• Nenhum resultado encontrado

Capítulo III. Estágio Final no Infantário Rainha Santa Isabel

3.5. Intervenção Pedagógica na Sala Laranja: Dinâmicas e Atividades Desenvolvidas e

3.5.2. Atividades Orientadas e as Áreas de Conteúdo das OCEPE

3.5.2.8. A família

A temática decorrente na segunda semana de novembro deu-se em torno da família, uma temática com todo o sentido na antecedência do dia do pijama e pela aproximação do Natal,

uma época de partilha e convivência familiar. Para esta temática foi pensada a abordagem ao conceito de família, a diversidade existente e à forma esquemática de organização desta, a árvore genealógica, propondo a criação de uma em parceria com as famílias.

Primeiramente, a iniciação a esta temática deu-se com uma história ilustrativa dos diferentes tipos de família, livro da família, com diferentes abordagens aos tipos de famílias e o seu significado. Assim, dada a complexidade das imagens procurei ir explorando cada uma, explicando o seu sentido num diálogo e interação constante, enriquecido com as cores e as personagens das imagens, excluindo algumas como a morte e a homossexualidade, porque esses temas exigem uma abordagem de vários dias.

Tal exploração traduziu-se numa análise extensiva, com recurso à utilização e desenvolvimento de várias competências e conhecimentos matemáticos (contagem), plásticos e estéticos (identificação das cores), fazendo com que a participação do grupo fosse decrescendo, a sua atenção e concentração dispersasse, diminuindo o seu interesse face às imagens, cores, número de objetos e pessoas presentes nas imagens. Desviada a sua atenção poderia ter criado a apresentação das famílias da história de uma forma dinâmica com diferentes entoações, utilizando mesmo o canto e a dança, uma atenção conseguida na segunda parte de exploração da temática, com a apresentação de um novo material de organização familiar, a árvore genealógica, sobre o qual o grupo revelou interesse e desfrutou da nova ocasião de descoberta.

O contato com a árvore genealógica não foi explorado com enfâse no primeiro dia, pois após o diálogo explorativo da história da família o grupo apresentava sinais de cansaço. No dia seguinte, retomou-se à representação esquemática e hierárquica de uma árvore genealógica, explicitando a sua composição, forma e estrutura ramificada pela ligação que há entre as pessoas da mesma família. Partindo deste objeto foi proposto ao grupo a construção individual da sua árvore genealógica em duas fases, dois espaços e em dois tipos de cooperação, isto é, seria pintado no infantário o molde de uma árvore pela técnica de esponja e quando estivesse seco seria levada para casa e em conjunto com a família cada criança ia terminá-la, reconhecendo as ligações e graus de parentesco entre os seus familiares.

Inicialmente, para o desenvolvimento desta tarefa tinha pensado no molde de uma árvore com ramificações, típica das árvores genealógicas apresentadas, contudo em conversação com a educadora cooperante foi sugerida a criação de uma árvore funcional para uma eventualidade próxima, o natal. Esta sugestão era a ideal neste contexto, pois a conclusão da árvore demoraria pela parceria existente, estendendo-se à temática do natal, uma festividade implícita à representação da família e ao convívio na mesma. Assim, o molde em cartão da

árvore genealógica foi em forma de pinheiro, sendo posteriormente fixado na sala como decoração de natal e ornamentada com cascas de pinheiros naturais.

Figura 43. O processo de pintura da árvore genealógica individual e exemplos de árvores finalizadas

Como podemos observar na Figura 43, esta atividade do domínio da expressão plástica teve a recetividade do grupo, exigindo e traduzindo-se de forma geral em delicadeza e o correto manuseamento dos materiais, visível no cuidado para pintar apenas a árvore e não sair dos seus limites segurando nos mesmos, demonstrando graciosidade na execução, atenção e suporte do trabalho, já que seria uma tarefa para desenvolver com as suas famílias, os seus modelos de vida. Além do afinco descrito, nesta atividade houve momentos de exploração espontânea da tinta, quanto à sua textura e expansão pela mão, abrindo e fechando-a.

Este processo de exploração espontânea e curiosa da tinta faz parte do crescimento e contato da criança com o mundo, pois segundo Hohmann e Weikart (2004) é assim pelas suas observações, experimentações e deduções que aprende as características e funcionalidades dos objetos.

A participação das famílias nesta tarefa foi livre e sem sugestões de como poderiam construir a árvore, havendo autonomia de utilizar fotografias, desenhos ou outros grafismos e recursos, desde que fosse um trabalho em que a família que vivia com a criança participasse. Os resultados foram trabalhos lindíssimos com representações diferenciadas de cada família, mas um orgulho para cada criança que ao chegar com a sua à escola mostrava-a com alegria, dizendo de que forma participara e a sua família.

3.5.2.8.1. Atividade de parceria sala-família.

Uma relação sã e de parceria escola-família é fundamental para a criança sentir uma continuidade entre os dois contextos e consequentemente, segurança e confiança no novo

espaço que é o jardim-de-infância. Estes sentimentos positivos são conseguidos pelo desenvolvimento das bases, com os pais, de continuação e mediação do ambiente familiar, sendo a partir dele que se consegue compreender reações, sentimentos, medos e angústias da criança, ajudando-a no melhor caminho. Um discurso e uma relação estreita família-escola permitem que se detete algum problema na criança, mas também toda a sua evolução, num acompanhamento gratificante para educadores e pais, do seu crescimento e desenvolvimento em harmonia.

Ao folhearmos as OCEPE (ME, 1997) o princípio geral é elucidativo da importância, do impacto e da parceria família-escola na educação pré-escolar. A educação pré-escolar, tendo como referência a mesma fonte, simboliza o primeiro contato com a educação ao longo da vida da criança e a primeira etapa da educação básica, complementando a ação familiar, daí a necessidade de uma construção efetiva da parceria entre todos os intervenientes educativos da vida da criança.

Por essa razão, apesar do pouco tempo que estive na sala laranja, a educadora cooperante deu-me espaço e liberdade para interagir com os pais, apresentar-me e pedir-lhes autorização para fotografar os seus filhos, respondida com cordialidade e apreço pelos mesmos, transmitindo-me confiança e o reforço de sentimento de pertença na sala, transmitido pelo grupo e equipa desta. Esta relação foi importante, já que se eu queria promover no grupo atividades, competências sociais e relações de empatia e cooperação teria de ser a primeira a transmitir e a criar esses momentos e laços de parceria com a comunidade, pois na visão de Brás e Reis (2012) as crianças apreendem a convivência social observando as relações e interações entre os adultos presentes na sua vida (pais e educador), exigindo a existência e solidez desta relação. Lopes e Silva (2008) reforçam que “Cooperar é a palavra-chave nas relações pais-escola. Esta participação conjunta permitirá aumentar e enriquecer as possibilidades mútuas. (…) Os pais devem ser a ponte entre a escola e a vida.” (p. 32).

Assim sendo, os pais possibilitam um trabalho rico ao educador, ao seu filho e a outras crianças com os seus conhecimentos, valores, habilidades e visão do mundo, como decorreu na ornamentação da árvore genealógica, possibilitando nas palavras do ME (1997) “ (…) um meio de alargar e enriquecer as situações de aprendizagem.” (p. 45).

Para finalizar, a aprendizagem e a potencialização do crescimento das crianças está ligada à relação escola-família e escola-comunidade, constituindo-se um aspeto, com base nas leituras feitas de Zabalza (1998) e Morgado (2004), complexo e refletor de qualidade educativa, travado pelas responsabilidades laborais dos pais, mas contornável com a componente de apoio à família definida por cada instituição.