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O pensamento complexo

No documento EM BUSCA DE UM PROJETO (páginas 31-34)

1.2 S ABERES PARA UMA EDUCAÇÃO DO FUTURO

1.2.1 O pensamento complexo

Edgar Morin prossegue e aborda a temática da educação na contemporaneidade na obra Educar na era planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem pelo

                                                                                                               

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O educador e filósofo nasceu em Pernambuco em 1921 e faleceu em 1997. Foi um dos pensadores mais importantes da pedagogia crítica no mundo, tendo ganhado diversos títulos de Doutor Honoris Causa de universidades por todo o mundo. Desenvolveu um trabalho autêntico, com foco na educação popular, onde a alfabetização era colocada como processo de conscientização e emancipação. Escreveu diversos livros entre eles:

Educação como prática da liberdade (1967), Pedagogia do oprimido (1968), Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa (1996).

11 (ARAUJO, 2014) Uma adaptação desta subseção foi apresentada no INSEA, em 2014, com o título

  erro e incerteza humana, em que o autor, em conjunto com Ciurana e Motta (2009), apresenta

o pensamento complexo12 como via para transformação da educação. Esse tema perpassa a fundamentação desta pesquisa e será aprofundado à frente, no tópico 1.2.3 A

transdisciplinaridade. Morin propõe novo caminho para a construção do saber que considera

aspectos da realidade complexa e a profunda as noções, os princípios da complexidade e o contexto em que a educação está inserida. Permite-nos compreender a amplitude e a importância de suas reflexões para a emergência do novo paradigma para a educação, de forma menos prescritiva que a obra anterior, já que, logo no primeiro capítulo, apresenta-se um método que não segue um programa e, sim, estratégias para conhecer o conhecimento.

Nada mais distante de nossa concepção do método do que aquela visão composta por um conjunto de receitas eficazes para chegar a um resultado previsto. [...] Na realidade, as coisas não são tão simples, nem mesmo quando se procura seguir uma receita culinária, mais próxima de um esforço de recriação que da aplicação mecânica de misturas de ingredientes e formas de cocção. (MORIN et al, 2009, p. 17)

Morin (et al, 2009, p. 33-37) apresenta um método de aprendizagem que se aproxima da realidade, alinhado aos princípios de um pensar complexo, aberto à incerteza, ao erro e ao improviso, uma fuga do pensamento simplificador tão em voga nos tempos modernos e vigente. Trata-se de um conjunto de princípios metodológicos para um pensar que fundamenta a complexidade.

• O princípio sistêmico-organizacional estipula que, para compreender melhor a realidade, é preciso considerar que tudo é relacional; religar o conhecimento das partes com o do todo e vice-versa; analisar a parte, o todo e o que emerge da relação entre parte e todo.

• O princípio hologramático cita a ideia de que, em qualquer organização complexa, não só a parte está no todo, mas também o todo está na parte. Assim como num holograma, cada parte contém praticamente a totalidade da informação do objeto representado. Essa lógica importante replica-se, por exemplo, na relação entre homem e cultura e entre cultura e homem.

• O princípio retroativo esclarece que toda causa age sobre o efeito e este retroage sobre a causa energética, modificando-a informacionalmente, permitindo a autonomia organizacional do sistema. Com este conceito de circuito, rompemos com a lógica de causalidade linear.

                                                                                                               

  • Esta ideia é reforçada por meio do princípio recursivo, pois defende que produtos e efeitos são os próprios produtores e causadores daquilo que os produz. É a dinâmica de natureza autopoiética13, um processo cujos produtos são necessários para a própria produção do processo; é um sistema autoprodutivo e auto-organizacional.

• No princípio dialógico, é apresentada a ideia que, em mesmo espaço mental, operam lógicas que se complementam e excluem-se; aspectos, que, apesar de antagônicos, são indissociáveis. Esse princípio pode ser definido como a associação complexa (complementar, concorrente, antagônica) de instâncias conjuntamente necessárias à existência, ao funcionamento e ao desenvolvimento de um fenômeno organizado. • Outro princípio é o da autonomia/dependência, em cuja lógica o indivíduo modifica

a realidade e é por ela modificado. A autonomia de qualquer organização necessita da abertura ao ecossistema do qual se nutre e o qual transforma. Todo processo biológico necessita da energia e da informação do meio. Não há possibilidade de autonomia sem múltiplas dependências numa rede.

• Por último, com o princípio da reintrodução do sujeito cognoscente, é preciso devolver o papel ativo ao sujeito com sua subjetividade. Todo conhecimento revelado por um sujeito é sempre a interpretação de uma realidade. O sujeito não reflete a realidade, ele constrói-a por meio dos princípios mencionados.

Para o pensamento complexo, não existe um pensamento completo ou uma certeza generalizada: "o pensamento complexo aspira a um conhecimento multidimensional e

poiético" (MORIN et al., 2009, p. 54), aceita o processo e acredita que o conhecimento se dá

no caminhar, reforçando a noção do inacabamento do conhecimento. Morin é importante autor na fundamentação desta pesquisa, e o diálogo com outros autores que também apresentam a necessidade de mudança na educação e que trazem abordagens diferentes ou complementares é de extrema importância para ampliarmos a leitura dos saberes necessários à educação no contexto contemporâneo.

                                                                                                               

13 Os sistemas autopoiéticos têm a capacidade de entenderem a si mesmos e de autoconstruírem. Como definiu

Maturana (2001, p. 175): "Sistemas vivos são sistemas autopoiéticos moleculares. Enquanto sistemas moleculares, os sistemas vivos são abertos ao fluxo de matéria e energia. Enquanto sistemas autopoiéticos, os sistemas vivos são sistemas fechados em sua dinâmica de estados, no sentido de que eles são vivos apenas enquanto todas as suas mudanças estruturais forem mudanças estruturais que conservam sua autopoiese. Ou seja, um sistema vivo morre quando sua autopoiese para de ser conservada através de suas mudanças estruturais. "

 

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