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3. Desenvolvimento Sustentável e o Planeamento Urbano no contexto europeu – dos

6.2. Breve Contextualização Histórica de Benfica e Alcochete

Os casos de estudo seleccionados são, em vários aspectos, muito diferentes. Desde já, a sua História e as diferentes fases de desenvolvimento a que estas áreas estiveram sujeitas reflectem-se nas dinâmicas verificadas. Também a localização geográfica (Figura 47) e a envolvente urbana à escala municipal onde os casos de inserem são factores de elevada relevância para a análise que se seguirá. Interessa então, antes de mais, abordar estes dois tópicos: história e localização geográfica, relativamente aos dois casos de estudo.

Figura 48 – Freguesia de Benfica Fonte - Google Earth (2010)

Figura 47 – Localização Geográfica das duas freguesias em estudo: Benfica e Alcochete

Os territórios dos casos de estudo revelam várias diferenças. A primeira grande distinção é relativa ao território onde estão localizados. A freguesia de Benfica é uma das 53 freguesias que compõem o concelho de Lisboa. Com uma área de 7,97 Km2, a área de Benfica corresponde a 9,4% da cidade de Lisboa. Por outro lado, a freguesia de Alcochete, onde se insere a única vila (e sede) do concelho, com uma área de 87,5 Km2, ocupando 92,6% do município. Apesar da grande desproporção das duas freguesias, como já foi referido a área urbana de Alcochete é bastante reduzida.

Freguesia de Benfica

A freguesia de Benfica integrou a Cidade de Lisboa a Julho de 1885, anterior pertença do concelho de Belém e, por alguns anos, do concelho de Sintra. A sua localização periférica valeu-lhe a posição de “posto fronteiriço” da cidade, com a denominação de “Portas de Benfica”. Muito antes, no século XIV, deu-se a construção de vários edifícios de elevado valor patrimonial, como o Mosteiro de Chelas ou o Mosteiro de S. Vicente de Fora, com a instalação de diversas ordens religiosas no local. Nesse tempo, Benfica era uma aldeia de “Saloios”, onde as hortas, pomares e jardins predominavam, devido à fertilidade dos terrenos e à qualidade da água. No início do

CAP. VII – A operacionalização das Comunidades Sustentáveis: os casos de estudo de Benfica e Alcochete

século XVIII, verificou-se um aumento demográfico elevado na área, devido à construção do Aqueduto das Águas Livres, a par dos interesses das classes mais ricas na paisagem local (ainda rural), ainda Benfica era considerada a “horta de Lisboa”, mas também pela procura que se deu após o Terramoto de 1755, já que esta área estava bastante longe dos locais de maior perigo de epidemias. Só no século XIX surgiram as primeiras ligações aos transportes públicos. A dimensão da freguesia de Benfica aliada ao seu grande crescimento demográfico fez surgir a freguesia de S. Domingos de Benfica, em 1959 (JF Benfica e site da Escola Básica n.º 17). Ainda agora é possível observar os resquícios da época rural de Benfica através das quintas (p. ex. Pedralvas, Tojal, Charquinho e Casquinha) e vilas (p.ex. Vila Ana e Vila Ventura) que se encontram na freguesia.

No início do século XX, as dinâmicas das actividades económicas começam a tomar outro rumo para além das actividades agrícolas. Exemplo disso é a Fábrica de Malhas Simões, de 1907, que chegou a atingir cerca de 1000 operários e ganhou destaque à escala ibérica.

No primeiro volume dos Estudos Urbanos da CML, coordenado por Seixas (2005, 41) é descrita a Política Pública de Habitação do início do século XX. Se até à década de 1940 foi aplicado o conceito de bairro de casas económicas, na década de 1950 surgem as moradias económicas como habitação social. Os bairros de casas económicas culminaram com a implantação do Bairro de Santa Cruz de Benfica (1958). Ainda nesta década foram planeados alguns bairros na área de Benfica com base nos princípios da Carta de Atenas, casos da Quinta do Charquinho ou o bairro das Pedralvas. Como é descrito por Santana e Sucena (1994), estes bairros caracterizam-se por edifícios altos, rodeados por jardins e vias pedonais, maioritariamente localizados na periferia da cidade.

Nos anos 1960 surgiu a necessidade de resolver as carências habitacionais verificadas com a expansão demográfica da cidade que acabou por levar a uma desregulação urbanística dos centros urbanos e, consequentemente, à expansão urbana, alterando as formas e actividades existentes. Benfica desenvolveu-se nesta onda de expansão urbana entre as décadas de 1950 e 1970, sem um plano geral ou mesmo em articulação com a cidade construída, mas sim a partir de pequenos empreendimentos imobiliários. Nas duas décadas seguintes, esta área vingou como centro terciário com importância à escala municipal e até regional, com a concentração de serviços de educação (escolas secundárias e faculdades), vários serviços e sedes de grandes empresas, e uma significativa dinâmica comercial, tanto o comércio de rua e o mercado municipal como os grandes centros comerciais (Colombo e Fonte Nova), todos elementos atractivos e de coesão.

A localização de Benfica (Figuras 48 e 49), entre o centro de Lisboa e as áreas periféricas e suburbanas da AML, como a Amadora, Queluz, Cacém e Sintra, bem como a boa acessibilidade são características fundamentais para a elevada dinâmica residencial. Apesar disso, é evidente o retrato feito por Seixas e a sua equipa (CML, 2005, 43): “Existe ainda uma certa lógica de transmissão geracional

da propriedade e um apego ao bairro por parte dos filhos de residentes. Apesar da escala e da densidade de construções, podemos também constatar que o café do quarteirão ainda é o centro das vivências e das sociabilidades locais.”

Benfica é caracterizado por integrar vários bairros diferentes: Bairro das Furnas/Estrada de Benfica (núcleo antigo), Laranjeiras/Luz (urbanização recente), Bairro do Calhau, Bairro D. Leonor, entre outros.

Freguesia de Alcochete

Alcochete tem uma longa História relacionada com a realeza portuguesa. Com a função de repouso e lazer para D. João I, mas também de residência para D. João II e D. Fernando, foi em Janeiro de 1515 que D. Manuel I, nascido em Alcochete, atribuiu o foral à vila.

Nos séculos XVII e XVIII desenvolveram-se diversas actividades económicas tais como a exploração salina, da madeira e lenha ou os estaleiros de construção naval, essencial numa época de Descobrimentos. A Herdade Barroca d`Alva surgiu ainda no século XVIII, promovendo o desenvolvimento económico da região através das actividades agrícolas e pecuárias com reflexos no crescimento demográfico (passando a vila de 180 residentes no século XVI para 1902 residentes no século XVII).

Já no século XIX, construiu-se um primeiro cais de apoio ao transporte fluvial de pessoas e mercadorias entre Lisboa e Alcochete, dada a função de abastecimento de Alcochete à Capital, também época de expansão urbana com a construção do Bairro Novo e do Bairro Moyzém. Enquanto a Escola

Fonte: Google Earth (2010)

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Fonte: Google Earth (2010). Limites da freguesia cedidos pelo Projecto FURBS

Figura 50 – Freguesia de Alcochete

Primária era inaugurada em 1866, todo o concelho de Alcochete foi anexado ao concelho do Montijo, antiga Aldeia Galega, em 1895 (facto que se manteve por três anos).

Porém, com o passar do tempo, o concelho de Alcochete entrou em decadência especialmente pelo afastamento da área aos principais novos eixos de acessibilidade, essencialmente rodoviários e ferroviários, que tomam a função dos transportes fluviais no que se referia à deslocação de mercadorias.

Apesar da forte identidade da vila, a história do concelho de Alcochete influenciou o desenvolvimento da mesma. Até ao século XX, Alcochete-concelho era predominantemente rural até iniciar outras actividades económicas como a seca do bacalhau ou a fábrica de pneus, cortiça e alumínio.

No PDM de Alcochete10, são identificados quatro Espaços Urbanos Consolidados, essencialmente para fim predominantemente habitacional, sendo os dois primeiros na freguesia de Alcochete: UCA – Núcleo Antigo da Vila de Alcochete, UC1 – Parte restante da Vila de Alcochete, UC2 – Samouco, UC3 – S.

Francisco. Outra área do

município – o Passil - é ainda considerada “Espaço Urbano Não Consolidado”.

Dada a estrutura urbana da freguesia, a área amostral para realização dos inquéritos situa-se

essencialmente na vila de

Alcochete e na coroa urbana adjacente (Figuras 50 e 51).

É inegável que a

construção da Ponte Vasco da

Gama fez “renascer” a

centralidade do concelho e da vila de Alcochete no contexto da AML. Especialmente, a acessibilidade entre Alcochete e Lisboa potenciou o desenvolvimento económico da área, tanto ao nível das actividades económicas como da explosão residencial. O Complexo Desportivo do Sporting Clube de Portugal ou a

10 http://www.cm-alcochete.pt/NR/rdonlyres/CEA4233C-9790-4711-ADC9-33177C4BBBBC/0/PDM.pdf

Fonte: Google Earth (2010)

Figura 51 – Área de amostra do caso de Estudo – Alcochete (Vila e principais eixos viários com urbanização dispersa)

localização do Freeport Outlet Alcochete são exemplos da nova dinâmica local de Alcochete, com repercussão à escala regional.

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6.3. A Dimensão Populacional e suas características como base das Comunidades