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A expansão do ensino superior na contemporaneidade

2 A RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO E ARQUITETURA

2.2 EDUCAÇÃO SUPERIOR E ARQUITETURA: HISTÓRICO DESTA RELAÇÃO

2.2.5 A expansão do ensino superior na contemporaneidade

Após o período inicial de investimentos, inclusive com fontes de financiamentos internacionais, a expansão universitária, iniciada na década de 70, teve um declínio acentuado. Pinto e Buffa (2009) afirmam que muitos dos campi

construídos não tinham recursos suficientes para manutenção e reforma, considerando-se que o modelo de campus universitário é uma opção dispendiosa.

Com o fim do "milagre econômico brasileiro" (1967-73), urbanistas e arquite- tos vinculados ao MEC e às direções da universidades públicas “defendiam maior inserção das universidades” na malha urbana, a utilização de materiais mais baratos e mais de acordo com o estilo arquitetônico de cada cidade, com construção de prédios mais simples e a definição de centros de convivência (CUNHA, 2007b, p.183).

Ainda segundo esse autor, a partir da Constituição de 1988 as universidades passam a ser instituições em que ensino, pesquisa e extensão ocorrem de forma indissociada. No entanto, desde janeiro de 1995 o governo federal empreende uma intensa atividade reformadora no campo educacional, em todos os níveis e mo- dalidades. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional apresentou uma detalhada caracterização das universidades, cujo novo modelo tinha como principais pontos a avaliação das instituições, tanto quanto à sua produção científica quanto ao regime jurídico, desempenho dos estudantes e autonomia financeira e funcional.

No cenário da expansão do ensino superior, enquanto as universidades públicas se instalavam em campi fora das cidades, com estrutura precária, as do ensino superior do setor privado continuaram inseridas na malha urbana, com instalações e equipamentos adequados e se expandiram significativamente nas últimas décadas, impulsionadas pela demanda do “mercado” (PINTO; BUFFA, 2009). O Censo de 2004, registrou que de 2.013 instituições inscritas, 1.859 pertenciam ao setor privado, ou seja, o setor privado era responsável por praticamente 90% de todas as IFES do país e que apenas 8,4% das IFES eram universidades e realizam atividades de ensino, pesquisa e extensão (RISTOFF, 2006).

Esse mesmo autor afirma que, diante da necessidade de recuperar o papel estratégico das universidades, em especial o do setor público, em 2001 foi instituído o Plano Nacional da Educação (PNE), que tinha como diretriz a expansão com qualidade da educação superior para o desenvolvimento econômico e social do país.

Nesse contexto, a rede federal de ensino superior passa, desde 2007, por um processo de expansão apoiado pelo Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). De acordo com o MEC25, traçando-se um panorama nacional, a expansão da rede federal de educação superior, iniciada em 2003, teve como metas a interiorização e democratização do acesso ao ensino público, o que resultou na criação de 14 universidades entre 2003 e 2010 e outras quatro de 2011 a 2014, totalizando 63 instituições federais de ensino superior. O número de campi passou de 148, em 2002, para 321, em 2014.

Na Bahia, por exemplo, a relação do número de vagas por habitantes classificava o estado entre as cinco piores colocações, com 6,8 vagas/10 mil hab., contra a média nacional de 9,8 vagas/10 mil hab. De 2003 a 2010, foram instalados mais 6 campi; a Universidade Federal do Recôncavo UFRB foi criada em 2005 e mais 9 campi até 2014. Nesse período de expansão, ocorreu o desmembramento da Universidade Federal da Bahia para a Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) e a criação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFESB), ambas por meio de decreto de lei, em julho de 2013. Dos 9 campi novos, 3 campi são da UFESB e 4 campi da UFOB.

Esse período de grande expansão pode ser visualizado no quadro a seguir, que mostra um histórico de criação das universidades no Brasil, presente no Relatório de Análise sobre a Expansão das Universidades Federais 2003 a 2012.

Figura 10 - Quadro referente a criação de universidades federais

FONTE: Relatório de Análise sobre a Expansão das Universidades Federais 2003 a 2012 (2012)

Há nesse quadro dois períodos de expansão intensa, entre 1956 e 1961, que corresponde ao período de federalização, e de 2003 a 2010, com o plano de expansão da rede federal, durante o governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, com o programa REUNI, estudo desta pesquisa.

No período da federalização as universidades foram criadas através de reunião de faculdades isoladas, sem necessariamente a construção de novas edificações. Na expansão mais recente, embora universidades também tenham sido criadas de unidades já existentes, como por exemplo a UFOB, que foi criada da unidade UFBA Barreiras26, essa expansão refletiu em grande número de obras, contabilizados 3.065.735,17m2 de novas áreas construídas, conforme quadro a seguir:

26 A UFBA Barreiras passou a ser UFOB, mas foram criados mais quatros campi em cidades próximas, então podemos afirmar que houve uma efetiva ampliação da rede.

Figura 11 - Quadro referente a área construída entre 2003 e 2010

FONTE: Relatório de Análise sobre a Expansão das Universidades Federais 2003 a 2012 (2012)

Desse quadro, podemos inferir que para a instalação das novas unidades foi necessário um grande investimento na área de infraestrutura, como vias e estacionamento, e foram priorizados também as salas de aula e os laboratórios. As áreas multifuncionais, as quais apresentam a segunda maior área construída, representam a junção de várias áreas de funcionalidades distintas, como sanitários, circulação, lanchonete, apoio, dentre outras. Não se trata, portanto, de áreas que permitam várias utilizações, como uma sala multifuncional, por exemplo, mas de múltiplas áreas com funções distintas agrupadas na mesma categoria de análise. Vale ressaltar que esse quadro somente contabiliza as obras até 2010, quando muitas dessas ainda em andamento, razão pela qual não foram contabilizadas.

Além da ampliação do número de universidades, o número de vagas teve aumento significativo nos dois períodos. O aumento do número de vagas ofertadas foi de 236,7%, entre 1945 e 1964 (OLIVEIRA, 2015) e, entre 2003 e 2011, o aumento de vagas na graduação presencial foi superior a 112,1% e houve ampliação superior a 520% nas matrículas dos cursos de graduação na modalidade

a distância, impulsionada pela criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), em 2006 (BRASIL, 2012).

Outra vertente do crescimento da rede federal de ensino superior inicia-se com a transformação das Escolas Técnicas em instituições comparadas às universidades. Além de curso técnicos nas modalidades integrado e subsequente, oferece cursos superiores de tecnologia, licenciatura, bacharelado, engenharia, aperfeiçoamento, pós-graduação lato sensu (especialização) e pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).

A Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica também passou por recente processo de expansão com o investimento total de R$ 4,1 bilhões, entre 2011 e 2013. O número de unidades em operação passou de 354, em 2010, para 527, em 2014. Ainda de acordo com o MEC27, por meio do Painel Público, com a Expansão da Educação Superior, Profissional e Tecnológica, na Bahia, por exemplo, que contava com 9 Institutos Federais em 2002, foram criadas mais 10 unidades entre 2003 e 2010 e mais 12 unidades entre 2010 e 2014.

Muitas das novas unidades dos IFs, a exemplo do IFBA Seabra, estão locadas fora do perímetro urbano e, assim como novos campi das Universidades, também enfrentam o mesmo problema de falta de infraestrutura. No entanto, as unidades já consolidadas não estão isentas de problemas de infraestrutura, principalmente no que tange à estrutura de elétrica, lógica e internet. Os problemas acentuam-se nas cidades do interior com infraestrutura precária. No tocante a esta realidade, os problemas enfrentados pelas universidades e institutos federais são de ordens semelhantes.

Diferentemente das universidades, os institutos apresentam particularidade quanto ao perfil dos sujeitos que vivenciam os espaços, pois, diante das diversas modalidades de ensino ofertadas, os alunos apresentam distintos perfis. Estudantes adolescentes no ensino médio integrado, jovens no ensino superior e subsequente e

adultos nos cursos do PROEJA utilizam os mesmos espaços, muitas vezes no mesmo horário.

Considerando-se que a estrutura existente foi construída para atender aos cursos técnicos, parte-se do princípio de que o ensino superior utiliza os mesmos espaços do ensino médio, sem que as especificidades do ensino superior sejam consideradas na configuração dos espaços dos institutos. Por exemplo, os espaços de convivência muitas vezes se resume ao recreio coberto, com móveis adequados somente para refeição, ou o sinal que toca entre as aulas no ensino médio e interferem nas aulas do ensino superior.

Quanto ao corpo docente dos IFs, de carreira EBTT, o professor leciona nas diversas modalidades de ensino da instituição, com carga horária de 20 horas em sala de aula, o que reduz o tempo para participar de capacitação, grupos de pesquisa e orientação a projetos de iniciação científica e, consequentemente, diminui as oportunidades dos discentes participarem mais efetivamente na vida acadêmica do ensino superior.

A verba para expansão dos IFs atendem também à reforma e ampliação das unidades existentes. No entanto, em se tratando de construções públicas, Pinto e Buffa (2009) afirmam que por motivos diversos e compromissos políticos, muitas verbas precisam ser aplicadas e gastas com rapidez, o que muitas vezes compromete a qualidade dos espaços e dos edifícios. Esses autores afirmam que:

Apesar das novas tecnologias de ensino, sobretudo as digitais, as salas de aula ainda são construídas apenas com previsão de espaço para carteira, mesa, lousa, e quando muito, duas tomadas elétricas, janelas sem cortina e ventilação precária [...] Os edifícios são ampliados da mesma forma: o importante é abrigar rapidamente as novas demandas e executar tudo com o mínimo de gastos”. (PINTO; BUFFA, 2009, p.145)

Com base nessa afirmação sobre “novas tecnologias de ensino”, que propomos abordar o tema sobre a ótica do desafio que a cultura digital traz para a arquitetura de instituições do ensino superior.