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A experiência: visão da pesquisadora

No documento EM BUSCA DE UM PROJETO (páginas 180-183)

3.5 P ROJETO : PRÁTICAS , REFLEXÕES E APRENDIZADOS

3.5.2 A experiência: visão da pesquisadora

Nossa aposta foi na experiência como aprendizado. Desde o primeiro encontro, quando falamos sobre a importância de projetar até a apresentação do projeto deles, todo o processo foi de aprendizado. Juntamos aulas expositivas com atividades práticas e reflexivas, fizemos provocações e pedimos organização e planejamento. Foram diversas as formas de envolver os alunos numa proposta que envolvia arte, design, cultura e criatividade. Os alunos relacionaram diferentes temas, desenvolveram um trabalho artístico e fizeram um trabalho escrito acadêmico, ou seja, mesclaram razão e sensibilidade. Muitos aspectos diferentes foram abordados, muitos saberes e habilidades, despertados, estimulados. Eles trabalharam em grupo, vivenciaram um projeto com processos do design, tiveram contato com noções de planejamento e geração de ideias, para solucionar um problema. Buscamos estimular a sensibilidade, a criatividade, a expressão e a troca.

Sobre o desafio, o objetivo era que eles ampliassem os olhares, para ir além do óbvio. Ao traçarem relações entre o contexto deles e o Japão, pelas semelhanças ou diferenças, eles cruzaram temas que nunca haviam relacionado antes e interpretaram isso numa obra, no contexto deles. A proposta com intervenções foi riquíssima, despertou interesse dos alunos e ofereceu-lhes infinitas possibilidades de aprendizado, tanto de temas como de técnicas e formas de expressão. A proximidade das intervenções com o cotidiano, os temas variados, a diversidade de expressões foram os aspectos dessas manifestações que despertaram a turma.

Apesar dos ajustes que fizemos pela mudança no calendário e para adequação à Feira das Nações, a pesquisa deu-nos bom retorno a respeito da experiência que tivemos. A adaptação do tema, a inclusão do Japão e a exigência do trabalho escrito foram positivas ao processo de aprendizado. De toda a mudança que ocorreu no planejamento do projeto, o maior impacto foi o do tempo curto. Contornamos isso de várias formas, como, por exemplo,

  nos encontros extras no contraturno, e seguimos com o planejado como os miniencontros de 20 minutos. Independentemente disso, o resultado foi positivo, pois muitos aprendizados aconteceram. Porém, caso esta experiência seja usada como inspiração para outras, com aulas duplas, é possível realizar as etapas com mais tranquilidade.

A formação do espírito crítico, contudo, não pode esquecer que a coerência da crítica está na autocrítica. Mais importante que criticar os outros é colocar-se como objeto de crítica própria. [...] A crítica autocrítica, por sua vez, é fonte de renovação constante e abriga a condição crucial de originalidade científica. (DEMO, 2004, p. 33-34)

Mantendo nosso espírito crítico, detalharemos alguns momentos. Na parte da pesquisa, percebemos que a maioria dos grupos foi direto ao Google e copiou as informações diretamente da internet. Não houve um filtro ou uma busca mais elaborada. Seria interessante se tivéssemos tempo para orientar sobre as pesquisas, tratar das possibilidades além da internet, para que eles pudessem enriquecer esta parte fundamental do projeto e entender a importância de uma pesquisa bem feita, já que ela é a base do bom projeto. Percebemos que eles sabiam pouco do lugar em que viviam e não exploraram esses aspectos. Seria interessante poder explorar o contexto de vida próximo a eles. Para que a atividade não ficasse prejudicada com isso, foi fundamental a pesquisa prévia da pesquisadora para provocar os alunos e fazer que a atividade fosse rica o bastante para render frutos no final.

Assim, a aula-estímulo foi riquíssima, cheia de provocações, reflexões e fértil em possibilidades de aprendizado. Durante o refinamento das intervenções, seria interessante se tivéssemos tempo para questionar as escolhas de técnicas e materiais de cada grupo e seus significados. A intenção das escolhas enriquece um trabalho artístico e promove um olhar mais apurado. A questão do tempo levantou nosso olhar crítico sobre alguns aspectos, mas não impossibilitou uma experiência positiva.

Outro ponto importante foi a diferença de envolvimento e entendimento das atividades entre os grupos. Foi preciso que a pesquisadora estivesse atenta, pois as orientações precisavam ser administradas. Os problemas e as dúvidas foram específicos e precisavam de atenção em separado. O desenvolvimento do projeto ocorreu em ritmos e profundidades diferentes; cada indivíduo envolveu-se e aprendeu por meios diversos. Procuramos prezar a flexibilidade e a atenção distintas, pois acreditamos que os ritmos de aprendizado são mesmo variados. Havia encontros que despertavam mais o interesse de uns e menos de outros. Alguns preferiam quando podiam falar, conversar; outros, mais calados, participavam menos das interlocuções, mas gostavam de pesquisar, produzir e desenvolver os trabalhos. Essa

  diversidade precisou de orientação atenta e sensível, para poder enriquecer a experiência para todos. Ao mesmo tempo, essa liberdade, trabalhou com o senso de responsabilidade e compromisso de cada um. Nenhum grupo deixou de participar, assim como seus integrantes.

Foi preciso ter flexibilidade também para mudar de acordo com o andamento dos projetos e as dificuldades apresentadas pela turma, além da preparação prévia aos encontros, pois muitos assuntos precisaram ser pesquisados pela mediadora. Como observou Schön (2000), nesse contexto, é importante ver o professor como alguém que participa do processo educativo, que provoca reflexões, estimula a curiosidade e promove experiências. O educador e pesquisador agem como um profissional que se reflete na ação, interage teoria e prática. Essas características encontramos numa atitude transdisciplinar de pesquisa e educação.

Nesse sentido, os princípios da transdisciplinaridade também orientaram as escolhas dos temas, a definição de atividades, a observação e a conversação ao longo dos encontros. Além disso, os processos criativos tangenciaram a abordagem transdisciplinar, como, por exemplo, o brainstorm de conceitos, a polinização e a conexão de ideias. Alguns processos utilizados pelos designers para buscar soluções criativas para seus desafios são formas de explorar o tema, saindo do lugar comum, a fim de encontrar resultados originais e criativos para seus problemas. Esses processos do design aproximam-se da transdisciplinaridade, por provocarem novas formas de olhar, por estimularem conexões entre assuntos que, normalmente, consideramos não terem relação e por não se prenderem a determinadas áreas do conhecimento, pois o problema é pensado de forma holística.

Como já ressaltamos, uma experiência significativa é educativa. Assim, quando o envolvimento é grande, a cognição parece sair fortalecida. Notamos como os grupos aprenderam e ganharam confiança. Perceberam-se capazes, criativos e habilidosos com técnicas e conhecimentos que não sabiam antes. Um dos exemplos que podemos citar é a equipe que trabalhou com os tsurus. No dia da primeira oficina de origami com as integrantes do grupo, já era nítido o entusiasmo das meninas. Elas ficaram além do horário, para aprender mais, e uma delas comentou emocionada que sua vida iria mudar depois daquele dia. É incrível como a liberdade temática que os projetos proporcionam vai ao encontro de anseios tão importantes dos alunos, e, quando isso acontece, a riqueza do processo, o encantamento e o aprendizado são maiores, sem contar o resultado. A intervenção instalada no pátio da escola levou esse encantamento para um número maior de pessoas. Depois, soubemos pela professora Paula que a ação foi repetida: uma colega e um professor ficaram doentes, e as alunas fizeram tsurus para eles, seguindo a lenda de que significam vida longa e prosperidade.

  Ao longo dos encontros para a execução dos projetos, era visível a satisfação e o orgulho dos alunos em ver que o trabalho ficaria bom. Além do processo de um projeto, das culturas que inspiraram os temas, da criatividade nas intervenções, do trabalho em equipe, eles aprenderam técnicas, constataram que é possível sair do celular e do computador e fazer trabalhos práticos incríveis. Assim, notamos que a experiência foi positiva e inusitada.

Além das nossas considerações sobre o processo, era importante sabermos o que passou pela cabeça dos aprendizes e da docente envolvida. A ideia inicial era fazermos um grande bate-papo em que levantaríamos algumas questões, mas pela confusão do final do semestre, elaboramos dois questionários81: um para a professora Paula e outro para os alunos. O objetivo era investigar o que representou para eles algumas experiências.

No documento EM BUSCA DE UM PROJETO (páginas 180-183)

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