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2.3 Gênese e formação da burguesia brasileira: as determinações histórico-concretas da cultura política burguesa no Brasil.

A maioria das análises teóricas sobre a especificidade brasileira, principalmente aquelas ligadas à esquerda, foram elaboradas sob o signo de abstrações, isto é, de conceitos formulados a priori e sem consideração adequada dos fatos; procurando-se encaixar os modelos conceituais na realidade concreta. Para Caio Prado Júnior, derivaram daí esquemas teóricos

que permanecem planando na irrealidade e em que as verdadeiras circunstâncias da nossa economia e estrutura social e políticas aparecem grosseiramente deformadas. Como diria em um de seus escritos da década de 60:

A teoria da revolução brasileira, para ser algo de efetivamente prático na condução dos fatos, será simplesmente – mas não simplisticamente – a interpretação da conjuntura presente e do processo histórico que resulta. Processo esse que, na sua projeção futura dará cabal resposta ás questões pendentes. È nisso que consiste fundamentalmente o método dialético. Método de interpretação, e não receituário de fatos, dogmas, enquadramento da revolução histórica dentro de esquemas abstratos pré-estabelecidos. (PRADO JUNIOR, 1978, p. 19).

Caio Prado Junior, na sua obra Formação do Brasil Contemporâneo escrita em 1942, já afirmava o caráter de expansão capitalista da empresa colonial que fundou a sociedade brasileira. Longe das análises que imputam ao Brasil pretensos resquícios feudais, o autor constrói uma análise bastante rigorosa de nosso passado colonial. Levando em consideração as indicações de Marx em O capital17, Caio Prado Jr. analisa o “sentido da colonização” nas Américas como um capítulo do avanço do capitalismo comercial e da necessária fase de “acumulação primitiva” que ofereceu as bases para o longo processo de industrialização capitalista que só ganha impulso no século XVIII.

Em suma e no essencial todos os grandes acontecimentos desta era (a etapa colonial), que se convencionou com razão chamar dos “descobrimentos”, articulam-se num conjunto que não é senão um capítulo da história do comércio europeu. Tudo que se passa são incidentes da imensa empresa comercial a que se dedicam os países da Europa a partir do século XV e que lhes alargará o horizonte pelo Oceano afora. (PRADO JUNIOR, 1976, p. 22).

Para o autor, o impulso da empresa colonial estava na consolidação e fortalecimento do capitalismo comercial e na sua necessidade inerente de expansão e deslocamento das rotas comerciais através dos países oceânicos, tais como: Holanda, Inglaterra e os países ibéricos. Graças à expansão

17 MARX, Karl. Cap. XXV – a teoria moderna da colonização. In: O capital: crítica da economia

impetrada pelo capitalismo comercial, desde princípios do século XV, a Europa deixava de ser um cantinho isolado do mundo e passava a explorar novos territórios através das grandes navegações. A idéia de povoar as novas áreas descobertas não lhes ocorria. “É o comércio e somente ele que interessa a todos, e daí o relativo desprezo, a princípio, por este território primitivo e tão escasso de habitantes que é a América.” (PRADO JUNIOR, 1999, p. 44). É então, com o espírito de exploração e com o interesse especificamente comercial de desvendar novas rotas para abastecer o comércio europeu que se desenvolve o sentido da colonização da América. Assim, para Caio Prado Junior, a colonização e por suposto o Brasil são obras do avanço do capital comercial e das mudanças preliminares que deram origem ao posterior desenvolvimento do capitalismo europeu.

Ainda, segundo o autor, de início a colonização será uma rudimentar empresa condicionada pelas desfavoráveis circunstâncias com que os portugueses se depararam com o Brasil. Uma terra habitada por poucas e primitivas populações indígenas que nada ou quase nada ofereciam aos comerciantes europeus a não ser produtos extrativistas, como o Pau-Brasil, e a pequena e evasiva força de trabalho indígena.

Mas aos poucos a empresa comercial e suas feitorias dos primeiros anos vão se transformando, se diferenciando e se complicando. Descobre-se o açúcar como mercadoria de exportação e logo a empresa extrativa rudimentar se transforma em uma grande organização produtiva sustentada pela escravidão dos negros africanos e com o objetivo único de abastecer os mercados europeus em expansão. É graças ao destaque do Brasil na produção do açúcar, mercadoria tão cobiçada pelos europeus, que se tornará possível levar adiante a colonização e efetivamente ocupar e povoar o território brasileiro. Isso permite a Caio Prado Jr, afirmar que não foi o Brasil que criou a produção do açúcar, mas sim essa produção que deu origem à colonização e ao próprio Brasil. Nas palavras do próprio autor,

[...] não é a economia do açúcar que se conforma e adapta às necessidades de uma sociedade preexistente que nela procura a base econômica de sua subsistência. E sim é esta sociedade que se origina, dispõe e organiza em função da finalidade precípua de produzir açúcar e assim realizar um negócio.

Negócio que tem, não como objetivo (pois o objetivo próprio de todo negócio é tão-somente o lucro mercantil), mas como objeto, o atendimento de necessidades e de um consumo estranhos ao país e à coletividade nela instalada, e que se torna simples expressão daquele negócio. (PRADO JUNIOR, 1999, p. 48).

Fica claro que Caio Prado Junior reconhece que a colonização e a consolidação da organização produtiva brasileira já surgem de interesses especificamente capitalistas que posteriormente ganharão impulsos cada vez maiores com a expansão do capitalismo para a esfera industrial a partir do século XVIII. Para o autor a própria estrutura de exploração do açúcar no Brasil e em outras colônias de origem semelhante é um fato radicalmente novo em comparação com as atividades agrárias desenvolvidas na Europa. Na Europa feudal foi a gradativa expansão do comércio que estimulou a mercantilização de atividades agrárias pré-existentes e já largamente desenvolvidas como a dos camponeses. No Brasil, pelo contrário, é a preexistência de um objetivo comercial externo que abre as perspectivas para as primeiras atividades de produção agrícola. Segundo Caio Prado Jr (1999) a mais grave conseqüência desse processo é que

[...] a produção para a subsistência interna dos próprios produtores e de todos aqueles que direta ou indiretamente dependem das atividades agrárias – e será este o caso de praticamente todo mundo nos primeiros tempos da colonização – é relegada a um segundo e apagado plano; e é por isso desleixada. (PRADO JUNIOR, 1999, p. 54).

Foi para fornecer açúcar, ouro, e diamantes e mais alguns poucos produtos primários ao comércio exterior europeu, que se ocupou e povoou o território que constituiria o Brasil e se instalou nele uma sociedade humana. Tudo mais é acessório dessa função comercial. Segundo Caio Prado (1999) essa caracterização fez com que a economia brasileira permanecesse durante um longo tempo como a repetição monótona de ciclo econômicos sucessivos e essencialmente invariáveis determinados pela conjuntura internacional e sem margem alguma para diversificação.

Assim, para o autor, o período colonial construído pelo avanço da colonização comercial capitalista funda um sistema de produção que tem,

desde seu início, como objetivo o abastecimento mercantil das nações centrais e a exploração intensiva do trabalho; primeiro de índios e depois de escravos negros trazidos da África.

É claro que as mudanças ocorridas a partir de fins do século XVIII e início do século XIX com o avanço do capitalismo industrial e, posteriormente, do imperialismo na Europa também provocaram mudanças significativas na sociedade brasileira. Ocorrerá daí para frente transformações nas configurações produtivas, na correlação de forças políticas, no estatuto jurídico do país. Mas para Caio Prado Junior, o passado colonial brasileiro e sua indelével marca de dependência exterior e exploração intensiva da força de trabalho deixará profundos traços e uma capacidade de renovação e continuidade impressionante nas relações sociais que configuram a formação social brasileira moderna. Com certeza a maior contribuição teórica de Caio Prado Jr. foi desvendar as determinações e entrelaces que fazem o Brasil contemporâneo pagar uma pesada hipoteca ao seu passado colonial inconcluso.

É certo que deixamos de ser, em nossos dias, o engenho e a “casa grande e senzala” do passado, para nos tornarmos a empresa, a usina, o palacete e o arranha-céu; mas também o cortiço, a favela, o mocambo, o pau-a-pique, mal disfarçados, aqui e acolá, por aquele moderno sem que minorias dominantes e seus auxiliares mais graduados se esforçam com maior ou menos sucesso por acompanhar aproximadamente, com o teor de suas atividades e trem de vida, a civilização dos nossos dias. Essencialmente, contudo, com as adaptações necessárias determinadas pelas contingências do nosso tempo, somos o mesmo passado. Senão quantitativamente, na qualidade. Na substância, diria a metafísica aristotélica. Embora em mais complexa forma, o sistema colonial brasileiro se perpetuou e continua muito semelhante. (PRADO JUNIOR, 1978, p. 239-240).

O esforço de Caio Prado em buscar no passado colonial as raízes e circunstâncias que modelaram a situação do Brasil contemporâneo nos mostra por um lado a falsidade das teses que afirmam um suposto resquício feudal brasileiro e por outro a incrível capacidade de renovação da subordinação da elite aos interesses externos e da intensa exploração da força de trabalho. Esses estudos sobre as características da sociedade colonial e sua

permanência histórica ao longo do tempo permitiram a Caio Prado Jr. desvendar os traços de continuidade entre o Brasil colonial e o Brasil moderno viabilizando ao historiador paulista afastar-se das ilusões de uma burguesia brasileira frágil e das teses que defendiam a existência de resquícios feudais no Brasil.

Pelos estudos de Caio Prado Jr é possível entender que no Brasil não se encontraram pela frente sociedades feudais ou estruturas não-capitalistas que impedissem ou oferecessem resistência ao avanço do capitalismo. Se é certo que aqui não se desenvolveu o trabalho livre no período colonial é também correto afirmar que as premissas do capitalismo já se encontravam incluídas numa ordem econômica e social que se organizava, desde seus primórdios, em função de atividades essencialmente mercantis, isto é, para a exportação de produtos tropicais para a Europa.

Outro grande estudioso da formação social brasileira, o sociólogo marxista Florestan Fernandes, também desenvolveu importantes contribuições para apreendermos a gênese e formação da cultura política da burguesia brasileira. Legatário da obra seminal de Caio Prado Jr., Florestan ampliou e aprofundou as questões fundamentais sobre a origem e desenvolvimento da burguesia brasileira apontadas pelo seu antecessor. Em sua obra A Revolução

Burguesa no Brasil escrita em duas partes uma em 1966 e a outra em 1973,

preocupado com a periodização histórica da gênese e desenvolvimento da burguesia brasileira Fernandes (1976) divide a transição capitalista brasileira em três partes constitutivas: 1) A primeira, de surgimento de um mercado capitalista moderno, que se inicia com a abertura dos portos às “nações amigas” em 1808, passando pelo processo de independência, e segue até meados do século XIX. 2) A segunda etapa, a de formação e expansão do chamado “capitalismo competitivo brasileiro” que com a expansão imperialista dos países centrais, compreende a consolidação da economia industrial, estendendo-se do último quartel do século XIX até a década de 50 do século XX. 3) A terceira e última fase, a de consolidação do capitalismo monopolista brasileiro, cuja base já se encontrava presente na dinâmica de expansão dos países centrais, mas que acentua sua intervenção no Brasil em fins da década

de 50 e adquire consistência econômica e política com o regime autocrático burguês instaurado em 1964.

2.3.1 - O surgimento do mercado capitalista moderno no Brasil

Apesar de fundamentalmente concordar com a tese de Caio Prado Jr., de que a economia colonial brasileira já guarda em si aspectos de uma economia mercantil capitalista, Florestan Fernandes (1976) acrescenta a esta tese seminal do pensamento marxista brasileiro o fato de que no período colonial não existia ainda um agente transformador. Ou seja, uma classe social em especial que aglutinasse os interesses individuais necessários para empreender um processo de internalização da produção e desenvolver as transformações econômicas e sociais que conduziriam o Brasil a uma sociedade capitalista industrial. Para Florestan (1976), graças à posição marginal que ocupava no circuito externo de mercantilização dos produtos exportados, as funções econômicas do “senhor de engenho” quase equivaliam às dos administradores e beneficiários das feitorias. Assim, as influências dinâmicas que o capitalismo comercial do período colonial poderia exercer sobre o desenvolvimento de uma economia interna capitalista baseada no trabalho livre e no desenvolvimento da manufatura, através da figura do “senhor de engenho”, eram simplesmente neutralizadas pela própria estruturação da economia colonial.

Florestan Fernandes (1976) identifica ainda três características fundamentais que impediam o nascimento de uma economia especificamente capitalista no interior da colônia brasileira. A primeira, estava na impossibilidade criada pela própria estrutura colonial de desenvolver-se uma poupança interna para fins de reinvestimentos em empreendimentos nacionais, já que parte da renda criada pelo processo que ficava em mãos do agente econômico interno, no caso o “senhor de engenho”, era, comparativamente à absorvida de fora, muito pequena.

A segunda característica que emperrava o processo de desenvolvimento capitalista era que o agente econômico interno, não angariava as qualidades necessárias para desempenhar uma ação prática transformadora. Nesse caso

para Fernandes (1976, p. 24), “o típico senhor de engenho da era pioneira era, de um lado, agente humano da conquista (daí precisar ser nobre e militar) e, de outro, agente potencialmente econômico (servindo, nessa qualidade, à Coroa, às companhias comerciais e a si próprio).” Assim, o “senhor de engenho” apesar de viver num ambiente onde a troca comercial ditava o ritmo da vida cotidiana ainda não apreendera o espírito de acumular dinheiro para o desenvolvimento de investimentos privados no país. Ainda segundo o autor (Idem, 1976, p. 24) “Lucro, ganho, risco calculado, nada disso exprime o que ele perseguia [...], que deveria ser o equivalente econômico, da grandeza, da aventura e da audácia. Nesse sentido era um autêntico Soldado da Fortuna.” Assim, para Florestan o que animava o espírito comercial da colonial ainda não era especificamente uma racionalidade capitalista, mas sim uma espécie de “espírito de flibusteiro”.

A terceira característica impeditiva do avanço capitalista no Brasil da época era que o próprio sistema colonial organizava-se tanto legal e politicamente, quanto fiscal e financeiramente, para drenar as riquezas de dentro para fora. Por isso, ressalta Florestan Fernandes (1976, p. 24). “[...] ele não previa, senão dentro de limites muito estreitos e tênues, condições institucionais apropriadas para a organização interna do fluxo de renda”.

Essas três características principais impediam a gênese de um mercado interno que possibilitasse o desenvolvimento completo das relações sociais eminentemente capitalistas. Ao resumir a questão atesta Florestan (1976, p. 26),

No conjunto, portanto, o contexto sócio-econômico em que se projetava a grande lavoura no sistema colonial anulou, progressivamente, o ímpeto, a direção e a intensidade dos móveis capitalistas instigados pela situação de conquista e animados durante a fase pioneira da colonização. Isolado em sua unidade produtiva, tolhido pela falta de alternativas históricas e, em particular, pela inexistência de incentivos procedentes do crescimento acumulativo de empresas, o senhor de engenho acabou submergindo numa concepção de vida, do mundo e da economia que respondia exclusivamente aos determinantes tradicionalistas da dominação patrimonialista.

Assim, de acordo com Fernandes (1976) o impulso às primeiras formas de desenvolvimento de uma emergente burguesia brasileira ainda não estava

presente no senhor de engenho da época colonial, mas esteve associado à lenta transição da economia colonial para uma economia mercantil-escravista

cafeeira nacional de acordo com a célebre nomeação de João Manuel Cardoso

de Mello (1998). Ou seja, a construção de uma classe burguesa comercial está associada a transição de uma economia mercantil colonial, atrelada ao domínio português e que anulava a economia interna, para uma economia agrário- exportadora, com relativa autonomia, ainda baseada na exportação e na força de trabalho escrava, mas que timidamente já possibilitava uma mínima retenção de renda e um débil investimento interno.

Segundo Florestan Fernandes, um dos marcos principais desta transição para uma economia exportadora tipicamente capitalista é a abertura dos portos para as nações amigas, em 1808. O decreto acabou com o monopólio português no comércio brasileiro beneficiando, principalmente, a Inglaterra, a nascente potência do capitalismo industrial europeu que na época já recebera o apelido de “fábrica do mundo”.

Para Mello (1998) o tipo de economia mercantil e agrário-exportadora que daí se derivou, baseada na lavoura de café e no trabalho escravo, foi fundamentalmente uma obra da acumulação de capital mercantil nacional, que se formou nos poros da colônia, mas que ganhara notável investida com a queda do monopólio de comércio português e com o surgimento de um embrionário sistema monetário nacional com a chegada da família real portuguesa em 1808.

Mas, para Fernandes (1976) o grande impulso que desvencilhou as amarras coloniais e proporcionou o ambiente necessário para a primeira etapa de desenvolvimento capitalista comercial no Brasil foi o longo processo de lutas libertárias que culminou no caminho “pelo alto” das elites brasileiras, tão bem representado pelo “grito de independência”, dado pelo filho do Rei de Portugal em 1822. Segundo Fernandes (1976) em busca da independência as elites nativas não se erguiam contra a estrutura da sociedade colonial, mas sim contra as implicações econômicas e políticas do estatuto jurídico colonial. Como diz Fernandes (1976), a independência assumiu a forma de uma “revolução sem revolução” ou uma revolução sem povo,. Mas mesmo possuindo esse caráter a autonomia perante Portugal causou um verdadeiro

“processo de transformações”18, ou seja, o ponto de origem para uma alteração capitalista das relações sociais no Brasil. Nas palavras do autor, a partir daí,

[...] as potencialidades capitalistas da grande lavoura (já identificadas por Caio Prado Jr. - CHM) passaram a manifestar- se com plenitude crescente (em particular e de formas historicamente decisivas nas regiões que lograriam vitalidade econômica graças ao café). Assim, senão todas, mas pelo menos uma parte considerável das potencialidades capitalistas da grande lavoura foram canalizadas para o crescimento econômico interno, permitindo o esforço concentrado da fundação de um Estado nacional, a intensificação concomitante do desenvolvimento urbano e a expansão de novas formas de atividades econômicas, que os dois processos exigiam. (FERNANDES, 1976, p. 27).

Assim, com a quebra das barreiras ao desenvolvimento da economia exportadora, nas três primeiras décadas do século XIX, o consumo de café se generalizou no mundo, em grande parte pela queda dos preços internacionais, causada pela oferta brasileira, aquecendo o mercado europeu e garantindo uma larga e contínua demanda pelo produto brasileiro. (Mello 1998).

Para Fernandes (1976) é dessa nova economia nacional agrário- exportadora de início do século XIX – nascida das entranhas de um novo domínio econômico inglês no mundo – que surgem as condições econômicas, sociais e políticas para a primeira etapa de nascimento de uma burguesia genuinamente brasileira. Assim, as primeiras transformações econômicas suscitadas pela nova economia agrário-exportadora fazem com que uma parcela crescente de “senhores rurais” seja continuamente extraída do isolamento do engenho ou da fazenda e projetada no cenário econômico urbano.

Nota-se também que essas transformações, suscitaram o surgimento de novos imigrantes que se agregaram aos antigos comerciantes portugueses para desenvolver negócios no pequeno mercado interno brasileiro em formação. São donos de pequenas manufaturas de outras nacionalidades, como ingleses, franceses, alemães, que logo se identificaram com o país e

18 Claro que apesar do processo de independência culminar com uma transição pelo alto ele foi

seguido por diversas revoltas populares que tiveram um importante papel nessa etapa histórica.

acabaram fixando-se e criando descendências. Para Caio Prado Jr. a prova do surgimento dessa nova “burguesia imigrante” está no grande numero de famílias com sobrenomes e apelidos estrangeiros que já no império ocupavam posições comerciais e até mesmo industriais. Segundo Prado Jr (1999, p. 101) estes imigrantes “[...] já eram puros brasileiros, e se confundiram com outros brasileiros de mais antiga tradição no país, dividindo com eles, em pé de absoluta e total igualdade, os negócios e atividades comerciais e industriais no país.” Segundo Jacob Gorender (2004), eram centenas de pequenos e médios empresários que desde meados do século XIX, instalaram e administraram fábricas têxteis, de artigos de vestuário, de massas e outros produtos alimentícios, de cerveja, de chapéus, peças de mobiliário, artigos de cerâmica, etc.

De acordo com Fernandes (1976) ao longo do século XIX a porção de “fazendeiros de café” juntamente com essa “pequena burguesia manufatureira” tendeu a secularizar suas idéias, suas concepções políticas e suas aspirações sociais, ao mesmo tempo em que gradativamente adquiria um estilo de vida

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