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IVONNE E DARCY VIEIRA FERRAZ

No documento O Sol da Manhã... (páginas 182-191)

Minha mãe, Ivonne, casou-se em 15 de janeiro de 1944 com meu pai, Darcy Vieira Ferraz, de uma família de Pindamonhangaba, e tiveram dois filhos — eu e minha irmã Maria Silvia. Minha mãe contou me que o casal enfrentou muita dificuldade no momento de marcar a cerimônia religiosa, necessária, pois a família de meu pai era muito católica, já que a rejeição ao lado dedicado ao espiritismo de minha avó Zília ainda era mui-to forte na cidade. Mas conseguiram, afinal, uma boa acolhida no Santu-ário do Senhor Bom Jesus, em Tremembé, onde realizaram o sacramento do matrimônio com todos os familiares presentes.

Basílica do Senhor Bom Jesus em Tremembé.

Acervo da família

José Eugenio Guisard Ferraz

Na imagem vemos vovô Eugenio e vovó Zília, em 1944, com minha mãe Ivonne e com meu pai Darcy, recém-casados, em frente à casa de Tremembé,

na Praça Padre Luiz Balmez, 140. Na imagem estão também tia Iria e, ainda meninas, as primas Licínia e Neide, filhas de tia Riveta.

Acervo da família.

Meu avô paterno, Capitão José Martiniano Vieira Ferraz (1874-1945), originário de Cunha, veio para Pindamonhangaba com pouco mais de quatorze anos, em 1889, para ser um simples balconista no armazém da cidade. Por seu esforço e capacidade, chegou a proprietário do estabelecimento, tornando-se um bem-sucedido comerciante e figura pública do município. Foi Provedor da Santa Casa de Misericórdia de

Pindamonhangaba entre 1932 e 1945, e também Prefeito da cidade no período de 1937 a 1942. Nessa fase, como Prefeito e membro do Partido Republicano Paulista — PRP, tornou-se muito amigo e correligionário de Adhemar de Barros, governador interventor no estado de São Paulo na mesma época.

Meu avô Vieira Ferraz com o governador Adhemar de Barros. 06/04/1940.

Acervo da família.

Esse meu avô faleceu com setenta e um anos, no dia 7 de maio de 1945, alguns poucos meses após o meu nascimento. Quando meus pais quiseram homenageá-lo dizendo que meu nome seria José Martiniano Vieira Ferraz Neto, ele recusou. Disse ele que o menino, recém-nascido,

tinha dois avós e, assim, deveria ter o nome dos dois — daí surgiu meu nome, José Eugenio Guisard Ferraz. Teve 3 irmãos: Agripina e Elmira, que faleceram solteiras e João Lellis Vieira (1880-1949) que teve longa e interessante existência, deixando uma grande descendência em São Paulo. Lellis Vieira foi Juiz de Paz, Diretor do Arquivo Público do Estado e do Departamento Municipal de Cultura. Grande jornalista, trabalhou em vários jornais paulistanos. Como redator das “Folhas” e encarregado da seção de tópicos políticos, foi o idealizador do personagem “Juca Pato”, imortalizado pelo ilustrador e chargista Benedito Carneiro Bastos Barre-to, conhecido pelo pseudônimo de Belmonte (1896-1947). O “Juca Pato”

deu o nome para um dos mais importantes prêmios literários do país, patrocinado pela União Brasileira de Escritores — UBE, entregue anual-mente, desde 1962 até os dias atuais. Lellis era um grande orador, assim, nas solenidades a que meu avô comparecia, como Prefeito de Pindamo-nhangaba, ele sempre o convidava para discursar em seu nome.

Bodas de prata de João Lellis Vieira e Ernestina — 02/05/1933.

Acervo da família.

Nessa significativa imagem vemos à direita, em pé, meu avô Vieira Ferraz e, na extrema esquerda, seu irmão João Lellis Vieira. Meu pai, Darcy, é o menino, na época com treze anos, sentado no braço do banco, de óculos, entre Lellis e Ernestina, sua esposa. Meu pai chegou a estudar no Colégio Rio Branco, em São Paulo e, nesse tempo, morava na casa de seu tio Lellis, na Rua Bela Cintra.

Durante o período em que meu avô esteve gravemente doente, os seus remédios vinham de São Paulo para Pindamonhangaba, tendo o Doutor Adhemar de Barros interferido diretamente para que eles chegas-sem às mãos de nossa família, mesmo que, para isso, tiveschegas-sem que parar o trem expresso da Central do Brasil. Meu pai ficou eternamente grato por essa demonstração de amizade e apoio, em um momento tão difícil para a família.

Meu pai, após o falecimento de meu avô, continuou a apoiar Adhemar em suas campanhas políticas, que foram inúmeras. Em nossa casa tínhamos sempre folhetos, botons e outros materiais de propaganda. Toda vez que chegava ao vale do Paraíba, para fazer seus discursos, ele o acompanhava, e eu ia junto, nas caravanas de carros que, por estradas empoeiradas, iam de cidade em cidade, subindo em palanques nas praças públicas, escutando seus discursos... E foram muitas as campanhas de Adhemar Pereira de Barros (1901-1969), médico de formação, empresário e principalmente político, e que em sua vida pública foi prefeito da cidade de São Paulo, Interventor Federal (1938-1941) e Governador do estado de São Paulo por duas vezes (1947-1951 e 1963-1966), e candidato à Presidência da República por mais duas vezes, em 1955 e 1960. Encerrou melancolicamente sua carreira política no exílio, ao ser cassado, em 1966. Adhemar veio a falecer em Paris, França, em 1969.

Bilhete de Adhemar de Barros para meu pai, felicitando-o pelo meu nascimento — 14/02/1945. Acervo da família.

Meu pai herdou de meu avô o jornal “A Tribuna do Norte”, um dos mais antigos periódicos do Brasil, ainda hoje em circulação. Fontes con-sultadas afirmam ser ele, certamente, o mais antigo do interior do Brasil.

O periódico foi fundado em 1882 e pertenceu a meu avô e meu pai de 1942 a 1962, quando foi doado para a Prefeitura de Pindamonhangaba.

Quando íamos visitar o jornal, lembro-me de ficar brincando com os tipos de chumbo, que um a um eram usados, num trabalho lento e difícil, para compor cada uma das páginas do noticiário.

Durante muitos anos, levado pelo meu interesse na natação, meu pai foi o Diretor de Natação do Taubaté Country Club. Batalhava por verbas para esse esporte e chefiava as delegações, que iam disputar tor-neios em várias cidades do Vale do Paraíba e em todo o estado de São Paulo. Cuidadoso com o gasto do dinheiro durante as viagens, ganhou

o apelido de “Tio Patinhas”, dado pelos nadadores, que sempre o trata-ram com muito carinho e consideração. Foi também o Delegado para a 6ª Região (abrangendo o Vale do Paraíba paulista), nomeado pela Fe-deração Paulista de Natação. Apesar de todo o envolvimento com esse esporte, confesso que nunca o vi dentro da piscina, só na borda, pois ele não sabia nadar! Darcy também ajudou a fundar o Clube de Xadrez de Taubaté e teve participação na Liga Municipal de futebol da cidade, atuando na sua Junta Disciplinar.

Equipe de natação do T.C.C. representando Taubaté — provavelmente em 1960. Acervo da família.

Na imagem acima vemos em pé o professor Nilo Patrício, Lauro Fernandes Filho, Luiz Gonzaga Malaman, José Gabriel Vilela, José Marcio Carvalho, José Carlos Cunha Ferraz, meu pai Darcy Vieira Ferraz e, ao seu lado, o radialista Fausto Garcez. Abaixados estão Dino Querido, Antonio

Dauro Mazanti Camilher, Luiz Fernando Carvalho, eu e o Senhor Luiz Oli-veira, antigo funcionário do T.C.C.

Tenho uma lembrança marcante de meu pai. Quando recebi, sem estar esperando, um telegrama com a mensagem que tinha passado no dificílimo vestibular para ingresso no Instituto Tecnológico de Aero-náutica, o ITA, eu não acreditei, achei que era um trote e joguei o tele-grama no lixo. Se não fosse a insistência de meu pai, que me mandou telefonar para lá, eu teria perdido o prazo para a inscrição. Graças a Deus, quando eu mesmo tinha desistido, ele permaneceu acreditando em mim.

Meu pai Darcy, em 1964, recebendo um troféu conquistado pela equipe de natação das mãos do então Prefeito de Taubaté,

meu tio Jaurés Guisard.

Minha mãe, Ivonne, formada pela Escola Normal de Taubaté, por um longo tempo foi professora primária, porém, determinada a com-pletar seus estudos em nível superior, ingressou, como “aluna-ouvin-te”, na recém fundada Faculdade de Filosofia de Taubaté, em 1957, seu primeiro ano de operação. No ano seguinte passou a aluna efetiva do curso de Letras — Português e Inglês, graduando-se ao final de 1961, já com quarenta e um anos de idade. Em seguida, ela fez cursos de especialização em nível de pós-graduação em linguística e em litera-tura inglesa, na Universidade de São Paulo. Ela, com meu pai ao seu lado, ia para as aulas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, na Rua Maria Antônia, na capital paulista, com muito receio, já que, naqueles anos – por volta de 1968, a agita-ção entre os estudantes estava realmente acirrada. De um lado da rua estavam os da esquerda da escola de Filosofia, do outro os da direita da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Meu pai contava que as pedra-das vinham de topedra-das as partes, terminando sempre com o avanço dos policiais montados em seus cavalos, para separar os estudantes. E, no meio dessa confusão, na famosa Batalha da Rua Maria Antônia, esta-vam eles. Lembremos que este evento, que chegou a ter um estudante morto, foi um dos motivos utilizados pelo regime vigente para justificar a edição do Ato Institucional Nº 5.

Minha mãe foi uma grande professora, no sentido maior dessa palavra tão importante na formação de qualquer grupo social. Dos seus dezoito anos de idade até mais de oitenta, lecionou em praticamen-te todos os níveis encontrados no magistério. Foram cerca de sepraticamen-ten- seten-ta anos dedicados a formar cidadãos para a nossa sociedade, isso por-que, não só ensinou desde as primeiras letras até os fundamentos da literatura inglesa e americana, mas também em todos os momentos deu o exemplo de uma retidão moral, de um comportamento digno e nobre.

Seria difícil calcular o número de alunos que ela teve nesse longo tempo de dedicação ao ensino, certamente milhares de jovens taubateanos, de todas as idades.

Dona Ivonne numa nova função, a de bisavó.

Aqui, brincando com a bisneta Manuela. Acervo da família.

No documento O Sol da Manhã... (páginas 182-191)

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