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A FAMÍLIA QUERIDO

No documento O Sol da Manhã... (páginas 152-160)

Não há como falar da família Nogueira Barbosa sem incluir outra importante linhagem tradicional de Taubaté — a família Querido. Em nos-sa história, ela chegou com Bernardino Augusto Pereira Querido (1872-1955), professor, jornalista e poeta, nascido em Cunha, de uma família de fazendeiros de café bem relacionada com Dom Pedro II. Foi educado no Rio de Janeiro, para uma vida próxima da Corte Imperial, porém com o advento da República outros planos tiveram de ser implementados. Vol-tou-se para as letras e para o magistério. No Rio de Janeiro trabalhou em vários jornais, entre eles no importante Jornal do Comércio. Em pouco tempo decidiu-se por uma vida menos agitada, no interior, e mudou-se para Taubaté, onde prosseguiu sua carreira de professor, jornalista e poeta.

Casou-se, em 1898, com Licínia Nogueira Barbosa (1879–1959). Foram, por toda a vida, espiritualistas convictos e atuantes.

Bernardino e Licínia tiveram treze filhos. Foram eles: Jarbas (1899–

1900), José Augusto (1900–1979), Dalila (1901–1996), Dinorah (1907–

1990), Andrieux (1908–xx), Guajira (1910-2000), Lycurgo (1912–1982), Magdalena (1914–1956), Mary (1916-1941), Guiomar (1918-1918), Arthur (1920-1957), Francisco (1923–2007) e Zélia, nascida em 1925.

Família Barbosa Querido em 1932. Acervo da família.

Na imagem vemos o casal Bernardino e Licínia com seus filhos.

Em pé, na parte de trás do grupo estão quatro filhos com o uniforme dos revolucionários paulistas de 32 — José Augusto, Andrieux, Guajira e Lycurgo. Na frente deles, em pé, da esquerda para a direita, estão Magda-lena, Dinorah, Mary e Arthur. Sentados da esquerda para a direita estão Dalila, Francisco, tia-avó Licínia e tio-avô Bernardino, com a jovem Zélia entre eles. Minha prima Isa Barros, que me forneceu várias imagens da família, é filha de tia Mary que, infelizmente, nos deixou muito jovem, com apenas 25 anos.

Famílias Querido e Guisard em Ubatuba — 1940.

Acervo da família.

Na imagem acima, provavelmente tirada na praia do Perequê, em Ubatuba, podemos identificar, da esquerda para a direita: Jaurés e Magdalena, Inês e Olavo, Licínia, Ivonne, Zélia, Zília, Iria, Odette, Riveta e Guajira. Atrás temos Arthur com mais dois colegas.

A união dessas famílias, Nogueira Barbosa, Querido e Guisard, cons-truiu ativo grupo social em Taubaté. Dotados de extrema musicalidade, eram famosos os saraus que realizavam e as inúmeras músicas que com-puseram. Eles marcaram para sempre a história da cidade.

Quando Zília e Licínia reuniam as famílias, logo apareciam os instrumentos musicais. Acervo da família.

Novamente as famílias, provavelmente em 1937. Acervo da família.

O relacionamento entre os Querido e os Guisard foi tão forte que basta dizer que quatro dos filhos de Zília e Eugenio casaram-se com quatro dos filhos de Licínia e Bernardino. Victor casou com Dalila, Oswaldo com Dinorah, Jaurés com Magdalena e Riveta com Guajira.

Naquela época, o fato de as duas famílias serem espíritas provocou, durante muitos anos, uma rejeição por parte da tradicional família católica de Taubaté. E com isso o convívio dos primos, num círculo relativamente fechado, levou a essa situação. Com o passar do tempo, graças à persona-lidade aberta e franca da família, o gelo foi sendo quebrado e a interação com a sociedade taubateana foi se normalizando. Assim sendo, os filhos mais jovens da família puderam ter casamentos mais diversificados.

Linda imagem das quatro irmãs Querido (Dinorah, Magdalena, Dalila e Zélia) e seus maridos, dos quais três Guisard (Oswaldo, Jaurés e Victor)

e por último tio Messias Salles. Acervo da família.

Minha tia-avó Licínia tinha um expressivo pendor artístico. Era uma pianista de primeira linha, trabalhando profissionalmente no tempo do cinema mudo, nas orquestras que sonorizavam as sessões. Trabalhou na orquestra do Cinema Rio, que iniciou sua operação em 1910 e continuou até 1919. Em 1919 nasceu o cine Politeama, hoje o Metrópole. Lembre-mos que o cinema falado surgiu em 1929, encerrando esse ciclo. Seu companheiro de música, ao violino, era Fêgo Camargo, pai da famosa Hebe Camargo. Fêgo, cujo nome de batismo era Segesfredo, nasceu em Taubaté em 1888, filho do maestro Francisco Camargo, e cresceu ouvindo e fazendo música. Faleceu em 1971, depois de uma longa carreira nas orquestras de Taubaté e de São Paulo, onde também morou.

As irmãs Nogueira Barbosa, Licínia e Zília. Acervo da família.

Por sua vez, tio-avô Bernardino demonstrava constantemente sua habilidade com as letras. No concurso de frases sobre Santos Dumont,

feito anualmente pelo Touring Club e pelo Aero Club do Brasil, no Rio de Janeiro, ele ganhou o primeiro lugar em dezembro de 1944. Sua frase foi gravada no saguão principal do aeroporto nos painéis que, infelizmente, não resistiram ao grande incêndio que, em 1998, praticamente destruiu o prédio central. A frase era “Quando Santos Dumont contornou a Torre Eif-fel, o nome do Brasil deu a volta ao mundo”. Além do prestígio nos meios literários, ele ganhou também Cr$ 500,00 de prêmio — o que em moeda corrente atual corresponderia a cerca de R$ 1.000,00. Nada mal...

Recorte do jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro, de 23 de dezembro de 1944.

Tios-avós Bernardino Querido e Licínia Barbosa Querido nas suas bodas de ouro, em 1948. Acervo da família.

Cabe encerrar o capítulo colocando um pequeno trecho da obra de meu tio-avô Bernardino, tirado de um de seus livros, “Rimas na Prosa”, que assinou com um dos seus pseudônimos favoritos — Joel.

“Tempo Antigo”

“Mesmo que você não creia, nem lhe passe pela ideia, esta verdade eu digo: — já fui moço em minha vida; já tive a idade florida, porém... foi no tempo antigo.

Já tive amores; e as flores, eram também meus amores, que andavam sempre comigo. Por onde eu andava, é certo, tinha a todas, sempre perto;

porém... foi no tempo antigo.

...

Agora, velho e alquebrado, tudo isso ponho de lado; porque o lembrar, é castigo. Vale mais viver agora, sem lembrar tempos de outrora; sem lembrar o tempo antigo.

Aquelas moças de outrora, se me encontrarem agora, dirão talvez: que castigo! Todas nós envelhecemos, mas ele, que conhecemos... é o mesmo do tempo antigo. E eu também reconheço; pois sei que nunca envelheço, e a mocidade eis comigo; porque a alma me convida, para amar, por toda a vida, como amei... no tempo antigo!”

No documento O Sol da Manhã... (páginas 152-160)

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