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Como vimos, segundo João Cardoso de Mello (1998) a “industrialização restrita” das décadas de 30 e 40 configurou no Brasil um “padrão horizontal” de acumulação, pois não houve nesse período nem um aumento significativo da capacidade produtiva diante da demanda, nem grandes saltos tecnológicos. Nessas condições o debate desenvolvimentista, inaugurado por Roberto Simonsen, nos anos 40, que defendia na planificação e intervenção do Estado a possibilidade para o impulso industrial permanecia isolado diante da força política e econômica dos setores agrário-exportadores e do imperialismo mundial.

Porém, os primeiros anos da década de 50, do século XX, marcam uma profunda inflexão na correlação de forças políticas entre os principais setores burgueses. Após o fracassado governo de Eurico Gaspar Dutra (1946 – 1951) – que encerrou seu mandato profundamente desgastado por crises econômicas – ao desencadear-se a campanha pela sucessão presidencial, o setor industrial burguês de posse de um projeto ideológico claro para o país, e em condições democráticas muito precárias24, alcança uma vitória eleitoral significativa com a eleição de Getúlio Vargas. O antigo ditador do Estado Novo voltaria ao poder pelo voto num acontecimento que nos permite medir o grau de fortalecimento político e ideológico atingido pela fração da burguesia industrial.

O segundo governo Vargas será caracterizado pelo extraordinário esforço para enquadrar o desenvolvimento da burguesia industrial brasileira em termos de conciliação com o imperialismo e a burguesia agro-exportadora. De

24 Lembramos que na época o registro do Partido Comunista Brasileiro – PCB foi caçado

acordo com as análises da época suas possibilidades para costurar tal acordo seriam amplas, no entanto, no terreno concreto a história mostrou a estreiteza de tal acordo na época. A política de conciliação de Vargas se especificaria em medidas governamentais que ora defendiam os interesses nacionais de industrialização ora lutava por manter os interesses do capital internacional e da burguesia agro-exportadora. Segundo Sodré (1976, p. 316), o governo Vargas,

Começa por abolir as operações vinculadas ao câmbio, adotando a obrigatoriedade do pagamento dos fretes de importação em cruzeiros, o monopólio da importação de borracha pelo Banco de crédito da Amazônia, a volta ao regime de controle do retorno e das remessas de lucros do capital estrangeiro. Mas, em 1953, cede à criação do mercado livre de câmbio e, embora, tenha instituído o leilão de divisas que substitui a CEXIM pela CACEX. A instrução 70 era uma forma de atender aos interesses nacionais enquanto a CACEX operaria em favor do imperialismo.

Essa política de concessões possibilita que no governo Vargas a economia exportadora alcançasse grande fase de expansão. No entanto, os altos índices de expansão da exportação quando comprados com os índices de importação apresentavam uma deterioração na balança comercial que se aproximava rápido. Segundo Sodré (1976) isso mostrava que já no governo de Getúlio Vargas o quadro da economia internacional e nacional estava rapidamente mudando. A nova relação que se estabelecia com o crescimento da pressão imperialista do pós-segunda guerra não só operava pelo antigo processo de deterioração das relações de troca de mercadorias, mas também pela redução da importância do café no conjunto do valor da produção agrícola mundial. A essa relação acrescenta-se outra, a que apresenta uma queda no valor do café em confronto com a Renda Interna. Assim, os dados econômicos de meados dos anos 50 apresentam uma profunda alteração na economia brasileira. Segundo Sodré (1976, p. 318) “a economia de mercado interno brasileira estava sobrepujando rapidamente a economia de exportação”.

Ainda de acordo com Sodré (1976) essa nova configuração da economia brasileira rebatia numa mudança de estratégia do imperialismo: para continuar a sua ação e para aumentar a sua renda não lhe era suficiente mais operar

apenas pela via comercial da exportação (sugando recursos através da deterioração da balança comercial brasileira). A condição para que o imperialismo renovasse sua dominação neocolonial no Brasil seria instalar-se ampla e profundamente na economia de mercado interno brasileira.

Com isso, impossibilitado de auferir superlucros através da articulação com a burguesia agro-exportadora o imperialismo passa a costurar, em meados da década de 50, uma aliança de grandes investimentos com o capital industrial brasileiro. Foi nessa mesma dinâmica que a antiga atitude negativa do imperialismo face à industrialização, que se configurava na necessidade de ratificar a tese do “país essencialmente agrícola” seria substituída gradativamente por outra estratégia de subordinação. A partir dessa nova configuração, o imperialismo passa a introduzir nos países periféricos conjuntos industriais inteiros, que entrariam no país para dinamizar a industrialização intensiva, beneficiando-se inclusive da legislação da época que reservava o mercado interno à indústria nacional, mas concebia como “indústria brasileira” aquela que era apenas instalada no país e não formada exclusivamente por capitais nacionais. (SODRÉ, 1976).

Mas diferentemente de Sodré (1976) que vê o investimento do capitalismo financeiro internacional no parque industrial brasileiro como núcleo dos antagonismos entre o capital estrangeiro e a chamada “burguesia nacional” preferimos pensar que radica exatamente nessa articulação o núcleo fundamental que possibilitará a burguesia brasileira desenvolver em meados da década de 50 uma industrialização intensiva através da conciliação entre os negócios do setor burguês industrial com os interesses imperialistas estrangeiros. Nessa dinâmica é que a industrialização intensiva se dará sem romper com os velhos traços de extrema desigualdade interna e de subordinação externa historicamente existente no país.

Assim é que o imperialismo irá forçar ao máximo o governo de Getúlio Vargas para aceitar que projetos do Estado brasileiro, como a Eletrobrás e a Companhia Siderúrgica Nacional, passassem a ter investimentos estrangeiros. Foi nesse mesmo sentido que entre outras concessões o governo aceitou a proliferação de sociedades mistas com a participação de empresas privadas no projeto da Eletrobrás. Com isso, o governo Getúlio Vargas prosseguiu numa

dinâmica que oscilava entre ceder e resistir à entrada dos investimentos imperialistas que acabou por levar o presidente à tragédia final de seu suicídio em Agosto de 1954.

Assim, sob a moderna articulação entre os setores burgueses brasileiros e o imperialismo, é que se inaugura a fase histórica em que Juscelino Kubitschek assume a presidência do Brasil. Foi dessa forma que a burguesia industrial assumiu gradativamente a condução do processo de modernização capitalista sem necessariamente excluir a “velha” burguesia comercial e a subordinação ao imperialismo do amplo projeto burguês de desenvolvimento da nação. É por essas conciliações históricas dos setores burgueses que muitas vezes o processo de industrialização será conduzido por frações burguesas radicalmente contrárias a intervenção do Estado na economia. Como é o caso irônico de ter sido Roberto Campos, economista liberal por quem Eugênio Gudin nutria uma grande admiração, quem formulou e executou o Plano de Metas, base de toda a política de implantação da indústria pesada no Brasil. (BIELSCHOWSKY, 1995)

O governo JK inaugura uma fase de intenso investimento estrangeiro na indústria nacional. Segundo João Manuel Cardoso (1998), a implantação de um bloco de investimentos internacionais na economia brasileira a partir de 1956 correspondeu a uma onda de inovações que levou o Brasil a uma nova fase de industrialização. De um lado, a estrutura produtiva brasileira (de bens de produção) passa por profundas alterações, verificando-se um grande “salto tecnológico”. De outro, a capacidade produtiva (de bens de consumo) se amplia muito a frente da demanda existente no país. Essas características delineiam a partir desse período um nítido processo de industrialização intensiva no Brasil. Como explica Mello (1998, p. 117).

Na linguagem do esquema tridepartamental de reprodução, a instalação autônoma (isto é, não induzida pela demanda) de setores de ponta de departamento de bens de produção (D¹) e do setor pesado do departamento de bens de consumo capitalistas (D³), acompanhada e amparada pelo investimento público (energia, transportes, etc...), gerava demanda dentro da própria fração já existente do departamento de bens de produção, operando-se mecanismos de reforço e de

retroalimentação, na medida em que o progresso avançava. As indústrias integrantes do departamento de bens de consumo para assalariados foram levadas literalmente a reboque do crescimento rápido dos departamentos I e III.

Essa conjunção de fatores, somadas a um determinado grau de desenvolvimento da indústria brasileira, alcançada no período de industrialização restrita, ofereceram as condições necessárias para um salto de qualidade no desenvolvimento e modernização do parque industrial brasileiro. Porém, como aponta Mello (1998) é certo também que não se dispunham no Brasil dos instrumentos para que a industrialização pesada surgisse como mero desdobramento do capital nacional e estrangeiro empregado nas indústrias leves; nem, muito menos, a economia brasileira dispunha ainda de uma capacidade de concentração e centralização de capitais indispensáveis à mobilização de recursos internos e externos para o bloco de investimentos financeiros pesados exigidos.

Portanto, a expansão da indústria pesada no Brasil só poderá existir de fato com o apoio do Estado brasileiro e do novo capital financeiro internacional que se transfere para o setor produtivo nacional. Com isso, a ampliação do gasto público em conjunto com a liberação da entrada de capitais estrangeiros impulsionaram as alavancas da indústria pesada. Segundo Mello (1998, p. 118).

A ação do Estado foi decisiva, em primeiro lugar, porque se mostrou capaz de investir maciçamente em infra-estrutura e nas indústrias de base sob sua responsabilidade, o que estimulou o investimento privado não só por lhe oferecer economias externas baratas, mas também, por lhe gerar demanda. [...] Coube-lhe, ademais, uma tarefa essencial: estabelecer as bases da associação com a grande empresa oligopólica estrangeira, definindo, claramente, um esquema de acumulação e lhe concedendo generosos favores.

Para Mello (1998) com o governo JK, a empresa oligopólica estrangeira predominantemente européia investiu pesado no Brasil. Dessa forma o capital monopolista internacional resolvia, simultaneamente, dois graves problemas: a

sua estreita capacidade para importar e a dificuldade de mobilização e concentração de capital. Para o autor, a presença da grande empresa oligopólica no Brasil dos anos 50 se explica não só pelas excelentes oportunidades de extração de superlucros, mas também pela própria dinâmica de competição internacional entre os países imperialistas, cujo objetivo final consistiu na conglomeração financeira e na expansão monopolista em escala mundial.

Assim os investimentos do Estado brasileiro e da empresa oligopólica internacional conduziram o processo de industrialização pesada no Brasil. Mas isso não se deve a uma suposta fraqueza da burguesia industrial brasileira, ou advém de um golpe perpetrado pelo imperialismo e pelo Estado patrimonialista contra uma “burguesia nacional”. Os altos investimentos do período são frutos de uma conciliação que por um lado, proporcionou uma profunda solidariedade entre os setores burgueses no interior do aparelho estatal brasileiro, e por outro, uma articulação subordinada das empresas industriais implantadas no Brasil com o capital internacional.

Essa dupla linha de financiadores formada pelo Estado brasileiro e pelo capital financeiro internacional que garantiu o bloco de investimentos para o incremento industrial no Brasil já vinha sendo costurada desde o governo Vargas com a consolidação da Comissão Mista Brasil – EUA e a fundação do Banco Nacional de Desenvolvimento – BNDE. Segundo Mello (1998) o saldo dessa articulação econômica e política será uma verdadeira “onda de inovações” schumpeteriana que conduzirá o Brasil aos mais elevados níveis de crescimento industrial.

Foram essas as condições que permitiram que os debates em torno do desenvolvimento brasileiro saíssem do pequeno círculo de intelectuais e líderes empresariais e ganhassem o centro das preocupações nacionais. Em torno das promessas de que a modernização e a industrialização do país trariam a solução para a miséria e os problemas do povo brasileiro a burguesia brasileira teceu as estratégias para forjar e universalizar uma ideologia que articulasse toda a sociedade em torno de um projeto compatível com seus interesses particulares.

a salvação para o contingente populacional pauperizado, do campo e da cidade, estava na “modernização” da economia brasileira e no desenvolvimento nacional. Nas palavras de um dos símbolos do “desenvolvimentismo”:

Considero defender os trabalhadores em primeiro lugar garantir-lhes o trabalho [...] Considero defender os trabalhadores ajudá-los a melhorar sempre a produtividade e aumentar a produção. [...] O trabalhador brasileiro compreendeu que, nesta hora do mundo, o desenvolvimento e a justiça social significam a mesma coisa.. (KUBITSCHEK, JUSCELINO apud VIEIRA, 1983, pág. 74).

A classe dominante pensou haver encontrado as promessas necessárias para aglutinar as massas populares e as classes intermediárias ao seu projeto político particular de classe. Ou seja, com a ideologia do desenvolvimento a burguesia perseguia seu primeiro projeto de construção de uma hegemonia no país, indicando aos trabalhadores e a toda sociedade burguesa que a única possibilidade de ampliação dos direitos de cidadania e de superação do quadro de desigualdade social estava na capacidade de “modernizar” a economia, industrializar o país, atrair capitais estrangeiros e ampliar o trabalho assalariado para o conjunto da população.

Mas, ao mesmo tempo que forjava seu projeto de “Brasil moderno” em torno do ideário e das promessas de desenvolvimento econômico e social, a burguesia brasileira abria um novo espaço de embates ideológicos e disputas políticas no Brasil. À procura de um projeto político que oferecesse identidade, sentido e direção para suas ações políticas os setores burgueses, mesmo sem intencionar, abriram um espaço relativamente democrático, onde a partir da década de 50 até meados nos anos 60, o projeto desenvolvimentista passaria a ser disputado entre os diversos setores da sociedade civil brasileira.

O que estava em jogo nesse período era a primeira tentativa histórica de a burguesia brasileira construir um consenso social em trono do projeto burguês. Ou seja, aglutinar esforços para elaborar no terreno da luta de classes uma visão de mundo própria e socializá-la com o conjunto da sociedade brasileira. Dessa forma a burguesia brasileira pretendia a constituição de uma reforma social e moral, uma nova civiltá, que ao apontar para as promessas de um futuro de desenvolvimento e progresso edificasse o consenso necessário

em torno do projeto particular de “modernização conservadora” da burguesia brasileira aliada ao imperialismo mundial. Como afirma o professor Edmundo Fernandes Dias (1996, p. 10),

A hegemonia é a elaboração de uma nova civiltá, de uma nova civilização. É uma reforma intelectual e moral. O que está em questão é a criação de um terreno para um ulterior desenvolvimento da vontade coletiva popular, em direção à realização de uma forma superior e total de civilização moderna da qual o partido dessa classe deve ser o porta-voz e o organizador.

Mas como a construção da hegemonia sempre se dá no interior das disputas e correlações de forças presentes na sociedade burguesa ela contraditoriamente sempre abre um espaço de embates e disputas ideo- políticas. Foi assim, que no processo de tentativas de construção de uma hegemonia burguesa no Brasil, através do projeto desenvolvimentista, que surgiram vários grupos ligados a setores progressistas médios e intermediários que se debruçaram para construir e defender um projeto de desenvolvimento nacional e democrático para o país. Nessa disputa pela direção social do projeto de modernização os vários setores burgueses poderiam correr o risco de ver sua dominação política ameaçada pelo surgimento de propostas de desenvolvimento que fugissem do arco de alianças políticas burguesas. Assim, a classe dominante brasileira na mesma medida que abriu a primeira possibilidade de hegemonizar a sociedade brasileira, através do debate sobre as estratégias de desenvolvimento, também proporcionou uma arena de intensos embates políticos e ideológicos em torno de um projeto de nação para o Brasil. É, assim, que a ideologia do desenvolvimento se transformará num campo de disputas onde uma heterogeneidade de projetos se confrontarão pela direção dos rumos da economia e da política brasileira.

De acordo com Ricardo Bielschowsky (1995) a partir de meados da década de 50 podemos distinguir vários grupos de intelectuais, organizações, burocratas, chefes de Estado que se esforçaram para criar e defender um projeto político e ideológico para construir o consenso necessário em torno da fase de transição para a industrialização intensiva no Brasil. Abordaremos a seguir as principais instituições e grupos responsáveis na construção dos

debates e de uma verdadeira vontade coletiva em torno do projeto de modernização brasileira. Claro que não objetivamos aqui esgotar as múltiplas análises e propostas da ideologia do desenvolvimento, mas identificar o rico debate que se processou na época e os pontos de convergência entre os vários grupos de ideólogos desenvolvimentistas do período.

2.5.1 - A CEPAL e a teoria do subdesenvolvimento

Qualquer trabalho que objetive investigar a gênese da ideologia do desenvolvimento no Brasil ou na America Latina deve forçosamente passar por uma análise das propostas da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL). Afinal, as propostas dessa instituição se firmaram ao longo dos anos 50 e 60 como o marco teórico decisivo para a gestação das principais teses sobre o desenvolvimento ou subdesenvolvimento periférico que animaram a discussão teórica na América Latina.

A CEPAL foi criada, em 1948, pela então recém fundada Organização das Nações Unidas (ONU - 1945). O papel da instituição era desenvolver estudos e pesquisas que pudessem apoiar um projeto de industrialização da América Latina. A ONU partia de um esboço de pesquisadores e economistas escandinavos que ao identificarem a degradação dos preços agrícolas no mundo defendiam a industrialização como processo de modernização das chamadas sociedades “subdesenvolvidas”. Segundo Vitagliano (2004), o papel da CEPAL, como uma Comissão provisória da ONU, que funcionaria por apenas três anos, era de levantar mais informações sobre a questão dos preços e esboçar possibilidades de industrialização. Mas, os dados eram escassos e uma das considerações dos técnicos da entidade era de que os países da América Latina precisavam de uma burocracia técnica e especializada que pudesse mensurar minimamente a economia da região.

A contratação do economista argentino Raul Prebisch, como consultor da entidade em 1949, dará um novo impulso à instituição agregando novos elementos as pesquisas cepalinas e dando-lhe grande visibilidade no cenário internacional. No ano de 1950, na Conferência das Nações Unidas em Havana,

ao coordenar o relatório Desenvolvimento Econômico da América Latina e seus

Principais Problemas Presbich chamou a atenção com seus argumentos

precisos e contundentes à favor da industrialização na América Latina. Tamanha foi a presença de Presbich que o autor logo se identificou com o projeto da Comissão tornando-se seu principal ideólogo.

De acordo com Vitagliano (2004), depois da conferência de Havana o relatório da CEPAL se transformou num verdadeiro “manifesto terceiro mundista”, argumentando em favor da industrialização e realizando críticas sobre a polarização das economias em centro e periferia. Assim é que em 1952, mesmo a contragosto da diplomacia norte-americana25, a CEPAL foi efetivada como uma Comissão permanente da ONU. Raul Prebisch permaneceu no cargo de secretário executivo da Entidade até 1963, no mais longo mandato da história da Comissão.

Segundo Mantega (1987) a grande preocupação da CEPAL era a de analisar e explicar o atraso da América Latina em relação aos chamados “países desenvolvidos” e encontrar formas de superá-lo.

Nesse sentido a análise (da CEPAL) enfocava, de um lado, as peculiaridades da estrutura sócio-econômica dos países da periferia, ressaltando os entraves ao desenvolvimento econômico em contraste com o dinamismo das estruturas dos centros avançados; e, de outro lado, centrava-se nas transações comerciais entre os parceiros ricos e pobres do sistema capitalista mundial que, ao invés de auxiliarem o desenvolvimento da periferia, agiam no sentido de acentuar as disparidades. Com isso, a CEPAL questionava não apenas a divisão internacional do trabalho vigente no mundo capitalista, como também, criticava o destino atribuído aos países subdesenvolvidos pela Teoria Clássica ou Neoclássica do Comércio Internacional que sustentava essa divisão. (MANTEGA, 1987, p. 34).

A CEPAL investe contra os defensores da teoria clássica (liberal) sustentando que a partir do final da década de 40 os “países

25 Segundo Bielschowsky (2000b), as idéias de Prebisch e da CEPAL eram vistas com muita

desconfiança pelo Departamento de Estado do governo norte-americano, sobretudo no auge do macarthismo e sua política de caça aos ditos “comunistas disfarçados” no auge da guerra fria.

subdesenvolvidos” sofriam diversas desvantagens no papel de meros fornecedores de produtos primários para o mercado internacional. Nas palavras de Presbich contidas na introdução do relatório da CEPAL,

Os imensos benefícios do desenvolvimento da produtividade

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