinberg & Gould, 2007; Woodman & Hardy, 2001), ou ainda, a possibilidade de se verificar um decréscimo no desempenho, com todos os fatores envolventes implicados e com possíveis repercussões no seu futuro.

Segundo Singer (1982) a importância de um controlo emocional antes, durante e depois das competições pode influenciar não só o presente mas também o futuro dos atletas. A utilização de estratégias psicológicas permite uma adaptação ótima às exigências da modalidade e da competição, desenvolvendo e otimizando a utilização das capacidades psicológicas individuais (Alves, 2004a) e coletivas. As modalidades individuais e coletivas poderão tendencialmente estar predispostas a determinadas reações emocionais (Graham et al., 2002). Assim, a principal dificuldade da modelação da performance está no seu carácter multidisciplinar e na necessidade de interagir nos diversos fatores implícitos na sua construção, controlando as emoções. A combinação das características individuais, do contexto, do processo e dos momentos temporais encontram-se em constante interação e formam uma estrutura que influência e direciona o desenvolvimento dos processos presentes e futuros.

A importância das emoções no nosso dia-a-dia é um facto, e os benefícios de um controlo emocional no desempenho desportivo são enormes, contudo temos dificuldades em encontrar programas de controlo emocional no desporto. Assim, justifica-se a realização de um estudo que define as emoções que interagem no desempenho desportivo de jovens, em que o principal objetivo do estudo, seja a elaboração e aplicação de um programa de controlo emocional, que potencie a performance ao longo de uma época desportiva.

A educação e a formação dos atletas devem envolver estratégias que promovam uma flexibilidade e o desenvolvimento cognitivo, nos processos de avaliação cognitivos mais adaptativos (Dias, Cruz, & Fonseca, 2012). Assim, é necessário investigar a associação entre a emoção e o desempenho, considerando a interacção potencial entre o contexto e o tempo (Campo, Champely, Lane, Rosnet, Ferrand, & Louvet, 2016). Acreditamos que uma preparação adequada de um controlo emocional no atleta, promoverá uma maior sensibilização de si próprio e de tudo o que o rodeia, fazendo-o experimentar um maior número de sensações, de forma a capacitá-lo na sua perceção de controlo das emoções, para assim identificar, analisar e agir adequadamente a cada situação, potenciando as suas acções e, por sua vez, o seu desempenho desportivo. A emoção pode ser

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modificada pelo indivíduo, dado que é mediadora de uma forma de homeostasia do comportamento (Vallerand & Blanchard, 2000).

3 - Âmbito do Estudo

O comportamento do atleta, durante a competição ou o treino é influenciado por todo um conjunto de fatores físicos, psicológicos e estados afetivos, entre outros. O desporto de rendimento caracteriza-se pela procura constante da melhoria e da necessidade de potenciar as capacidades do indivíduo para obter um máximo rendimento. A perceção do desempenho tem sido constantemente associada às emoções obtidas no desempenho desportivo (Dewars & Kavussanu, 2011). Todo o contexto da preparação mental reside no desenvolvimento dos recursos emocionais, cognitivos e comportamentais que permite ao indivíduo adaptar-se às contradições da competição (Cona, Cavazzana, Paoli, Marcolin, Grainer, & Bistacchi, 2016; LeScanff, 2005; Nicholls, Perry & Calmeiro, 2014). Damásio (1994) demostrou que o raciocínio é inseparável das emoções, pois os circuitos neuronais responsáveis por ambos operam em conjunto, apresentando uma explicação de como a razão e a emoção interagem para criar os processos de tomada de decisão, das crenças e da forma de agir. A emoção e o raciocínio são mecanismos adaptativos responsáveis pela nossa auto-regulação ambiental e social, tornando-se útil observar a forma como os atletas maximizam e promovem o controlo emocional para manter altos níveis de desempenho.

3.1 - Modelação da Performance

Em qualquer modalidade desportiva, a competição é a procura dos limites, é a procura dos recordes, é a procura do melhor desempenho que rege o trabalho de cada atleta. O desportista procura no desempenho, não só dominar o meio envolvente como a si próprio, é a consecução da excelência.

A aplicação de estratégias psicológicas permite uma adaptação ótima às exigências da modalidade e da competição, desenvolvendo e optimizando a utilização das capacidades psicológicas individuais (Alves, 2004a) e coletivas. Assim, a principal dificuldade da modelação da performance está no seu caráter multidisciplinar, bem como na necessidade de interagir os diversos fatores implícitos da sua construção. A medida da performance é extremamente difícil de obter face à multiplicidade de fatores implicados.

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otimização do seu rendimento (Garganta, 2001; Santos, Sarmento, Alves, & Campaniço, 2014), sendo um fator essencial para a avaliação e posterior intervenção por parte dos técnicos. Para Baker, Cote e Aberethy (2003) a investigação tem demonstrado que a quantidade e a qualidade do treino são duas vertentes que podem predizer o sucesso do desempenho, e ainda referindo Alves (2004a) que a mestria no desporto resulta mais dos aspetos perceptivo-cognitivos. Um bom desempenho é expectável quando a intensidade das emoções está muito proxima do melhor (Robazza et al., 2004).

O conceito de rendimento está subjacente em toda a prática desportiva competitiva. O desporto é considerado de rendimento quando o seu objetivo é o resultado máximo, tornando-se o atleta num “instrumento” de superação dos seus limites. A procura incessante da melhoria do rendimento, a promoção da performance adequada ao momento é o objetivo do contexto competitivo. Mas, acima de tudo, importa dizer que, quer ao nível do desempenho desportivo, quer ao nível do desempenho artístico ou mesmo científico, alcançar a mestria ou a excelência, é um fator de admiração por parte daqueles que assistem a essa “performance”.

3.2 - Aplicação de um Programa de Controlo Emocional

As variáveis físicas e psíquicas próprias de cada indivíduo podem ajudar à compreensão das especificidades das variáveis desportivas e os seus efeitos idiossincráticos (Robazza, Bortoli, Nocini, Moser & Arslan, 2000). É essencial compreender melhor o papel dos diferentes estados emocionais e desenvolver programas de auto regulação emocional, porque surgem e atuam num contexto que por si só é altamente complexo e multifacetado (Dias et al., 2010).

O estudo tem o propósito de elaborar e aperfeiçoar um programa adequado ao controlo emocional, na modalidade desportiva da Natação Pura, que resulte num controlo e na potencialização do desempenho desportivo. Os atletas de elite têm normalmente uma rotina mental pré estabelecida para as solicitações de desempenho desportivo. O que reforça a indicação que os atletas com mais idade controlam melhor os efeitos emocionais do momento desportivo (Gomez, Sanchez, Mendez-Sanchez, & Jaenes-Amarillo, 2016).

A intervenção de um plano para a manutenção, a redução e o impacto de certas emoções devem integrar técnicas cognitivas e somáticas, devendo também ter uma intervenção, e apelar às emoções e aos sintomas automáticos, de forma a colocar os indivíduos numa zona ótima de funcionamento, (Robazza et al., 2004).

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As emoções podem ser um guia, uma influência ou um constrangimento cognitivo, uma regulação da atenção que irá modular o desempenho da tarefa (Cai & Lin, 2011; Beauchamp, Harvey, & Beauchamp, 2012). As emoções interagem e influenciam outros domínios da cognição, em particular a atenção, a memória e o raciocínio. As consequências psicológicas e os seus mecanismos definem a modulação da cognição (Dolan, 2002).

As emoções do ponto de vista funcional têm causas de efeito motivacional, e elas podem ser entendidas como uma variável entre o pressuposto e o seu efeito, mas devemos encará-las como uma componente experiencial-subjetiva, como é ainda necessário saber qual a relação entre a emoção e a cognição e quais são as suas implicações (Martins, 1999). Prevê-se uma motivação maior para se obter o sucesso, relacionado com uma proteção que aumentará as crenças de eficácia, um fator importante que contribui para executar a ação protectora (So et al., 2016) e levando a um melhor desempenho.

3.3 Objetivos do Estudo

Assim os objetivos para o estudo são:

O conhecimento das características emocionais dos atletas por parte dos treinadores e dos próprios atletas é de significativa importância para estabelecer condutas e treinar as habilidades específicas para melhorar o desempenho de cada indivíduo. Nideffer (1991) refere que os indivíduos, sabendo quais são as suas potencialidades e debilidades podem estimular as suas competências, com o desenvolvimento de um programa para superar as suas debilidades ou para compensá-las. Para poder potenciar as emoções do indivíduo é preciso inicialmente saber como é que age perante a situação. Assim, elaborámos um Programa de Controlo Emocional (PCE) baseado na introspeção e no realce das emoções, no reforço das habilidades mentais e físicas, que mude a perceção, a compreensão do “momento desportivo” e a consecução do desempenho.

 Identificar as emoções que influenciam o rendimento na modalidade;

 Verificar as diferenças dos níveis de Autoconfiança entre grupos de competição;  Verificar as diferenças de Ansiedade entre grupos de competição;

 Elaborar um Programa de Controlo Emocional (PCE) em contexto desportivo;  Verificar se a aplicação do Programa de Controlo Emocional tem influência no

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3.4 - Hipóteses do Estudo

As hipóteses do estudo:

 Os nadadores do Grupo Experimental 1 e do Grupo Experimental 2 têm resultados distintos do Grupo de Controlo na gestão das emoções após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE);

 Os nadadores do Grupo Experimental 1 e do Grupo Experimental 2 têm resultados inferiores nos níveis de Ansiedade competitiva após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE);

 Após a aplicação do PCE os atletas do Grupo Experimental 1 e do Grupo Experimental 2 têm uma maior consciência da Intensidade das emoções no seu desempenho após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE);  Após a aplicação do PCE os atletas do Grupo Experimental 1 e do Grupo

Experimental 2 têm uma maior consciência da Influência das emoções no seu desempenho após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE);  Os nadadores do Grupo Experimental 1 e do Grupo Experimental 2 têm

resultados superiores nos desempenhos desportivos após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE);

 Os nadadores do Grupo Experimental 1 e do Grupo Experimental 2 têm resultados superiores nos níveis de Autoconfiança após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE).

 Os nadadores do Grupo Experimental 2 têm desempenhos desportivos superiores aos restantes grupos após a aplicação do Programa de Controlo Emocional (PCE).

3.5 - Pressupostos e Limitações

Vasconcelos Raposo (1993) refere que toda a investigação apresenta limitações. De facto, encontram-se poucos estudos nacionais sobre o rendimento e as emoções (Araújo & Gomes, 2005; Dias, 2005; Dias, Cruz, & Fonseca, 2011; Dias et al., 2012; Dias, Corte-Real, Cruz, & Fonseca, 2013; Martins, 2010; Santos et al., 2016; Sequeira, 2005), bem como o desenvolvimento de programas de controlo emocional no desempenho desportivo. A emoção desenvolvida no contexto natural do desporto de alto rendimento é uma componente do indivíduo, assim, a compreensão das consequências e da

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influência das emoções no rendimento desportivo justifica a razão deste estudo. A investigação de características humanas é sempre uma vertente complexa. As emoções desenrolam-se no teatro do corpo e as várias reacções que a constituem fazem parte do mecanismo básico de regulação da vida (Damásio, 2003). As emoções induzem os comportamentos, e são expressas de forma diferente, dependendo do género, da idade, do contexto social, da cultura e das experiências emocionais. Assim, a perceção de competência faz-se no julgamento da nossa experiência, do conhecimento do que realizamos ou observamos. Essa percepção de competência pode diferir da do atleta que tem de si, em relação à de outros intervenientes na modalidade. Mas todo o ser humano, de uma forma reflexiva, compreende o que se passa consigo e assume as suas competências e suas limitações, todavia numa perspectiva de melhoria pessoal procura alcançar outras metas exequíveis.

3.6 - Pertinência do Estudo

A intensidade e a quantidade de emoções que se podem desenvolver ao longo de uma competição são muitas e podem ter uma influência direta no desempenho e no resultado de cada indivíduo na competição. Não esquecendo toda a envolvência que se gere e se repercute ao longo do tempo podendo prejudicar o desempenho de atletas e de equipas. A identificação e a compreensão dos pensamentos e das emoções presentes quando os atletas atingem desempenhos excecionais, assim como o controlo das emoções que se desenrola ao longo dos vários momentos do evento desportivo (pré-competição; competição e pós-competição), poderá significar uma mais-valia para qualquer interveniente desportivo, logo, o controlo da situação que ocorre é benéfico para o indivíduo envolvido na tarefa (Endler, Macrodimitris, & Kocovski, 2000). As emoções ocorrem num curto espaço de tempo, normalmente minutos, às vezes horas, quanto muito alguns dias, dependem da experiência e da avaliação cognitiva com o meio envolvente de cada indivíduo (Cai & Lin, 2011).

A nível nacional, os estudos sobre emoções escasseiam (Dias, 2005; Dias et al., 2011; Dias et al., 2012; Dias et al., 2013; Martins, 2010; Santos et al., 2016; Sequeira, 2005), dada a complexidade e as teorias emergentes sobre as emoções. É importante perceber o impacto das emoções no desempenho, para fornecer uma base teórica e prática de conhecimento e de desenvolvimento para um novo desempenho (Séve, Ria, Poizat,

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Relyia, 2002), reflete a importância que deve ser dada às habilidades mentais e ao seu treino. Para a compreensão do comportamento dos atletas, há que ter em conta, que o comportamento emocional é independente das capacidades de julgamento racional do ato, das motivações e podem não ter um acesso consciente. Não há dois indivíduos iguais e são grandes as diferenças, tanto nos aspetos físicos como psicológicos (Brito, 2001). Cada ser humano é único e a procura do desafio de potenciar o desempenho a partir das emoções é grande.

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Capítulo II – Enquadramento teórico

1 – Modalidade desportiva – Natação Pura Desportiva 2 – Emoção

2.1 – Modelos teóricos 2.2 – O que são as emoções?

2.3 – As emoções e os estados emocionais

2.3.1 – Abordagem e classificação das emoções 3 – Emoção e o desempenho desportivo

3.1 – Ansiedade 3.2 – Autoconfiança 3.3 – Estratégias

3.3.1 – Estratégia para manusear as emoções na construção de uma resistência mental

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Capítulo II – Enquadramento Teórico

“Nunca se deve procurar definir as coisas importantes, por fronteiras. As fronteiras são sempre vagas, são sempre inferentes”

Morin (1991) As fronteiras são imensas e extensas para a compreensão do Homem mas todas elas são esbatidas na compreensão do individuo, o que hoje é um limite amanhã poderá ser um momento a ultrapassar.

1 - Modalidade Desportiva – Natação Pura Desportiva

“A natação competitiva é um desporto único, atletas competem num meio fluido sustentável, e devem progredir puxando um líquido”.

Maglischo (1999) A Natação Pura Desportiva integrou as modalidades olímpicas na primeira edição dos Jogos Olímpicos em 1896 (masculinos). A participação feminina só se concretizou nos Jogos Olímpicos de 1912. Em Portugal, a natação desportiva inicia-se no séc. XX, com a criação da primeira escola de natação em 1902, pelo Ginásio Clube Português, na Trafaria.

O organismo internacional que tutela a Natação, nas suas várias disciplinas, é a FINA (Federação Internacional de Natação Amadora). A nível da Europa a modalidade é coordenada pela LEN (Liga Europeia de Natação).

As técnicas de nado, comummente designadas como estilos, são quatro: Costas, Bruços, Mariposa e Estilo Livre (normalmente utilizado o Crol). Estas técnicas encontram-se oficialmente regulamentadas pela FINA. As provas que atualmente compõem o Calendário Olímpico são as seguintes: 50, 100, 200, 400, 800 (fem) e 1500 (masc) metros Livres; 100 e 200 metros Costas, Bruços e Mariposa; 200 e 400 metros Estilos; estafetas de 4x100 metros Livres, 4x200 metros Livres e 4x100 metros Estilos. Nos Campeonatos do Mundo (em piscina de 50 metros), para além das provas olímpicas, incluem o respectivo programa: 50m Costas, Bruços e Mariposa, os 800 Livres masculinos e os 1500 Livres femininos. A Natação Pura Desportiva é a disciplina mais representativa da Federação Portuguesa de Natação e uma das modalidades mais praticadas no país.

A Natação Pura Desportiva (NPD) é considerada uma modalidade de resistência, as provas variam entre os vinte segundos e os quinze minutos (recordes mundiais), há

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provas de cinquenta metros a mil e quinhentos metros, diferindo nas provas de livres (ou crol), bruços, costas, mariposa e estilos.

A Natação, como na maioria dos movimentos humanos cíclicos, pode ser interpretada como um simples processo termodinâmico, em que uma fonte de energia é processada num momento de tempo, num trabalho mecânico e realizado com uma dada eficiência energética (Vilas-Boas, Fernandes, Barbosa, & Keskinen, 2007). A NPD é uma modalidade complexa, na qual os ganhos de rendimento estão dependentes em muito da economia de nado, da força muscular, da velocidade de deslocação, da reação e da capacidade do nadador superar as dificuldades inerentes aos processos físicos e mentais do treino e da competição.

O desempenho do nadador está dependente do seu perfil energético e do seu comportamento biomecânico (Barbosa et al., 2010). A coordenação dos membros, tal como a coordenação óculo-manual, definem um comportamento técnico que por sua vez definem diferenças entre adversários. No contexto aquático, vários fatores têm de ser considerados, como a densidade e a temperatura da água, a direção das forças de arrasto e de onda à superfície da água. No desempenho ainda existem outras variáveis tais como o equilíbrio, o alinhamento, o deslocamento do corpo, a força de arrasto e a energia aplicada para deslocar massa de água para gerir propulsão, como a variabilidade e as adaptações de cada característica inter e intra individual (Figueiredo, Barbosa, Vilas-Boas & Fernandes, 2012).

A redução do esforço na água está dependente, também dos apoios realizados e suportados pelas forças hidrostáticas da água, que reduzem o esforço necessário para manter a postura dentro de água. Alguns pesquisadores acreditam que certos nadadores criam força de propulsão com a mão a partir da sustenção hidrodinâmica e de arrasto (Akis & Orcan, 2004). O entendimento das intensidades de nado, em treino, bem como em competição permanecem de alguma forma obscura, contribuindo para uma maior importância na formação dos nadadores (Fernandes et al., 2016).

O treino de água tradicional melhora largamente o treino, “em si” mas não obrigatoriamente a prova desportiva. Será perigoso isolar cada fator de desempenho para entender esse desempenho, quando eles próprios podem ser alterados pela psicologia do desempenho humano (Rushall, 2014). No entanto, o objetivo de qualquer nadador de competição é realizar o percurso da prova num mínimo tempo possível

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declínio da eficiência propulsiva (Figueiredo et al., 2012). Cada ato individual é diferente apesar das metas poderem ser idênticas.

2 - Emoção

As emoções foram durante muito tempo um tema de “status” dúbio nas ciências sociais. Se alguns pensadores como Durkheim e Simmel ressalvaram o seu caráter social, durante boa parte do século XX, as emoções permaneceram assunto prioritário da psicologia, sendo consideradas como realidades psicobiológicas, dadas “a priori” e pouco modificadas pela socialização numa cultura específica. A maioria dos estudos aponta para a especificidade cultural e histórica do conceito ocidental moderno do indivíduo, numa visão particular das emoções enquanto realidades psicobiológicas localizadas internamente.

O conceito de emoção nem sempre tem um consenso definido, a linguagem de emoção é muitas vezes ambígua, muitas vezes confundida com outros fenómenos afetivos (Vallerand & Blanchard, 2000). Segundo Freitas-Magalhães (2007) a emoção será um impulso neural que leva um organismo a realizar uma ação. Contudo, Lazarus (1999) define a emoção como uma complexidade de distúrbios que incluem três domínios: afetos subjetivos, comportamentos fisiológicos de formas específicas mobilizados para determinadas ações e ações impulsivas com uma determinada qualidade instrumental. O papel da emoção nos vários aspetos da cognição humana e animal como a perceção, a atenção, a memória, a tomada de decisão e a interação social é reconhecido como essencial. No entanto, tem-se dado maior importância à emoção na interação social, contudo, a investigação neurofisiológica refere que a emoção tem um papel importante no conhecimento da cognição do próprio Eu (Gadanho, 1999).

2.1 - Modelos e teorias das emoções

Verificamos que grande parte dos modelos e teorias baseiam-se na relação da emoção da Ansiedade para definir os pressupostos do rendimento desportivo, e evoluindo para a agregação de traços e estados de Ansiedade como um complemento de personalidade. Contudo, Vasconcelos-Raposo (2000) alerta para o uso excessivo e incorrecto do termo Ansiedade no desporto para classificar as emoções que ocorrem nesses eventos, apesar de haver diferenças no caráter teórico que os distinguem uns dos outros.

Liebert e Morris (1967) introduzem uma nova noção na Ansiedade, a sua divisão em preocupação e emocionalidade. Com base nesta separação Davidson e Schwartz (1976)

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identificaram as componentes da Ansiedade Somática e da Ansiedade Cognitiva. Dias (2005) refere que a permissa básica de uma conceptualização multidimensional da Ansiedade é que as componentes da Ansiedade são independentes, com origens e com consequências diferentes no desempenho.

No entanto, à exceção de alguns modelos teóricos como o Modelo Cognitivo-Relacional e Motivacional de Lazarus (1991) em que os indivíduos avaliam o significado do acontecimento com os seus motivos, as suas crenças e o contexto em que estão inseridos. No Modelo Cognitivo Motivacional Relacional, Cruz (1994, 1996) propôs um modelo Cognitivo Motivacional e Relacional do Stress e da Ansiedade Desportiva, baseando-se em parte na teoria da emoção e adaptação humana (cognitivo-motivacional-relacional) desenvolvida por Lazarus (1991). Este modelo postula o Stress e a Ansiedade como processos emocionais e relacionais, mediados cognitivamente e que surgem em situações em que os sujeitos percecionam uma ameaça incerta à sua identidade.

Os sistemas complexos de variáveis e processos psicológicos inter-dependentes combinam numa configuração cognitiva, motivacional ou relacional única e diferem nos vários momentos da situação competitiva. As reações de natureza multidimensional que englobam pelo menos uma componente cognitiva e uma componente somática (Cruz 1996). Cruz (1994) aponta três factores para explicar os potenciais efeitos negativos da Ansiedade no rendimento desportivo: a interferência atencional e, ou conflito motivacional; o déficit de competência ou capacidades que pressupõe que não é a Ansiedade que prejudica o rendimento, sendo assim a Ansiedade resulta de maus resultados e de deficiências técnicas; e ainda de processos auto-defensivos de confronto. Cruz (1996) chama a atenção para a abordagem multidimensional da conceção da ativação, abordando o Stress e a Ansiedade na competição desportiva numa perspetiva psicológica cognitiva, motivacional e relacional.

2.2 - O que são as emoções?

“A emoção é essencial para a formação dos cidadãos. As emoções também são conhecimento”

Damásio (1994) O que é a emoção? Strongman (2004) refere mais de 150 teorias sobre a emoção, pelo que percebemos a dificuldade que é explicar a emoção, quando perguntamos o seu

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independentemente do seu caráter restritivo, dada a necessidade da completa compreensão de um construto como a emoção. A emoção refere-se a “sentimentos”, e ao modo como são expressos no nosso comportamento, nas respostas do nosso corpo. Um estímulo extremo ou impróprio pode ser prejudicial e provocar mudanças físicas, psicológicas e comportamentais.

Ao longo dos tempos, a emoção tem sido vista sob várias perspetivas (Shaver, Schwartz, Kirson, & O´Connor, 1987; Lazarus, 1993, Roazzi et al., 2011; Damásio, 2003). As emoções têm sido categorizadas de diferentes formas, como por exemplo, em cinco grupos como Medo, Tristeza, Raiva, Alegria e Amor (Shaver et al., 1987), ou em grupos mais abrangentes. Lazarus (1991) separou as emoções resultantes de ofensas, perdas e ameaças, que incluem a zanga, ansiedade, medo, culpa, vergonha, tristeza, inveja, ciúme e desgosto, das resultantes de benefícios, que incluem a felicidade, alegria, orgulho, gratidão e amor. E criou duas categorias diferentes das apresentadas por outros autores, que incluem a esperança, contentamento, compaixão e emoções estéticas e, as “não emoções”, referentes a avaliações emocionais, e que incluem o luto, depressão e confiança, determinação, expansão e mudança, frustração e desapontamento, tensão, curiosidade, antecipação e surpresa, entre outras. Damásio (2003) classifica as emoções em três categorias: emoções de fundo, primárias e sociais. As emoções de fundo são aquelas em que o sujeito tem a capacidade de descodificá-las rapidamente em diferentes contextos, sendo elas agradáveis ou desagradáveis. As emoções primárias ou universais são facilmente identificáveis entre seres de uma mesma espécie, como a raiva, a tristeza, o medo, a zanga, o nojo, a surpresa, a felicidade. As emoções sociais ou secundárias são influenciadas pela sociedade e cultura, como a vergonha, o ciúme, a culpa, compaixão, embaraço, simpatia, orgulho.

Certas emoções são referidas como básicas em relação a outras (Ekman, 1993) como: a raiva, o desgosto, o medo, a alegria, a tristeza e a surpresa. Para Izard (1991) as emoções básicas são a raiva, o contentamento, a angústia, o desgosto, o medo, a culpa, a alegria, a vergonha e a surpresa. Para Oatley e Johnson-Laird (2014) elas são a raiva, o desgosto, a ansiedade, a alegria e a tristeza. Não existe um consenso sobre quais as emoções a incluir e a definir como emoções básicas. Contudo nem todas as emoções ocorrem da mesma forma, certas emoções (felicidade, tristeza, raiva e medo) ocorrem fora do estímulo, mas outras emoções ocorrem perante ou direcionada para o objeto ou algo (amor, nojo).

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Os estados emocionais em que o indivíduo se encontra e estabelece uma prioridade na relação individual com o acontecimento ou a causa, apesar de sentir as emoções na tarefa, poderão antecipar novas emoções em futuros momentos (Woodman et al., 2009). O sucesso é acompanhado pela emoção do orgulho, ao contrário do fracasso e das expetativas falhadas que são acompanhadas de uma auto avaliação e de uma auto eficácia do sujeito e da emoção da vergonha (Zinck, 2008). Num estudo realizado com jovens sobre a agressão, a vergonha foi correlacionada positivamente com a externalização da culpa, com a preocupação com o próximo e uma perspetiva de posse. A culpa tem uma correlação positiva com a agressão física e verbal, quanto maior será a culpa nos indivíduos, menos serão propensos a apresentar um comportamento agressivo (Stuewing, Tangney, Heigel, Harty, & McCloskey, 2010).

Há um número de emoções de grande importância para os indivíduos se comprometerem e aprenderem, tendo esta influência um impacto nos objetivos, tal como no sucesso das aprendizagens dos estudantes e no desempenho desportivo dos atletas (Goetz, Keltner, & Simon-Thomas, 2010; Martinent & Ferrand, 2015).

2.3 - As emoções e os estados emocionais

As emoções são frequentementes confundidas com outros conceitos e usados de forma indiscriminada. Os fenómenos afetivos são vários como: as emoções, os afetos, os humores, o traço emocional e o temperamento (Vallerand & Blanchard, 2000) (tabela 1). Os diferentes fenómenos afetivos podem ser analisados de acordo com o modelo hieráquico da organização afetiva (Rosenberg 1998) e pelo tempo em que decorrem no teatro do corpo humano. Será o tempo a forma mais simples de perceber a emoção?

Tabela 1 – Limites temporais dos fenómenos afetivos (Adaptado de Vallerand & Blanchard, 2000) Tempo

Fenómeno

segundos minutos horas dias mês ano vida

Emoção Humor Traço emocional Temperamento

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Rosenberg (1998) refere que as emoções terão mais uma influência organizacional do que o oposto. Em determinados momentos o indivíduo está mais suceptível a mostrar as suas emoções, dependendo essa influência do limiar do fenómeno afetivo.

Os traços emocionais e o temperamento são fenómenos afetivos mais duradouros do que a própria emoção e os humores. Estes estados de ânimo são considerados manifestações emocionais pouco especifícas e de menor intensidade mas de maior duração que as emoções (Vegas-Marcos et al., 2014).

As emoções manifestam-se através da comunicação, dos gestos, da postura, das expressões faciais e das verbalizações. As emoções produzem nos outros, empatia ou não, e podem fomentar bons relacionamentos ou engendrar conflitos (Oatley & Johnson-Laird, 2014). As emoções são a chave que motiva o comportamento. O processo de emoção é distinto de cada emoção individual, cada indivíduo avalia a situação que determina o tipo específico de emoção vivido, definindo uma resposta emocional para o acontecimento. Todas as emoções são impulsos para agir, para mover e para algo. As emoções têm um papel fundamental nos relacionamentos, na qualidade de vida e na saúde.

Para entender o estado mental de outra pessoa temos de verificar o contexto social, o estado de presença do indivíduo com as respetivas emoções que surgem e a forma como elas contribuem para o momento. A emoção individual torna-se numa causa e uma consequência das emoções e dos comportamentos dos outros. A emoção original chega pelas condições externas ou pelas disposições. As emoções ocorrem de forma natural (Damasio, 1994) mas nem sempre são funcionais se forem as menos adequadas para o momento, ou se ocorrerem num momento menos oportuno (Mikolacjzak, Nelis, Hansenne, & Quoidbach, 2008). A emoção ocorre sempre dentro de determinado contexto e depende de vários fatores. Considerando que as emoções são formas de comunicação, cada emoção transmite uma mensagem específica. O impacto de uma emoção depende de várias características do contexto em que ocorre (Hareli & Rafaeli, 2008). As emoções são súbitas ruturas no equilíbrio afetivo, de curta duração, com repercussões consecutivas sobre a integridade da consciência. As emoções são também a aglutinação e o poder das relações humanas e sociais. Elas estabelecem uma feliz cooperação e podem transformar relações distantes em conflitos tumultuosos (Oatley & Johnson-Laird, 2014).

Se o processamento emocional é desordenado poderá ser seguido não só por uma desordem cognitiva como constituir um elemento básico da representação cognitiva do

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sujeito. As emoções são um importante referencial, como contributo de informação e de conhecimento sobre o sujeito e ainda podem contribuir para o seu auto conceito. Assim, poderão ser fatores para adaptar o próprio conhecimento em níveis conceptuais de auto representação. É mais fácil manipular as crenças sobre si mesmo, do que as emoções a longo prazo que podem representar alguma disparidade ou congruência entre o autoconceito e a autorepresentação (Zinck, 2008).

2.3.1 – Abordagem e classificação das emoções

A emoção não é um estado, é um processo e as cognições podem regular cada fase do processo, a disponibilidade do sujeito para se preparar para os momentos fará a diferença. As emoções vão confluindo para a existência de dois estados básicos, um positivo e um negativo, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de prazer e desprazer, contudo poderão não existir somente estes dois estados básicos fundamentais (Oatley & Johnson-Laird, 2014).

As emoções podem ser classificadas como positivas, negativas ou mistas. As emoções positivas despertam experiências agradáveis e prazerosas, como o amor, a alegria, a felicidade. As emoções positivas seriam oriundas de situações agradáveis e as negativas oriundas de situações desagradáveis. As emoções negativas são aquelas que despertam sensações desagradáveis e que podem atrapalhar a comunicação e o entendimento entre as pessoas, se não forem compreendidas. Com o tempo, o indivíduo aprende que determinadas situações de sua vida podem provocar o surgimento de emoções positivas e negativas em simultâneo sendo as emoções mistas (Roazzi et al., 2011), em que seriam emoções alternadas de emoções positivas e negativas.

O fator grupo é importante para a interpretação do contexto, da sugestão e da reação da emoção, quer as emoções sejam positivas ou negativas, terão um papel importante, podendo influenciar o desempenho dos indivíduos (Hardy, 1999; Hareli & Rafaeli, 2008; Martinent & Ferrand, 2015; Palazzalo & Arnaut, 2013).

Ao conhecermos as nossas emoções, mais facilmente percebemos como aquilo que sentimos pode afetar o que fazemos. Controlar as emoções é crucial para o nosso dia-a-dia. Ao Identificar as emoções, podemos distanciar-nos delas e assim ter uma melhor consciência do que sentimos e perceber porque sentimos, ao mesmo tempo que não nos deixamos arrastar por impulsos que nos podem prejudicar. As emoções positivas e

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contexto podem originar mais aproximação e criatividade por parte dos intervenientes (Hareli & Rafaeli, 2008). As emoções positivas estão associadas a bons desempenhos ao contrário das emoções negativas. Assim, os praticantes ao utilizarem estratégias de avaliação e de enfrentamento geram emoções agradáveis e melhoram o desempenho levando à satisfação pessoal de cada atleta (Nicholls et al, 2012).

Fisher e colaboradores (2013) referem que os indivíduos que realizavam uma tarefa com uma avaliação cognitiva positiva estavam mais direcionados para experiências emocionais positivas. Ao incorporar os percursores básicos das emoções complexas podemos supor que os indivíduos são capazes de experimentar uma maior variedade de estados emocionais com capacidades cognitivas menos complexas, em estádios anteriores de desenvolvimento.

Woodman et al., (2009) referem que em estudos que realizaram, determinadas emoções têm um determinado efeito no desempenho, melhorando os recursos disponíveis para a execução da tarefa, se as emoções vivenciadas estiverem de acordo com as tarefas, será mais fácil o desempenho.

Damásio (2003) refere que as emoções se desenrolam no teatro do corpo e que as várias reacções que as constituem fazem parte do mecanismo básico de regulação da vida. A emoção é um processo em que interagem os aspetos cognitivos, motivacionais, volitivos e neurofisiológicos (Hackfort & Schwenkmezger, 1993). Muitos atletas sentem uma variedade de emoções antes da prova, que se caracteriza por nervosismo, ansiedade, medo de falhar, estado elétrico, entusiasmo, agressividade, stress entre outros (Vasconcelos Raposo, 1993). As emoções sentidas pelo indivíduo no desporto são o produto da interação das diferentes características individuais, situacionais e a interpretação que o atleta faz da situação competitiva (Lazarus, 2000a). A relação da emoção no desporto é evidente, marcante e qualquer ocorrência que surja terá consequências no comportamento e nas ações do desportista. O impacto das emoções negativas poderá ser facilitador ou debilitativo no desempenho, dependendo da perceção do indivíduo na catalização e no uso da energia e no efeito potenciador das emoções (Robazza & Bortoli, 2007).

Freitas-Magalhães (2007) refere que saber lidar com as emoções negativas e as emoções positivas é a estratégia mais difícil de pôr em prática no nosso dia-a-dia. O controlo das emoções perante determinadas situações é uma capacidade que o indivíduo tem de desenvolver e pôr em prática, definir a escolha de comportamentos mais adequados a cada situação. A emoção como um todo pode constituir um fator crítico na promoção ou

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prejuízo do rendimento dos atletas, assim é necessária uma visão mais equilibrada das emoções positivas e negativas experienciadas pelos atletas (Dias, 2005).

As emoções negativas formam uma barreira psicológica no desempenho atlético inibindo o sucesso do desempenho. Alguns graus de Stress e Ansiedade contribuem para determinados processos cognitivos e emoções não desejáveis (Anshel, 2005). O Stress e a Ansiedade são inerentes ao desporto competitivo, é imperativo que os atletas aprendam a aplicar as ferramentas cognitivas e comportamentais para dar alento ao seu desempenho. A quantificação da tarefa é geralmente medida pela reação de tempo ou pelo erro humano. A memória é a chave da informação cognitiva da componente humana que processa e afeta fortemente o desempenho da tarefa.

Uma falha emocional resulta em Ansiedade, depressão, sentimentos de desespero, na redução da autoconfiança ou do auto-controlo. Os atletas diferem nas susceptibilidades e intensidades de Ansiedade em várias situações. As emoções negativas e positivas são um fator de sucesso ou de insucesso no desempenho desportivo. As emoções definem-se desta forma devido à valência ou até pelo definem-seu impacto (Ruiz & Hanin, 2011) no presente e no futuro.

3 – Emoção e desempenho desportivo

“Os feitos atléticos até hoje realizados e a serem realizados, são o espelho do grau de conhecimento científico que possuímos. Os atletas da alta competição representam simultaneamente, progresso e limitação científica.”

(Vasconcelo Raposo, 1996) Na relação entre o Stress e o rendimento, as mudanças que ocorrem sob Stress resultam de mudanças na dimensão da ativação. Raglin e Hanin (2000) referem que as tarefas desportivas podiam assim ser localizadas numa continuidade de baixa e elevada Ansiedade dependendo das exigências motoras. Se uma atividade como o bloqueio no rugby, ou uma chamada para a elevação de peso exige um elevado nível de ativação, em contrapartida, uma tarefa como o tiro de carabina exige uma ativação com menores níveis. A ativação de níveis elevados facilitaria as tarefas motoras que exigem maior esforço físico e menor controlo motor, que envolvam força explosiva, velocidade e resistência. Baixos níveis de ativação beneficiariam as tarefas mais complexas, mais

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A natureza causal ou correlacional entre ativação e o rendimento não explica porque o rendimento diverge num ponto acima ou abaixo dessa ativação, além de não explicar em que estado ou processo interno se produz (Cruz, 1996; Hardy, 1999; Jones, 1995; Vasconcelos-Raposo, 2000) ou que num nível médio de Ansiedade ótimo sugirá um valor moderado para todos os atletas sem ter em conta a diversidade do indivíduo e da sua interpretação dos factos.

De acordo com a teoria da IZOF, Hanin (1997) recomenda que com a aproximação da competição, as atividades de treino de cada atleta sejam organizadas de forma a facilitar a otimização do nível de Ansiedade de acordo com as zonas ótimas de cada atleta:

 Redução da significância subjetiva da competição que se aproxima com exigências de treino mais baixas e/ou redução das exigências da tarefa através da diminuição das expectativas em relação ao nível antecipado de desempenho.  Aumento da Autoconfiança do atleta, encorajando-o e assegurando um

rendimento bem-sucedido na tarefa.

 Redução do número de outros fatores significativos dos quais dependem as avaliações dos atletas.

 Estabelecimento de um ambiente social e desejável, através da regulação e controlo das comunicações, das interações entre os colegas e a relação treinador/atleta, utilizando princípios de influência organizacional e interpessoal. O IZOF demostrou a existência de uma relação mais significativa entre o nivel de Ansiedade e o desempenho em desportos individuais do que comparado com os coletivos, e forneceu um procedimento de uma avaliação indireta para validar e identificar as suas suposições básicas (Dias, 2005). Para Krane (1993) a combinação de zonas de Ansiedade Cognitiva e Ansiedade Somática são benéficas para os atletas que tentam maximizar a sua prontidão e a sua preparação mental. Hanin (1997, 2000) reforça o modelo com a extensão das emoções, conceptualizadas como componentes dos estados biopsicossociais.

A avaliação cognitiva pode ser afetada pelos processos de avaliação, bem como pelos processos de confronto, centrando-se essencialmente no significado pessoal e relacional de cada situação e afetando significativamente as reações posteriores dos atletas.

Os modelos da Catastrofe, do IZOF e da interpretação direcional de desenvolvimento teriam uma relação complementar na Ansiedade precompetitiva, desempenhos menos bons e sem grandes níveis competitivos. O IZOF tem uma perspetiva mais

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individualizada, pelo contrário a Teoria Multidimensional revê a Ansiedade de forma a canalizá-la para um melhor desempenho (Palazzolo & Arnaut, 2013). Cada atleta deve encontrar as emoções necessárias e ideais para o seu melhor desempenho, a sua zona ótima de funcionamento que poderá ser baixa, alta ou média no fim de um estado de Ansiedade contínuo (Robazza et al 2004; Weinberg & Gould, 2007).

A experiência desportiva pressupõe que um atleta mais experiente seja mais tolerante aos efeitos da Ansiedade. No entanto, Raglin (1992) acredita que a experiência não está diretamente relacionada com a ativação ou a Ansiedade précompetitiva, e que a experiência desportiva, não será necessariamente um pressuposto para que os atletas mais experientes estejam mais aptos a lidar com os efeitos do stress na competição do que os atletas menos experientes. Tal como as respostas à Ansiedade desportiva podem variar entre sujeitos e que não só estão dependentes da tarefa bem como das diferenças individuais (Raglin, 1992; Eysenck, Derakshan, Santos, & Calvo, 2007).

As mudanças fisiológicas não se podem assumir como benéficas ou prejudicias ao rendimento, dependem de vários fatores dos sujeitos, tais como, a individualidade, a experiência e o contexto (Jones, 1991; Raglin & Hanin 2000). Eysenck et al., (2007) afirmam que os fatores fisiológicos são apenas uma pequena contribuição para a relação Ansiedade e rendimento, revelando a multidimensionalidade da Ansiedade.

Dias (2005) refere que os problemas metodológicos mais frequentes referidos na literatura respeitam concretamente a falta de avaliação adequada da relação curvilínear entre a Ansiedade e o rendimento, dado a utilização de um contexto de aprendizagem e não de um contexto competitivo. Weinberg (1989) afirma que toda esta abordagem é demasiado simplicista pois não tem em consideração fatores que podem interferir no desempenho e nos níveis de ativação, como requisições perceptuais da tarefa ou componentes de tomada de decisão.

De momento, nenhum modelo ou teoria tem a unanimidade, apesar da comunidade científica se esforçar, há já bastante tempo, para entender melhor as relações que existem entre as emoções e o rendimento, muitas vezes com uma análise sobre resultados difíceis em contextos diferenciados (Palazzalo & Arnaut, 2013).

3.1 - Ansiedade

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sentimento de fraqueza e incapacidade para resolver um acontecimento, é um estado tipicamente imaginário, de tensão física, de suores, tremuras e outros sintomas. No Manual de Estatística de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR), o transtorno de Ansiedade é definido como o medo persistente ou a preocupação e que causa um sofrimento significativo, independente do contexto, no trabalho, na escola, no jogo e nas relações pessoais.

A Ansiedade é tida como um “sentimento” subjetivo de apreensão, de receio, acompanhada por vezes de uma ativação fisiológica. Existem mais de cem sintomas, variados e diversificados que se podem associar entre si ou não, dependendo de cada indivíduo. A Ansiedade tem propriedades somáticas como o incremento dos batimentos cardíacos, o aumento da pressão sanguínea e de suores. Os indicadores de medidas fisiológicas da Ansiedade podem ser os seguintes: respiratórios e cardiovasculares (ritmo de pulso; pressão sanguínea e ritmo respiratório); bioquímicos (adrenalina e noradrenalina); electrofisiológicos (correlações electroencefalogramas – EEG, potenciais musculares e condutância/ resistência epitelial) (Burton, 1998).

A Ansiedade como emoção recebeu ao longo dos anos, grande parte da atenção dos investigadores na relação emoção/desempenho (Woodman, Mawn, & Martin, 2014).

A Ansiedade pode monopolizar as atividades psíquicas e comprometer, a atenção, a memória e a interpretação fiel da realidade. As emoções como a Ansiedade são aceites como emoções desagradáveis e frequentemente sobrepõem processos de adaptação nos quais elas conduzem para uma dispersão de determinados focos de Atenção (Salmuski, Chagas, & Nisch, 1996; Woodman & Hardy, 2001). A Ansiedade induz desempenhos catastróficos, a preocupação leva a um incremento na realização da tarefa, reduz as capacidades atencionais, apesar de aumentar a ativação e a predisposição para a realização da tarefa, provocando um excesso de tensão para a realização, havendo uma debilitação do desempenho (Hardy, 1999). A Ansiedade é uma tendência para perceber situações competitivas como ameaçadoras ou duvidosas e para responder com sentimentos de apreensão e tensão (Patel, Omar, & Terry, 2010). Tradicionalmente, altos níveis de Ansiedade são sinónimos de debilitação e de uma predição de uma influência negativa no desempenho. A Ansiedade pré-competitiva poderá ser motivacional ao contrário da Ansiedade sentida durante a competição que deterioraria o desempenho desportivo (Ponnelle, 2012).

A Ansiedade Cognitiva é vista como uma componente mental da Ansiedade, tipificada por expectativas negativas de si próprio, de situações e de potenciais consequências. A

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Ansiedade Somática é conceptualizada como uma componente física da Ansiedade que reflete a perceção de uma resposta fisiológica (Robazza & Bortoli, 2007). Tradicionalmente um alto nível de sintomas de Ansiedade está associado a uma debilidade e prediz uma influência negativa no desempenho (Haneishi et al., 2007; Robazza & Bortoli, 2007). Outros autores (Maynard, Smith, & Warwick-Evans, 1995; McKay, Selig, Carlson, & Morris, 1997) referem que a competição e a prática desportiva estão dependentes da Ansiedade mas, no entanto, não prediz o desempenho. A causa do desempenho está relacionada com a intensidade da respetiva resposta (Woodman & Hardy, 2001). As diferenças nos estilos de perceção cognitiva influenciam as diferenças inter-individuais que, por sua vez, colocam os níveis de Ansiedade na pré-competição (Wilson, Raglin & Pritchard, 2002). Jones e Hanton (2001) num estudo realizado com uma amostra de nadadores descobriram que os indivíduos que tinham experienciado sintomas pré-competitivos, interpretaram a intensidade dos seus sintomas como facilitativos para o rendimento, identificaram assim mais estados de sentimentos positivos e menos estados de sentimentos negativos nos indivíduos que têm uma perceção dos sintomas debilitativos. Quando os sujeitos se apercebem dos sintomas debilitativos são indivíduos com uma perceção mais negativa do que positiva do seu desempenho. As investigações demonstram que estas e outras emoções podem ser entendidas e aplicadas de uma forma benéfica no desempenho (Dias el al., 2013; Hatzigeorgiadis & Chroni, 2007; Lane, Terry, Beedie, Curry & Clark, 2001; Latinjak, Lopez-Roz, & Font-Llado, 2014; Neil, Hanton, Mellalieu, & Fletcher, 2011; Robazza & Bortoli, 2007).

Num estudo em adultos com deficiências mentais e com a aplicação de um programa de controlo emocional, revelou uma melhoria nos indivíduos com comportamentos violentos/ agressivos, mas também revelou um aumento dos níveis de Stress e de Ansiedade (Golden & Consorte, 1982). Contudo, num estudo em atletas de Taekwondo com a aplicação de um programa de Pranyama (controlo respiratório) revelou-se inadequado na alteração das variáveis da Ansiedade, na competição desportiva (Yadav, 2014), tal como num estudo com jogadores de futebol, em que foi aplicado uma prática de introspeção e onde não se verificaram diferenças na Ansiedade nos grupos de intervenção e de controlo (Patsiaouras, Georgiadi, Anagnostou, Georgiadis & Koloridas, 2013). Ao contrário de um estudo realizado com jovens nadadores, em que o treino

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do que os efeitos negativos e por si, os desempenhos desportivos serão influenciados e regulados pela resposta fisiológica e comportamental (Legrand & LeScanff, 2003; Lim & O’Sullivan, 2016) dada pelo controlo emocional sobre o Stress.

A Ansiedade é a incerteza no desenrolar da prova devido à importância do resultado, assim a eficácia das técnicas de controlo emocional dependem das suas capacidades em modificar as suas perceções (Palazzolo & Arnaut, 2013). Os atletas têm de ter uma boa prática de auto-conversação, Visualização Mental e de definição de objetivos para uma boa avaliação da Ansiedade que decorre da competição (Weinberg & Gould, 2007). É necessária uma explicação de como a Ansiedade Cognitiva e Ansiedade Somática interagem para influenciar o rendimento, não atendendo uma perspetiva bi-direccional, mas qualquer modelo satisfatório de Ansiedade no rendimento tem de passar por um modelo tri-dimensional.

3.2 - Autoconfiança

A Autoconfiança é um ótimo preditor para o sucesso desportivo, é uma perspetiva realista sobre o que se pode conseguir, como também é uma variável importante do rendimento, além de ser um moderador dos estados de Ansiedade (Hardy, Woodman, & Carrington, 2004). Assim, uma avaliação precisa das capacidades pessoais influencia o empenho e a quantidade de esforço a despender. A crença de um determinado comportamento originará um determinado resultado.

A Autoconfiança é vista como uma variável desejável para um desempenho de sucesso (Cruz & Viana, 1996; Callow & Hardy, 2001; Robazza & Bortoli, 2007; Rodrigues & Cruz, 1997). Cruz e Viana (1996) afirmam que os jogadores mais bem-sucedidos ou que competem a um nível mais elevado apresentam valores de confiança mais altos nas suas capacidades e ainda aumentam a sua Autoconfiança, quando atingem os seus objetivos. Quanto mais baixa a Autoconfiança do atleta mais importante se torna o sucesso e maior é a importância de se determinar metas alcançáveis.

A Autoconfiança pode ser considerada um fator de diferença individual que engloba a perceção global de Autoconfiança do sujeito e que possui uma relação linear positiva com o rendimento (Craft, Magyar, Becker, & Feltz, 2003). As predições teóricas da abordagem multidimensional sugerem que a Autoconfiança não deveria mudar a não ser que mudassem as expetativas de sucesso (Dias, 2005). O indivíduo deve acreditar que é sempre possível, e que a sua meta só depende das suas capacidades para o sucesso.

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Tabela 1 – Limites temporais dos fenómenos afetivos (Adaptado de Vallerand & Blanchard, 2000) Tempo
Tabela 2 - Médias das idades e do desempenho desportivo (Valor FINA) dos nadadores da amostra
Tabela 3 – Adaptado de Bar-Eli & Blumenstein (2004 e 2005) Programa de Controlo de Emocional (PCE) Fase Educativa Fase de Aquisição Fase de Prática
Tabela 4 - Correlação da Intensidade das emoções na Influência das emoções no desempenho desportivo
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Referências

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