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3 A CONTEMPORANEIDADE: EDUCAÇÃO E ARQUITETURA NO SÉCULO

3.4 ARQUITETURA PARA A EDUCAÇÃO NO SÉCULO

Esse é um tema para o qual, embora seja sempre discutido como necessário, não há na literatura definições mais claras de como seria a arquitetura para a educação no século XXI. Faremos então a tentativa de trazer alguns elementos que caracterizam essa arquitetura sem, no entanto, propor alguma estrutura específica ou modelos espaciais. Serão contribuições no campo teórico, um esboço aberto a outras leituras, críticas e sugestões. Ideias em construção que esperamos, de forma colaborativa e em rede de conhecimentos, sejam ampliadas e discutidas.

O primeiro ponto a discutir é um paralelo entre o uso das tecnologias digitais na educação e na arquitetura. Da mesma maneira que as tecnologias podem ser usadas apenas como instrumentos da chamada modernização dos processos pedagógicos instituídos, o uso das tecnologias na arquitetura também pode ser considerado apenas como uma ferramenta de representação de projetos da arquitetura instituída. Dessa maneira, nem na educação e nem na arquitetura o potencial das tecnologias digitais está sendo utilizado.

Precisamos considerar que estamos diante do desafio de mudar o instituído e trazer novas possibilidades. Tanto a arquitetura como a educação carregam paradigmas que se perpetuaram com o tempo. Claro está que esses paradigmas não são fixos e imutáveis; são revistos e se transformam de acordo com a sociedade, conforme apresentado no percurso histórico da relação educação e arquitetura no Brasil.

No entanto, mesmo passando por um processo de transformação, o paradigma básico da arquitetura se mantém como estrutura sólida que protege das intempéries e com definições prévias do uso do espaço, bem como também é

mantido o paradigma da educação, como processo formativo de instrução para o mercado de trabalho, de transferência de conhecimento.

A dinâmica da cultura digital com participação do sujeito rompe com esses paradigmas. A possibilidade de produzir em vez de consumir é o que de fato muda o papel, tanto dos sujeitos usuários da arquitetura quanto dos sujeitos da educação.

Na educação e na arquitetura, as tecnologias digitais podem ser utilizadas de maneira estruturante, uso que permite a ampliação das possibilidades diante da potencialidade dessas tecnologias. Logo, esse uso pode produzir uma arquitetura fundamentada em princípios como a interatividade, mobilidade, flexibilidade e reciclagem, ou seja, uma arquitetura mais fluida. Nas instituições de ensino, essa arquitetura contribuiria para a educação colaborativa, de produção e compartilhamento de conhecimento.

Na arquitetura interativa e flexível não se pressupõe o uso fixo para um ambiente, mas possibilita que o sujeito defina e reconfigure os espaços, físico e simbólico, de maneira a atender ao seu uso. Parte do princípio de um espaço vivido, com continuidade do projeto e da construção durante o uso, ou seja, uma construção colaborativa de espaços entre projetista e usuário.

De acordo com esse princípio, os ambientes das instituições de ensino, além das condições básicas de conforto térmico e acústico, permitem adaptação para diversos usos, tanto no que tange a elementos móveis quanto a construtivos.

Como elementos móveis temos o mobiliário, que pode permitir diversos arranjos de layout e composições para diferentes usos, o sistema de controle de luminosidade de acordo com a atividade desenvolvida ou o quadro branco com rodízios que possa ser levado para onde for necessário, por exemplo. Quanto a elementos construtivos, são considerados a estrutura física do ambiente, sua forma, dimensões, a infraestrutura de rede e elétrica, esquadrias que permitam a interligação com outros ambientes, ou áreas externas.

Outra característica para essa arquitetura é a conexão em redes. As instituições de ensino conectadas às redes de produção de conhecimento pressupõem a internet aberta e de qualidade em todos os ambientes, permitindo a

conexão com aparelhos móveis. A infraestrutura elétrica prevê cargas e pontos de tomadas considerando possíveis ampliações de uso.

Os espaços de estudo consideram o uso de notebooks e tablets, com tomadas e mobiliário adequados, bem como os equipamentos com internet disponível e sem restrição quanto ao acesso às páginas da internet, porque as redes sociais também se configuram como espaços de convivência.

A conformação arquitetônica também pode incentivar a convivência em áreas diversas prevendo pontos de energia e internet pois a necessidade do seu uso, para carregar as baterias, por exemplo, pode ser considerada como foco de atração para a apropriação dessas áreas.

Outro ponto entende que essa não é uma educação única. E, por isso, a sala de aula como espaço instituído para essa educação também não deve ser padronizada, considerando-se as múltiplas linguagens da cultura digital. Segundo Pretto (2014):

Pensar a escola contemporânea, que será a preparadora dos jovens de hoje e do amanhã, implica em rearrumá-la arquitetonicamente, aproximando-se mais de experiências como a dos laboratórios hackers, fab labs30 ou Pontos de Cultura, com a implantação de espaços multimidiáticos de produção de vídeo, televisão e rádio, de espaços para a produção textual nas diversas linguagens e com os diversos suportes, de espaços da experimentação com hardwares livre como o Arduíno que vem viabilizando a construção das revolucionárias impressoras 3D [...], com a implantação de programação de computadores para a meninada, desde a mais tenra idade, entre tantas outras ações a serem oferecidas à juventude (PRETTO, 2014, p.08).

30 Um fab lab (laboratório de fabricação, do inglês fabrication laboratory) é uma pequena oficina que oferece fabricação digital. Geralmente é equipado com um conjunto de ferramentas flexíveis

controladas por computador, as quais cobrem diversas escalas de tamanho e diversos materiais diferentes, com o objetivo de fazer "quase tudo". Isso inclui produtos tecnológicos geralmente vistos como limitados apenas para produção em massa. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fab_lab

Embora esse autor faça referência às escolas, acreditamos que a arquitetura da universidade poderia e deveria ser projetada levando-se em conta essa perspectiva mais ampliada, que considera outras demandas do espaço para a educação, para além da sala de aula exclusivamente. Considerando também que a própria sala de aula precisa ser repensada de forma mais coerente com a dinâmica da cultura digital.

A arquitetura das instituições de ensino precisa, acima de tudo, ser considerada como produto de uma sociedade e, assim como essa, está imersa em uma cultura digital; em caso contrário, continuará a manter os paradigmas da educação instituída, desconsiderando outras demandas.