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2.1. O Processo de Urbanização – da Suburbanização à Expansão Difusa no Contexto

2.1.1. A Expansão Urbana como fenómeno caracterizador da evolução das

“A “cidade contemporânea” integra as antigas urbes compactas e contínuas, mas também fragmentos e construções dispersas que, viabilizadas pelo estender das infra- estruturas e pela mobilidade criada pelo automóvel, se espalham em áreas cada vez mais alargadas.” (Carvalho, 2009, 42) Com o desenrolar da ocupação urbana do território sem qualquer planeamento, além dos subúrbios é discutido outro conceito, que classifica a coroa adjacente a este como área periurbana. Interessa assim distinguir estes dois fenómenos: suburbanização e periurbanização. Estes conceitos surgem integrados numa abordagem explanada por Leal da Silva (2007, 26) do modelo centro-periferia, em que o centro das cidades é o “motor da expansão urbana”, contrapondo com a periferia, como “espaço de crescimento dominantemente extensivo das áreas edificadas residenciais.”

Para Pereira (1986,21, cit. Leal da Silva, 2007, 11), os “Subúrbios” apresentam características muito específicas como: um forte carácter urbanizado e uma elevada densidade de ocupação, através do consumo do espaço rural, agora reduzido a pequenos vestígios, e por fim, apresenta uma forte ligação e dependência aos principais eixos de transporte rodoviário e ferroviário. Como refere Barata Salgueiro (1999, 208) “o subúrbio traduz um modelo

concentrado de expansão urbana onde coexistem as baixas densidades (áreas residenciais dominantemente unifamiliares) e as altas densidades (áreas de habitação dominantemente plurifamiliar)”, complementada com a definição apresentada pela DGOTDU (2000, 174), em que o subúrbio é “o território urbanizado que rodeia um centro populacional marcadamente urbano (…) reflecte a situação de “inferioridade” ou dependência desse território relativamente à cidade.”

O fenómeno de periurbanização é estudado desde a década de 1940, especialmente no Reino Unido e em França, discutindo-se uma definição universal para o mesmo. Por se tratar da descrição de um fenómeno que ocorre no “interface” entre o rural e o urbano, vem complicar a sua uniformização. A área periurbana é definida por Dézer (Dézer et al., 1991 cit. Leal da Silva, 2007, 22) como a segunda coroa envolvente da cidade-centro, apresenta um modelo de expansão urbana de forma dispersa, e o seu desenvolvimento é potenciado pelo aparecimento do automóvel e a modernização das redes de transporte. Pereira (1986,23, cit. Leal da Silva, 2007, 11) acrescenta mais características a esta definição, além da ocupação difusa e em extensão, tais como: a descontinuidade do tecido construído, as baixas densidades de ocupação, a grande dinâmica de fraccionamento da propriedade, a instabilidade da actividade agrícola e até a sua desafectação perante a proximidade de urbanização.

Leal da Silva cita Brunnet (2007,16) quando se refere a algumas consequências desta forma urbana dispersa, afirmando que apesar da distância, continua a existir uma dependência à cidade-centro, acrescida de uma maior necessidade de deslocações pendulares casa- trabalho, especialmente com recurso ao modo de transporte individual, já que este espaço apresenta um carácter maioritariamente residencial. A busca de uma melhor qualidade de vida, de calma e o desejo bucólico dos citadinos que procuram as áreas periurbanas, não os afasta dos valores e atitudes urbanas, por vezes até assimilados pelos residentes originais.

Como é possível observar na Figura 3, de Bryant & Russwurm (1982), estes repartem o espaço em várias coroas em torno na cidade consolidada. Adjacente ao núcleo, apresenta-se a primeira Coroa – Faixa rural-urbana, em que a faixa interna representa o solo rural totalmente convertido a urbano (que pela descrição, caracteriza o subúrbio) e a faixa externa representa o uso do solo rural com elementos predominantemente urbanos. A segunda Coroa – Sombra Urbana, é a área de habitações rurais ocupada por trabalhadores na cidade (periurbano). A terceira Coroa – Área rural, onde se encontram algumas habitações secundárias.

Cap. II – Cidades Sustentáveis – Dos Princípios à Acção

Fonte - Bryant & Russwurm, 1982; em Fernandes (2008, 108-109) Figura 3 - Coroas Periurbanas

A estes processos de expansão urbana surgem conceitos caracterizadores de diferentes formas urbanas resultantes dos primeiros, tais como compacidade ou continuidade, associada aos centros das cidades, e dispersão ou difusão, em contradição com os dois conceitos já referidos.

Historicamente, a compacidade e continuidade foram qualidades desenvolvidas em processos urbanos de contenção, por várias razões, especialmente nos centros históricos das cidades, característica da cidade europeia pré-industrial e burguesa, posterior centro da cidade a partir da 2ª Guerra Mundial. Entre os diversos motivos contam-se a existência de muralhas, e mais recentemente de cinturas viárias ou a desocupação da agricultura de proximidade. (Portas, 2009, 62). Por oposição, Portas refere que “estes dois termos conotam formas distintas da expansão urbana, de nova urbanização ou que absorvem assentamentos antigos periurbanos, rurais ou rurbanos”, porém distingue-os: “(…) atribui-se o termo “dispersão” ao crescimento aleatório por novas “urbanizações” ou condensação de núcleos (de densidades brutas baixas mas que pode ser composta por áreas de densidade elevada) e o termo “difusão” ao espalhar da vida e construção urbanas com base no cadastro e infra-estrutura rurais ou aproveitando a proximidade de instalações de trabalho entretanto deslocalizadas ou reformadas” (apresentando uma densidade baixa) (2009, 62, 64). Alves e Cortesão definem a dispersão urbana como “uma forma particular, espacialmente ilimitada, de crescimento suburbano (Downs, 1999), caracterizada por um padrão de desenvolvimento de baixa densidade (Carruthers e Ulfarsson, 2002) (…). (…) é também um género espacial de mudança de usos do solo (Fang, Gertner e tal, 2005), portanto, algo resultante da combinação de

questões sociais/culturais com questões políticas. (…) não é só um padrão físico de desenvolvimento mas também “(…) de escolhas de estilos de vida (de onde sobressaem a opção por habitações unifamiliares isoladas e o número múltiplo de automóveis por família) e de instituições política que a reforçam (Carruthers, 200)”.” (2009, 68).

Tais fenómenos urbanos, em muito relacionados com o declínio das cidades e de algumas áreas suburbanas (Alves e Cortesão, 2009, 70), vêm alterar a relação simples de centro-periferia para a tendência da “conurbação”, com um maior número de centralidades, apesar de serem de menor dimensão, eventualmente complementares, dando sentido ao conceito de policentrismo, havendo sempre um “centro mais central” (Portas, 2009, 63).

Apesar da dispersão urbana ser considerada, por muitos, como prejudicial à sustentabilidade urbana, alguns autores retiram deste fenómeno algumas oportunidades. Alves e Cortesão sublinham que “a oportunidade que a ocupação dispersa do território nos parece oferecer é a de compreender uma grande proximidade entre áreas urbanas, o espaço livre e o espaço aberto. A conversão destes dois tipos de espaço em espaços públicos qualificados e diversificados, em género e em número, parece-nos constituir uma das melhores formas de controlar os efeitos negativos do urbanismo disperso.” (2009, 67).

São várias as razões que motivam as famílias na escolha da localização da residência num espaço urbano de baixa densidade. Entre elas, destacam-se: a opção de aquisição de uma habitação individual, acessibilidade e o transporte individual que permitem a proximidade ao espaço colectivo, a existência de relacionamento social de proximidade a par do direito à privacidade. Contudo, tais opções, associadas a uma expansão urbana mais difusa ou dispersa provocam impactes negativos para a sustentabilidade. Destes salientam-se: o maior consumo de solo urbanizável, o maior grau de impermeabilização do solo e extensão das infra- estruturas, a maior dependência do transporte individual motorizado (consoante também as alternativas disponíveis em matéria de transportes públicos), o maior consumo energético ou uma maior complexidade dos serviços públicos (Portas, 2009, 65). De forma a minimizar a maioria destes impactes, Alves e Cortesão sugerem que “as zonas suburbanas deverão ter a sua praça, o seu “parque da cidade”, os seus jardins (…) para se constituírem como uma alternativa credível aos grandes centros urbanos. Em associação a bons serviços, equipamentos, acessos, redes de transportes públicos, postos de emprego (…) veríamos, então, passar a deslocação à cidade central da obrigatoriedade para a opção”, contribuindo para a redução dos movimentos pendulares diários, da sobrelotação do centro e a conversão das cidades-dormitórios em centralidades, contribuindo para uma matriz multinucleada, como controlo da ocupação dispersa (2009, 71).

Cap. II – Cidades Sustentáveis – Dos Princípios à Acção

2.1.2. O Contexto Europeu e Português da Expansão Urbana entre 1990 e