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A expansão no Colégio Dom Alano Marie Du Noday

1 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO: TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS

3.2 SITUANDO O COLÉGIO DOM ALANO MARIE DU NODAY

3.2.2 A expansão no Colégio Dom Alano Marie Du Noday

Como integrante da equipe de acompanhamento e avaliação do Projeto UCA- Brasil, no Tocantins, a partir de agosto de 2010, passei a acompanhar a fase de expansão nas dez escolas do estado. No Tocantins fazem parte da expansão as seguintes escolas:

• Escola Estadual Beira Rio, em Palmas;

• Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday, em Palmas; • Escola Estadual Joca Costa, em Dianópolis;

• Escola Estadual José Costa Soares, em Guaraí; • Escola Estadual Presidente Costa e Silva, em Gurupi; • Colégio Estadual Sancha Ferreira, em Araguaína;

• Escola Municipal Antônio de Almeida Veras, em Gurupi; • Escola Municipal Crispim Pereira Alencar, em Palmas;

• Escola Municipal Professora Luzia Tavares, em Paraíso do Tocantins; • Escola municipal William Castelo Branco, em Araguaína.

O Colégio Dom Alano Marie Du Noday participou do experimento e da expansão. No início da expansão a situação da escola era outra se comparada à fase do experimento. Evidenciava-se a necessidade de reparos nas salas de aula, cobertura da quadra, melhoria do acesso à internet, organização do quadro de pessoal e capacitação dos professores para uso do laptop educacional. Foi realizada a reforma com a construção de uma cantina com maior espaço, a quadra foi coberta, também construíram-se uma sala para professores, biblioteca, sala para a orientadora educacional, mais uma sala para a coordenação próxima

à sala dos professores, com a intenção de se tornar espaço para orientação individual aos docentes, e banheiros novos para os alunos. Essa ampliação foi pensada com o objetivo de melhorar as condições de trabalho na escola. O acesso à internet foi resolvido, porém a capacitação ficou comprometida em função da rotatividade de professores e gestores. Havia um forte questionamento sobre a inserção da escola no Projeto UCA. Informalmente os professores anunciavam que não tinham sido consultados e tampouco informados sobre essa nova fase. A fala corrente que circulava na sala dos professores era que “devia ter ocorrido uma consulta e adequação das escolas antes da expansão do Projeto UCA” (Professores do ensino fundamental, em14/03/2011).

Inicialmente pensava-se que em 2011 as reivindicações feitas pela diretora, professora Monique Wermurth Figueiras, no ano de 2010 à Seduc-TO estariam atendidas. Além do questionamento se os profissionais lotados no colégio deveriam ser preferencialmente efetivos na rede com 40 horas e ter perfil tecnológico, era reivindicado:

• acesso à internet com qualidade;

• módulo diferenciado em relação à lotação de professores e funcionários, lotação de um técnico de informática 40 horas e outro de 20 horas, lotação de um professor de informática, coordenação por área de conhecimento;

• um notebook para cada profissional ligado ao pedagógico – àquela época a necessidade era de quarenta, existiam 15 máquinas com funcionamento precário, segundo o técnico de informática responsável pela escola;

• revisão na rede elétrica da escola; • climatização das salas de aula;

• fortalecimento do laboratório de informática (Labin) com a ampliação do número de máquinas (existiam apenas dez computadores);

• formação periódica semestral devido à troca de professores;

• repasse do valor da conta de energia elétrica do colégio como recurso de manutenção.

Esclarecemos que no experimento foram doados notebooks para os professores, mas eles iam para outras escolas, enquanto no Dom Alano havia máquinas danificadas.

Figueiras (2010) relatava que para a expansão a escola precisaria de nova reorganização e que, com as solicitações, tentavam-se corrigir os problemas detectados no

experimento. Ela tinha um desenho de como a escola daria encaminhamento às ações de sucesso da experiência (informação verbal).10

As reivindicações feitas em 2010 não tinham sido atendidas. Possivelmente devido aos trâmites burocráticos causados pela mudança de governo no estado, o que acarretou mudança na direção da escola, no quadro de profissionais, com transferência de professores e chegada de novos. Isso afetou o início das atividades com o laptop na fase de expansão do projeto. Em março de 2011 a escola tinha outro orientador educacional, dois coordenadores UCA, professores sem formação inicial, um único gestor e estava em reforma. Em 2010, havia um diretor-adjunto responsável pelas questões financeiras e administrativas, além do diretor pedagógico. Em 2011, as escolas da rede pública estadual do Tocantins passaram a contar com apenas um diretor. As atividades relacionadas ao financeiro e administrativo continuavam sendo realizadas pelo coordenador-adjunto, função do antigo diretor-adjunto.

Em todo início de governo depara-se com resquícios do período de transição, que inclui mudanças nos cargos de chefia. Ocorria muita instabilidade e isso incomodava, afetava a escola. Estavam aguardando a nomeação do novo diretor. Os professores demonstravam curiosidade de saber quem seria nomeado.

Percebia-se que os docentes tinham atitude de busca. As falas informais acenavam a preocupação e o comprometimento. Muitos professores que participaram do experimento saíram do colégio. Tanto os docentes que atuaram no UCA quanto os que chegavam à escola afirmavam que o projeto foi uma experiência positiva. Ressaltavam o apoio dado pelos parceiros – Brasil Telecom (comprada pela Oi), Intel, Positivo e Metasys. Enfatizavam que a Seduc-TO propiciou a infraestrutura, o que permitiu a realização do trabalho, o envolvimento da equipe gestora, dos alunos, dos pais de alunos e dos professores.

Os docentes afirmavam que o projeto estava parado por falta de apoio da Seduc- TO, infraestrutura (armários para carregar as baterias, armazenar os Classmate e acesso à rede). Essas preocupações representavam indícios de uma avaliação de caráter formativo, porque eram alicerçadas nas experiências vivenciadas, objetivando correção de rumo para as próximas ações. Por isso, houve a insistência em apontar a necessidade de infraestrutura, acesso à rede, espaço físico, capacitação permanente, tendo como referência o experimento ocorrido de 2007 a 2009.

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Os professores da escola cobravam a mesma atenção dada em 2007, 2008 e 2009. Suas experiências os faziam compreender que estavam em outro momento. Informalmente a coordenação UCA e os professores dos anos iniciais do ensino fundamental apontavam constantemente a necessidade de infraestrutura, acesso à rede. Eles chegavam a afirmar que a Seduc-TO não lhes dava atenção adequada. Um projeto com essa dimensão requer esforço significativo. É compreensível que ocorram momentos para fazer ajustes e enfrentar desafios.

A escola vivia uma rotatividade de professores que interferia no processo de formação. Diferente do que ocorreu no experimento, não se via a existência de articulação interna no espaço escolar, tampouco com o sistema educacional e a Seduc-TO.

O início da situação que culminou com a crise de identidade da escola foi desencadeado em 2009, conforme relatório:

No entanto, vale ressaltar que no ano de 2009 houve mudanças na escola. A alta rotatividade de professores gerou a necessidade de novas capacitações. Além disso, houve mudança na equipe gestora. A diretora e a coordenadora de informática, ambas que atuaram no Projeto durante os anos de 2007 e 2008 de forma participativa, comprometida e incentivadora de toda a comunidade do colégio, foram transferidas da escola (ALMEIDA et al., 2010a, p.32).

Resistir foi a forma de os professores expressarem descontentamento com o modo que foi inserido o Projeto UCA. A resistência dos professores não era quanto ao uso e sim quanto ao modo como a expansão ocorreu. Nesse sentido, não encontramos registro de diagnóstico feito com os professores sobre o interesse em aderir. O que existe é a adesão e interesse da Seduc-TO.

Apesar de o relatório da fase de experimento apontar que houve demanda pela continuidade do Projeto para consolidação do trabalho que vinha sendo realizado, na prática não se verifica indícios de ações e registros de que houve essa consulta à comunidade escolar para a expansão. Uma possibilidade pode ser a de tal consulta não ter sido documentada. Isso estaria na memória dos professores. A rotatividade de docentes e diretores contribuiu para que essa memória fosse perdida. Essa situação evidenciou a existência de barreiras institucionais, individuais e do sistema educacional.

Registra-se também o fato de os projetos político-pedagógico das escolas estaduais seguirem um modelo-padrão definido pela Seduc-TO. Disso depreende-se que, caso o colégio elabore um projeto pedagógico ousado, no sentido de propor ações mais arrojadas

frente às exigências das TIC, corre-se o risco de não ser aprovado. A equipe responsável pela área de currículos e pela aprovação dos PPP da Seduc-TO precisaria realizar a formação UCA, visto que também houve mudança nesse grupo, para compreender seus princípios e a visão de projeto preconizada, que parece divergir da que é assumida por eles. Além disso, a escola trabalha tem parceria com o Instituto Ayrton Senna através dos programas Se Liga, Circuito Campeão e Acelera que tem definidas as ações a ser realizadas pelos docentes.

Moreira (2011) abordava que as dificuldades da formação relacionavam-se à infraestrutura. Segundo passou-se por um momento muito bom, uma experiência positiva, o projeto aconteceu e agora, por falta de infraestrutura, não se consegue desenvolver, não há continuidade (informação verbal).11 O professor cria uma resistência e passa a não acreditar. Ele planeja e não consegue executar.

A reforma da escola foi concluída, os problemas de infraestrutura resolvidos, porém a rotatividade de professores permanecia. A escola convivia com professores chegando, professores saindo. Isso interferia consideravelmente na formação e consequentemente na prática pedagógica.

Novamente as situações vividas no experimento são ignoradas. Para quem não acompanhou o Projeto UCA em Tocantins, tem-se a impressão de que essas experiências tão significativas não ocorreram e outra vez aparece à indignação, o que demonstra que fazer educação neste país é extremamente complicado quando os gestores utilizam-na a serviço do interesse de alguns, ignorando quem está na linha de frente descortinando horizontes e abrindo perspectivas.

Fico muito frustrada de ver que o desenho do projeto do estado com 76 mil laptops adquiridos pelo governo para fomentar a discussão da inserção da tecnologia na escola chega com um mínimo de discussão sobre a formação dos professores, que apenas tecnológico vai ser contemplado com a formação de só 20 horas (FE, entrevista em agosto de 2012).

O que a escola vivenciava no final de 2012 evidencia como as questões políticas interferiam no processo educativo dos sistemas educacionais. A lógica de quem está investido num cargo político não é a mesma de quem está no espaço escolar. Nessa ótica, vale reafirmar o posicionamento de uma educação libertadora (FREIRE, 2005).

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