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O Projeto Um Computador por Aluno no Brasil

1 A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO: TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS

1.4 POLÍTICAS EDUCATIVAS VOLTADAS PARA INSERÇÃO DAS

1.4.1 O Projeto Um Computador por Aluno no Brasil

A criação e a implementação do Projeto Um Computador por Aluno (UCA) foram uma iniciativa da Presidência da República, sob coordenação do MEC, por meio da Seed.

No Fórum Mundial em Davos, Suíça, em janeiro de 2005, foi apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o projeto One Laptop per Child (OLPC). A proposta de custo por laptop era de 100 dólares. Sob responsabilidade da Fundação OLPC, constituída por pesquisadores, entre os quais se destacam Nicholas Negroponte, Seymour Papert e Alan Kay, o projeto trata da desenvolução e distribuição de laptops adaptados e de baixo custo para crianças de países em desenvolvimento.

A Seed/MEC, após ter conhecimento do projeto da OLPC, em 2007, decidiu realizar sondagens em estados e municípios objetivando ter adesão desses para realização de experimentos acerca da utilização dos laptops educacionais em sala de aula por alunos e professores.

Para avaliar as questões pedagógicas, foi organizado um grupo de acompanhamento pedagógico dos experimentos, formado por pesquisadores com conhecimento e experiência em pesquisas e projetos de informática educativa: José Armando Valente, Unicamp; Léa da Cruz Fagundes, UFRGS; Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Mauro Cavalcante Pequeno, Universidade Federal do Ceará (UFC); Paulo Gileno Cysneiros (UFPE); e Roseli de Deus Lopes, Universidade de São Paulo (USP). Essa equipe instituída por portaria do Ministério da Educação elaborou, em março de 2007, os princípios norteadores para o uso pedagógico do laptop na educação escolar (MEC/SEED, 2007). No Brasil, o projeto OLPC foi adequado à realidade, ressignificado e intitulado Projeto UCA. Em junho de 2006, o projeto foi lançado oficialmente pelo MEC e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

De acordo com Mendes (2008), a diferença mais marcante entre o OLPC e o Projeto UCA se relaciona à prática pedagógica com uso dos computadores, que, no Projeto UCA, ocorre no contexto escolar, em sala de aula, em outros espaços da escola e ainda pode ser levado para casa pelos alunos, o que certamente provocará alterações no cotidiano escolar, no processo de ensino e de aprendizagem. A possibilidade de o laptop ser levado para casa contribui para a inclusão digital das famílias, conforme preconizam os princípios

norteadores do uso pedagógico do laptop na educação escolar. Esse é um diferencial, pois não faz sentido o equipamento ficar retido na escola.

No pré-piloto foram escolhidas cinco escolas públicas de ensino fundamental, que se tornaram campo de pesquisa para avaliação dos laptops educacionais. Foram utilizados três modelos de laptops, fabricados por empresas diferentes, os quais foram doados ao governo federal. Os estabelecimentos de ensino receberam 1.390 laptops, assim distribuídos:

• 800 unidades dos laptops Classmate da Intel (400 para o Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday em Palmas, no Tocantins, e 400 para o Centro Integrado de Educação Pública – Ciep - Professora Rosa da Conceição Guedes em Piraí, no Estado do Rio de Janeiro);

• 40 unidades dos laptops Mobilis da Encore para o Centro de Ensino Fundamental 01 da Vila Planalto em Brasília (DF); e

• 550 unidades do modelo XO da OLPC (275 para a Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu em Porto Alegre (RS) e 275 para a Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno, situada em São Paulo - SP (BRASIL, 2008, passim).

Figura 3 - Modelos de laptops pré-piloto XO, Mobilis e Classmate

Critérios de escolha das escolas para essa fase.

• Centro de Ensino Fundamental 01 da Vila Planalto em Brasília (DF): situar-se numa comunidade caracterizada por um alunado do qual 20% das crianças não tinham endereço e residiam em invasões ao redor do Lago Paranoá.

• Escola Estadual de Ensino Fundamental Luciana de Abreu em Porto Alegre (RS), Escola Municipal de Ensino Fundamental Ernani Silva Bruno (São Paulo - SP) e Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Professora Rosa da Conceição Guedes em Piraí (RJ): proximidade com diferentes centros de pesquisa e consultores, possibilitando uma avaliação mais de perto.

• O Colégio Estadual Dom Alano Marie Du Noday em Palmas/TO, pela distância dos grandes centros, localizada na Região Norte, e pela adesão do Estado. Segundo o MEC, a primeira fase avaliaria a funcionalidade pedagógica do computador em sala de aula, a capacitação de professores, condições de uso, a interatividade entre os alunos e a segurança dos aparelhos na escola. O experimento exigiu reorganização das escolas, abrindo discussão para o currículo e a sua função social, pois, ao ter nas mãos o computador, professores e alunos investigam e aprendem.

Os computadores continuam subutilizados por distintos motivos que dependem menos da presença da tecnologia na escola e mais de aspectos político-pedagógicos e de uma adequada formação dos educadores (Valente & Almeida, F., 1997; Silva, 2001; Almeida, 2004; Costa, 2004; Valente & Almeida, 2007) que propicie conhecer tanto as características e principais propriedades intrínsecas das tecnologias como suas potencialidades pedagógicas e formas de integrá-las ao currículo. Ainda há muito que produzir sobre as contribuições das tecnologias para o desenvolvimento de currículos em ação, novas concepções de avaliação, outras estruturas e modos de organizar a escola (ALMEIDA, 2008, p. 33). Em 2009 o MEC, através das equipes de pesquisadores e coordenadores responsáveis pela avaliação dos experimentos, iniciou a análise (fase pré-piloto). Em setembro de 2010, as experiências realizadas entre 2007 a 2009 foram organizadas nos relatórios de sistematização I (BRASIL, 2010c), II (BRASIL, 2010d) e III (BRASIL, 2010e)

Instituições e pessoas responsáveis pela execução:

• Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – Programa de Pós- Graduação em Educação: Currículo.

• Laboratório de Estudos Cognitivos – Instituto de Psicologia – UFRGS • Associação do Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico

• Mediateca – Organização para Inclusão Social e Digital (BRASIL, 2010c, p.1; 2010d, p.1; 2010e, p.1).

A consolidação das informações foi realizada pela Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi). A Fundação Pensamento Digital foi indicada pelo governo brasileiro como executora da cooperação técnica estabelecida entre o MEC e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Para a expansão do programa, o MEC contou com o BID para apoiar a documentação e disseminação das experiências relevantes das cinco escolas pré-piloto.

Para cada escola foram gerados três relatórios elaborados pelas universidades responsáveis pelo acompanhamento da escola.

• Relatório I - Descrição da Escola.

• Relatório II - Infraestrutura e Conectividade.

• Relatório III - Gestão (que gerou um conjunto de dez relatos de experiência e três estudos de experiências educacionais).

A avaliação das ações desenvolvidas na fase do experimento no Colégio Dom Alano Marie Du Noday foi realizada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo), apoiada pelo BID, Coordenação Executiva da Fundação Pensamento Digital. Os autores foram: Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida (orientadora); Maria Elisabette Brisola Brito Prado (coordenadora); Marilene Andrade Ferreira Borges; e George França. Os relatórios produzidos trouxeram como destaque a criação da figura do coordenador pedagógico do Projeto UCA na escola; planejamento da prática pedagógica; e o projeto aluno monitor, reconhecimento pela comunidade escolar que será tratado detalhadamente no tópico seguinte.

Silva, R. (2009) fez um estudo por meio de oficinas com professores no espaço da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo sobre o impacto inicial do uso do laptop educacional sob a ótica dos docentes. Investigou o uso dos três protótipos: XO, Mobilis e o Classmate. Entre os resultados da pesquisa, a autora apresenta a dificuldade dos professores em integrar o laptop à prática pedagógica pelo motivo de essa tecnologia não ter feito parte da formação inicial do docente.

Segundo a autora, “para os professores, o uso de qualquer um dos protótipos os ajudaria a vencer a resistência à tecnologia e os estimularia a refletir sobre a sua prática pedagógica e sobre novas possibilidades de uso do computador nas atividades em sala de aula” (SILVA, R., 2009, p.78-79). O trabalho destaca a importância do manuseio do laptop e que é a partir da utilização que os professores terão segurança e familiaridade na realização das atividades e terão mais conhecimento das ferramentas do laptop. A investigação apontou que um dos maiores desafios para os professores é a realização de atividades em turmas superlotadas num curto espaço de tempo.

Os depoimentos dos professores revelaram a necessidade de refletir sobre a prática pedagógica existente. “[...] A prática atual não dará conta das possibilidades de uso pedagógico com a tecnologia móvel” (SILVA, R., 2009, f.106). As afirmações ganham valor. Representam o posicionamento dos docentes frente à vivência com essa tecnologia. Os professores “[...] se mostram críticos ao revelar consciência sobre a necessidade de replanejamento para desenvolverem novas práticas com o uso do laptop educacional na educação” (SILVA, R., 2009, f.94).